Heart By Heart

Sequelas


(Pov Jasper)

Sempre soube que Edward manipulava muito bem as pessoas, quase como se fosse um dom, mas vê-lo tentando fazer isso na minha frente – e contra mim – era nauseante.
— Rosalie! – Gritou Esme, me pegando de surpresa. Estava tão absorto na cara cínica do meu ‘irmão’ que não percebi o que estava acontecendo a minha volta. Assim que me virei, vi Bella correndo para sua caminhonete, se sentindo extremamente triste.
— Deixe-a ir, Jasper. Depois vocês conversam. – Disse Carlisle, segurando meu braço quando fiz menção de correr. Pensei em como estaria sendo para ela observar toda aquela confusão e se sentir o motivo de todo o problema, então a deixei ir. Assim que isso aqui acabasse eu correria até ela e recuperaríamos as horas perdidas. Os anos também. Ela me devia muito tempo e eu iria cobrar.
— Jasper, filho, o que você pretende fazer? – Perguntou Esme, afagando meu cabelo.
— Em nenhum momento pensei em partir com ela ou coisa do tipo, mas não terei outra opção se Edward não mudar o seu comportamento. Sei que ir embora deixará todos infelizes, inclusive ela, e essa é a última coisa que eu quero.
Somos todos adultos aqui. Imagino que esteja doendo em você, Edward, mas isso acontece e não há nada do que se possa fazer. Não podemos mandar no coração. Você encontrará outra pessoa um dia e família é mais importante do que qualquer coisa. - Disse Carlisle, abraçando-o. Edward pareceu relaxar com o gesto, engatando um choro silencioso. Essa era minha deixa perfeita para sair e deixa-lo ser confortado por quem o ama.
Não corri nem por um minuto, quando um barulho estrondoso me atingiu vindo da estrada. Poderia ter sido qualquer coisa, um desconhecido, e eu teria facilmente ignorado e seguido em frente, mas o vento forte jogou a melhor e mais cheirosa fragrância no meu rosto e eu gelei; apesar de estar morto, era como se todas as minhas articulações e o meu coração estivessem mergulhados na água do Alasca em pleno inverno. Bella.
Ao chegar na caminhonete uma dor esmagadora me atingiu. O carro estava completamente destruído e o coração dela batia fracamente. Não, isso não pode estar acontecendo! Arranquei a porta e a peguei nos braços, com cuidado. Ela estava desacordada e uma cachoeira de sangue brotava de sua cabeça e mesmo com isso minha garganta sequer ardeu. Ali eu soube que ela era maior e mais importante do que qualquer coisa na minha vida, incluindo a sede por sangue. Devo transforma-la? Carlisle!
— Meu mundo girou só para te encontrar, Bella... esperei mais de cem anos por você. Por favor, não morra agora. – Sussurrei, tentando movê-la o menos possível enquanto voava para casa.
Assim que passei pela porta, Edward desabou do outro lado da sala e Esme começou a chorar.
— Onde está Carlisle? – Gritei, desesperado.
— Aqui. – Ele gritou de volta. Me guiei pelo som da sua voz e percebi que ele estava em um quarto que sempre fora inutilizado, mas que agora parecia uma enfermaria profissional. – Deite-a aqui. – Ele instruiu. Coloquei-a gentilmente na cama hospitalar e beijei sua mão. - Montei esse lugar depois do que houve com James. Nunca se sabe. Alice me avisou do que estava por vir, mas agora preciso que fique na sala.
— Não! Não vou deixa-la! – Protestei.
— Por favor, filho. Eu vou cuidar dela. De uma forma ou de outra, ela ficará bem.
— Vamos, Jas. Cada tempo que discutimos isso é mais tempo que ela sofre. – Disse Alice, me convencendo.
Fomos para a sala e eu desabei no sofá. Desespero. Era isso, eu estava desesperado. Eu nunca havia sentido uma angustia tão grande e mesmo sabendo que não precisava de ar, parecia que eu morreria sufocado. A doce menina desajeitada e sensível que havia se tornado o motivo de toda a minha existência parecia estar morrendo. Eu não conseguia acreditar nisso e não conseguia acreditar na dor que emanava do meu coração para todo o meu corpo.
— Carlisle precisa transforma-la. – Murmurei, ainda sufocado.
— Ele está esperando, querido. - Disse Esme, tentando me consolar.
— Esperando ela morrer?!
— Ele quer tentar do jeito humano antes.
— Isso é estupidez! - Eu disse, jogando a cabeça para trás e levantando.
Comecei a andar de um lado para o outro, quase abrindo um buraco no chão. Eu conseguia ouvir tudo do outro lado da sala, cada passo, cada movimento, mas não estava preparado para isso... O coração de Bella perdeu uma batida, depois bateu fraquinho e silêncio. Apenas o irritante apito da máquina ligada a ela.
Cogitei correr até lá, mas antes disso Edward e Emmett estavam ali, me segurando.
— Me soltem! Eu preciso vê-la!
— Jas...
— Me soltem! - Eu me debatia, mas não conseguia me mover um centímetro para frente. Não poderia perdê-la, eu iria com ela. - Não, não... - Sussurrei, caindo de joelhos. - ISABELLAAAAAAAAA!!! - Urrei, com todas as forças que tinha. A dor era excruciante. Notei algo úmido no esquerdo do meu rosto e ouvi todos arfarem atrás de mim; uma única lágrima de sangue escorria.
— Isso... isso é uma lágrima? – Perguntou Rosalie, completamente chocada. Alice ajoelhou na minha frente e pegou meu rosto com as mãos.
— Jasper, foco! Escute. – Ela disse, me encorajando com a cabeça. Funguei um pouco, tentando me concentrar. Seu coração havia voltado a bater; estava fraco, mas ela ainda estava viva. Olhei em volta, ainda desnorteado e me levantei do chão. Esme se aproximou e limpou minha lágrima singular com a mão, me abraçando em seguida.
— Ela vai ficar bem, querido. Carlisle conseguiu.
— Obrigado, mãe. – Agradeci, me surpreendendo por ter me referido a ela assim. Ela também ficou surpresa, mas se limitou a sorrir.
Algum tempo se passou – o que pareceu uma eternidade – e Carlisle saiu da sala com um sorriso satisfeito no rosto.
— Ela abriu a cabeça em uma parte muito sensível, por isso eu a quase perdi em um momento. Fui obrigado a realizar uma transfusão de sangue e ela tomou oito pontos internos e quinze externos. É uma lesão grande e ela ainda não acordou, então não sabemos se terá sequelas. Foi um acidente bem feio, mas creio que ficará tudo bem.
— Posso vê-la? – Perguntei ansiosamente. Ele apontou, indicando que eu passasse.
Apesar de mais pálida do que nunca, ela parecia um pouco melhor. Seu rosto não estava mais coberto de sangue e seu coração batia com um pouco mais de força.
— Você chorou? – Perguntou Carlisle, tentando esconder o choque.
— Acho que sim. – Murmurei, sem tirar os olhos dela.
— Como?
— Não sei. Não fiz de propósito. A dor era... – Sacudi a cabeça, tentando afastar rapidamente a memória de pensar por alguns segundos que eu havia a perdido para sempre. – Obrigada por não me deixar, Bella. – Sussurrei, beijando sua testa de leve.
— Eu subestimei seus sentimentos.
— Não entendi. – Ele suspirou.
— Achei que estava apenas apaixonado, mas é muito além disso. É intenso. Seu amor por essa menina supera sua sede mais genuína por sangue e eu nunca vi isso em toda a minha existência. Edward, que é um dos mais controlados e também a ama, tem dificuldade até hoje.
— Eu preciso dela. – Foi tudo o que eu conseguir dizer naquele momento e Carlisle assentiu, se retirando da sala.
Assim que fiquei completamente relaxado, meu poder se conectou a ela automaticamente e foi como milhares de socos simultâneos; Bella estava com dor. Apesar de imóvel, a morfina não era suficiente. Edward entrou alguns minutos depois, mas não disse nada; ele parou do outro lado da cama e tocou levemente seu rosto, suspirando. Ele também estava sofrendo por vê-la assim.
— Você sabe que nunca vou desistir, não é? – Ele murmurou, quase inaudível.
— Não esperava isso, apenas que você nos deixasse em paz. – Respondi, tentando não me irritar.
— Eu posso fazer isso, mas sempre estarei aqui, sempre esperarei por ela e sempre a amarei. – Pensei em responder que aquilo não parecia ser amor, e sim birra de criança mimada, mas ignorei. Não valeria a pena.
Quase vinte e quatro horas depois, sentado ao lado de Bella sem me mexer, ela começara a dar indícios que iria acordar. Sua dor havia diminuído pois Carlisle havia trocado a medicação; ela ficaria consciente sem sofrer.
— Bella? Bella, sou eu. – Seus dedos se contraíram nos meus e ela apertou os olhos, abrindo-os. Demorou alguns segundos para ela conseguir focalizar o que tinha a sua volta e seu coração deu um pulo. – Ei, ei, está tudo bem.
— Jasper? – Ela disse, com a voz falhada. A surpresa na sua voz era quase ofensiva. Ela realmente esperava que eu não fosse ficar ao seu lado? – O que aconteceu?
— Você sofreu um acidente de carro, querida. Eu não entendi muito bem como aconteceu, mas você girou na estrada e capotou. Não se lembra disso? – Ela me olhou como se eu tivesse falado um absurdo e negou com a cabeça.
— Ai!
— Shhh, você não pode mexer a cabeça. Tomou muitos pontos, foi uma ferida profunda. – Eu disse, esticando a mão para acariciar seu rosto. Ela piscou algumas vezes, ainda como se não estivesse entendendo nada. Carlisle apareceu meio segundo depois, sorrindo abertamente; ela sorriu de volta.
— Oi Bella. Como se sente?
— Confusa, para ser bem sincera.
— Sim, é normal. Você está dormindo por quase um dia inteiro e seu acidente foi complicado. Eu... quase te perdi. – Ela arregalou os olhos e eles se encheram d’água.
— Está tudo bem agora, não tem porque temer. – Eu disse, levantando para beijar sua testa. Quando me aproximei, ela se encolheu e me olhou novamente quase... quase como se não me conhecesse.
— Onde está Edward? – Ela perguntou para Carlisle. Ouch. Aquilo doeu.
— Ele está na sala, Bella, mas... não achei que iria querer vê-lo por agora.
— Porque eu não iria querer ver o meu namorado? – Carlisle arregalou os olhos e eu tropecei alguns passos para trás.
— Bella, do que você está falando? – Perguntei, sem esconder a magoa na voz.
— Jasper, filho... calma. – Pediu Carlisle. – Bella, qual é a última coisa de que se lembra? – Ela parou por um momento e fincou a testa, se esforçando.
— Eu acho que... que... me lembro do meu aniversário. Jasper... – ela pausou, olhando para mim com medo. – E no dia seguinte eu vim para cá conversar com Edward e ele disse que ia embora, mas no final tudo deu certo. Eu... eu sofri um acidente voltando para casa?
— Bella, isso tem quase um ano! – Eu gritei, desesperado. Aquilo não poderia estar acontecendo.
— Sim querida, isso aconteceu tem quase um ano. Você não lembra de mais nada desde então? – Bella se encolheu e olhou para nós dois como se fosse um bichinho assustado. Ela fincou a testa mais uma vez e depois soltou um longo suspiro.
— É tudo o que eu consigo me lembrar. Mas... porque Edward não está aqui?
— Vocês não estão mais juntos, Bella! – Gritei, tentando conter o tremor que assaltava o meu corpo. – Nós nos aproximamos, ficamos amigos, nos apaixonamos e... e você aceitou namorar comigo. E-eu te amo, por favor, se lembra que também me ama. – Implorei, me ajoelhando ao seu lado na cama. – Você sofreu um acidente voltando para casa pois tinha vindo me ver. Você sentiu que Edward estava me machucando e veio correndo ter certeza que eu estava bem. Nós viajamos para o Texas, lembra? Você andou a cavalo, cachoeira... demos o nosso primeiro beijo lá! E há três dias atrás nós tivemos a nossa primeira vez e foi mágico, foi como se tivéssemos sido feitos um para o outro. Por favor, por favor, não diz que se esqueceu de mim, que se esqueceu de nós! – Eu estaria aos prantos, se fosse possível. Parte do meu cérebro sabia que eu estava errado em fazer isso e que era humilhante, mas eu não ligava.
— Jasper eu... eu não faço ideia do que você está falando. Eu amo Edward e você está com Alice e... com todo respeito... eu jamais ficaria com você. Não somos amigos, você sequer gosta de mim e já tentou me matar. Isso é uma piada de muito mal gosto. – Ela disse, com a voz subitamente límpida. – Edward? – Ela gritou mais alto e ele apareceu no quarto, abraçando-a.
— Bella? Bella! Eu sabia, eu sabia que você ia voltar para mim... eu te amo, eu te amo! Como você está? – Meu estômago se revirou e eu tive que me refrear com muito custo para não estraçalhar o maxilar de Edward. Olhei para Carlisle desesperado e ele estava tão atônito quanto eu.
— Edward... filho... você precisa contar a ela.
— Me contar o que? – Perguntou Bella, desconfiada. Edward sorriu presunçoso e ajoelhou ao lado da maca, pegando sua mão.
— Eu já tinha pedido e você já tinha me dado a sua resposta. Mas vou pedir de novo: Isabella Marie Swan, gostaria de me dar a extraordinária honra de se casar comigo?
— Edward! – Gritou Carlisle, mas Bella o ignorou. Seus olhos estavam marejados de novo e ela encarava Edward como se estivesse incondicionalmente apaixonada.
— Sim, eu aceito. – E eu explodi em um ódio cego.

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