White Angel
Capítulo 22- Conselhos.
Meiko
Saímos da escola mal o treino terminou. O meu tio queria ir comigo visitar a minha mãe só que não podíamos; o meu avô enviou-me uma mensagem a dizer que era o dia em que levariam a minha mãe do quarto para lhe exercitar as pernas, evitando que os músculos prendessem, que parasse a circulação e para quando acordar conseguir pelo menos mexe-las. Mas tinha companhia para casa, o Tenma, só que meio do caminho, quando passamos pelo campo de futebol, ele parou e sentou-se nas escadas a olhar para algo. Estava calado e pensativo. Já imaginava o que lhe estivesse a passar pela cabeça.
—O que estão aqui a fazer?- olhei por cima do ombro e vi que era o Sangoku-senpai sair de cima da bicicleta- Olá.- O Tenma levantou-se e eu voltei-me para o meu veterano, ainda que fosse um pouco difícil encara-lo depois do que disse na sala de reuniões.
—Lamento muito pelo que disse.- Curvei-me. Podia ser muita coisa, mas sabia pedir desculpa quando estava errada.
—Não te preocupes.- Levantei-me e encarei-o, vendo-o sorrir.
—Não te preocupes. Acho que também exagerei um pouco.
—Estás a fazer tarefas?- ele nem perdeu tempo!
—Hoje é a minha vez de fazer o jantar.
—O jantar?- isso fazia-me pensar no que seria que a minha tia tinha preparado para mim. Só de pensar já me sentia maldisposta- Ou seja que também sabes cozinhar?- estava admirada.
—Mais ou menos.- Riu-se- Só quando a minha mãe vai chegar tarde.
—Ah sim?- felizmente nunca tive de me preocupar com algo assim- Com que então sabes cozinhar?- qual era o espanto? O meu irmão sabia e só tinha dez anos- É impressionante!- reparei que o Sangoku-senpai estava a olhar fixamente no meu rosto. Teria alguma coisa na cara?
—Porque não vem jantar?- olhamos um para o outro, espantados.
No final, acabamos por aceitar o convite. Enviei uma mensagem ao meu tio a dizer-lhe que não iria jantar em casa, ele enviou-me logo uma mensagem a reclamar comigo. Sentia pena dele e do meu irmão... Mas pelo menos ia comer bem! Felizmente, não demorou muito a chegarmos ao apartamento do veterano, era bem mais pequeno que a minha casa, mas era simples, bonita e agradável. Bem como o jantar, que assim que ficou pronto, cheirava muito bem.
—Que bom! É quase tão bom quanto a comida do Atsushi!
—Atsushi?
—Ah, sim. É o meu irmão mais novo. Tem dez anos.
—E já cozinha?!- qual era o espanto de ambos?
—Bom... Sim. O meu irmão é dotado.- Podia ter sido eu, mas não...
—É tão novo...- provavelmente referia-se à nossa situação familiar- A tua mãe... Ela ainda está em coma?- ele realmente sabia. Será que todos na Raimon também?
—Sim.
—Lamento.- Não queria ter deixado o ambiente pesado, mas foi inevitável.
—Isto está realmente uma delicia! Parece a comida da Aki!- agradecia ao Tenma pelo que fizera.
—Aki?
—Sim! É a minha parente e está ajudar-me uma mão com tudo.- Bebi um pouco de água antes de voltar a comer.
—É verdade! Agora que me lembro não me tinhas dito que vivias sozinho? Isso não é difícil?
—Tenho a Aki, por isso estou bem! Mas não posso depender sempre dela. Tenho de aprender a desenvencilhar-me como tu.- O veterano levantou-se logo, assustando-me. Mas não se podia comer em paz?
—Isso mesmo! Podes elogiar mais! Vou dar-te um pudim para sobremesa!- eu também queria.
—Ai sim?! A sério?!- no mesmo instante em que ele ia até ao frigorífico, ouviu-se a porta a abrir.
—Já cheguei!- era uma voz feminina, e quando abriu a porta da cozinha, pude presumir que era a mãe do veterano.
—Bem vinda. Hoje vieste cedo.
—A reunião terminou cedo.- Só então olhou para nós- Ah! São amigos teus! Não costuma vir nenhum.- Depois encarou-me- Ou ela será a tua namorado?- o veterano ficou imediatamente corado.
—C-Claro que não.- Ri-me.
—Não sou, não. Sou uma companheiro do clube de futebol.- Levantei-me para a cumprimentar- Chamo-me Goenji Meiko. É um prazer.
—Encantado. Chamo-me Matsukaze Tenma e acabei também de entrar no clube de futebol.
—Meiko e Tenma, não é? Com que então são da equipa. Voltaram do treino?
—Sim.- Respondemos ambos.
—Bem, este ano também esperam poder vencer, não é? O Holy Road!
—Bom... Isto é... É que...
—Sim.- Não compreendia a hesitação do Tenma. Ele queria vencer ou não?- Claro que sim.- A mãe do veterano riu-se antes de se aproximar da mesa para se sentar.
—Come, senão vai ficar frio.- Claro que o Sangoku-senpai nem queria tocar no assunto. Todos nos sentamos sem dizer nada mais.
—Claro que este rapaz não me fala quase nada de futebol.- Esticou-se um pouco por cima da mesa para falar mais baixo, encarando-me- Será porque chegou à essa idade tão complicada dos rapazes?- sorri um pouco sem jeito nenhum- Eu não tenho marido, por isso também não sei algumas coisas a esse respeito.- Eu e o Tenma trocamos um olhar de estranheza. Creio que nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer- É uma grande complicação.- Mas a senhora parecia ser bem simpática- Na vossa casa também acontece o mesmo?!- as mães eram assim tão assustadoras?
No final ambos acabamos por explicar as nossas situações à mãe do veterano, enquanto comias pudim. Ela ficou curiosa com a do Tenma e lamentou a minha, desejando as melhoras da minha mãe e gabando muito o meu pai. Ao que parece era bem popular entre as mulheres.
—Obrigado pelo jantar!
—Obrigada.- Tinha sido uma ótima refeição.
—Em que posição jogam?
—Somos centro-campistas.- Claro que gostava de ser atacante como os meus pais, mas não tinha grande vocação para tal.
—Ah! Esses são... Os que rematam... E marcam golos, não?!
—Rematar?- sorri. Ela parecia não entender grande coisa de futebol- Mais ou menos...
—E qual é a vossa especialidade?
—O meu é o drible! Sei que ninguém me vence na hora de driblar!
—Ou seja que só sabes driblar, Tenma?
—Sim.- Riu-se. De seguida, a mãe do veterano encarou-me.
—E tu deves ter herdado as habilidades dos teus pais, não?!- quem me dera.
—Bom... Na verdade não.- Ri-me mais pelo nervosismo que pela vergonha.
—Então qual é a tua especialidade?
—O meu... Bem...- perguntava-me qual seria- Não tenho exatamente uma especialidade.
—Pois acho que deviam praticar os passes.
—Os passes?
—Driblar e passar é o mais básico do futebol. Se aos dribles juntares uma grande precisão no passes, irás melhoras bastante.- Depois encarou-me- E pelo que vi parece que te dás bem com passes e que tens uma precisão nata para eles.- Fiquei um pouco envergonhada. Não sabia disso- Entenderam?
—Sim.- Realmente tinham sido bons conselhos da parte do senpai.
—Começarei a praticar!- assenti. Não podia ficar atrás.
—Se quiserem, posso ir animar-vos e até podia preparar almoço a mais para vocês os dois!- reparei que o veterano fez logo uma cara de desagrado.
—Não tens porque ir.- Já imaginava o porquê.
—Estão a ver?! É assim desde que começou o secundário! Diz-me sempre para não o ir ver!- tentei rir, mas saiu tão forçado que temia que ela percebe-se. O filho só queria que ela não fosse para que não o veja a perder de propósito- Bem, vou fazer um pouco de chá!- e levantou-se.
—Lamento.- Não entendi o porquê- Sei que vocês gostariam de poder jogar futebol sem limites, mas...
—Mas vocês todos também, não?- por vezes tinha as minhas dúvidas.
—Lamento imenso, não posso ser como vocês.
—Sangoku-senpai, não...
—Entendo...- Não havia mais o que discutir.
—Meiko...
—Entendo que a vossa decisão esteja tomada, mas a nossa também.
Queria que ele tivesse isso em mente. Não ia deixar que o futebol continuasse daquela maneira.
*
—Dribla... Dribla... E passa!- e tornou a falhar a lata de refrigerante.
—Não! Assim está mal.- Não que eu estivesse melhor. Corri até à bola e levei a de volta para onde estava o Tenma. Era a minha vez.
Desde que saíramos da casa do nosso veterano, que decidimos ir a nossas casas trocar o uniforme escolar pelo fato de treino do clube de futebol. Queríamos praticar o quanto antes os passes. Cheguei a casa e contei tudo rapidamente à minha família, antes de subir após o meu tio me dizer para despachar. Tinha bastantes vantagens ter um tio louco pelo futebol!
—Ei! Tenma! Meiko!- do cimo das escadas estava lá o Shinzuke, também ele vestido da mesma forma, correndo até nós- Sabia que estariam aqui! Não conseguia ficar quieto em casa. Sempre sonhei com o Holy Road, e agora, mesmo estando no primeiro, vamos poder jogar!- assenti. Realmente tínhamos tido sorte em relação a isso.
—Eu também tinha pensado que iria demorar até jogar no campeonato, e olha só!- era bem verdade.
—Por isso quero jogar o melhor que sei!- ele estava entusiasmado- Ainda que digam que temos de perder.
—Não vamos perder.- Era teimosa sim, e no que dizia respeito ao futebol era ainda mais- Nós não vamos perder o jogo!
—Assim é. Jogar futebol pensando em perder é muito aborrecido, não é?
—Sabem que mais? Vamos treinar!
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