Over Game

O Covil do Diabo


Uma criança está sentada numa janela de um hospital. A luz do sol que nasce no horizonte começa a tocar suas costas, uns poucos raios brilhantes. Enquanto isso, a pequena criatura sustenta um olhar triste.

—Vovó...?

Um corpo começa a se mexer na maca, na direção em que a criança olhava. O princípio de um sorriso surge em seus lábios.

—Vovó…?

O corpo se vira na direção da voz doce da pequena criatura. Agora, é possível observar o rosto, enrugado e manchado por marcas de uma idade já bem avançada. Apesar da cena forte, os olhos sustentam um olhar leve e calmo, carregados por uma serenidade infinita.

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—Sim…?

Ao ouvir a resposta, a criança abre um sorriso radiante. Seus olhos conseguem brilhar ainda mais que o sol que surge às suas costas.

Sentada na janela, a criança sorri.

Sentada na janela?

Quem deixa uma criança sentar numa janela?

—YAAA!!! ACORDA!!!

Ouço uma voz conhecida gritando em urgência e, logo, meu corpo começa a ser balançado agressivamente.

—Ei, ei, ei. Vai com calma aí. -falo retardamente, bem como uma pessoa que acabou de acordar.

—CALMA O QUÊ?! CÊ TÁ DOIDA?! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO LARGADA AQUI?!

—...

—Akemi? -as mãos que a pouco tinham parado de me sacudir retornam a balançar meu corpo rapidamente- AKEMI?!

—Hum…?!

Abro os olhos aos poucos, encontrando os de Hongbin. Ele tem uma expressão séria. De longe a mais séria que já vi nele.

—O que você está fazendo aqui?! Eu fui ao hospital mais me disseram que você já tinha saído! Dois dias antes! -ele tenta virar meu rosto em sua direção, como se com isso eu fosse prestar atenção para o que está falando- A enfermeira falou que você pediu para sair mais cedo! DOIS DIAS mais cedo! Como assim?!

Fico olhando-o, enquanto ele continua com esse sermãozinho e sinto que vou recobrando a consciência aos poucos.

—... você deveria escutar o que o médico fala e não ficar dando uma de adolescente revoltada. Vê se cresce!

Esse cara. Eu quero chutar a cara dele.

—... aí eu chego aqui e te encontro jogada no corredor. Porra! Eu fiquei preo… -ele para por algum motivo.

—ahh… -eu começo.

Estamos bem próximos. Ele está perto. Perto o suficiente para eu cuspir na cara dele.

—Preocupado? Faça-me rir. -falo desdenhosamente, olhando para o lado- Até parece. Vai dar uma de bom samaritano longe de mim.

Começo a levantar meu corpo que parece mais pesado que o normal. Tal ação faz com que eu fique um pouco tonta.

Que se foda essa porra toda!

—Indo até me visitar no hospital?! Nossa quanta consideração a sua! -continuo- -Mas, quer saber?! Quem foi que te pediu para me ajudar?!

Agora estou de joelhos e me apoio na perna direita, tentando me erguer. A dor agora é agonizante e sinto meu corpo se virando um pouco para a frente. Consigo ver as muletas no chão, bem ao meu lado, mas o orgulho e a raiva não permite que eu as use. Desvio o olhar do chão e miro em Hongbin.

—Está me ouvindo?! QUEM FOI QUE PEDIU SUA AJUDA?! -continuo lhe falando, apesar dessas duras palavras não serem exatamente para ele- EU NÃO QUERO NADA! SÓ ME…

Eu caio no chão. Largada no piso frio, eu não poderia me sentir mais miserável. Sinto Hongbin ao meu lado, mas tudo o que consigo encarar é o brilho da luz refletido no porcelanato. Minha visão vai escurecendo.

Até que tudo fica preto.

CRACK!

Acordo com o barulho de algo se quebrando. Estou num quarto bem arrumado e limpo. Apesar de simples, o cômodo transmite um ar sofisticado. Noto que ainda estou com as roupas que usei quando sai do hospital, o mesmo vestido preto e meia calça preta com pequenas bolinhas brancas.

Corro os olhos pelo quarto inteiro e quando chego no lado direito, não consigo acreditar.

MEU DEUS.

O quarto tem uma parede toda de vidro o que permite ver o exterior: Seoul em sua mais bonita visão noturna. Não importa quanto eu veja ainda continuo pensando o quão sortuda é a pessoa a ter o direito de desfrutar de tal visão todos os dias.

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Tento chegar mais perto da vidraça, mas sinto algo me impedir. Olho para meu braço e vejo que um pequeno tubo me conecta a uma bolsa de soro.

Ai, merda. Merda. Merda. Merda.

Ouço um barulho de uma porta sendo aberta e fico alerta, mas percebo que não é aqui.

—GAHO, O QUE VOCÊ FEZ?!!! QUE MERDA!!!

A voz é familiar, mas soa distante demais para reconhecer. Volto minha atenção para o soro. Tiro a fita que o prende a minha pele com muito cuidado, mas daí vem a agulha e começo a sentir vertigem. Apesar disso, arranco toda a tralha sem maiores problemas.

Agora livre, apoio-me na cabeceira, tentando me levantar, mas acabo tombando algo no chão, fazendo um alto estrondo.

Porra.

Abaixo-me para pegar o que caiu, que aparentemente foi parar embaixo da cama. Estou quase com a cara no chão quando ouço a porta bem atrás de mim se abrindo.

Congelo.

—O que… você está fazendo?

Ouço uma voz questionadora atrás de mim, mas estou tão perto de pegar o porta-retrato no chão que resolvo que a pessoa pode esperar um pouco. Continuo me esforçando um pouco mais na minha missão, enquanto sinto olhos me fitando. Aí cai a fixa:

Estou quase rolando no chão de um lugar desconhecido.Estou ajoelhada de quatro, com a bunda apontando para o céu e metade do corpo embaixo de uma cama.Tem uma pessoa atrás de mim.Eu disse que estou de vestido? Não?

Eu odeio minha vida.

Levanto rapidamente, deixando o objeto no mesmo lugar. Sinto meu rosto ficando mais quente, enquanto ergo meu corpo, batendo a cabeça na cama.

—Aiii…

—Meu deus, tudo bem?! -exclama Hongbin, mais gritando que perguntando, enquanto se joga no chão- Machucou?! Deixa eu ver!

Então, não me condene achando que minha ação foi muito grosseira, mas, ao ver Hongbin avançando em minha direção, meu primeiro impulso foi jogá-lo para trás. Assim, não que tenha sido minha intenção. Foi apenas uma reação. Sei lá.

—Ehhh… -começo, quebrando o silêncio que se instaurou no comodo após o meu golpe- Desculpa… Não foi de propósito… eu…

Hongbin, que ainda estava tombado no chão, senta-se rapidamente e murmura um “tudo bem”. Ele parece tão sem graça quanto eu.

Espera, eu estou sem-graça?

—Hum-hum… -pigarreio, olhando para o lado- Então, como vim parar aqui?

Troco o tom de voz meloso-afetado que estava usando -sem perceber, obviamente— por um grosso-agressivo, em outras palavras, volto ao meu tom normal. Hongbin parece não ouvir minha pergunta.

—Que lugar é esse? -pergunto novamente.

Ele acorda do transe em que estava- com os olhos fixos em mim, o que me deixou desconfortável por 5 segundos, e depois só aumentou minha ira- e começa a se levantar.

—Ah, sim! Você desmaiou, caso não se lembre… -ele olha para mim com expectativa, faço uma cara que dê a entender que lembro vagamente, apesar de não recordar nada. Não quero que ele fique achando que sabe de algo que eu não sei. Nunca revele uma fraqueza ao seu inimigo. Aprenda com a mestra- Procurei a chave do seu apartamento, mas não encontrei. Não podia te levar para um hotel, porque fiquei com medo de sermos fotografados e começarem as notícias. Então, não sabia para onde te levar. É por isso que você está aqui.

—Aqui onde mesmo? -pergunto.

Ele se vira para mim, olhando-me como se fosse óbvio.

—Na minha casa.