Na manhã seguinte, estava sentada com meu notebook sobre as pernas, pesquisando em um grupo referente ao curso de Direito em minha cidade. Já havia me alimentado e dado uma caminhada pelo bairro. Após chegar em casa e tomar banho é que decidi iniciar minha busca por um estágio. Deslizava a tela quando um valor chamou minha atenção. Era uma oferta de estágio com a bolsa no valor de R$ 1.500,00. Eu precisava daquela vaga! O anúncio dizia que a seleção baseava-se em análise de currículo, prova escrita e entrevista, no entanto minha excitação diminuiu um pouco no momento em que observei se tratar do escritório Blossom&Seligman Advogados Associados. Sim, exatamente onde trabalhava meu professor. Com certeza seria difícil, mas valeria uma tentativa.

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Passei o resto da manhã organizando meu currículo e me preparando para eventuais perguntas que eu teria de responder em uma entrevista. Me olhei no espelho, analisando a imagem refletida. Eu tinha um metro e sessenta e nove, olhos castanhos e cabelos escuros, que dependendo do dia, estava ondulados ou mais lisos.

— Boa tarde, meu nome é Ayla Marin e eu gostaria de me candidatar ao cargo de estagiária – falei séria logo antes de fazer uma careta – Eca, muito formal! De novo... – respirei fundo – Olá, eu gostaria de deixar meu currículo com vocês. Como funciona? Vocês me ligarão para marcar uma entrevista?

E assim segui. Treinava para transmitir confiança, mas eu era a pessoa mais ansiosa do universo!

Depois de almoçar, fui até o escritório, que ficava a quatro quadras do meu edifício, e me surpreendi com o lugar. Era grande e sofisticado. Possuía quantos andares? Seis? Assim que entrei, observei o piso de mármore e a decoração requintada. Me dirigi à recepção e esperei poucos minutos até ser atendida. Segundo à moça que lá trabalhava, eles analisariam meu currículo e, caso julgassem satisfatório, eu seria chamada para fazer uma prova.

Saindo de lá, passei em outros dois escritórios da cidade a fim de deixar meu currículo. A tentativa é válida.

Três dias depois, estava voltando de minha caminhada matinal quando recebi uma ligação. Atrapalhada, demorei a atender até encontrar o celular.

— Alô?

— Bom dia, sou a Suelen da Blossom&Seligman Advogados Associados. Gostaria de falar com Ayla Marin.

— Ah, bom dia! – exclamei, com esperança, subindo os dois lances de escada – Sou eu.

— Ayla, seu currículo foi um dos selecionados na primeira fase para o estágio. Hoje, às quatorze horas, ocorrerá a prova dissertativa aqui no escritório. Será no terceiro andar, sala 303. Lembre-se de que não é permitido o uso de vade mecum ou qualquer outro material de consulta, apenas lápis, borracha e caneta.

— Certo, estarei aí – confirmei, enquanto girava a chave na fechadura do meu apartamento.

— Aguardamos você, então. Tchau, tchau.

— Tchau – encerrei a ligação.

Entrando em casa, me joguei no pequeno sofá. Sabia que não adiantaria estudar em tão pouco tempo, mas faria uma tentativa após tomar banho.

Cheguei ao escritório com um copo de café em mãos. Tentei beber um gole, mas estava muito quente, assim decidi retirar a tampa para refrescar o líquido. Totalmente concentrada em abrir o copo antes de chegar ao elevador, esqueci de cuidar por onde andava.

De repente, me choquei contra um corpo duro e alto e, claro, a tampa escolheu esse momento para saltar. Quando vi, uma camisa branca agora era manchada de marrom. Eu senti pingos quentes também no meu peito e ouvi um grunhido.

Levantei a cabeça e implorei silenciosamente para que um buraco se abrisse aos meus pés. Era o Professor Blossom. Fechei os olhos com força como se aquele momento pudesse desaparecer.

— Olha por onde anda, garota! – rosnou – Não acredito nisso. Selena, por favor, suba à minha sala e pegue outra camisa em meu armário – pediu sem olhar a loura ao seu lado, que assentiu e se voltou à direção contrária rapidamente.

— Me desculpe – murmurei – Sou tão desastrada! Sinto muito mesmo – meus olhos começaram a se encher de lágrimas assim que recebi um olhar feroz. O Professor Blossom logo passou a ignorar minha presença e se afastou. Pude apenas observar suas costas largas se distanciando.

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Procurei imediatamente por uma placa de banheiro e fui até lá. Olhei para o meu pulso, conferindo o horário. Ainda restavam quinze minutos para o início da prova, assim tive tempo suficiente para me secar e me acalmar.

A sala indicada devia ser utilizada comumente para reuniões. Era ampla e possuía uma enorme mesa de madeira cercada por cadeiras estofadas com couro. Cerca de dezesseis pessoas já estavam sentadas com bastante espaço separando-as e eu tomei meu lugar entre uma menina de traços asiáticos e um garoto ruivo que aparentava ter uns 20 anos.

– Boa tarde, pessoal. Sou a Suelen e estou aqui para aplicar a prova, que é formada por sete questões dissertativas. O tempo mínimo de duração é uma hora e o máximo é de duas horas e meia. Logo que eu entregar todas as provas, vocês poderão inicia-la.

1) José Inácio, ciente de que estaria em insolvência, decidiu doar todos os seus bens ao filho, Carlos. Diante desse quadro, indaga-se:

a) quais os elementos necessários a configuração da fraude contra Credores nos negócios gratuitos e nos negócios onerosos?

b) como distinguir a fraude contra credores da fraude a execução?

c) a fraude contra credores pode ser alegada em contestação como matéria de defesa?

2) Explique o princípio da Legitimidade Ativa Ad Causam.

3) O ato ou negócio jurídico inválido não produz efeito. Certo ou errado?

4) O que significa o princípio da conservação dos negócios jurídicos?

5) Disserte sobre os institutos da ratificação, redução e conversão dos atos jurídicos.

6) Diferencie abuso de direito de ato ilícito.

7) O Distrito Federal pode doar bens públicos? Existe alguma previsão nesse sentido na Lei Orgânica do DF?

Saí da sala com a sensação de dever cumprido. Não sabia se havia me dado bem, mas havia feito o melhor possível. Havia tentado.