Além de mim

Capítulo 11


Capítulo 11

A JOANINHA

Gostava de acompanhar as gotas de chuva escorrendo pelo vidro enquanto ficava sentada no pequeno sofá perto da janela do quarto. Era relaxante e me distraía facilmente. Seguia com o dedo o mesmo caminho que a gota percorria na superfície gelada, sorrindo serenamente.

Fechei os olhos e encostei a cabeça na janela, sentindo-me ser dividida entre o cansaço e a vontade de encontrar Chat Noir naquela noite. Mesmo que eu gostasse tanto da chuva, queria que ela passasse só para poder encontra-lo e conversar. Nós concordamos que era difícil patrulhar quando o tempo estava ruim, devido à péssima visão e o perigo dos telhados escorregadios.

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Estava satisfeita naquele dia, pois havia resolvido minha situação com Adrien e estava fielmente decidida a recomeçar. Meu primeiro grande passo foi aceitar meus sentimentos pelo garoto felino, o segundo foi voltar a ser amiga de Adrien mesmo sabendo de seu amor por outra garota – que, aliás, tinha curiosidade de saber quem era –, e o terceiro era tentar acreditar mais em mim, tentar melhorar a minha autoestima e ter mais confiança. Só que esse último ainda era um desafio.

Abri os olhos e olhei para o meu reflexo pálido e suspirei, fazendo o vidro ficar embaçado. Fiz um desenho na janela e ri de mim mesma por agir de forma infantil.

— Marinette, o jantar está pronto. – Minha mãe chamou da cozinha.

— Já estou indo.

Quando desci, peguei meu prato de comida e sentei à mesa. Parecia que a noite era especial, pois havia muito tempo que não comia um ensopado de legumes misturados de maneira tão deliciosa, servidos com molho de tomate, alho e cebola; também conhecido como o famoso ratatouille. Dei a primeira garfada e senti o gosto do paraíso. Eu dava graças aos céus por minha mãe cozinhar tão bem.

— Está gostoso, filha? – Meu pai perguntou, rindo com o meu deleite ao saborear algo tão bom.

— Está maravilhoso. – Olhei para ele e depois para minha mãe, que sorria pelo meu elogio.

A televisão estava ligada no canal de notícias, e por um tempo eu não estava prestando muita atenção, pois estava envolvida demais com o meu jantar. Até que minha atenção foi despertada ao ouvir a repórter se pronunciar.

“Paris está sendo atacada mais uma vez.”

Na TV aparecia uma multidão de pessoas fugindo de aleatórias rajadas de raios. Ouviam-se gritos de pavor, implorando por ajuda.

“Onde estão Ladybug e Chat Noir”?

Olhei para o minha comida e lamentei por não poder apreciá-la da maneira que deveria. Comi tudo às pressas e fui para o meu quarto com a desculpa de que tinha muito dever de casa para fazer.

— Não acredito que Hawk Moth decidiu atacar em uma noite chuvosa e na hora do jantar. – Resmunguei, aborrecida.

Tikki ria de minha careta enquanto saía de seu esconderijo.

— Espero que não passe mal por comer tão rápido.

— Eu também espero. – Bufei.

Transformei-me em Ladybug e segui meu caminho até o centro que estava sendo atacado. Parei em cima de um dos telhados e pude ver as descargas de raios caindo em um ponto específico.

Suspirei, sentindo as gotas geladas encharcarem completamente o meu cabelo. Estava tão frio naquela noite, que meus dentes batiam levemente um no outro e meu corpo tremia. Abracei a mim mesma, tentando inutilmente me esquentar. Olhei para os lados procurando por Chat Noir, mas infelizmente não havia qualquer sinal dele.

Talvez ainda não tenha visto a notícia.

Joguei o ioiô para o outro prédio e continuei seguindo para onde a confusão se alastrava. Quando cheguei lá, as pessoas corriam em busca de um lugar seguro.

Havia um homem que andava tranquilamente no meio da rua. Sua postura era intimidadora, e sua aura era negra e maligna. Usava uma roupa preta com um grande raio amarelo atravessando seu tronco. As íris de seus olhos pareciam duas rubis que brilhavam forte. Sua risada maquiavélica ecoava livremente, como se estivesse feliz por espalhar o caos. Na sua mão, segurava uma vara de metal que lembrava uma chave de fenda. Provavelmente era nela que o akuma havia se infiltrado.

Ele mirou sua vara na direção de um outdoor, disparando um raio que o fez despencar. Havia um garoto que corria desesperadamente sem perceber que estava indo em direção ao perigo. Pretendia lançar meu ioiô para resgatá-lo, mas um vulto preto acabou chegando antes de mim.

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— Deixa comigo, minha Lady! – Chat levou o garoto para um lugar seguro e em seguida posicionou-se ao meu lado. – Quem é a faísca?

O homem enfureceu-se com o apelido, apontando para nós com os olhos literalmente faiscando de raiva.

— Eu sou Elétroman e exijo que entreguem seus miraculous.

Revirei os olhos, bufando. Era sempre a mesma coisa. Decidi ignorar a sua ordem para tentar elaborar um plano.

— Chat, precisamos arrumar um jeito de tirar aquela vara de metal das mãos dele.

Ele assentiu, girando o bastão e ficando em posição de ataque.

— Você já tem alguma ideia de como fazer isso?

— Ainda não, mas acho que... – Ele não me deixou terminar de falar. Estendeu o bastão para o chão, ganhando impulso para dar um chute certeiro no homem. Havia uma barreiramagnética ao redor dele, fazendo Chat ser arremessado para longe pelo choque.

O mesmo caiu alguns metros para trás, em cima de uma grande poça de água. Elétroman mirou a vara de metal na direção do loiro para atacá-lo. Mas antes que soltasse alguma rajada de raio, lancei o meu ioiô envolvendo sua mão, impedindo-o de machucá-lo. Todo o seu corpobrilhou em faíscas, fazendo com que o fio do meu ioiô conduzisse suas rajadas de raio para a minha direção.

O fio estava úmido, então obviamente ele iria me acertar.

Levei um choque muito forte, gritando de dor e sentindo todo o meu corpo arder.

Caí de joelhos no chão, com o meu corpo dando alguns tiques nervosos. Meus músculos estavam doloridos e meus membros não me obedeciam. Eu precisava levantar, precisava fazer alguma coisa para impedi-lo, mas não estava conseguindo reagir.

Ele ria, divertindo-se com minha dor. Ouvi Chat gritar de ira, mostrando suas garras como um animal feroz e avançando na direção do inimigo. Elétroman disparava raios para acertá-lo, mas o gato desviou de todas as suas investidas. Suas pupilas felinas estavam comprimidas em uma linha, junto aos olhos raivosos e ameaçadores. Ativou o bastão mais uma vez, esticando-o de forma que acertasse o homem. Ele acertou em cheio, fazendo o homem voar alguns metros para trás.

Então eu finalmente havia entendido. Depois de descarregar grande quantidade de Volts em mim, havia ficado sem energia o suficiente para que pudesse erguer sua barreira. Ainda mais, também havia gasto parte do seu poder para tentar nos acertar.

Era como uma bateria descarregada.

Recuperei minhas forças, com o cérebro raciocinando rapidamente. Levantei-me, ainda sentindo-me zonza.

Elétroman levantou-se com a mão na costela, expressando dor e raiva. Segurou firmemente sua vara para o alto, absorvendo a energia dos fios elétricos da rua, recarregando seu poder. As luzes dos postes explodiam em faíscas. Coloquei as mãos no rosto, protegendo-me dos cacos de vidro que caíam.

— Chat, precisamos fazê-lo descarregar toda sua raiva! Ele precisa gastar os seus poderes! – Exclamei, chamando a atenção do gato. Ele concordou, me olhando preocupado por eu ter sido atacada.

— Desistam e entreguem seus miraculous. – A voz estava diferente. Era mais sombria e ameaçadora, causando-me calafrios. A máscara de borboleta havia surgido em seu rosto e os olhos, que antes eram vermelhos, estavam arroxeados. Era como se Hawk Moth estivesse se comunicando conosco através do Elétroman.

— Você sabe que nunca vencerá essa guerra, Hawk Moth. Nós vamos encontra-lo e você nos entregará o seu miraculous. – Desafiei-o com a voz firme e determinada.

Mais uma vez o inimigo lançou suas rajadas de raios, aumentando sua potência. Eu e Chat ficamos desviando de suas investidas, permitindo que ele extravasasse sua fúria e descarregasse todo seu poder. Lancei o Lucky Charm, recebendo de volta um pneu vermelho com pintas pretas. Olhei para o objeto com dúvida, perguntando-me o que raio eu faria com aquilo.

Então eu busquei em minha memória um momento das minhas aulas de física. A voz da minha professora veio à minha cabeça, respondendo a pergunta de um aluno.

“A borracha é um isolante comum de eletricidade.”

Se eu o prendesse com o pneu, a borracha isolaria as descargas elétricas. Estava chovendo, e o pneu logo ficaria húmido, então não teria tanto efeito, mas se ele estivesse com o seu poder limitado, talvez adiantasse.

— O que pretende fazer com isso? – Chat perguntou,ofegante, correndo para se proteger de mais uma rajada.

— Tive uma ideia! Distraia-o enquanto monto a armadilha.

— Essa é uma das minhas funções. – Ele disse sorrindo, ativando novamente o bastão e atacando.

Pulei em cima de um telhado, fazendo sinal para que Chat trouxesse o homem para mais perto do prédio que eu estava. Elétroman estava ocupado demais se preocupando com sua ira do que prestando atenção nos meus movimentos. Chat estendeu o bastão, empurrando o inimigo para o ponto em que havia marcado. Ataquei-o de surpresa por trás, prendendo-o no pneu. Ele tentou se soltar com o seu poder, mas não havia restado muito de suas energias. Nem mesmo conseguiu fazer a sua barreira magnética. Arranquei a vara de metal de sua mão e quebrei-a, libertando o akuma. Purifiquei a borboleta e lancei o ioiô para o alto, reconstruindo tudo o que havia sido destruído.

— Zerou! – Eu e Chat comemoramos.

A vara que estava na minha mão mostrou ser realmente uma chave de fenda. Olhei para o homem ajoelhado e notei que ele vestia um macacão azul e um boné com o símbolo de um raio. Tratava-se de um eletricista. Ele explicou que havia sido demitido por um erro e ficou chateado porque estava cheio de dívidas para pagar. Ele pediu desculpas pelos problemas que causou, e confortei-o dizendo que estava tudo bem.

Depois que ele foi embora, meus brincos começaram a apitar. Eu não tinha muito tempo para conversar com Chat naquela noite, precisava voltar para casa e alimentar Tikki. Ele deu alguns passos na minha direção e segurei sua mão que estava estendida para mim.

As gotas de chuva escorriam pelo couro de sua roupa, o cabelo estava mais escuro pela umidade e os fios de sua franja estavam grudados na testa. Ele parecia diferente daquele jeito. Nunca havia percebido o quanto ele era bonito. Talvez aquilo fosse mesmo o efeito do amor. Ele sorriu mais uma vez, mostrando seus dentes, provavelmente feliz por nós dois termos conseguido vencer mais uma batalha, juntos.

Eu queria dizer tudo o que estava sentindo, mas não havia muito tempo. Meu brinco apitou pela segunda vez, alertando-me que já era hora de ir. Dei um suspiro triste, querendo que o tempo parasse só para ter mais alguns minutos para conversar. Só que seria impossível.

— Não se preocupe, nos veremos o mais breve do que possa imaginar. – Ele disse como se estivesse lendo meus pensamentos, colocando a mão livre em meu rosto.

— Mas eu queria dizer uma coisa para você.

Ele arregalou os olhos, surpreso e curioso.

— E o que seria? – Entortou a cabeça, mexendo as orelhas como um animal.

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— Não posso dizer agora. Preciso de mais tempo. – Mordi o lábio, nervosa. Ele abaixou os olhos e balançou a cabeça confirmando. Encostou a testa na minha e fechou os olhos ao ouvir meu brinco apitar pela terceira vez. – Eu preciso ir, Chat.

— Sim, minha Lady.

Ele afastou-se de mim, relutante. Lamentei por vê-lo cabisbaixo. Acenei para ele e dei alguns passos para longe, girando o ioiô para que pudesse mirá-lo em um prédio. Ele também se despediu, virando-se e seguindo seu caminho. Saltei pelos prédios, distraída demais com meus pensamentos. Várias vezes dei um passo em falso, quase escorregando nos telhados molhados.

Quando cheguei ao meu terraço, nos últimos segundos minha transformação se desfez, e Tikki caiu em minhas mãos, cansada. Entramos no quarto e dei para Tikki os últimos biscoitos que haviam sobrado do pacote. Ela comia com gosto, fazendo sons satisfeitos enquanto mastigava. Chegava a fechar os olhos, apreciando o sabor doce do chocolate.

Ela tão ficava adorável, que dava vontade de apertar suas bochechas o tempo todo. Sorri ao vê-la tão feliz.

Meus pais já deveriam ter ido dormir, então aproveitei o silêncio da casa e fui sorrateiramente para o banheiro tomar um banho. A água quente relaxava meu corpo, levando consigo todas as minhas preocupações. Fiquei cantarolando enquanto lavava o cabelo e tirava todas as sujeiras da luta. Depois voltei para o quarto e sentei no sofá, olhando para a janela e observando novamente a chuva cair.

E foi ali, apoiada na batente da janela, que adormeci.

***

Os próximos dias seguiram-se com mais chuva, e nenhum outro ataque de Hawk Moth.

Na escola as coisas iam bem. Adrien ainda ocupava uma parte de meu coração, mas quem preenchia todo o resto era justamente o garoto mascarado. Aos poucos eu começava a enxergar Adrien de outra maneira. Bom... Eu tentava. Mas não houve mais conflitos entre nós e era isso que importava.

Parecia que o clima estava sempre querendo brincar comigo. Todas as noites choviam, fazendo com que a saudade de meu gatinho só crescesse. Ficava olhando para a janela, impaciente, rezando que o mal tempo passasse.

E parece que minhas preces foram ouvidas.

Houve uma noite em que o céu estava tão limpo, que era possível ver as estrelas cintilarem em um brilho sem igual. A lua crescente jazia no céu, mostrando que era época de mais um novo começo. De tanto que minha mãe falava sobre tais superstições, aquilo acabou se tornando uma influência na minha vida.

— Tikki, hoje tem patrulha. – Falei ansiosa, roendo as unhas.

— Já não era sem tempo. Não aguentava mais ouvir você reclamando todas as noites. – Ela riu.

Olhei para o relógio, acompanhando o ponteiro dos segundos girarem.

Dez horas.

Transformei-me em Ladybug e segui rumo ao nosso ponto de encontro na torre. Cada passo que eu dava era uma razão para meu coração acelerar-se ainda mais. Além de estar ofegante pela corrida, o motivo também era pelo extremo nervosismo.

Eu o encontrei sentado na borda de metal, olhando para o céu. A lua refletia em seus olhos, os fazendo brilhar ainda mais. Um pequeno sorriso formou-se quando se virou para mim. Ele se levantou, ficando parado para que eu pudesse me aproximar dele. Estava com o coração disparado, quase saindo pela garganta. Dei um sorriso, feliz por vê-lo depois de tantos dias.

— A senhorita disse que queria falar comigo, então deixou-me ansioso para encontra-la. O que seria tão importante?

Muitas coisas passaram pela minha cabeça. As borboletas batiam as asas no meu estômago, e o meu rosto deveria estar muito corado. Estava nervosa demais para conseguir abrir a minha boca e dizer alguma coisa decente.

Era difícil ter que vivenciar aquilo de novo, ainda mais depois de ter levado um fora pelo garoto que amava. Desde sua proposta, muitas coisas aconteceram. Descobri ter sentimentos que me rondavam há muito tempo e mal fazia ideia. Ele havia me mudado em tão poucos dias. Pude conhecê-lo melhor e enxerga-lo de outra forma. Pensava que ele só tinha uma quedinha pela Ladybug, mas suas ações mostravam que seu sentimento era mais forte, e aquilo acabou me encantando de tal maneira que era difícil de explicar.

E eu queria retribuí-lo de todas as formas. De coração e alma. Porque ele fez com que eu fosse capaz de amar novamente, e dessa vez com tamanha intensidade.

Se Adrien nunca tivesse surgido em minha vida, talvez eu o tivesse visto mais cedo. Precisava me desculpar por ter demorado tanto.

Respirei profundamente e engoli em seco. Meu corpo dava leves tremidas pela ansiedade. Ele me olhou admirado, como se estivesse entendendo o que estava acontecendo.

— Chat, eu... – Dei uma pausa, ainda incerta sobre o que diria. – Eu descobri uma coisa recentemente... Uma coisa que me fez perceber o quanto fui tola. Já faz um tempo que sinto algo diferente, mas estive negando por medo.

Ele arfou, quase perdendo o equilíbrio. Continuei falando, sentindo as mãos suarem por baixo das luvas. Fiquei mexendo com os dedos como uma forma de me acalmar; mas não estava ajudando muito.

— Desde que você fez a proposta, nossa relação ficou mais forte. E com isso, tudo o que eu sentia acabou se intensificando. Pedi que você fosse paciente e esperasse eu me apaixonar, mas não foi bem isso que aconteceu.

Fiz outra pausa. Tentei pronunciar cada palavra com cautela, para que não houvesse nenhum mal entendido. Quando percebi sua expressão mudar, decidi continuar rapidamente.

— Estar apaixonado é como idealizar uma pessoa, desejá-la do jeito que gostaria que ela fosse... e é um sentimento que não dura muito tempo. O que eu sinto é muito mais do que isso. Eu... – Estava sem fôlego, meu coração já deveria ter explodido há tempos e meu rosto, alcançado um vermelho mais forte que minha roupa. – Chat, eu amo você. Amo suas piadas sem graça, sua maneira de se exibir, seu jeito impulsivo e exagerado. Amo o fato de você ser sempre carinhoso comigo e cuidar de mim, amo a forma como me deixa arrepiada a cada toque delicado, e amo o verde de seus olhos e a maneira como os direciona para mim de um jeito tão doce. Amo muitas coisas em você.

Como já era de se esperar, ele estava sem reação. Suas bochechas também estavam vermelhas, talvez não tanto quanto as minhas. Seus lábios estavam semiabertos, tamanha a surpresa. Parecia não compreender o que eu havia acabado de dizer. Abria e fechava a boca várias vezes, procurando o que falar.

Ficamos em silêncio, enquanto todo o meu sangue era bombeado rapidamente. Aguardava sua resposta, mas não dizia nada. Fitava-me com os olhos arregalados e as pupilas dilatadas. Podia ver a mim mesma sendo refletida neles. A brisa retornava, nos envolvendo e levando consigo as minhas palavras que flutuavam no ar.

— Ladybug. E-eu... Eu nem sei o que dizer. Não há palavras para expressar todo o sentimento que sinto. Na verdade, eu te amo muito. Tipo, eu acho que não caberia no infinito. –Finalmente pronunciou-se, exaltado. Segurando meus ombros e aproximando cada vez mais nossos rostos. – Você não imagina o quanto esperei para ouvir isso de você. Já imaginei tantas vezes esse momento, e acabou sendo melhor do que esperava.

Seu sorriso não cabia na própria face. Os olhos brilhavam, não somente pelas lágrimas que brotavam pelos cantos, mas também por finalmente tudo fazer sentido. Nossas respirações misturavam-se, aceleradas. Ele me segurava com uma força nivelada, e suas mãos tremiam levemente.

Um tsunami de emoções eufóricas e turbulentas nos dominava. Foi naquele momento que todas as dores do passado, cada sofrimento, cada lágrima derramada, tudo havia sumido. O tempo parou. Nada mais nos rodeava. Era somente eu e ele, olhando um para o outro profundamente.

Abaixei os olhos para os seus lábios que foram mais do que convidativos. A temperatura ambiente havia subido alguns graus, ou talvez fossem somente as reações do meu corpo febril. Sentia-me arder em chamas, pela timidez e vontade de beijá-lo. Sua respiração batia próximo de meu rosto, com um pequeno espaço sobrando entre nós. Era possível sentir sua aura me desejando, e eu estava adorando aquilo.

E depois... Não houve mais distância que nos impedisse de agir. Eu me deixei ser levada pela sensação calorosa e aconchegante. Nossos lábios tocaram-se fervorosamente, quase nos fundindo. Ele abraçou minha cintura, puxando-me para cada vez mais perto de si, enquanto eu enroscava os dedos nos fios de sua nuca. O beijo aprofundou-se ainda mais – mais do que achei ser possível – causando dificuldades para recuperar o fôlego. Ele mordiscou de leve o meu lábio inferior com seus dentes proeminentes, fazendo meu corpo arrepiar-se.

Meu coração martelava forte e minha respiração transformava-se em arquejos, enquanto ele me apertava em seu abraço. Minhas mãos passaram para seu rosto, para que pudesse memorizar cada um de seus traços, mesmo com a máscara.

Ele queria me provocar; e eu não deixaria barato. Seguíamos um ritmo ousado, por conta dos nossos hormônios excitados. Até que o ar foi necessário e tivemos que quebrar o beijo. Encaramo-nos ofegantes, com pequenos sorrisos em nossas faces.

— Se isso for um sonho, eu não quero nunca acordar.

Ele me olhava tão profundamente como se quisesse ver além de mim. Como se pudesse enxergar a minha alma. Um olhar tão penetrante, tão intimidador, tão sedutor, que me enlouquecia. Tocou minha bochecha, fazendo um carinho gostoso. Ainda sentia o calor de seus lábios nos meus.

— Você poderia repetir? – Perguntou.

— Repetir o que?

— Que você me ama.

Sorri ainda mais, divertida.

— Eu amo você.

— De novo.

— Eu amo você. – Dei uma risadinha.

— Mais uma vez?

E ele fez com que eu repetisse isso várias vezes até que absorvesse tudo o que aconteceu. Em seu lugar, também não acreditaria. Estava surpresa até comigo mesma e o quanto me sentia mudada. Tudo graças a ele.

Depois nós nos sentamos na borda de metal, com minha cabeça encostada em seu ombro, ambos olhando as luzes da cidade. Paris era mesmo uma cidade muito romântica, e o clima entre nós era agradável.

Olhei para cima e visualizei seu rosto de perfil pensativo. O mesmo olhava algum ponto fixo, sério, fazendo-me estranhar o motivo. Passaram-se minutos, até que ele notou que eu o encarava.

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— Ladybug...

— Sim?

Deu um suspiro tristonho. Mordeu os lábios e movimentou as mãos de maneira insegura.

— Por quanto tempo continuaremos assim?

— Do que está falando? – Uni as sobrancelhas com dúvida.

— Sobre nossas identidades. Agora mais do que nunca preciso descobrir quem você é.

Fiquei hesitante. Ainda não me sentia segura em revelar quem eu era.

— Não acho que seja uma boa ideia. Não agora.

— Por que não? Tem medo de se decepcionar? – Perguntou cabisbaixo.

— Não é isso...

— Então o que seria?

Eu vacilei.

— Eu não... Eu não me sinto pronta para dar esse passo. Não tenho confiança em mim mesma. Há chances de você se decepcionar.

— Mas eu estou mais do que pronto. Quero muito te conhecer e quero que me conheça também.

Levantei-me irritada e virei-me de costas, cruzando os braços. Não queria discutir com ele. Não depois de tudo. Aquela noite era para ser especial, e não queria que acabasse com uma discussão idiota. Eu entendia sua curiosidade e ânsia em descobrir a verdade. Eu também me sentia daquela forma, mas para mim aquela não era a hora certa.

— Chat, por favor...

— Por favor, você. Não contestarei sua decisão, mas deixe-me mostrar o que há além do Chat Noir. Talvez a gente se conheça sem saber. – Ele mantinha a voz com expectativas.

Sentia sua presença próxima de mim, mesmo que eu estivesse olhando para o outro lado. Não pensava somente na minha péssima autoestima, mas também na nossa segurança. Seria melhor que fizéssemos isso quando Hawk Moth fosse derrotado.

Dei um suspiro cansado, virando-me para ele séria e mantendo minha decisão.

— Nossas identidades devem ser mantidas em segredo. – Falei pausadamente para que isso entrasse na cabeça dele.

Ele bufou. Franziu a testa, cerrando as mãos. Era claro que estava aborrecido. Depois de um tempo de silêncio, suas feições foram suavizando. Ele estendeu as mãos na frente do corpo, segurando o anel.

Meu coração apertou-se, em pânico. Mal conseguia raciocinar com o choque, vendo o que ele estava prestes a fazer.

— Desculpe, Bugaboo, mas eu não aguento mais isso.

Antes que pudesse ver o brilho de sua transformação, fechei os olhos, vendo o clareamento da escuridão através de minhas pálpebras. Não queria os abrir. Estava com medo, sentindo as lágrimas surgirem, querendo ser derramadas.

— Abra os olhos, minha Lady.

Pus as mãos no rosto, insistindo em não abri-los, mesmo que a vontade crescesse dentro de mim. Suas mãos tocaram as minhas para que pudesse abaixá-las. Em seguida, seus lábios estavam nos meus novamente.

O beijo foi sutil e um pouco receoso.

— Abra os olhos, por favor.

Como se estivesse enfeitiçada, contra toda a minha vontade, atendi a sua súplica.

E eu cometi o maior erro da minha vida.