Além de mim

Capítulo 1


Capítulo 1

A chuva caía intensamente do lado de fora. Observava as gotículas escorrerem pelo vidro da janela distraidamente, enquanto a aula acontecia. Não conseguia manter o foco em nada naquele dia. Mordiscava o lápis com a cabeça apoiada na mão, desejando que o tempo passasse mais rápido. Fingir que as gotas apostavam corrida era mais interessante do que química inorgânica.

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— Marinette! – Desviei a atenção da janela e olhei para a professora, que eu nem havia percebido surgir ao meu lado. – Como se já não bastasse chegar atrasada todo dia, ainda se recusa a prestar atenção na matéria da prova.

Senti os olhares em cima de mim. Era impossível não ouvir as risadinhas maldosas de Chloe e Sabrina. Tirei o lápis da boca e engoli em seco, nervosa por não saber disfarçar minha falta de interesse. A professora me olhava impaciente, entortando a boca indicando desgosto.

— Desculpe, professora. Tentarei estar mais atenta. – Falei abaixando a cabeça, sentindo meu rosto esquentar.

Ela não disse mais nada, apenas seguiu para frente do quadro e voltou a explicar sobre as ligações covalentes. Vez ou outra mirava o olhar para mim tentando ter certeza de que eu estava prestando atenção.

Logo depois eu percebi algo.

Algo que para mim era inédito.

Aquele cujos olhos verdes mais lindos que já vira, me encarava com diversão. Os lábios estavam levemente curvados, mostrando um pequeno rastro de sorriso. Em seguida virou para frente, voltando a anotar as explicações da professora.

Um ato tão simples, como um leve sorriso de Adrien, poderia fazer a minha cabeça dar mil voltas. Por que apenas ele conseguia fazer isso comigo?

Passei o resto da aula com cara de boba. Não percebi mais nada acontecer ao meu redor, nem mesmo me importei com os olhares da professora. Só conseguia pensar no pequeno sorriso que fora direcionado a mim. Não importava qual era o motivo daquilo, mas fez com que meu dia ficasse mais colorido.

— É incrível esse poder que ele tem sobre você. – Alya comentou assim que saímos da sala para o intervalo.

— O quê? Como assim?

Ela soltou uma risadinha e abraçou meu ombro nos guiando até o refeitório.

— Pensa que não notei aqueles olhares? – arqueou a sobrancelha e abriu ainda mais o sorriso, se divertindo com meu constrangimento. – Agora que o senpai te notou, acho melhor você tomar alguma atitude. Ainda mais, para mim, aquilo não foi qualquer tipo de olhar. Havia algo mais... Um brilho que poucos conseguem perceber... Sorte que sou uma boa observadora. – Piscou para mim.

— Mas, Alya, eu mal consigo trocar uma palavra com ele. Como vou conseguir tomar alguma atitude? Todos os meus presentes e cartas foram apenas gestos falhos para evitar dizer o que sinto pessoalmente. Nunca vou conseguir olhar para Adrien sem parecer uma idiota.

Suspirei cabisbaixa. Ela afagou meu ombro, transmitindo sua tranquilidade para mim. Alya era uma amiga maravilhosa. Não sabia o que faria sem ela, pois era a única que me entendia e em quem eu poderia confiar de olhos fechados. Não havia nada que escondêssemos uma da outra.

Bom... Quase nada.

Havia apenas um segredo que não poderia contar. E eu só o escondia para mantê-la em segurança. Quem diria que a garota mais desastrada do mundo era a maior super-heroína da França? A mesma heroína que Alya era obcecada. Ela havia criado até um blog para deixar todos os fãs da Ladybug informados por todos os acontecimentos.

E eu era a Ladybug.

Uma heroína vestida de joaninha que combatia o mal usando apenas um ioiô. Eu sei, é meio bobo...

— Bom... Garotos gostam de garotas confiantes e que saibam ser elas mesmas. Fique calma, ou ele pode acabar se assustando com seu nervosismo. Eu vejo que ele gosta de você, então ficará mais fácil revelar o que sente. Mas se demorar demais a se declarar vai correr o risco de perdê-lo.

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Arregalei os olhos com tal suposição.

— Perdê-lo? Nunca! Não permitiria.

Eu não tinha posse sobre Adrien, mas não queria me imaginar sem ele. Alya tinha razão, eu teria que agir rápido, ou ele poderia se apaixonar por outra garota. Meu pensamento era egoísta, típico de uma garota obcecada. Mas a paixão que eu tinha por ele era intensa, capaz de me deixar sem palavras e reações. Eu não queria mais continuar com esse amor unilateral, pois a cada dia aquilo me consumia. Amar uma pessoa sem saber se é correspondida pode ser angustiante.

Quando chegamos ao refeitório, comprei apenas um pacote de biscoitos. Sentamos em uma mesa perto da janela, onde se tinha uma visão plena do pátio. Havia parado de chover, e podia se ver as poças lamacentas que se formaram no caminho.

— E então? Vai falar com o Adrien? - Perguntou Alya, enquanto levava o biscoito até a boca.

Pensei por alguns segundos. Não poderia negar que estava com medo. Eu mal conseguia pronunciar uma palavra sem gaguejar perto dele. Então como diria que o amava?

— Eu não sei...

— Marinette, por favor tenha mais confiança em si mesma. Ouviu o que eu disse antes? Relaxa. Deixe que seu coração te guie nas palavras. Vai que ele sente o mesmo por você?

Sentir o mesmo por mim?

E se ela estivesse realmente certa?

Já pensei tantas vezes no que dizer para ele, escrevi tantas cartas que nunca foram entregues, então talvez fosse coisa do destino querendo que eu mesma revelasse o que sentia. Acho que palavras não seriam suficientes. Mesmo que eu não fosse correspondida, pelo menos eu teria tentado, não é?

De repente senti algo como determinação me preencher.

— Tem razão, Alya! Eu vou dizer o que sinto para ele, e vai ser agora!

— É assim que se fala, garota! - ela disse, fazendo um sinal positivo. - Agora vai logo e depois me conte como foi.

Assenti. Saí do refeitório e corri pelos corredores a procura de Adrien. Meu coração batia acelerado tanto pelo cansaço da corrida quanto pelo nervosismo de encontrá-lo.

Então eu parei para recuperar o fôlego. Senti minha bolsinha se mexer e olhei discretamente para ela. Uma cabecinha vermelha surgiu na abertura da bolsa, extremamente indignada.

— Você ouve os conselhos da sua amiga Alya, mas não ouve os meus quando se trata de Adrien, não é?

— Se esconda, Tikki! Alguém pode te ver. - Falei escondendo-a com as mãos e olhando para os lados, preocupada caso alguém tivesse a visto. Por precaução, fui para um lugar que não tivesse ninguém, então entrei no banheiro feminino do segundo andar que estava vazio.

— Isso não é justo, Marinette! Por que você ouve a Alya e não a mim? - Tikki saiu de minha bolsa e parando na altura dos meus olhos, fazendo um biquinho adorável e cruzando os pequenos braços.

— Não acredito que está com ciúmes - disse enquanto continha a vontade de rir. - Vocês duas são as minhas melhores amigas, não há razão para ficar assim. Por algum motivo eu me senti determinada a contar a Adrien o que sinto, mas não consigo encontrá-lo.

A partir do momento em que me olhei no espelho, toda a minha coragem sumiu. Eu não tinha uma boa autoestima. Na verdade, eu me considerava um desastre. Para quem pretendia cursar moda no futuro, não sabia lidar muito bem com críticas ou rejeições. Apenas por trás de uma máscara e lutando contra vilões que eu conseguia ter toda a determinação que, como Marinette, raramente tinha. Não pude evitar soltar um suspiro.

Por que Adrien ficaria comigo?

— Não acho que ele vá retribuir meus sentimentos... Olhe só para mim. Sou apenas Marinette. A garota desastrada, sem nenhum atrativo, que não sabe pronunciar palavras compreensíveis quando está perto dele e que vive na sombra de uma super-heroína que é basicamente o oposto do que eu sou.

Ela virou meu rosto para sua direção e fez com que ficássemos cara a cara.

— Eu simplesmente não te entendo. Você não vê o que eu vejo. O oposto da Ladybug? Marinette, você é corajosa e gentil, é determinada a ajudar as pessoas mesmo que isso te leve a fazer sacrifícios. Então pare de se rebaixar, pois Adrien seria idiota por não ver as suas qualidades. Você é linda e parece ser a única que não enxerga isso.

Sem que eu percebesse, uma lágrima escorreu em meu rosto. Por que aquilo agora? Olhei novamente o meu reflexo e enxuguei os olhos. Franzi o cenho e recuperei a minha postura.

Eu sou a Ladybug! Se ela tem coragem para combater os akumas, então eu também tenho coragem de me declarar para um menino.

— E todos adoram a Ladybug. – Disse para o meu reflexo. – Isso quer dizer que no fundo também gostam da Marinette.

Eu disse isso apenas para me deixar tranquila. Não que eu realmente acreditasse nas minhas próprias palavras.

— Está mais calma agora? – Perguntou Tikki, abraçando minha bochecha.

— Estou sim, obrigada.

Tikki voltou para a minha bolsa e eu andei em direção à porta. Estava nervosa, pensando no que diria para Adrien. Não queria pensar de imediato em qual seria a sua resposta diante de minha declaração, só sei que o poder da decisão sobre o nosso futuro estava em suas mãos.