Epílogo

Dois anos depois

Quando você vive por muitos anos, muito além da longevidade humana, você aprende a simplesmente se acostumar. Você se habitua às perdas, e os sentimentos originários delas se tornam, com o tempo, opacos.

Mas ao ver sua moradia de cem anos em chamas, Sugawara sentiu algo que não sentia há muito tempo. E sabia que havia mais de um motivo envolvido nisso.

Depois disso, ele retornou ao nomadismo característico da sua espécie, e se familiarizou a permanecer em movimento, embora nunca percorresse grandes distâncias.

Suas caçadas à noite eram sempre em ambientes longe de qualquer caçador humano, e ele nunca havia sido visto.

Até agora.

Ouviu estalidos de gravetos sendo esmagados atrás dele; ele agilmente escalou a árvore mais próxima, observando os movimentos em solo, vigilante.

Um homem emergiu de trás de um arbusto, retirando uma flecha da aljava e posicionando-a no arco, mantendo-a em riste, a postura sagaz e cautelosa.

Com a visão noturna aguçada, Sugawara reconheceu-o imediatamente. E não hesitou em aterrissar em frente a ele, mesmo estando sujeito a ser flechado.

Se o coração ainda batesse, estaria acelerado.

O corpo de Daichi se tornou rijo por um momento. Então, reconhecimento perpassou seu rosto.

— Suga.