Marcas de uma Lágrima

Capítulo IX


Um barulho estridente preenche minha cabeça me incomodando, minha visão começa a ficar turva e começo a ver as pessoas se desfazendo em fumaças coloridas e...

Abri meus olhos, minha cabeça doí. Me coloco em salto sentado, era coisa demais para minha cabeça processar, mas o barulho quase que ensurdecedor da campainha tocando me irrita. Chocando meu pé contra o solado de forma birrenta e quase infantil caminho até a porta, a abri e por um momento permaneci estático.

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— Seria um "déjà vu"? - Me pergunto. Ana e Victor na minha porta lado a lado exatamente como em meu sonho.

— Vai ficar aí nos olhando? - Victor quebra o silêncio brincando comigo.

— Vocês não vão me beijar né? - Mas do que rápido rebato sem perceber o quão idiota eu havia sido.

— Eu já explico, entrem... - Completo sem graça.

— Eu tive um sonho muito estranho... - E depois de um bom tempo explicando os dois se entreolham e caem na gargalhada enquanto eu os encaro sério.

— Não riam, eu realmente achei que ia perder vocês. - Nesse momento até Marcos tinha se juntado a eles para rir de mim.

— Ah, mas assim... - Gagueja Ana que só agora eu percebi que estava vermelha.

— Eu que escrevi a carta, mas supera isso! Só tinha um crush em você e o babaca aqui. - Ela acerta sua mão na testa de Vih.

— Me influenciou a escrever essa carta boba, mas já passou tenho até um namorado no Texas agora. -

— Os dois babacas sabiam e nada de me avisar? Porra em! - Me afundo mais no sofá enquanto suspiro aliviado de não ter que dar mais um fora.

Meu dia foi um tédio sem igual, mas na verdade acho que todos os domingos são meio tediosos e melancólicos, vi uma série nova de comédia muito boa e simplesmente passei o dia todo a vendo após a saída de Ana e Vih. Eu gostaria que chovesse, sempre me sinto bem quando chove e vejo série debaixo de uma coberta, mas nessa época do ano chuva seria a última coisa que aconteceria, eu acho. Estava cansado e queria dormir, mas minha mente estava a mil, parece que sempre quando vou tentar dormir meu cérebro decide brincar de pingue-pongue com meu cerebelo, só pode.

Me levanto, não iria conseguir dormir aquela hora. Abri uma caixa marrom em minha prateleira. Um pequeno coração vermelho e já até um pouco acabado por causa do tempo despontou em meio a bagunça. Uma fita de som com um pequenino coração carmim pintado com esmalte de unha ali estava. Uma memória ecoou em minha mente, um sorriso acabou por surgir em meu rosto e um calor em meu coração me acalmou. Caminho até o quartinho da bagunça, acho que todas as casas devem ter um, a minha não seria diferente, procurei e procurei. Em meio a um amontoado de panos velhos da minha mãe encontro o antigo Walkman do meu irmão jogado. O entrelaço em meus braços e sigo em direção do meu quarto novamente, encaixo a fita dentro do aparelho e aperto o grande botão preto central. Uma música calma e aparentemente antiga ecoava pelos fones velhos e empoeirado do Walkman, tenho vontade de espirrar, mas relembrar aquilo estava bom de mais para parar por causa de poeira. Deito-me na cama e com o tempo acabo por adormecer depois de muito tempo deitado olhando o escuro, ouvindo as musicas que a algum tempo foram importantes para alguém e esperando o sono vir.

Abri meus olhos assustado, achei que havia perdido a hora pro ônibus, hoje finalmente iria começar a estudar no curso que eu realmente queria e achava que havia nascido para. Já ia fazer alguns dias que havia conversado com minha mãe sobre isso e ela me apoiando foi algo sublime. Visto minha blusa favorita, uma preta com um unicórnio azulado e alguns símbolos que Vih insiste em dizer que é satânico, mas eu nego e digo que é somente a constelação de Monoceros.

Fico um pouco perdido quando chego na faculdade, o ateliê era distante e no subsolo. Me sinto adentrando uma masmorra cheia de monstros estranhos e prontos para me devorar. Entrar em um curso no meio do semestre é ruim, o povo já é tudo amigo e me sinto um estranho no paraíso. Inflei meu peito e arrumei meu cabelo, no primeiro passo para dentro da sala uma voz conhecida me chamou atenção.

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— Ah, não! Como me achou aqui? O que você quer? - Ela mexe em seu cabelo rubro enquanto briga comigo.

— Lia né? - Me volto, sem entender, para a menina.

— Tá me seguindo, seu maluco? - Ela levanta caminhando em minha direção, irritada.

— Ih, quê? Claro que não! É meu primeiro dia de aula... - Rebato tentando não me irritar.

— Ah... - Ela ficou envergonhada com todos da sala nos olhando. - Não fale comigo, ok? - Ela se afasta em largos passos indo em direção de uma das mesas altas.

Segui, então, para o canto da sala. Acho que esse é o lugar que os deslocados devem se sentar. Me aproximo de um garoto com cabelos negros e um sorriso estranho e como se Vih tivesse telepatia ele me envia uma mensagem.

Mensagem de Whatsapp:

Boa aula, cara.

Não vá arranjar um novo amigo

E me trocar

Tô de olho

Kkkkkkkkk

babaca, até mais tarde.

Respondo rápido e coloco o celular de volta no bolso, o garoto ao meu lado voltou seu rosto a mim e finalmente pude perceber seus olhos negros e profundos. Me assusto um pouco.

— Namorado? - Diz ele com uma voz doce e rouca.

— Que? Claro que não! - Gaguejo.

— Só um amigo... - Fico em silêncio dedilhando as unhas pela mesa de mármore com vergonha.

— Mas me fala... Qual o problema daquela garota? - Aponto discretamente a Lia, não queria que ela visse e levantasse para fazer outro barraco no meio da sala. Só queria me misturar e não ser notado.

— Ah... Ela é legal, só um pouco estourada. Depois de te conhecer um pouco ela vai ser legal. - Rebate ele enquanto rabisca em seu caderno.

— Porque pergunta? Tá a fim dela? - Consigo ver um sorriso malicioso despontar em seu rosto. Coro e não respondi. Passamos a maior parte da manhã em silêncio, eu estava extremamente envergonhado.

A aula foi maravilhosa e finalmente me sentia completo, havia finalmente encontrado o meu lugar. Na saída, o que eu queria tanto e achava que não podia acontecer, aconteceu. Começou a chover! Como eu iria até a estação na chuva agora? Não estava preparado para isso, não tinha levado o guarda-chuva.

Uma voz feminina emergiu de um guarda-chuva amarelo a minha frente. - Quer uma carona? - Corro em meio a chuva para o seu lado. Seguro em seu braço ao parar ao seu lado. Quando nos entreolhamos ambos coram.

— Você realmente não se lembra de mim? - Ela espera por minha resposta, mas nada falei, sua resposta veio como de supetão me jogando ao chão com um grande empurrão. Meu corpo se chocou ao chão e onde caí, fiquei. As gotas geladas tocavam minha pele quente criando um sentimento estranho e prazeroso em meu corpo. A vi caminhando para longe enquanto sentado numa poça de água eu observo o céu que até então estava púrpura.