Don't bless me father

Fácil é a descida


Mudança. Clary tirou as malas do porta-malas do taxi após pagá-lo com punhados de notas de vinte e seguiu para a entrada da casa de subúrbio. Eram sete da manhã de um domingo e sua nova família adotiva esperava por ela no jardim.

A Sra. Parker era a típica mulher de subúrbio. Dona de casa, usando uma saia que ia até os joelhos rosa e um cardigã amarrado por sobre os ombros, com os cabelos loiros e esticados, delicadamente arrumados. Já o Sr. Parker usava um terno bege.

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— Clarissa! - Clary foi subitamente abraçada. A Sra. Parker se afastou. - Oh, Mike, pegue as malas da menina e leve lá para dentro.

— Seja bem-vinda à sua nova casa, Clarissa. - Mike disse.

— Oh, vamos lá para dentro, quero que você conheça tudo.

Os Parker não podiam ter filhos e então resolveram adotar. A sra. Parker não queria trocar fraldas e então resolveram que uma adolescente seria mais fácil.

Entraram, a menina sendo guiada até um dos sofás da grande casa.

— E então, Clarissa, fez uma boa viagem?

— Eu, hmm, prefiro ser chamada de Clary. E sim, a viagem foi ótima. Meio longa, porém.

— Ah, então deve estar cansada! Vá tomar banho e descansar. Às seis sairemos pra missa de domingo. Você tem roupas de domingo?

— Eu... Hum, não sei?

— Ah, ainda bem então que eu comprei roupas de domingo pra você. Estão no seu quarto. Vamos lá, vou te mostrar a casa inteira.
*****

Clary saiu do banheiro do seu quarto secando os cabelos. O quarto era grande e azul bebê, com uma cama com dossel e móveis brancos. Tinha uma televisão grande, cortinas com estampa de borboletas e porta retratos vazios, com a exceção de um - com a foto do casamento dos Parker. Ela abriu sua mala, tirando uma blusa já gasta de um short de algodão, vestindo e colocando o resto em uma das gavetas. Organizou. Era fanática por organização. Tinha uma sacola em cima da cama. Pegou o que tinha dentro. Um vestido comportado, aparentemente até os joelhos, verde claro. Tinha também um cardigã de mangas curtas um tom mais escuro. Olhou no fundo da sacola e tirou uma caixa de sapatos. Um saltinho bege. Que ótimo! Agora ela era uma das Desperate Housewives.

— Toc toc. - A cabeça da Sra. Parker irrompeu pela porta do quarto.

— Sra. Parker! Pode entrar.

A sra. Parker adentrou o quarto e caminhou até perto de Clary.

— Você não precisa ser tão formal, querida. Pode me chamar de Emma ou de mãe. - Riu sem graça.

— Hã, tudo bem, Emma.

— Melhor. Enfim, eu só vim avisar que o almoço está pronto e perguntar se você tem a lista de coisas básicas que você quer do mercado.

— Como?

— Sabe... Sua marca de shampoo, sabonete, tipo de escova de dentes, essas coisas.

— Bem, qualquer um. No orfanato nós não podíamos ter predileção.

— Ah sim. Bem, então amanhã vamos às compras depois de te matricular na escola.

— Parece bom para mim.

O silêncio predominou o local.

— Vamos almoçar?

— Claro.

E desceram as escadas rumo à sala de jantar. A mesa estava posta e bem servida.

— Wow, quanta... Comida.

— Estamos comemorando a sua chegada.

Todos se sentaram e Clary começou a se servir. Assim que terminou, provou. Gemeu em aprovação.

— Dona Emma, isso aqui tá uma maravilha.

— Ah, obrigada querida. - Ela sorriu docemente e começou a jogar conversa fora. Clary estava prestando mais atenção na comida quando ouviu seu nome na conversa.

— Então, Clarissa... - Começou Mike. - Está em que ano escolar?

— Sênior.

— Mas já? É tão nova.

— Bem, eu comecei cedo e pulei uma série.

— Wow, temos um gênio entre nós. Pretende fazer faculdade?

— Se... Acessível, sim, pretendo. - Riu envergonhada. - Eu quero fazer arquitetura.

— Oh, você desenha? - Emma perguntou.
O olhar de Clary reluziu.

— Esperem um minuto. - Ela saiu correndo para o andar de cima, pegando o caderno de desenho. Eles estavam surpresos quando ela chegou lá em baixo. O caderno era velho e desgastado, mas quando ela o abriu, revelou os traços mais belos. Estava entre os dois, folheando as páginas bem desenhadas com cenas e coisas cotidianas.

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— Clarissa! Isso é ótimo!

— Obrigada. - Ela passou mais algumas folhas e fechou o bloco.

Clary terminou de se arrumar com suas roupas de domingo e saiu para o corredor. Sra Parker estava terminando de pôr os brincos.

— Ah, querida! Você está tão linda! Venha, eu tenho joias que vão ficar perfeitas em você.

Caminharam para dentro da suíte, ela buscando joias dentro do closet enquanto Clary admirava o tamanho do local. Emma voltou com um colar e brincos de pérola.

— Aqui. Os ponha.

Clary se conteve para não revirar os olhos, mas quis agradar Emma, então fez. Parecia uma engomadinha.

— Vamos lá, ou vamos nos atrasar para encontrar os Lightwood.

Eles foram pra fora da casa, se deparando com os vizinhos da frente saindo ao mesmo tempo. Eram um casal de adultos e um casal de adolescente muito parecidos. Vieram cumprimentar.

— Maryse! - Emma disse.

— Emma! Está linda! E quem é essa?

Mike e Emma apoiaram uma mão em cada ombro de Clary, com orgulho.

— Essa é a nossa filha, Clarissa. - Mike falou, pomposo.

— Ah... - Maryse pareceu entender e sorriu mais abertamente. - Seja bem-vinda, Clarissa. Eu sou Maryse Lightwood, esse é meu marido, Robert, e meus filhos, Isabelle e Alexander.

— É um prazer conhecer vocês. - Clary disse, envergonhada.

— Vamos deixar os jovens conversar. - Emma disse, com um sorriso.

— Clarissa, né? - Isabelle disse.

— Pode me chamar de Clary, Isabelle.

— Izzy. E chama ele de Alec.

Alec era um garoto muito, muito bonito. Com olhos azuis e cabelos escuros. E Isabelle, a alta, estonteante, morena, escultural Isabelle... Clary sentiu os pontos de autoestima entrarem em depressão.

— Gostei da sua roupa. - Izzy disse.

— Fique com ela pra você. - Clary disse, mas então se arrependeu.

— Crianças, para o carro! Vamos!

*****

Eles se sentaram todos juntos, no segundo banco da igreja grande e clara. Clary nunca se considerou religiosa, ainda mais praticante. Mas não iria tirar sarro. Depois de algum tempo do início da missa, os coroinhas entraram antes fo padre. Seu olhar congelou no terceiro.

— Santa. Mãe. De. Deus. - Saiu de seus lábios.

— Olha, Mike! Mal chegou e já tá rezando!

Mas Clary não se importou com o orgulho de Emma. Ele era a coisa mais linda em que ela tinha passado os olhos.

Os cabelos loiros, a pele ligeiramente bronzeada, a altura e ombros largos. Ao chegar no altar, depois de fazer o sinal da cruz, ele se sentou numa das cadeiras da lateral e virou-se para os bancos. Isabelle acenou enquanto Clary tentava adivinhar a cor dos olhos dele.

— Quem é? - Clary sussurrou para ela.

— O coroinha?

— Não, aquele que tá ali na cruz... Claro que é o coroinha.

— Meu primo, Jonathan.

E então o padre começou a rezar a missa, mas Clary só conseguia se concentrar no garoto do cabelo loiro. Jonathan.

*****

Dado o fim da missa, todos saíram para o pátio.

— O que estamos esperando? - Clary sussurrou para Emma.

— Os Lightwood. Eles sempre dão carona ao sobrinho.

— Ah...

Não tardou muito para que Jonathan chegasse acompanhado de outro coroinha, agora vestidos de camisa social branca, calça preta e sapato envernizado.

— Bênção, tia. - Ele disse, beijando a mão de Maryse. - Bênção, tio.

— Deus te abençoe, querido. - Eles disseram em uníssono.

— Eu queria saber se poderíamos dar uma carona ao Jordan hoje. A mãe dele ficou doente e não pôde vir e está tarde e perigoso para ele ir sozinho.

— Bem, querido, eu adoraria. Mas Alec veio conosco hoje e não temos espaço sobrando no carro.

— Não seja boba, Maryse! - Emma disse. - Temos espaço o suficiente no carro. Ele pode vir conosco.

— Tia Emma! Não vi a senhora. - Jonathan correu e a abraçou. Depois deu um abraço em Mike.

— Jonathan, queremos que conheça nossa filha, Clarissa.

Ele olhou pra ela com um sorriso e tomou uma respiração profunda, estendendo a mão para a dela.

— Muito prazer, Clarissa. Eu sou Jonathan Christopher.

— Rá! J.C. Como Jesus Cristo. - Ele soltou uma risadinha. - Pode me chamar de Clary.

— Tia Maryse, eu vou com o Jordan para que ele não se sinta sozinho.

— Tudo bem querido!

Todos se acomodaram nos carros, Jonathan ao lado de Clary, as pernas se tocando. O caminho foi longo e tortuoso para ela, que sentia-se estranhamente atraída pelo bom garoto sentado ao lado dela. Como podia ele exercer tamanho magnetismo em apenas uma noite?

Seria um longo ano.