Looks

Imaginação


— Bom dia, Docinho de Leite! Hora de acordar!
Minha mãe abriu a porta, me chamando com sua suave voz. Eu estava dormindo tão tranquilamente, que não sei se vou levantar não, obrigado, estou muito bem na minha caminha quentinha.
— Parece que ele está dormindo tão profundo, dá até dó de acordar... — Tentei segurar o riso. — Bem, vai sobrar mais croissant para mim. — Fechou a porta. Croissant... Deu até uma vontade de levantar... Não vou deixar ela comer por mim não!
Me levantei em um pulo e saí correndo para o banheiro, escovando meus dentes brancos e indo para a sala de jantar onde estavam. Fui de pijama mesmo, essa é uma das maravilhas de ter 5 anos.
— Bom dia. — Me sentei.
— Poderia ter vindo mais cedo. — Meu pai sentava na ponta da mesa, mais precisamente também do meu lado. Depois desta frase, o encarei com um olhar de dúvida, havia demorado tanto assim?
— Gabriel, ele levantou. Melhor do que se estivesse dormindo ainda. — Salvo pela minha mãe, e esse é um dos dons dela, me salvar de encrenca. — E ele veio em menos de cinco minutos. — Piscou para mim.
— Posso sentir cheiro de croissant nos meus sonhos. — Realmente. Croissant é minha comida preferida, se assim posso dizer. Só não como todo dia porque não é saudável como meus pais dizem, mas acho que vou começar a considerar a idéia.
— Que bom. Mas você sabe que não pode comer todo dia. — Parece que ela leu minha mente, de alguma forma que eu gostaria de saber. Às vezes acho que todo mundo tem um super poder, menos eu.
— Eu sei. — Acho melhor eu riscar essa ideia de uma vez, afinal, melhor comer de vez em quando do que não comer nunca.
— Amélie, já perguntou para ele? — E agora ele deixou o ar com um pouco de suspense, o que eu havia perdido da conversa?
— Perguntou o que?
— Ainda não. — Alguém me explica o que está acontecendo? — Adrien, quer ir no trabalho da mamãe hoje? — Até que não era uma ideia tão ruim.
Minha mãe é modelo nas horas vagas para a empresa do meu pai, ele é um designer de moda que aos poucos está construindo uma grande fortuna, posso dizer que é o mais famoso e talvez o melhor de Paris. Eu acho que eu deveria aceitar, essas são oportunidades únicas, não é mesmo?
— Tudo bem por mim. — Sorri.
— Depois do almoço nós vamos. — Tinha muito tempo de sobra ainda, mas eu estava meio que ansioso.
Terminei de comer e me retirei, essa era a pior parte do dia, eu não tinha o que fazer. Fui para meu quarto e me deitei na cama, pensando em algo.
— Preciso de idéias...
Comecei a falar sozinho, mas isso deve ser normal para uma pessoa como eu.
— Idéias, onde vocês estão? Imaginação!
Será que elas gostam de chocolate? Posso fazer uma isca para atrair elas, porém... Como se caça algo assim? Esquece.
Rodei o quarto com os olhos, à procura de algo inspirador. Eu poderia desenhar... Mas... O quê? Eu ficaria me perguntando o resto da manhã se não tivesse deixado um brinquedo no chão, uma "arminha" de brinquedo. Eu tinha já fazia algum tempo, era normal crianças da minha faixa etária terem. Aquilo atirava água e por isso eu quase nunca brincava do jeito que havia sido fabricado, pois se fosse assim meus pais já teriam me colocado de castigo, talvez numa sala escura isolada como nos filmes que assisti.
— Acho que só um pouquinho...
Meus pensamentos se tornavam outros, a vontade de querer brincar com aquilo aumentava de 10 para 99%, meus chamados foram ouvidos, porém não da forma ou no que eu precisava. Finalmente me levantei e peguei, observando a estrutura. Um pouco de diversão iria me fazer bem, depois eu me ajusto com o castigo.
— Vamos lá. — Suspirei.
Música de aventura. Coloquei água no reservatório e saí correndo pela mansão, me sentindo um policial, ou algo parecido.
— Agente Adrien em ação.
Desci cautelosamente as escadas, olhando para os lados para ter certeza de que estava seguro. Segui para a cozinha, onde os chefes já preparavam o que eu iria comer no almoço daqui algumas horas.
— O que vocês estão preparando? — Minha curiosidade me levou a perguntar. O bom era que todos ali eram pessoas de personalidade gentil, gostavam de trabalhar ali, e claro, me alimentar bem.
— Comida. — Riram. Não era bem essa a resposta que eu esperava.
— Que tipo de comida?
— A que você vai almoçar. — Novamente não era a resposta que eu queria.
— O que vai ter para almoçar?
— Comida. — Disseram em uníssono. Agora a piada havia ido longe demais, fiz uma careta para mostrar que não fiquei feliz com as respostas rápidas e acho que entenderam.
— Depois você descobre. Se eu te contar não vai ser mais especial. — Alguém me respondeu.
— Por quê?
— Porque não vai ser. — Eu era muito baixinho para ver o que tinha nas panelas, então eu teria que esperar mesmo. — E o que você tem aí? — Havia esquecido que eu ainda estava escondendo o brinquedo.
— Nada... — Um sorriso brotou no meu rosto, outra ideia brilhante surgia. De repente, atirei água nele.
— Ei! — Já que não fui o único a rir, comecei a atirar em todo mundo. Ninguém ficou bravo, pelo contrário, acho que coloquei um pingo de felicidade naquele lugar. Tudo isso durou até minha mãe aparecer na porta com a mão na cintura, desconfiada do que estava acontecendo. Só pensei em uma coisa: "game over".
— O que vocês estão fazendo? — Ela perguntou, arqueando a sombrancelha.
— Brincando. — Respondi.
— Sabe que não pode brincar com isso aqui dentro. — Entreguei para ela minha arma secreta, não sei o que deu em mim. A única coisa que eu podia fazer era ficar de cabeça baixa e mostrar que estava arrependido. — Splish Splash! — Ela me enganou direitinho, simplesmente atirou em mim.
— Ei! — Agora eu estava molhado, rendido, perdi o jogo. Mas sinceramente, foi até divertido.
— Vem, vamos tomar um banhinho.

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— Vamos, mãe, vamos! — Eu a puxava pelo braço enquanto a mesma procurava alguma coisa na bolsa.
— Tenha calma, estou indo.
Finalmente fomos para o carro, o motorista abria a porta para nós entrarmos. Nosso destino era um parque ali perto.
Quando o carro estacionou na rua, sai correndo animado, já havia vindo algumas vezes ali, porém nunca para acompanha-la no serviço dela.
— É um belo fundo para foto. — Sorri.
— Sabia que você iria gostar de vir aqui. Qualquer coisa que quiser é só me falar. — Me deu um beijo na minha testa e seguiu para onde os fotógrafos a esperavam e eu simplesmente me sentei no cantinho e fiquei observando.
Minutos se passaram, ou até hora talvez, até tirei algumas fotos junto com a minha melhor modelo do mundo, ela me mostrou várias coisas e me deixou compartilhar uns sorrisos.
Depois que tudo terminou, ela ficou vendo as fotos, auto avaliando-se. Eu observava o ambiente, encantado com as pessoas que passavam, crianças e adultos, principalmente crianças. Porém, o que mais chamou minha atenção foi dois lindos olhos azuis como flores em um rosto pálido e rosado passando ao fundo, tudo parecia ter parado em volta, literalmente.