Olhe nos meus olhos

Não irei te abandonar


Solidão não é estar sozinho, mas é não conseguir ficar sofismo, não se suportar.

Assim como a solidão não tem conexão com o deserto e o isolamento. Pode acontecer casado, acompanhado, cheio de gente ao lado.

Solidão é guerrear com a imaginação, lutar com a memória, combater os pensamentos. É se posicionar contra o perdão.
Solidão é uma saudade de si.
Solidão é rir sem vontade mais do que ter vontade de chorar.

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Solidão é não ser compreendido. É explicar o que machucou e não receber o curativo da atenção.
É não saber mais como começar uma conversa.
Solidão é jamais encerrar as mágoas, adiar a despedida para fingir que a relação não acabou.

Solidão é ir substituindo a vida por mentiras, é ir substituindo os compromissos com desculpas.
Solidão é quando o silêncio vira fardo.
Solidão é se sentir só ainda desejando estar só.

Onde ela está?! - Regina entrou no hospital, a atendente olhou confusa para a mulher transtornada.

— Lara Kaoski. Tem 7 anos e foi trazida por Cora Mills. - Emma interrompeu se aproximando do balcão, percebendo o estado da sua esposa.

Digitou, deixando Regina mais aflita a cada segundo. - Sim, temos uma paciente com esse nome, mas foi... - olhou melhor o nome. - Foi Brandon Swan Jones que troux...

— Onde ela está?! - Regina bateu no balcão. - Não importa quem trouxe, quero saber onde ela está!! - não estava com paciência.

A atende parecia assustada, olhando para os lados em busca de um segurança. Emma retirou o distintivo e colocou sobre o balcão, empurrando devagar. - Pediatria, sexto andar. Está na sala de observação. - a mulher falou baixo, ainda receosa,

Regina agradeceu entredentes e correu para o elevador, Emma parou ao seu lado, apertando várias vezes o botão.

— Ficar apertando assim não irá fazer ele chegar mais rápido. - Regina não tirou os olhos do demonstrador de andares. - Só me irrita.

— Estou frustrada, isso me acalma.

Olhou para Emma, sentiu culpa. - Desculpa Emma, eu... Eu não deveria ter permitido. Eu... Eu deveria saber o que ia acontecer, foi tudo minha culpa.

— Regina, calma. - Pegou a mão da esposa, fodas quem estivesse olhando, era sua esposa preocupada e era sua filha que estava doente. Fodas a sociedade e seus embustes mesquinhos. - Foi uma decisão que tomamos juntas. Não sabíamos o que ia acontecer. Cora já cuidou dos nossos filhos antes. Calma ta.

— Mas ela é diferente Emma. Lara é diferente. - Seus olhos estavam molhados. - Os traumas dela estão muito recentes ainda e ela é só uma criança. Uma criança que precisa de compreensão e carinho. Precisa ser amada, precisa de nós.

Emma olhou nos olhos da esposa, havia certeza ali. - Você sabe que não terá mais volta se tomarmos essa decisão, não é.

Estavam conversando com os olhos.

— Eu quero os dois. - Regina afirmou

— Eu também.

***

Após conversarem com o médico, Regina entrou na sala de observação, Lara estava sentada em um canto, encolhida como uma bola humana.

— Ei. - Regina sussurrou, Lara levantou os olhos e em um pulo correu para os braços da morena, correu para os braços da sua mãe. - Você está queimando de febre, meu amor. Vamos pra cama.

— Não! - A menina gritou, se agarrando mais nos braços de Regina, como se a morena fosse fugir a qualquer momento.

— Vai ficar tudo bem, querida. Estou aqui agora.

— Não deixa ela me levar, mamãe. Por favor! Ela me trancou no banheiro! Não deixa.

Regina sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto e apertou mais a menina no seu colo. Conhecia bem aquele desespero, já esteve naquele lugar antes. - Ninguém vai te levar pra longe de mim, nunca mais. - Sabia que Lara estava delirando pela febre, talvez estivesse confundido Regina com sua mãe, mas não importava, ela sentia seu coração doer como o de uma mãe.
Levantou com Lara em seus braços e sentou com a menina na cama, notando a presença de Emma.

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— Me perdoe, tive que expulsar sua mãe daqui. Ela começou falar que era manha, que era falta de cinta, que...

— Ela encostou a mão na menina? - Havia raiva e mágoa na voz de Regina.

— Não. Brandon não deixou. - colocou as mãos no bolso, tentava ignorar a raiva que passava por seu corpo. - Parece que Lara chorou de noite e foi trancada no banheiro "para acalmar". O Nico descobriu de manhã e tentou arrombar... Cora escutou a bagunça e quis bater no Nico e na Lara, Brandon não deixou e trouxe os dois pra cá. - respirou fundo. - Teremos problemas com o sistema de adoção.

— Não importa, ninguém vai tirar meus filhos de mim! - Estava decidida. Queria Lara e Nicholas. - Por favor Emma, chama um médico, ela está queimando em febre.

— Seremos interrogadas, só queria que você soubesse disso. - Emma saiu devagar, olhos no chão e mãos ainda no bolso. Deu alguns passos pelo corredor e socou a parede. Sentiu uma lágrima queimar seu rosto, conhecia todos os medos de Regina, todas as causas dos pesadelos. Encostou na parede e encarou o teto, não esteve lá para proteger sua esposa na infância, mas daria a vida por aquelas crianças.

Respirou fundo, imaginando uma Regina pequena, sem pai e sem esperança, trancada em um banheiro até cansar de chorar e dormir. Imaginou o chão duro e frio e aquela menininha encolhida ali, aguardando por sua liberdade. Desde que conheceu Regina, sabia que tinha algo errado, como o receio do completo escuro, motivo pelo qual sempre tiveram que deixar a luz do corredor acesa.

"Nunca imaginei que você fosse me querer, Emma. Sou tão quebrada." Emma lembrou desse dia, o medo que Regina tinha de ser amada, ela estava acostumada com ódio e indiferença, não com amor, talvez por isso fosse tão assustador. Emma passou a mão pelos cabelos, não era medo do amor, era medo do abandono. Regina temia ser abandonada.

Nico se aproximou com dois copos de plástico na mão e um pacote de mashmellow debaixo do braço, sentando ao lado de Emma.
— Minha irmã ta melhor? - perguntou entregando um copo para Emma e abrindo o pacote.

A mulher olhou curiosa para aquela ação: - Lara te falou sobre chocolate e mashmellow?

— Não, mas quem não gosta?

***


Regina conhecia a esposa, sabia o quanto Emma estava nervosa e machucada. Sabia da mágoa que Emma tinha de Cora, sempre a tratou bem, mas nunca gostou dela. Na verdade, nunca se gostaram.
Aconchegou melhor a menina em seu colo, ela balbuciava coisas sem nexo, continuava delirando.
Lara Passou a noite em um local frio e úmido... Regina balançou a cabeça, queria afastar os pensamentos para longe de sua infância. Para longe daquele banheiro frio, que ela não alcançava a luz, onde chorava até dormir, onde se sentia abandonada. Sua mãe não era uma pessoa má, só não sabia como ser mãe, como educar uma criança.

Pensou sobre seu medo de perder Emma, era isso! Ela teve sequelas daquelas noites no banheiro, sua sequela era o medo do abandono, o medo de ficar só.

— Todos temos nossas cicatrizes, só espero que você não tenha nenhuma dessa noite, meu amor. - beijou a testa de Lara, que remexeu nos braços de Regina e olhou para cima, encarando a morena.

— Cadê Emma. - Os olhos azuis fitaram a preocupação de Regina

— Não sei, querida.

— Não me leva pra lá de novo. - implorou.

Regina acentiu, não escondia mais as lágrimas em seus olhos. - Não vou.

— Fiquei com muito medo e chamei você. - chorou - Mas você não tava lá.

— Mamãe ta aqui agora. E ninguém vai tirar você de mim.