Olhe nos meus olhos

Dedos frágeis


Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)a sua primeira rosa

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.

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E.E. Cummings

— Por favor, Regina, são apenas algumas semanas. Prometo - Edward disse apressado, balançando alguns papéis no ar.

— Ainda não falei com minha esposa, Ed – Tentou mais uma vez ligar para Emma.

— Ela vai aceitar. Ela é gente boa. Por favor, Regina. E você sabe que me deve uma.

Regina fechou a feição, odiava ser cobrada por favores. – Tudo bem. Vou ver a garota. Não garanto nada.

Edward gruniu saltitante, fazendo Regina fazer careta ao bater a porta do carro. - Você precisa disfarçar melhor Ed, voou purpurina em mim.

— Há apenas você e eu, minha heterossexualidade está a salvo.

Regina revirou os olhos. “Como se existisse alguma” pensou e olhou receosa para o local gradeado e com cercas afiadas altas. – Quantos anos essa menina tem mesmo?

— Sete. – Olhou os papeis.

— E precisa disso tudo? Parece uma prisão. – Torceu o nariz ao ver um guarda armado rondando o outro lado.

— É melhor que o lugar onde você tirou os gêmeos.

— Eu tirei eles de uma poça de vomito e drogas, qualquer coisa é melhor que aquilo.

O portão se abriu, duas garotas saíram, ambas muito machucadas. Regina engoliu a seco.— Apenas para refrescar minha memória, o que essa garota fez mesmo?

— Ainda não sabemos, resgatamos ela de um incêndio – abaixou o tom de voz— criminoso.

— Por favor, não fala que foi ela que pôs fogo. Me casei com uma policial, não com uma bombeiro. – Regina olhou sério para Edward— Sem bobeiras.

— Que pena amapoa, tinha uma frase perfeita em mente. A sua é a loira. – Edward entregou os papéis a um guarda armado, guarda esse que empurrou a loirinha de olhos amedrontados para frente. O empurrão fez seu frágil corpo sacolejar, quase deixando cair uma ovelha encardida de pelúcia no chão.

— É essa aí que vai ficar com a garota? — A voz do guarda era grave e alta, como um comando.

— Ainda não sabemos. – Ed olhou receoso da garota para Regina. – Ainda não sabemos. – sua voz saiu mais fraca. – Se ela não ficar, teremos que levar a um orfanato.

Regina olhava a pequena garota abraçada a pelúcia, como se aquele inútil objeto fosse protegê-la de algo. Os olhos fixos no chão.

— Ei! – O guarda falou, o som ecoando pelo pátio cheio de papelões.— Você vai levar a garota ou não? Ainda tenho essa outra aqui pra entregar. – Apontou para a garotinha emburrada. Arrumou a arma na cintura e empurrou a descabelada loira para frente, separando-a da emburrada.

A pequena olhou para Regina, seus olhos azuis marejados. E tudo que Regina pode ler ali era: “me ajude”.

— Irei... – olhou para Ed— Mas... será apenas algumas semanas.

— Você não vai se arrepender Reg.

“Tomara” Regina pensou ao analisar as faixas e ataduras da menina.

Tentou mais uma vez falar com Emma.

***

— Então, essa é sua casa temporária. Espero que se sinta bem aqui. – Estacionou o carro e olhou para trás, sorrindo para a menina encolhida. – Eu gosto muito dessa casa, sem fogo, por favor. – Tentou brincar, mas se arrependeu ao ver que a menina se encolheu mais, agarrada ao cinto.— Desculpa, foi uma brincadeira.

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A menina balançou a cabeça devagar.

— Olha, tenho mais três filhos. Eles são mais velhos que você. Mas, realmente espero que vocês se deem bem, ok? – A menina apertou sua ovelha— Vamos sair do carro.

Regina abriu a porta e ajudou com o cinto, olhando com um certo incomodo a ovelha extremamente encardida. “Precisa urgente de um banho. E não é só a ovelha que estou falando”, pensou abrindo a porta de casa.

— Oi mãe! O suco acabou. – Jesus passou por elas com uma caixa de suco, indo em direção ao seu quarto.

— Ele quis dizer que ELE acabou com o suco. – Marianna andou em direção ao seu quarto— Preciso de 20 dólares hoje à noite, mãe. – Subiu para o quarto com pipoca e refrigerante.

— Preciso de uma softbox nova pra gravar meus vídeos, mãe – Brandon gritou do corredor.

— Venham todos aqui agora! — Regina falou alto, assustando a menina que se escondeu atrás de suas pernas.— Desculpa querida. – sussurrou para a pequena.

Jesus, Marianna e Brandon voltaram a sala, parando em frente a mãe e a nova criatura.

— Primeiro damos boa tarde, depois pedimos as coisas.

— Mãe, boa tarde, compra suco. – Jesus brincou.

— Peça a sua outra mãe... – olhou para o trio— Isso vale para os três, eu não sou um banco. Agora deixe-me apresentar a Lara. Essa linda garota ficará algumas semanas com a gente.

Lara não se mexeu, não olhou para o trio, apenas apertou mais suas machucadas mãos na ovelha.

— Ei, o que aconteceu com ela? – Jesus falou se aproximando, fazendo Lara recuar e se esconder mais atrás de Regina, mãos agarradas as pernas da morena.

— Ela esteve em um incêndio. Os outros machucados era da onde ela estava... Eu acho.

Marianna tentou se aproximar, Lara se agarrou mais as pernas de Regina, suas unhas arranhando a meia calça. Desespero. Regina percebeu que a menina estava desesperada.

— Vão garotos. Toma aqui o dinheiro pro suco, Jesus. E vocês dois vão pedir a Emma – Se abaixou em frente a Lara.— Querida, não precisa ter medo deles. Aquelas três criaturas são pessoas boas e vão te ajudar no que você precisar. Quer me ajudar fazer a janta?

Receosa, Lara balançou a cabeça.— Tigra pode ajudar?

Pela primeira vez Regina ouviu a voz da menina, era doce e frágil. – Tigra? Mas ela é uma ovelha.

Lara olhou confusa entre Regina e a pelúcia. – Não pode ser Tigra?

— Claro que pode, querida. Ela pode ser tigra, tigresa, princesa, o que ela quiser ser.

Lara sorriu mostrando um dente molar ausente, fazendo Regina sorrir.

Os preparativos do jantar correu bem, com a ajuda animalesca de Jesus que fazia palhaçadas, na tentativa de fazer Lara sorrir. Marianna conversava em seu celular e Brandon lavava as vasilhas sujas que a mãe colocava na pia.

— Janta pronta, todos lavando as mãos. Pia, vão – Regina fingiu bater o pano em Jesus que pegava uma batata à dorê.

Lara não se mexeu, continuou sentada em sua cadeira atrás da mesa. Encolhida, olhos arregalados para Regina.— Você também querida. – Lara apenas balançou a cabeça em negativo.

Regina sentou ao lado de Lara.— Sabe por que temos que lavar a mão? — Recebeu um balançar de cabeça— Porque bichinhos entram debaixo da nossa unha e se não lavarmos, eles vão tudo pra nossa barriga. – Lara olhou assustada para as mãos— Você quer eles em suas mãos?

Balançou a cabeça freneticamente e desceu da cadeira. –Marianna, ajude ela a lavar a mão.

Em poucos minutos todos estavam jantando à mesa, quando a porta da casa foi aberta, passando por ela alguém muito esperado.

— Só espero que você não tenha comido porcarias na rua. - Regina avisou

— Jamais trocaria a janta deliciosa de minha esposa por porcarias na rua. – deu a volta em torno da mesa selou os lábios da mulher.

— Então, por que sua boca está cheirando a morango e baunilha, miss Swan?

Lara se jogou debaixo da mesa, assustando a todos.

— Ao menos sabemos algo sobre ela, que tem medo de policial. – Resmungou Marianna.

— Alguém vai me explicar o que está acontecendo ou tenho que entrar de novo? – Emma olhou ao redor na mesa.

— Mãe trouxe uma menina pra casa. – Brandon falou pegando mais batatas.

— E quando pretendia me dizer isso, querida? — Emma se abaixou sob a mesa, perguntando à sua esposa que tentava tirar Lara do seu esconderijo, esquivando das cadeiras.

— Quando você pretendesse atender ao telefone. Da pra me ajudar?

Emma ajoelhou no chão e pegou a ovelha, fazendo Lara sair e tentar pegar da mão da policial.— 1x0 pra Swan. – Entregou a pelúcia a menina que se agarrou novamente as pernas de Regina— Agora você vai me explicar, Srta Regina?