Neighbors or Lovers?

Casos de Família


POV Frederick:

A casa parecia um cemitério. Fazia uma semana que Annabeth se trancara no quarto, não comia direito, e não falava com ninguém.

Eu e Atena tentamos conversar com ela, mas eramos ignorados. Atena foi calma, paciente e até ameaçadora, mas nada surtiu efeito.

Pensamos em chamar um psiquiatra, mas de nada adiantaria, pois o problema não era daquela natureza.

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Eu disse para Atena não agir por impulso. Mas quem disse que ela me escuta? Ela só faz tudo do jeito que acha conveniente. Mas, às vezes, as coisas não saem do jeito que planejamos!

Ela foi atrás de Annabeth e a trouxe pelo pescoço. Pois bem, a besteira estava feita. E agora?

Resolvi deixar de lado esse assunto por um momento. Eu poderia conversar com Atena mais tarde e tentar convencê-la a deixar Annabeth estudar em Nova York.

Mas seria muito difícil...

Um bip do meu celular tirou-me de meus devaneios. Havia recebido uma mensagem.

Frederick, compre o almoço hoje. Estou muito ocupada e voltarei tarde para casa.

Atena.

Então fui atrás do almoço. Porém, sabia que só eu comeria, já que Annabeth não estava querendo comer praticamente nada esses dias.

Quando já estava a ponto de sair de casa, surpreendi-me com a campainha.

Quem seria uma hora dessas?

Terminei o percurso até a maçaneta e quando a abri, encontrei a pessoa que menos esperava:

— Frederick, querido! Quanto tempo! - ela exclamou me puxando para um abraço apertado.

— Titia?! Não sabia que vinha nos visitar hoje! - falei surpreso.

— Eu acabei de chegar de viagem e aproveitei para passar aqui. - ela sorriu carinhosamente.

— Por favor, entre. - falei dando lhe passagem.

Ela adentrou a casa e sentou no sofá da sala.

— E então? Onde está Annie? E sua esposa? - Amélia perguntou animada.

— Bem, Annabeth está no quarto e Atena está no trabalho. - respondi meio desajeitado.

— Ah, sim. Bom, então vou conversar com Annabeth! - ela disse se levantando.

— Sim, seria ótimo se você fosse! - exclamei sorrindo - É só subir a escada, o primeiro quarto a direita.

— Certo, querido.

— Titia, eu tenho que sair para comprar o almoço. Você gostaria de almoçar conosco?

— Claro, eu adoraria.

Então ela subiu e eu sai em direção a garagem.

Eu conhecia minha tia. Ela era uma mulher muito forte e determinada. Com certeza conseguiria conversar com Annabeth e talvez, as coisas começassem a mudar...

POV Annabeth:

Alguém bateu na porta.

Já estava cheia. Não queria falar com ninguém! Será que era tão difícil entender isso?

— Por favor, me deixem em paz! Eu não quero falar com vocês! - gritei afundando meu rosto no travesseiro.

— Annabeth, sou eu! Tia Amélia!

Amélia? Espera ai... a tia do meu pai? O que ela estava fazendo aqui?

Levantei lentamente da cama e abri a porta.

— Querida! - ela exclamou abrindo os braços.

— Tia? O que faz aqui? - perguntei confusa.

— Quando soube que vocês haviam se mudado, resolvi fazer uma visitinha. Agora moramos todos em San Francisco! - ela disse orgulhosa.

— Ah tia, nem me fale dessa mudança. - sussurei já sentando na cama de novo.

— O que você tem? Está tão abatida! - ela perguntou sentando ao meu lado.

— Eu cansei dessa vida. - bufei.

— Annabeth! Não fale uma coisa dessas! - ela me repreendeu.

— O quê? Você nem sabe o que estou passando! Não pode me dizer o que fazer ou não! - exclamei frustada.

— Mas isso são modos? Quando te conheci você não era assim!

— As pessoas mudam... principalmente quando são obrigadas a isso.

— Eu não estou te entendendo. O que te deixou tão amargurada, criança? - ela questionou preocupada.

— Eu não quero falar sobre isso. Não mudará nada. - afirmei me encolhendo na cama e abraçando meu travesseiro.

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— Filha, por que meu sobrinho estava agindo tão estranho quando cheguei? Por que você está isolada nesse quarto, com cara de quem não sai faz dias e não come, hein?

Fiquei em silêncio. Não queria responder.

— Annabeth Chase, eu exijo respostas! - ela exclamou chateada.

— Por que você se preocupa com a minha vida? - perguntei cruzando os braços.

— Ora, porque sou sua tia-avó! Claro que me preocupo com você!

— Então é só você...

— O que disse?

— Só você, Titia! Só você se preocupa comigo nessa maldita casa! Meus pais me odeiam! Nunca pensam em mim! - soltei irritada as palavras, sentindo meus olhos marejarem.

— Annie, o que faz você pensar isso? - ela me puxou para um abraço aconchegante.

— Eu não penso tia, eu vejo isso todos os dias... Onde está minha mãe agora? No trabalho, claro. Ele é muito mais importante do que eu! E meu pai? Ele até se preocupa mais do que ela, mas não tem atitude! Nunca vai contra a palavra dela! Ele não se impõe.

— Annie, eu...

— Mas não é só isso! Ela diz que quer meu bem, mas eu sei que ela só quer que tudo saia do jeito que ela planejou. Por que acha que nos mudamos? Por conta do lindo trabalho dela. E eu? E a vida que eu tinha? Tive que deixar tudo para trás! A casa que eu morei quase a vida toda, meus amigos, meu... meu... namorado. - sussurei a última parte já não aguentando mais compartilhar aquelas lembranças.

— Você tinha um namorado? - ela perguntou caridosa.

Balancei a cabeça como resposta.

— Não tenho palavras para descreve-lo. Ele era o melhor namorado que você poderia imaginar. Percy. Esse era o nome dele. Ah tia, ele era tão atencioso... sempre fazia de tudo para me animar, se arriscava por mim! E o melhor de tudo: era nosso vizinho! Mas durou tão pouco...

— Vai dizer que sua mãe não aprovava também! - ela falou enquanto acariciava meu cabelo.

— Não. Ela nem se deu trabalho de conhece-lo. Fiquei sabendo por Percy que nossos pais não se gostavam... Por isso, ela não queria que ficássemos juntos.

— Que história deprimente, minha filha! Eu cheguei feliz, mas já estou triste por você. E então, o que aconteceu depois?

— Quando eu descobri da mudança fiquei muito decepcionada, e tive que contar para Percy. Ele também ficou chateado, mas ele teve uma idéia brilhante.

— O que vocês fizeram? - ela indagou curiosa.

— Ah tia, você pode achar irresponsável de nossa parte, mas... nós fugimos! - exclamei rindo.

— Fugiram?

— Aham! E foram os melhores dias da minha vida! Nós nos divertimos muito! Ficamos na casa do lago de uma amiga nossa por uma semana.

Sozinhos? - ela perguntou incrédula.

— Sim. Mas pode ficar tranquila que não aconteceu o que você está pensando. Eu pensei muito bem antes fazer alguma coisa.

— Ah bom, que susto que você me deu! - ela sorriu, colocando a mão no peito.

— Mas, não garanto que depois que minha mãe foi me buscar a força, eu não o encontrei e aconteceu algo entre nós...

— Annabeth!

Comecei a rir da sua reação.

— Ué, não é um crime tia! Além disso, foi a última vez que o vi! Eu não consegui controlar minhas emoções. Simplesmente aconteceu!

— Sei...

— Ah, está tudo bem. Eu não estou grávida, ok? - alertei, rindo como não fazia a muito tempo.

— É bom mesmo, por que se não, você teria que se entender com seus pais. Você tem que ter cuidado. Pode não ter ficado grávida dessa vez, mas e de outras vezes?

— Não se preocupe, eu entendo as consequências. Também tomo anticoncepcional, se é isso que você quer saber. A questão é que, no momento, isso não é algo que eu tenha que me preocupar, já que eu não tenho mais um namorado... - falei cabisbaixa.

— Sinceramente, eu te compreendo Annie. Não é fácil passar por uma situação dessas. Ainda não acredito que seus pais fizeram isso com você.

Ficamos conversando por mais um tempo, sobre nossas vidas, sobre a vida de outras pessoas e até sobre as notícias do mundo.

Depois de alguns minutos, meu pai chegou e nos chamou para almoçar. Dessa vez, eu fui. Estava bem melhor depois que minha tia havia passado um tempo comigo.

Assim que terminei de comer, subi e chamei Amélia para me acompanhar. Mas ela disse que ajudaria com as louças e depois precisava conversar com meu pai.

Concordei e assim que cheguei em meu quarto, senti um cansaço. Embora tivesse passado o dia inteiro na cama, quando deitei novamente, adormeci.

POV Atena:

Já havia anoitecido quando cheguei em casa. O ambiente estava bem silencioso, e de certa forma eu gostava daquilo.

Adentrei a casa e deparei-me com a sala escura. Obviamente, acendi a luz e levei um susto ao realizar tal ação:

— Tia Amélia! O que faz aqui a essa hora da noite? - exclamei com a mão no peito.

Ela olhou em seu relógio de pulso e depois voltou a olhar para mim:

— Estava só esperando você chegar. - ela sorriu, embora não parecesse muito feliz.

Frederick apareceu em seguida, vinha da cozinha e trazia copos com água. Logo se sentou no sofá, ao lado de sua tia.

— Mas o que é isso afinal? Reunião de família? - perguntei rindo.

— Atena, sente-se por favor. Temos um assunto muito importante para discutir.

— Tia, eu entendo que está nos visitando, mas não podemos deixar isso para depois? Estou cansada e gostaria de me deitar. - falei indo em direção às escadas.

— Atena, se não fosse importante eu não estaria aqui até uma hora dessas! Deixe de insolência e venha agora para a sala! - ela reclamou.

A contragosto, obedeci.

Mas afinal, o que seria de tão suma importância que não pudesse esperar até amanhã?

— Então, do que se trata? - perguntei sentando em uma das confortáveis poltronas.

— Espero que você esteja bem, depois do que fez. - ela falou séria.

— Você poderia ser um pouco mais específica? - questionei.

— Não se faça de sonsa, Atena! Olhe esta casa: está com cara de velório! Annabeth já me contou tudo.

— Pensei que pudéssemos conversar como pessoas educadas e sem troca de gentilezas. - falei mantendo a mesma posição estática.

— Pare de fugir do assunto e leve à sério a situação.

— Olha tia, não precisamos da sua interferência neste assunto. Posso garantir que está tudo sobre controle e...

— Tudo sobre controle? Você por um acaso é cega? Não percebe o quanto a sua filha guarda rancor?

— Você está exagerando! Ela está com raiva, mas há de passar!

— Como pode ter tanta certeza disso? Você não é ela, Atena! Não sabe o que ela está sentindo, o que está passando!

— Isso não importa! Eu fiz o certo indo buscá-la daquela maneira! Minha filha fugiu com um namorado que eu nem conheço e ainda ficou sozinha com ele durante uma semana! Uma semana! O que quero dizer é que, depois de beijos... você sabe muito bem o que pode acontecer!

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— Uma pena, Atena!

— Uma pena o quê? - perguntei confusa.

— Que você nunca tenha conversado com Annabeth sobre isso. Porque, se tivesse, conheceria melhor a filha que tem e não falaria um besteira dessas!

— O que você está querendo dizer?

— Sua filha é sensata, adulta, consciente. Ela sabe o que deve e não deve fazer. Em poucas horas de contato eu a conheço melhor do que você! E fique sabendo mais: tivemos um longo papo sobre o amor e suas consequências. Annabeth entendeu o que eu disse. Eu sei que ela herdou o bom sendo da família do pai!

— Oh! - exclamei chocada - Frederick, você está vendo isso? Agora sua tia está me ofendendo!

— Eu havia pedido para você agir com calma, não? - questionou Frederick.

— Já sei! Agora você se omite e a culpa passa a ser toda minha! A culpa sempre é toda da mãe! Ela é o carrasco! Foi disso que minha própria filha me chamou!

— Querida, isso não é cena de novela! Você deveria ter pensado que sua filha iria trata-lá dessa maneira. E o pior: já pensou na possibilidade dela nunca lhe perdoar? - Amélia perguntou preocupada.

— Eu estou lutando para fazer o melhor por ela!

— E o melhor é deixá-la trancada num quarto com o coração aos pedaços?

— Eu já disse que é para o bem dela!

— Engraçado como as pessoas sabem o que é melhor para os outros... - suspirou.

— Tia Amélia, seu cinismo está me irritando!

— Não querida, não é cinismo! É o desânimo que me faz reagir assim. Fico pasma ao ver sua segurança, dizendo que sabe o que é melhor para um coração que não é seu! Atena, você tem que entender que você não é sua filha! Esse é um novo mundo! Ela nasceu de você, mas tem outra vida, outras vontades. Como você pode decidir o que é melhor ou pior para ela? É a consciência de cada um que decide isso!

— Annabeth é uma menina inexperiente, tem apenas 17 anos! Uma garota de 17 anos sabe lá o que quer da vida?

— Diga você mesma. - ela falou cruzando os braços. - Quando você tinha 17 começou a namorar o meu sobrinho. Lembra-se de como sua mãe não queria esse namoro? Meu sobrinho era pobre. Mas você era rica. Seu pai era um gerente de banco e você sempre foi filha única. Eles queriam um príncipe encantado para ser seu marido. Minha irmã também não queria o relacionamento de vocês. Mesmo sendo pobre, ela achava que você estragaria a vida do meu sobrinho. E o que vocês fizeram? Teimaram, teimaram... e se casaram! Naquela época, você tinha a mesma idade de sua filha. E sua mãe também dizia que você não sabia o que estava fazendo!

Naquele momento me encolhi na cadeira. Eu nunca havia pensado daquela forma antes.

— E quem escondia o namoro de vocês? Quem fingia não ver os encontros de vocês no quintal dela? E quantas mentiras eu não tive de inventar tanto para sua mãe quanto para minha irmã?

O silêncio se estabeleceu na sala. Era demais para mim.

Eu fui injusta esse tempo todo?

— Naquela época, você me achava a melhor tia do mundo. Eu ainda penso da mesma maneira que pensava antes. Mas passados apenas 18 anos, você já não me considera tão boa assim. Por quê? Só porque tratei a sua filha da mesma maneira que tratei você?

Peguei um copo d'água e comecei a consumi-lo rapidamente.

— Atena, querida. - ela levantou e tocou meu ombro - Os pais precisam ser fortes. Eles têm que estar sempre presentes na vida de seus filhos. Quantas pesquisas nos mostram que as famílias não tem mais diálogo? Dialogar não é só perguntar como foi o dia, se precisa de dinheiro, como vai o corpo... Dialogar é falar com o coração, é ajudar seus filhos quando eles mais precisam de você. Seu diálogo com sua filha não deu certo. Eu não sei de quem é a culpa. Nem sei se há culpa. Mas não será com essa sua atitude radical que você conseguirá o amor e o respeito de Annabeth!

Amélia retirou a mão do meu ombro e se dirigiu a Frederick:

— Estou cansada, falei demais. Será que posso ficar aqui? É só por esta noite.

— Claro, Titia! Venha, temos um quarto de hóspedes para você. - ele falou levando-a até o cômodo.

Permaneci no mesmo lugar, refletindo sobre aquelas palavras. Os minutos iam sendo consumidos pelo tempo e uma retrospectiva da minha vida se passou por meus pensamentos. Eu estava decidida.

Levantei, já não me sentindo amargurada. Sentia meu coração de adolescente voltar a pulsar.

Subi as escadas e levemente girei a maçaneta do quarto de Annabeth. O abaju estava ligado, então pude ver que estava abraçada a sua pelúcia de coruja. Tinha uma aparecia tão angelical.

Aproximei-me dela e beijei sua cabeça.

— Eu a amo tanto. Sinto muito se não consegui demonstrar esse amor. - falei em um sussuro.

Mas estava decidida a mudar. Amanhã era um novo dia e Annabeth teria uma surpresa.