Abri a porta de casa e pedi para que Melodia esperasse do lado de fora.

Ela se agarrou a uma estaca de madeira com medo de cair no mar, mas aceitou, relutante.

Meu tio estava sentado no sofá assistindo ao jogo de futebol com uma cerveja na mão. Estava de costas para a porta e se fossemos discretos talvez pudéssemos passar por ele.

Puxei Melodia pelo vestido e a encarei no fundo dos olhos.

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—Por favor, não faça barulho, apenas me siga.

Ela assentiu e eu a peguei pela mão.

Atravessamos a porta bem no momento em que um dos times fez gol, então meu tio se distraiu o suficiente para que chegássemos até o meio da sala.

Mas o universo se lembrou que eu sou o Leonardo e que isso simplesmente não daria certo.

Melodia tropeçou em uma madeira solta e caiu me levando junto com ela.

Meu tio olhou para trás e levantou a garrafa de cerveja, mas quando viu que era eu a baixou novamente.

Busquei desesperadamente Melodia com o olhar, mas ela não estava lá, tinha desaparecido.

—Quer me matar de susto, moleque?! —Meu tio deu mais um gole na cerveja enquanto me olhava com cara feia.

—Não, tio. Só não queria atrapalhar seu jogo. —Me expliquei da maneira mais simples que me veio na cabeça.

Ele sorriu e piscou para mim.

—Finalmente estamos nos entendendo! Agora vá para o seu quarto, não consigo assistir com você aqui.

Me levantei do chão e comecei a andar até meu quarto, procurando onde Melodia estava, mas não a encontrei em lugar nenhum.

Ótimo, perdi a peixinha...Agora o oceano me matava.

Me sentei na cama rápido, e a madeira podre acabou se quebrando.

—Que maravilha...—Murmurei enquanto me sentava na cadeira enfrente a pequena bancada.

—Devia comprar um dormidor humano novo para você. —Melodia estava sentada na minha frente fazendo uma careta —Esse parece estar estragado.

—Onde você foi?! —Puxei sua orelha e ela mordeu braço em defesa.

—Cruzes! Você é um animal? —Perguntei massageando o local da mordida.

—E você? É meu pai? —Ela suspirou —E respondendo sua pergunta, eu não fui a lugar nenhum...Estive o tempo todo do seu lado.

—Como assim? —Debochei —Não te vi em lugar nenhum!

—Óbvio que não, é difícil ver algo invisível. —Ela revirou os olhos.

—Você fica invisível? Isso também? —Suspirei. E a lista sobre ela ia só aumentando.

—Como acha que um humano nunca fotografou uma sereia? —Ela me deu um peteleco na testa —Seu idiota.

—Você não respeita os mais velhos? —Ela levantou uma sobrancelha.

—Acho que eu sou só uns 300 anos mais velha que você. —Eu ia revidar mas não haviam argumentos, droga.

Ela olhou ao redor.

—Esse lugar tá bem caidinho, hein? Nos livros as casas eram mais bonitas.

Suspirei e escorreguei na cadeira.

—Nesses livros, as casas eram de ricos. Ninguém mandou você escolher um lugar pobre. —Ela riu e deitou do meu lado, quase me jogando para fora da cama.

—Acha que te escolhi? No máximo o mar me mandou para cá como castigo por eu ter saído de lá.

—Eu até discutiria, mas não duvido que seja isso mesmo.

Ela olhou uma das goteiras que pingava no outro canto do quarto.

—Vocês humanos amam tanto assim a chuva? Trazem até para dentro de casa.

—Claro que é isso, Melô —Suspirou —Claro.

Ela levantou e me olhou, sorrindo.

—Você usou meu apelido —Ela lacrimejava e me abraçou de forma que quase quebrou minhas costelas. —Obrigada, obrigada, obrigada!

Eu a abracei um pouco receoso, ela era mesmo estranha.

—Por que ficou tão emocionada? É só um nome.

—Pode até ser —Ela enxugou as lágrimas com os pulsos —Mas eu me sinto mais em casa agora, obrigada mesmo.

—Por nada...—Eu a soltei devagar, mas ela seguiu me apertando —Poderia me soltar por favor? Em momentos de tristeza nos abraçamos os travesseiros e choramos até ficarem molhados, fica o ensinamento.

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Ela me olhou admirada.

—É mesmo? E onde fica esse tal travesseiro?

Dessa vez eu ri, ela estava completamente perdida ali.

—Travesseiro é onde apoiamos a cabeça para dormir —Peguei um que estava atrás de mim —Isso aqui.

Ela segurou com cuidado e abraçou.

—É reconfortante...—Ela sorriu e seus olhos se tornaram de um roxo escuro.

—Ouça, Melodi...Melô. —Ela olhou para mim —Precisamos dar um jeito nos seus olhos...Aqui na terra as pessoas não tem olhos lilás, nem roxo...Podem desconfiar.

Ela piscou de forma demorada, e quando as pálpebras se separaram seus olhos estavam castanhos.

—O que acha assim?

—Está muito bom! —Eu ri, encantado com seus poderes.

—Pois bem, os próximos humanos que me verem me verão com estes olhos.

—E eu?

—Você não —Ela sorriu e me deu um tapa no ombro —Você já conhece minha verdadeira forma, não tem como te enfeitiçar.

—Entendo...Mas, mudando de assunto, o que quer fazer agora?

—Não sei, me mostre algo legal da terra, afinal, esse é o motivo da minha visita, conhecer melhor aqui.

Parei para pensar e decidi o que mostrar para ela.
—Você vai adorar!

Ela levantou uma sobrancelha.

—Se bem me lembro você disse algo parecido sobre o sorvete, e sua dedução foi errada.

Suspirei, que pessoa difícil!

—Então tem algo na terra que você queira conhecer?
Ela fez que sim e bateu palmas, animada.

—O cemitério! Vamos, vamos, vamos, por favoooor.

—Nem pensar! —Eu ri, seco—O que você quer fazer no cemitério? As pessoas costumam evitar idas até lá, sabe?

—Você me perguntou, eu apenas respondi. —Ela cruzou os braços e fez um bico —Mas, então...Vai me levar?

Me sentei na cama e revirei os olhos. Ela ia me deixar no mínimo louco.

—Será um passeio muito breve! Aproveite enquanto estiver lá.

Ela sorriu e abraçou meu pescoço.

—Obrigada, Leo! Você é o irmão mais velho que eu nunca tive.

—Eu não seria o mais novo?

—Você entendeu. —Ela me deu um soquinho no ombro e pulou da cama, literalmente, ela realmente...Pulou.

—Onde eu deixei o sapatos? —Ela girava como um cachorro atrás do próprio rabo e eu tive que pará-la para evitar a tontura dela.

—Primeiramente, é onde eu deixei o sapato—Ela assentiu—Segundamente, você não vai para o cemitério de chinelo! Pegue um desses aqui. —Estendi para ela a caixa de all stars velhos que eu havia recebido de provocação dos meus colegas.

—Como se usa?—Ela pegou o roxo e começou a girará e observar cada detalhe do calçado.

Eu a empurrei de leve para que se sentasse na cama e coloquei no pé dela.

—Assim—Ela arfou, admirada —E depois você amarra isso para ajustar o tamanho melhor.

Eu dei o laço no sapato dela e fiz o mesmo com o outro.

—São seus?—Ela me perguntou enquanto experimentava andar com eles.

—De certa forma sim. —Respondi enquanto me agaixava para guardar a caixa debaixo da bancada.

Ela fez uma cara provocativa e levou o pé até meu rosto.

—Pezinho delicado, hein, Leo?

—Não são meus! Não entrariam no meu pé...Eu só ganhei.

Ela me ignorou completamente e foi até a porta do quarto, desaparecendo assim que encostou na maçaneta.

—E lá vamos nós de novo...Me siga. Está aí? —Perguntei procurando localizá-la e recebi um chute na bunda como resposta.—É, está aqui...

Abri a porta e disse para o meu tio que iria dar uma caminhada. Ele nem ligou, e lá fui eu em direção ao cemitério, o lugar onde não pretendia entrar até os 87 pelo menos.

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