Os Voos de Madison

Capítulo 4 - Repreensão


Viramos para direção que ela correra. Seus cachos loiros balançavam à medida que ela intensificava cada passo que suas longas e torneadas pernas conseguiam dar.

Peeta ou melhor, o comandante Mellark, sorriu ao mesmo tempo que cessou seus passos e deixou sua bagagem ao chão para logo em seguida equilibrar a mulher loira que pulava em seus braços.

Ele a girava, ambos visivelmente contentes com aquele reencontro, enquanto o restante da equipe e eu, nos tornamos apenas meros expectadores do beijo ardente e caloroso que os dois trocavam.

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Eu ruí. Meus músculos, do rosto, do corpo, cederam como os destroços de um prédio em desabamento.

Queria não estar sentindo essa amargura no peito e uma incomoda sequidão na garganta.

Deveria ser estudada. Pois, nem eu mesma conseguia entender o porquê dessa fixação maluca que tinha por quem não está nem aí para mim.

É assim com meus pais...

Com o incansável sonho de ter meu próprio hotel...

Com ele... que é apenas uma lembrança da melhor parte do meu passado.

Sou, indiscutivelmente uma tola... uma tola que já está entrando em parafuso ao presenciar a sincronia do beijo trocado entre eles.

Um beijo que poderia ser meu...

Funguei, como uma pessoa que precisava engolir o choro e caminhei até a saída do aeroporto. Não me importei em esperar Annie. Peguei o primeiro táxi que vi na frente e segui rumo ao meu refúgio. Para um lugar que eu considero meu lar.

Lá, o meu melhor amigo, se encontrava destilando seu leve mau humor habitual em cima dos operários suarentos que ele havia contratado para reformar o dormitório aonde dormem seus meninos.

— Mais nem um centavo, nem um centavo. — Ele rosnava esquecendo totalmente que deveria ser um homem sereno, bondoso e caridoso, assim como um pastor deve ser, mas, Hay, como costumo chama-lo, era um tanto peculiar, tampouco se importava em querer agradar todo mundo, porém mesmo com esses pequenos defeitinhos, posso afirmar que ele era a pessoa mais generosa que conheci na vida.

— Garota! — Gritou assim que me viu atravessar o canteiro de obras — Como estão os céus? — Me abraçou apertado como sempre. — Ainda precisando de uma alma caridosa como a minha? — Entoou sem perder o tom sarcástico e rosnou para o mestre de obras que pigarreou ironicamente sobre ele ter afirmado o quanto caridosa era.

— Você não muda mesmo. — Eu disse pegando minha mala e o acompanhando para parte interna da igreja que ainda era a mesma, com os mesmos detalhes, os mesmos bancos em mogno.

— Demorou para aparecer dessa vez. — Ele puxava minha mala de rodinhas e tentava esconder um sorriso bobo no rosto de Haymitch que era como um pai para mim — Pensei que tinha esquecido do velho aqui... — disse esquecendo dos meus objetos.

— Não está velho. — Eu retruquei me sentando nas poltronas atrás de sua escrivaninha. Ele fez o mesmo assim que serviu duas minúsculas taças do vinho tinto que sempre dizia ser uns cem anos dos vinhedos cultivados nas propriedades de sua família...

— Hummm!!!! — Dei um pequeno gole e balancei a taça fazendo um movimento circular com o liquido enquanto apreciamos o sabor em silencio. Assim que alcancei idade suficiente ele me autorizou a provar da bebida. Ele não é nem um reverendo alcoólico, mas sim, um apreciador nato. Aquele que se informa e estuda os mais diversos assuntos relacionados aos vinhos.

— E, a senhorita Trinket?

— De novo essa história?

— Diga. — Ajeito-me mais confortavelmente na cadeira e rio vendo o rubor tomar conta do seu rosto.

— Ora. — Ele rosna nervoso com o assunto e, eu gargalho.

É sempre assim toda vez que toco no nome da senhorita Trinket ele se exalta. Ela é assistência social que cuida dos casos dos meninos, é uma jovem, quer dizer não tão jovem assim, posso dizer que a idade perfeita para ele. Porém, Hay sempre nega algum interesse, mesmo quando afirmo que já o peguei diversas vezes admirando as pernas torneadas que ela esconde debaixo de seus vestidos floridos e irritantemente coloridos que parecem ser peças únicas em seu guarda roupa.

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— Já disse que a negação é um grande sinal de amor? — O provoco, sei que não deveria, mas ele e eu temos uma relação fora do comum. Aprendemos a lidar um com o outro com o passar do tempo.

— Katniss! — Ele esbraveja, recuperando o mau humor de sempre e praguejando o maldito dia que apareci nessa igreja. Foi um dia e tanto, mas contarei outra hora.

— Dei luz a sua vida. — falei seguindo-o até o refeitório que serviria o jantar dos meninos em alguns minutos.

Assim que prometo não emitir comentários sobre a louca da Trinket — assim que ele a chama — na sua frente ou de qualquer outra pessoa ele permite minha permanência,

Um tempo depois de atualiza-lo dos meus últimos roteiros conversamos seriamente sobre meu futuro na Everlines. Ele cogita novamente a possibilidade da minha entrada na faculdade. Um curso que ele diz que me dará uma carreira saudável e não essa rotina louca na qual vivo.

— Eu tentei o financiamento, mas foi negado. — Ele sabe disso, tentei assim que finalizei o ensino médio, mas não consegui.

— Deveria ter sido uma atleta. — Comenta de olho nos meninos que no momento mastigavam alegremente a carne processada dos hamburguês que a lanchonete de um dos frequentadores da igreja, os presenteia uma vez por mês. — Assim teria conseguido.

— Ah, sim, eu era ótima na corrida. — Na verdade era mesmo, fui âncora do time de atletismo da escola. Colecionei alguns troféus, porém, meu talento foi o suficiente para garantir uma bolsa na universidade. Não com minha conta bancária inexistente. Não com os meus pais desaparecidos que não poderiam hipotecar sua casa até eu estar formada e ganhando dinheiro o suficiente para quitar os empréstimos. — E outra, eu não estou tão jogada as traças. — Digo esperançosa que não cursar uma faculdade não é o fim do mundo — Concluo meu curso técnico de hotelaria ainda esse ano e depois vou fazer de tudo tira-lo ele do papel. — Digo sorrindo imaginando pequenas letras em neon, piscando fazendo com que a luz da lua seja seu único contraste e meus primeiros hospedes - um casal alegre e feliz - pedir pelo mais belo quarto de casal.

“Oh, sim claro”. Eu direi enquanto vejo meu funcionário leva-los para os quartos do hotel. Não vejo hora de chegar esse dia.

— E depois? — Ele me encara querendo chegar na pior parte. Grana. Eu sei que é disso que fala e ele tem a razão. Ter meu próprio negócio faz com que meu mísero dinheiro me abandone voluntariamente. Não porque sou uma consumista sem freio. Na verdade, sou bastante educada financeiramente. Acontece que desde que comecei a ter meu próprio dinheiro tenho economizado parte dele. Tanto que tenho uma vida regrada, jamais compro roupas de marca ou ostento em programas caros nas horas de folga. Aprendi apreciar tudo que é grátis. Vou ao parque ou ando de bicicleta na zona rural da cidade. O que era bem fácil de encontrar aqui em Madison.

— Você é impossível, garota! — Ele nunca me chama pelo nome.

— Aprendi com o melhor. — Sorrio pegando mais um hambúrguer da lanchonete do velho Bill, que mantinha o mesmo sabor mesmo após tantos anos. — Vou levar um para a ruiva — sei que vai gostar, ela trabalhou por vários anos atrás daquele balcão, até decidirmos juntas entrar para escola de agentes de bordo. — Preciso ir. — Olhei no relógio e vi que era tarde da noite. Tinha que correr se eu ainda quisesse pegar o metrô que faria sua última rota dentro de uma hora.

***

Cheguei ao apartamento quase me arrastando, louca para tomar um banho e cair na cama, porém uma figura ruiva me deteve assim que abri a porta.

— Por que não me esperou? — Ela estava sentada em nosso sofá de dois lugares, e parecia ansiosa, pois pulava os canais de um jeito impaciente.

— Eu precisava ver alguém. — Deixei as chaves e minha bolsa na mesinha de centro e estendi para ela o saco onde continha o hambúrguer que havia pego no orfanato — E, eu não sou a única que anda escapando de uma hora para outra. — Digo caminhando até meu quarto para enfim retirar meus saltos.

— Sobre isso... — ela apareceu logo atrás de mim com o fast food em mãos, e o abocanhou sem cerimônia — Preciso te contar uma coisa... — mastigava o pão de forma nervosa e começou a fazer rodeios na conversa, enquanto falava de boca cheia.

— Por que, não diz logo, Anne Cresta. — eu sabia, detestava saber que minha melhor miga havia caído nas garras do amigo de Merevick.

— Finnick e eu passamos aquela noite juntos.

— Annie! — A repreendo em um tom agudo. Ela tinha que se envolver, logo com o parceiro do Merevick?

— Ele é maravilhoso, aqueles olhos, aquela boca... — Annie se joga em minha cama e diz, diz de boca cheia que está perdidamente apaixonada. Tão apaixonada que não se importa de perder o emprego. — Mas, não se preocupe, caso isso aconteça — assegura — Eu volto a trabalhar na lanchonete do velho Bill .— Eu sei que ela é capaz disso, mas tínhamos planos. Planos de enfim, montarmos nosso hotel juntas e agora, agora, ela estava colocando tudo a perder por um par de calças ou melhor um projeto de cafajeste.

— Annie. — Eu a repreendi entredentes e quando ia pronunciar o quanto estava indignada com aquilo, o interfone soou fazendo ela se levantar abruptamente da cama e perguntar sorridente, nervosamente se o vestido que usava estava bom o suficiente para receber uma visita.

— Pode subir. — Ela autorizou a subida de não sei quem e abanava as mãos levando uma corrente até suas axilas.

— Quem está subindo? — Olhei para os meus pés descalços, cabelos desgrenhados e imaginei que minha maquiagem estaria borrada. — Annie... — ela mordia os dentes e correu para a porta assim que sua visita deu dois toques na madeira, certamente depois que notou que nossa campainha não funcionava.

— Finnick! — Ela pulou no colo dele, que a beijou como se Annie fosse a única pessoa existente no mundo. Eu dei as costas tentando sair de fininho, não queria que ele me visse ou sequer falasse comigo, porém fui infeliz na minha tentativa.

— Katniss!

— Finnick. — Dei o sorriso mais falso do mundo, assim que vi o sorriso insuportavelmente lindo que ele tinha no rosto. — O que faz aqui? — Abracei minhas costas e esperei que me respondesse com franqueza.

Antes de responder ele abriu o sorriso lindo novamente quando apontou para Annie e entrelaçou suas mãos as dela.

— Vim buscar sua amiga para jantar — ele continua dizendo com aquele conjunto de dentes lindos que a levará no Marry Marry.

— Quer ir conosco? — ela reforça o convite sabendo que eu adoro esse restaurante e devido as minhas manias de economia, apenas namoro o lugar há muito tempo, mas sei que está fazendo isso para me engabelar e não tentar colocar juízo na sua cabeça inconsequente.

— Você sabe que ela vai perder o emprego. — Ignorei sua proposta, absurda e respondi ríspida suficiente para que ele percebesse que não aprovo o que está fazendo.

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— O quê? — Ele se fez de desentendido.

— Regra número 44 do nosso contrato de trabalho diz: Que é terminantemente proibido o envolvimento entre funcionários. — Eu disse, orgulhosa por ter lido cada linha daquele manual, algo que logo supus que ele não havia feito.

— Katniss. — Minha melhor amiga disse em tom de repreensão.

— Não, Annie... — olhei para minha amiga que me olhava com os olhos verdes incandescentes. Possivelmente entrando em parafuso. — Deveria saber senhor Odair, que seu joguinho pode arruinar o futuro dessa maluca.

Sei que não deveria me meter, mas ela é minha amiga e quem vai ter que juntar seus caquinhos, assim que ele der o pé na bunda dela, sou eu.

— Mas, isso não é um jogo. Não pretendo arruinar a vida dela e nem de ninguém... – ele pareceu nervoso, pois passou a mão em seu cabelo impecavelmente arrumado – Annie, é incrível e uma garota especial, realmente estou afim dela.

— Ah, é? E, como acha que isso terminará?

— Estava pensando em manter isso em segredo quando estivemos em horário de serviço. – Sua voz saiu como um sussurro.

Sinceramente seus olhos me pareceram dizer a verdade, mas homens eram assim quando queriam algo. Minha mente estava em uma batalha épica e dei um passo à frente.

— Preste muita atenção. – digo séria apontando meu dedo acusatoriamente quase em seu nariz – Se algo acontecer com ela, eu juro que vai se ver comigo.

— Tudo bem, provarei a você o quanto valorizo sua amiga. – desafiadoramente me encarou dentro dos olhos e juro que me perderia neste contato.

— Vamos, Finn ou perderemos a reserva. – ela beija meu rosto antes de sair e sei que está constrangida, mas também me conhece o suficiente para saber que só estou tentando protege-la.

Finalmente tomo um relaxante banho e caio na cama. Quando meus olhos pesam pelo sono que se aproxima um certo loiro invade meus pensamentos. Seus lábios acalentando os meus, é tudo que sinto em meu interior.

— Droga!

Reprimo esses pensamentos. O cara além de um ordinário, tem uma namorada filhinha de papai, não posso me dar ao luxo de ficar lamentando.