Os Voos de Madison

Capitulo 12 - Tornado na estrada


Eu sabia que não deveria ter arriado o pé da cama, minha intuição nunca falha e eu já suspeitava que esse não seria um bom dia, nem mesmo para visitar o espaço para o meu hotel, uma tarefa que amo fazer. E eu não estou lamentando porque o carro que alugamos apagou no meio da estrada e ao invés de minha amiga chamar um guincho, algo do tipo, ela pediu ajuda ao namorado, e superamigo metido à Merevick.

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O verdadeiro motivo que me fez arrepender de deixado a segurança da minha casa resume-se a uma única palavra, denominada; Tornado. É isso mesmo, acabamos de ouvir através do rádio. Um alerta de tempestade e um mini tornado se aproximando de onde estávamos.

É como naqueles filmes, estamos no olho do tornado. Consigo sentir o vento forte pinicar as maças do meu rosto, o cabelo ruivo da minha amiga sendo nocauteado pela ventania e pequenos redemoinhos se formando, levando os dejetos encontrados no asfalto.

— Vai demorar? — Questionou Annie em tom de desespero...

Finnick e Peeta estão concentrados na árdua e falida tentativa de ressuscitar o motor do carro alugado. Já fazem isso a algum tempo, e tudo indica que teremos de abandona-lo no meio da estrada.

— Não funciona — Lamentou Finnick com ar derrotado enquanto fechava o capô do sedan alugado.

Peeta veem logo atrás dele, limpando as mãos sujas de óleo no lenço florido que eu tinha em minha bolsa, e que eu ofereci para ele quando percebi que removeria a camisa para limpar a graxa que se espalhou por parte dos braços, corpo e rosto. Fiz isso porque eu já tinha um tornado vindo em minha direção, tudo que não necessitava naquele momento era ter um Peeta despido e provocante em minha frente.

— Precisamos pegar a estrada agora. — Peeta bravejou limpando as gotículas de suor que se formaram em sua testa.

— E o carro? — Perguntei, aflita, temia o que esse abandono causaria em minha vida, já que não me recordo de ter contratado um seguro para o carro e pela velocidade do vento, se o abandonarmos aqui, não encontraremos mais vestígios dele, e um prejuízo desse porte é tudo que não preciso a essa altura da minha vida.

— Isso é o de menos, a prioridade agora é encontrarmos um abrigo. — Peeta continua preparando tudo para partirmos.

Annie e eu assentimos juntas após sua fala, estávamos apavoradas, Annie com um pavor bem mais gritante que o meu, peguei em suas mãos, estavam geladas, eu sabia o porquê. Suspirei tentando compreender o que ela estava sentindo, Annie é órfã de pai e mãe. Eles foram mortos na mais intensa tempestade que devastou a cidade, então sempre que se depara com essas situações, fica fora de órbita, paralisada.

— Nós já vamos sair daqui — sussurrei com intenção de consola-la, Finnick parecia estar a par do seu medo, mas é claro, eles se amam, vão se casar, é muito provável que minha amiga tenha confidenciado a ele, seus medos, receios, sonhos. Pois antes mesmo que eu me afastasse, ele já a protegia com um abraço, pedi que a levasse para o carro, assim ele o fez.

Me distanciei, esquadrinhando o trecho de estrada que o carro havia apagado, não estávamos muito distantes de AllanVille já que era possível, de onde estávamos, ver a silhueta da montanha. Talvez se dirigirmos em alta velocidade, conseguiríamos chegar ao centro da cidade e enfim há um abrigo.

— Se formos agora, chegaremos a tempo na cidade, não está muito longe — olhei para Peeta que se mantinha concentrado num mapa aberto em cima do capo do jipe que ele Finnick vieram dirigindo.

— Não vai dar tempo — Retrucou de imediato. — A cidade está muito longe.

— Uma hora apenas — retirei os fios de cabelo que a ventania trazia par meu rosto.

— Uma hora é muito tempo, não temos tudo isso, o tornado nos alcançará...

Ele decidiu isso sem ao menos me deixar explicar.

— Você tem ideia melhor do que ficar lendo esse mapa enquanto a merda do tornado se aproxima?

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Ele bufou e depois manteve um sorriso de boca fechada. Agora sim consegui totalmente sua atenção, já que rapidamente olhou para mim.

— Você é uma teimosa, Katniss, não ouviu o que eu disse? Não possuímos uma hora, precisamos de um lugar mais próximo. Alguma fazenda, rancho, deve ter alguma coisa por aqui.

Num rompante ele segurou meu braço e me conduziu para o interior do carro, no banco ao lado do motorista, já que àquela hora minha amiga e seu noivo ocupavam as poltronas traseiras.

Depois disso Peeta ocupou seu lugar no carro, colocou o cinto e deu a partida, fiquei tentada a perguntar para onde ele nos levaria, mas, ele se mantinha concentrado, não tirava os olhos da estrada, impedindo que eu desenvolvesse coragem para susta-lo.

À vista disso eu fingia prestar atenção na paisagem de fora de sua janela, mas a verdade era, que eu observava; seus lábios vermelhos, cílios em uma certa transparência, algumas sardas próximas ao olho esquerdo. Em como o azul de sua íris havia adquirido um azul diferente.

Confesso que eu não me importaria de ficar mais algumas horas o admirando em silencio, em segredo, de novo e de novo, quantas vezes for. Fazer isso me atormentava, mas me preenchia como um alento. Observá-lo estava se tornando mais uma de minhas obsessões, eu deveria admitir.

Precisei piscar para me atentar ao mundo que ruía lá fora, a cada cem metros que percorríamos, as rajadas do vento se intensificavam e a tempestade parecia que derrubaria os céus que àquela altura estava negro como se anunciasse o apocalipse.

Desliguei o rádio quando o interlocutor confirmou as coordenadas que o maldito tornado seguia, ele já havia perdido força ao se aproximar de Madison, mas nós estávamos longe do perigo já que o maldito vinha em nossa direção.

Peeta diminuiu a velocidade quando chegou a uma estrada de terra, o caminho me parecia familiar, não tenho certeza, fora difícil dirigir naquele trajeto, haviam muitas arvores e muita incidência de raios, quase morri do coração quando um raio atingiu a copa de uma arvore, fazendo o troco dela quebrar e cair a centímetros de nós.

“Aonde estamos” sussurrei baixinho quando forcei a vista e ele desacelerou. E sem desligar o motor do carro desceu para abrir uma porteira branca.

Finnick inclinou o corpo para frente e apoiou os braços no encosto do banco e parecendo saber aonde estávamos começou a instrui-lo sobre o caminho que ele deveria ir, logo avistei uma cabana, uma propriedade com vários chalés. Havia algumas placas, indicando o nome de cada uma delas, no entanto a local parecia há muita tempo desabitado, as arvores, as flores lindeiras cresciam desordenadamente, no canteiro sob a janela de uma cabana com uma placa chamada casa de pedra, cresciam gigantes casas de sapo, quero dizer cogumelos.

Deixamos o carro e procuramos por abrigo, tentamos entrar na primeira cabana, mas as portas estavam trancadas, assim, tentamos uma por uma, sucessivamente, estava começando a me desesperar quando ouvimos um eco entre o vento, procuramos o dono da voz e avistamos um senhor com os braços suspensos, acenando para fôssemos até ele, finalmente estávamos salvos.

ஜ • ❈ • ஜ •

O Tornado não demorou muito para passar, as paredes tremiam, eu tinha medo, muito, não era pouco, não é de agora, quem não sente, afinal? Normalmente os alertas emitidos pelos Serviço Nacional de Meteorologia coincidem com o prognóstico e conforme eles haviam anunciado o tornado se intensifica cada vez mais.

Apesar de estarmos no abrigo subterrâneo, era possível ouvir o rangido dos ventos, trovoes, a fúria que ele protagonizava lá fora, por sorte encontramos esse abrigo, ou quero dizer, o mérito é todo de Peeta.

A tempestade, que se iniciou após a passagem do tornado durou mais 01h, ficar dentro daquele porão me fazia perder o ar, embora eu me esforçasse para não demostrar o medo que eu sentia, era impossível, então percebendo o pânico que estávamos sentindo, no momento mais crítico e melindroso do evento, a família que nos dera abrigo pediu que uníssemos às mãos com intenção de orarmos, fizemos isso, Peeta estava ao meu lado, deu uma das mãos para mim, sentir o calor das mãos de Peeta entrelaças as minhas me confortou de uma maneira surreal, era incrível o poder que ele exercia sobre mim, nunca senti isso por ninguém, nunca alguém que me tocou conseguiu despontar essas sensações. Me fazer sentir tão segura.

Quando finalmente pudemos sair, o céu já havia adquirido sua cor natural. Parecia que nada havia acontecido, exceto pelos estragos materiais, algumas cabanas só possuíam o alicerço, ou sombra de aquilo um dia fora um ambiente de lazer, essa região é bastante conhecida pelo turismo, pelas vinícolas, os aventureiros que escalam as montanhas de Allanville.

— Para onde vocês estavam indo? — Peeta se aproximou, ele abria e fechava mão esquerda, e fazia uma careta de dor, então percebi um rasgo na palma de sua mão.

— Estávamos indo conhecer uma propriedade — respondi vendo seu rosto ganhar um semblante curioso — Nada de mais, coisa minha, o que foi em sua mão? — Mudei de assunto rapidamente.

— Aconteceu quando fui abrir a porteira.

— Madeira ou ferro?

— Ferro, era um prego, eu acho, no carro de Finnick não há nenhum material de primeiros socorros.

— Então, você precisa lavar isso — Esquadrinhei o terreno em busca de alguma torneira sobrevivente, encontrei uma, então rapidamente girei a válvula e abaixei pegando a mangueira, esperei a agua barrosa escapulir até ficar cristalina o suficiente para lavar sua mão, era o mínimo que eu poderia fazer. — Assim que chegarmos na cidade precisará de uma vacina antitetânica. — Eu disse analisando o ferimento, não era profundo, não precisaria de ponto, mas provavelmente o prego estava enferrujado, isso requeria cuidados, a vacina em questão. — Mesmo sendo um chato, não merece morrer. — Falei provocando-o.

— Acabei de salvar sua vida e me chama de chato.

— Você salvou por que é um machão e quis assumir o controle da situação, Annie e eu teríamos saído muito bem sozinhas...

Ele riu e arguiu.

— Se eu não tivesse vindo, tenho certeza que não teria encontrado esse abrigo. — Ele sorriu colocando a mão sadia em meu queixo. — E seria uma pena ver esse rostinho nos telejornais sendo anunciado como uma das vítimas da tempestade.

— Isso é coisa que se diga?

Apertei sua ferida e ele gritou de dor.

— Era brincadeira, Katniss!

— Você é um imbecil.

Joguei a mangueira no pé dele e como castigo patinei na lama que cobria o chão, se não fosse o maldito me segurar estaria estirada no solo coberta de lama.

— Eu não disse? Não sabe nem desviar de uma lama, imagina fugir de um tornado...

— Não seja presunçoso, Annie e eu...

Ele me interrompeu.

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— Annie? Com o medo que ela estava sentindo, você teria que fazer tudo sozinha, ela sempre fica assim? Já vi pessoas entrarem em parafuso, mas Annie ficou paralisada, aquilo não é apenas medo, ela possui algum trauma? — Perguntou preocupado.

— Por que você não pergunta ao seu amigo? — Rebati sem simpatia.

— Meu Deus, não dá para ter um diálogo descente com você... — Ele me encarou — Só estou perguntando porque fiquei preocupado...

— Os pais dela foram mortos numa tempestade, eram muito simples, a casa não possuía porão, estava em construção, conseguiram salvar apenas a Annie, os dois foram localizados, no outro dia, entre escombros — hesitei — É motivo o suficiente para você?

Ele não respondeu, olhou para os lados e se afastou de mim.

Antes de partimos agradecemos o caseiro, Sr.Thomas, sua esposa e os dois filhos, tentamos convence-los a irmos para cidade, no sitio não havia sobrado muita coisa, mas ele garantiu que ficariam bem, que aquela não era a primeira vez que tinham seus bens levados pela fúria da natureza. De fato, ele não parecia muito abalado, morar perto das montanhas não é muito seguro, mas ele parecia bastante seguro com isso, provavelmente é um homem precavido e possui alguma apólice de seguro que lhe protege dos prejuízos.

Mas, isso é diferente para mim, não posso construir meu hotel numa localidade comprometida, mau tenho dinheiro para construí-lo, imagina reconstrui-lo todas as vezes que uma tempestade o destruí-lo de vez.

Durante o retorno a Madison todos dentro do carro ficou em silencio, exceto Annie, já que comemorava em alto em bom som por ainda estar viva, por todos nós estarmos bem.

E, conforme nós prevíamos quando passamos pelo trecho onde abandonamos o carro, não tinha nem sinal dele, suspirei pensando nesses problemas que terei de resolver, mas isso não fora tudo, pois quando Peeta dobrou a esquina do nosso prédio nos deparamos com uma barreira, havia alguns carros de bombeiro, homens usando uniforme da defesa civil e muitos moradores do lado de fora carregando algumas bolsas.

— O que aconteceu? — Perguntei a Wiress, era moradora do apartamento em frente ao meu, ela disse que a tempestade comprometeu a estrutura do prédio, há muitas rachaduras na parede, assim os bombeiros anunciaram a interdição, serão necessários três dias para vistoria e se for descartada a possibilidade desabamento poderíamos voltar para casa, mas somente após isso.

Rapidamente liguei para Haymitch, foi difícil falar com ele, estava atolado de trabalho, apesar do tornado não ter se aproximado da cidade, a tempestade foi o bastante para deixar centenas de pessoas desabrigadas, com isso a igreja estava lotada, não havia espaço para Annie e eu.

— Já liguei em todos os hotéis da cidade, estão lotados — Enquanto eu tentava falar com Haymich, pedi que fizesse busca em hotéis, mas, definitivamente aquele não era nosso dia de sorte, primeiro perdi o carro da locadora, depois o espaço para o nosso hotel e agora éramos duas sem teto.

— Eu não sei o porquê desse desespero. — Finnick interviu sorrindo em meio a tragédia toda — As duas podem ficar conosco durante esses dias.

— O que? — Annie avermelhou — De jeito nenhum — Parecendo cair a ficha para algo entre os dois, ela se aproximou dele e disse com a voz bastante desconfiada. — Se você está pensando que vou morar com você antes do casamento está enganado, Finnick Odair!

— Finnick Odair? — Ele repetiu a seriedade com qual ela havia pronunciado seu nome depois caiu na gargalhada, Peeta fez o mesmo, eu não suportei a cara de pimentão da minha amiga e ri também, mas parei assim que ganhei um olhar de repreensão. — Não quero apressar nada meu amor, só estou oferendo ajuda, já disse que vou esperar seu tempo. — Explicou, puxando para os seus braços, imaginando que ela logo cederia, mas ao contrário de um abraço, ele ganhou dois tapas e uma advertência.

— Não precisava dizer isso na frente deles.

Ela o levou para próximo do carro, ganhando distância e privacidade.

Eu ignorei a presença de Peeta e fechei os olhos para pensar, é claro que eu não iria para casa dele, Finnick poderia convencer Annie, mas eu não aceitaria isso de jeito algum.