A Piece of Us

09 — Tailandês


Tailandês

"Yuuri!" mesmo com algum tempo sem vê-lo, ou ao menos trocar alguma palavra com ele, Victor sempre reconheceria o tom de voz alegre de Phichit, enquanto adentrava o quarto do hospital com braços abertos para receber o japonês. Victor se perguntava a que horas Yuuri havia ligado para ele, levando em conta as cinco horas e meia de avião que durava a viagem da Tailândia para o Japão. "Como você está? E o Yuki? Ah, Victor! Você está aqui também?"

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Victor sorriu ao outro, ainda que um pouco acanhado e desconfortável. Ele se lembrava da época em que sempre que havia uma oportunidade, estava com Yuuri apertado em seus braços, lhe acariciando os cabelos, as mãos... Sacudiu a cabeça, aquilo já fazia parte do passado, e havia entrerrado junto com seus sentimentos pelo Katsuki. Não havia porque pensar naquilo agora.

Continuou sentado, alheio a conversa dos dois. Os dois pareciam tão animados ali, juntos... Victor mordeu o canto do lábio inferior, sentindo uma leve dor com aquilo, e tentanto afastar a sensação que crescia em seu peito. Não queria admitir que estava com ciúmes, porque em sua cabeça não estava.

Se voltou ao filho, observando a menira como ele abria os olhos castanhos devagar para fitá-lo. Sorriu, antes de qualquer coisa queria passar tranquilidade a criança, e se pôs a acariciar o rostinho redondo.

"Victor." dizia, a voz soando um pouco fraca, o que foi quase como um tiro no peito. "Cadê papai?"

O patinador russo sorriu, e antes que pudesse responder, viu Yuuri se aproximar junto do amigo. E naquele mesmo momento, Victor viu Yukiteru dar a Phichit o sorriso que nunca havia dado a mais ninguém.

"Tio Phichit!" a voz infantil exclamou, alegre, para em seguida abrir os braços para o tailandês. "Colinho."

"Nada disso, Yuki. Você vai ficar bem deitadinho aí sem se mexer, vai acabar tirando o soro desse braço e vai ficar dodói." Yuuri ia dizendo, enquanto Phichit só fazia rir e um biquinho se formava nos lábios de Yuki. Ele era uma crianzinha, afinal.

Victor, por sua parte, observava a cena com atenção. Era como se descobrisse aos poucos uma outra face do Yuuri pai: a alegria de quando estava acompanhado de alguém que gostava. E começava a imaginar que jamais tivera momentos como aquele junto ao moreno, mesmo quando eram noivos. O que os havia destruído, afinal?

Ele ainda observou aindam o japonês dizer mais alguma coisa ao filho, e depois se voltar ao tailandês, enquanto engajavam em uma conversa que o de cabelos platinados não conseguiu acompanhar. Os dois pareciam tão únicos juntos.

Suspirou, para em seguida se levantar e sentar-se em uma das cadeiras do outro lado da cama de Yukiteru, e se concentrar apenas na criança que, naquele momento, parecia desejar mais a atenção do tio Phichit, enquanto ele continhava sendo apenas o Victor.

O Victor que não queria admitir, mas estava com ciúmes.

—...—

Já passava das quatro quando o russo e o tailandês ouviram da enfermera que já não podiam continuar ali, e depois de uma longa conversa com Yuuri — e muitos pedidos da parte do mesmo — os dois resolveram partir para Yu-topia, e voltar no dia seguinte bem cedo. Victor havia até mesmo pedido para Yuuri que, qualquer alteração no estado de saúde de Yukiteru, foss esta boa ou ruim, ele o avisasse, e assim, agora estava junto de Phichit, caminhando em silêncio em direção a casa dos pais de seu ex-noivo.

O mais velho já admitira para si mesmo que aquele sentimento ruim em seu peito não passava de um ciúme bobo, e pasmem, até mesmo infantil. Ele já não tinha nada com o Katsuki há quatro anos e Yukiteru sequer sabia que também compartilhavam laços de sangue. E por mais que Victor estivesse ciênte disso, era impossível não se sentir daquela maneira. Era como se não tivesse conseguido esquecê-lo mesmo que passesse todos aqueles anos tentando.

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"Eu conversei com o Yuuri." ouviu o tailandês dizer e se voltou para ele. Nele, Victor podia ver a clara diferença de quase oito anos de idade estampadas na pele quase sem rugas, enquanto as suas começavam a surgir. "Quando vocês pretender contar pro Yuki? Tipo, toda a verdade?"

Victor arqueou de leve uma sobrancelha, para em seguida respirar fundo. Sabia bem que ainda ouviria aquela pergunta muitas vezes.

"Para ser sincero, eu ainda não sei direito... Preciso conversar sobre isso com o Yuuri, e particularmente prefiro que seja logo." respondeu para em seguida dar de ombros. "Não acho que seja justo esconder isso do menino, por mais que ele ainda seja uma criança." disse, e depois parou para pensar na primeira sentença do mais novo. "Mas me diga, o que exatamente você conversou com o Yuuri?"

Phichit imitou o gesto do russo em dar de ombros, seus olhos castanhos presos a tela do celular, seu Instagram mais específicamente.

"Falei que você estava cedendo, e que ele precisava fazer o mesmo, mais cedo ou mais tarde, pelo bem do filho do vocês."

Victor franziu a testa, surpreso. Talvez Phichit fosse o primeiro, desde o dia do vídeo, que falou claramente que Yukiteru era filho de ambos os ex-patinadores. E também pelo fato de não haver qualquer interesse por Yuuri na voz do tailandês, como imaginava que houvesse.

"E o que ele disse?" perguntou, ainda que um pouco hesitante. Ah, Victor Nikiforov estava parecendo uma ameba nervosa nos últimos dias.

"Ah, Yuuri sempre diz a mesma coisa quando é colocado contra a parede, entção resolvi não forçá-lo." o moreno respondeu, e parou no meio do caminho para tirar uma selfie. Victor parou para observá-lo. "E bom, só existem duas pessoas que sabem lidar com os ataques de Yuuri quando ele sente muita pressão, um deles é uma criança que está doente, e o outro é o penta campeão mundial de patinação."

"Eu não sei lidar tão bem assim." disse. Victor não mentia, e também não conseguia tirar de sua mente a imagem de Yuuri chorando de nervosismo na Copa da China. "Se eu soubesse... Bem, nós teríamos evitado muita coisa."

"Mas sabe mais do qualquer um." Phichit continuou, e Victor pensou seriamente em lhe dar os parabéns por tamanha insistência. "E bom, depois de ficar um bom tempo em silêncio ele disse que tinha percebido que você estava cedendo, desde o dia que conversaram sobre a guarda do Yuki, e que ele queria falar direito com você hoje mesmo, mas o menino ficou doente. Sabe Victor, eu acho que ele ainda gosta muito de você."

O russo mordeu o lábio inferior, sem saber ao certo o que responderia ao mais novo. Não era como se todo aquele sentimento que nutria por Yuuri Katsuki desde o banquete em que o japonês estivera bêbado tivesse acado do dia para a noite, porque não foi bem assim. Pelo contrário, ele estava lá, ainda que sufocado pelas mágoas do passado, mas ainda que tivesse ciência disso, Victor não externou. Aquela história já havia machucado a Yuuri e a ele demais, a ponto de não saber se eles realmente teriam alguma chance no futuro.

Mas por que eu estou pensando nisso, afinal?; a pergunta foi direcionada a si mesmo, e o Nikiforov soltou um longo suspiro entre o triste e o nervoso. Queria mais do que nunca sentar e conversar direito com o japonês, contar a seu filho toda a verdade e ser o pai que nunca teve.

Mas sabia muito bem que as coisas não seriam como em um conto que fadas, e que ainda havia um longo caminho para se trilhar.