Velhas estradas, novos caminhos

Capítulo 5: A percepção


No entanto, depois do primeiro turno das eleições, o temperamento de Alícia mudou bastante. Ela distanciou-se, calou-se, parou de andar com a gente, só sabia falar sobre o Lula e vê-lo como aquele que faria o país finalmente caminhar para um regime democrático, capaz de abarcar o povo em seu governo. Direto, passeando com a Érica, eu a encontrava no comitê do candidato petista ou distribuindo panfletos para as pessoas na rua.

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E o dia do famigerado debate foi demais para ela. Alícia caiu de cama com uma febre intermitente e passou vários dias sem ir à aula.

Acho que foi aí que me dei conta de que sentia algo diferente, porque senti muito a sua ausência. Perguntava-me como era me sentir livre dos comentários ácidos que ela fazia o tempo todo, porém, eles eram mais interessantes que as horas de conversas que eu tinha com qualquer outra pessoa. A verdade é que Alícia era para mim como um rio de águas escuras.

Só esse engajamento político que me assustava. Tínhamos 18 anos.

De todos os modos, ele não foi empecilho para que fosse lhe visitar certo dia. Mais que precisar, queria realmente vê-la.

A mãe dela, uma senhora muito simples, recebeu-me na entrada e levou-me ao quarto. Disse que de todos os colegas que ela tinha, eu havia sido o primeiro a visitá-la. Estranhei o comentário, e aquelas meninas com quem ela andava?

Vê-la desarmada e indefesa, metida num pijama cavado azul claro, me fez querer abracá-la e protegê-la pra sempre. Ali percebi que ela parecia mais alta porque se apoiava num calço de orgulho, mas, no final, era apenas triste.