A Rainha da Beleza

II - Sob as Cinzas da Cidade


O sol mal havia nascido quando os guardas começaram a chegar, doze cavalos brancos trotavam em sintonia perfeita, seguidos um longo carro negro. Eu nunca, em meus dezenove anos, havia visto uma limusine tão de perto. Na verdade, eu apenas vira uma daquelas uma única vez, na grande tela que havia no centro da cidade, onde os anúncios reais eram feitos. Cidades grandes tinham luxos como televisões, computadores e até mesmo telefones, mas com menos de trezentos habitantes – sem contar, é claro, as crianças do orfanato – isso era considerado insignificante na nossa cidade.

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Todos ainda estavam dormindo quando eles começaram a andar por entre as pessoas, precariamente colocadas em colchonetes finos no chão do salão da prefeitura. Tentei ao máximo não fazer barulho, enquanto observava os homens vestidos com o uniforme real, banco e dourado, andando em formação perfeita, em volta de uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque perfeito, vestindo um Tailleur.

Ela andou entre todos, sem olhar realmente para nossos rostos, apenas contado e fazendo anotações em uma prancheta.

—Sobraram tão poucos – suspirou a mulher de cabelos castanhos, por fim, para o homem que havia me ajudado ontem.

—Era uma cidade bem pequena – ele deu os ombros – Mas são pessoas boas... Tenho certeza que vão se sair bem em qualquer lugar.

—Imagino que sim – ela assentiu, formalmente – Você tem a lista para mim? Preciso saber o que fazer com eles antes que acordem...

—Aqui está – ele entregou uma folha pautada para ela, estava um pouco amassada, e a mulher não pareceu feliz com isso – Me desculpe, não tive tempo de montar uma planilha. Mas ai estão: Os nomes, as idades, e qualquer outra anotação extra.

—Obrigada – ela falou, se afastando, voltando a caminhar entre nós enquanto lia as anotações, colocadas cuidadosamente em sua prancheta – Oficial Martins?

—Sim senhora? – perguntou um dos guardas, dando um passo a frente – Luiggi Frade. Diz que tem família em Lisboa, Portugal, poderia tentar entrar em contato?

—Algum endereço? – perguntou o guarda.

—Não, mas temos um número de telefone – ela falou, pegando outro papel e rabiscando o número – Aqui, tente. Vamos lá para fora, esperar que todos aqui acordem!

Fechei os olhos enquanto passavam por mim, os saltos altos da mulher e os passos dos seis guardas. Esperei até ouvir a porta sendo fechada antes de me sentar e olhar em volta. Estavam mesmo todos dormindo. Me estendi, balançando Marsella até que ela abrisse um pouco os olhos.

—O que foi? – ela perguntou, sonolenta e assustada.

—Os guardas estão aqui – falei, em voz baixa – Estão começando a decidir o que vão fazer com a gente. Acha que deveríamos...

—Me ajude a acordar todos – ela mandou, ecoando meus pensamentos e se abaixando ao lado de Jane – Jane... Acorde, temos que nos arrumar.

—Nós vamos embora? – perguntou a menina, sonolenta, ao passo que Suzi, deitada perto de nós começava a acordar com o barulho.

—Sim, sim, vamos logo, se levante – Marsella a puxou ara que ficasse em pé e arrumou, o melhor que pode, o emaranhado de largas e amassadas roupas verdes em volta da menina. Eu também não estava grande coisa, mas não tinha tempo de me preocupar com isso.

—Para onde nós vamos? – perguntou Jane, assustada, com os grandes olhos chocolate fitando Marsella.

—Eu ainda não sei, minha querida, eu ainda não sei – Marsella beijou sua testa – Mas nós vamos ficar bem, certo? Vamos ficar juntas!

—E Bethany? – ela perguntou, ajudando a empilhar os colchonetes.

—Eu não acho que vou poder ir com vocês pequena – suspirei, me abaixando ao lado da senhora Francey e a acordando. – Eles não gostam de mandar muitas pessoas para o mesmo lugar.

—Mas... Você vai ficar sozinha! – ela gritou, diante a tal absurdo que isso era em sua cabeça de nove anos – Eles não podem te deixar sozinha!

—Eu não vou – garanti, tentando parecer o mais confiante possível – Tenho certeza que eu vou fazer novos amigos onde quer que eu vá parar, assim como você e Marsella também vão. Talvez eu até possa...

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Me calei então. Percebi, em pânico, o quão pequena era a chance de eu poder visita-las ou sequer mandar uma carta. Quais as chances de eu descobrir em que cidades elas haviam ido parar? Ninguém iria me dizer, e, mesmo se dissesse, eu não saberia a casa ou a rua onde elas acabaram se instalando.

Era um adeus. Definitivo.

Meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez, e foi a minha vez de me virar apavorada para Marsella – Marsella...

—Está tudo bem, criança, tudo bem – ela falou, enquanto eu jogava os braços em volta dela – Você é uma menina forte Bethany, não deixe que isso te assuste. Se quiser nos encontrar, você vai. Você pode fazer qualquer coisa!

Assenti, respirando fundo e tentando manter a calma – Vou sentir sua falta... Mãe!

Foi a vez dos olhos dela marejarem. O azul claro tornou-se escuro, e cheio de ondas, como o oceano no meio de uma tempestade. Me controlei para não chorar de novo, ela teria anos para se preocupar com Jane, não podia deixar que nos separássemos com ela preocupada comigo também.

A porta se abriu violentamente, e a senhora Francey entrou no salão arfando, parecendo ultrajada. Eu nem sequer vira que ela saíra depois que a acordei, mas ali estava ela.

—Senhora Francey, a senhora está bem? – perguntou Suzy, a ajudando a caminhar até uma cadeira, largada sem motivos ao lado das escadas. A mulher deixou-se largar-se sobre a cadeira como uma boneca de retalhos.

—Que tragédia terrível essa, minha pobre cidade – ela falou, aos prantos – Meu marido, feliz meu marido que morreu antes de ver isso. Tudo culpa daqueles negros malditos! Eu os amaldiçoo, amaldiçoo todos eles.

Respirei fundo, tentando não perder a calma. Não valeria de nada discutir com uma mulher daquela idade. Eu sabia que nem todos os negros eram apoiadores daquilo, diferente de muitas pessoas brancas. Mas era difícil para alguém mais velho – alguém que ouviu histórias dos pais ou dos avós, dos tempos de guerra – entender isso.

—Ah, pobre mulher – falou Marsella, parando ao meu lado no meio do salão – Está transtornada, para dizer essas coisas. Como pode culpar um pais inteiro, uma raça inteira, por alguns maus elementos?

Dei os ombros, respirando fundo. Eu quase sentia inveja da senhora Francey.

Eu queria ter alguém para culpar pela morte de Isis e Marian, mas só havia a mim mesma, e o fato de que não consegui salva-las.

...

—E então? Lembra-se de algo estranho naquela noite? – perguntou um dos guardas, olhando dentro dos meus olhos – Pense bem, senhorita...

—Bethany – falei, automaticamente. Eu não tinha um sobrenome. Usava os dos Drake’s por exigência de Marian, mas agora parecia não haver mais sentido em usa-lo. – E não, eu não me lembro de ver nada estranho aquela noite. Eu fui dormir tarde, minha... Irmã estava fazendo as malas. Eu li sobre o incêndio na Rússia à alguns dias, e acabei pegando no sono.

—Mais nada? Sem explosões, ou carros, ou... – ele tentou me incentivar um pouco.

—Cavalos – falei, piscando um pouco. Não podia ter sido minha imaginação, poderia? Eu provavelmente nem tinha mais imaginação, depois de tudo que acontecerá – Eu ouvi, sons de cavalos na rua. Bem devagar.

—Cavalos? – ele arregalou os olhos, como se de repente eu tivesse dito algo muito interessante – É alguma coisa... A menina, a pequena, qual o nome dela?

—Jane? – perguntei, sugestiva.

—Exato, Jane! – ele assentiu, entusiasmado – Ela falou algo sobre ouvir relinchos, mas não demos muita importância, sabe como são as crianças não? Consegue nos dizer quantos cavalos acha que eram?

—Difícil dizer, estavam andando mesmo devagar – falei, fechando os olhos – Não eram poucos, mas também não deviam ser mais do que quinze ou vinte...

—Cavalos, mas é claro – ele falou, sorrindo como se tivesse feito uma grande descoberta – Muito obrigada senhorita, foi de grande ajuda. Pode esperar lá embaixo com os outros.

Assenti, decepcionada, e voltei para o primeiro andar. Mesmo eu sabia que nunca me diriam no que aquela informação ajudará tanto assim. Marsella me olhou enquanto eu voltava, estava com Jane no colo, e sorria radiante.

—Vamos para Lisboa – ela anunciou, soltando Jane para me abraçar – Os tios de Luigi irão nos acolher. Vou trabalhar para eles, e Jane poderá ir para a escola. Deixaram que eu ficasse com ela, Bethany, isso não é maravilhoso?

—É realmente incrível – falei, a abraçando de volta – Mas imagino que Luigi não esteja muito feliz em saber que vai ter uma criança ela casa...

—Tentei falar com ele, mas como todo o bom adolescente, a resposta padrão foi – ela fez uma careta, e engrossou a voz – Tá, tanto faz.

—Claro – revirei os olhos, e então o rosto de Marsella endureceu – O que foi?

—Queria que tivessem me dito o que farão com você – ela suspirou, tocando meu rosto – Mas eles se negaram e dizer qualquer coisa, criança. Queria que pudesse ir conosco.

Respirei fundo. É claro que eu também queria, mas não era minha escolha. Eu era jovem, forte e apesar de alguns hematomas e do corte na cabeça, completamente saudável. Era provável que me levassem para alguma cidade da Grande Paris para trabalhar em uma fábrica.

Um guarda entrou no salão, e chamou por Luiggi, Marsella e Jane. Eu não queria sair da segurança do prédio, não queria ver o que acontecerá a cidade, mas eu não podia deixar de vê-las por uma última vez. Respirei fundo, seguindo-as para o outro lado da pesada porta de madeira e metal da prefeitura, vendo a cidade em ruínas.

Eu sabia onde estava tudo. Ali, ficava a padaria, e ali, a igreja, e dobrando aquela rua, e subindo alguns degraus escondidos entre uma casa amarela e uma de pedras, estaríamos na cara de Marian. Onde ficava a casa de Marian.

E lá, perto do fim da cidade, ficava o orfanato.

Estava tudo acabado. Um misto laranja, cinza e preto de pedras destruídas, tijolos em pedaços e madeira queimada.

Um carro negro parou em frente a prefeitura. Não uma limusine, mas um carro tão chamativo quanto, com duas bandeiras portuguesas balançando sob os faróis frontais.

Eu vi Marsella e Jane sumirem atrás das janelas escuras do carro, mas mesma assim abanei enquanto ele partia. Eu sabia que elas podiam me ver.

Quando o carro sumiu de vista, voltei para dentro da prefeitura e me sentei em um degrau quase no topo da escadaria, colocada ao corrimão. Aos poucos o salão foi se esvaziando. A irmã de Suzi veio pessoalmente busca-la, e ouvi que a senhora Francey iria para uma casa de idosos na Rússia. Jasper Marchon dono da pequena loja de sapatos da cidade, estava furioso quando foi levado para trabalhar em uma fábrica na Gran-Bretanha, e Cinthia também seria enviada para lá, porém direto para um hospital.

Não sei exatamente quando peguei no sono, só sei que acordei com os passos da mulher de cabelos castanhos se aproximando de mim – Você!

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Arregalei os olhos, dando um pulo. O que estava acontecendo?

—O que está fazendo ai? – perguntou ela, furiosa – Todos já se foram!

—Todos? – perguntei, assombrada, olhando para baixo da escada. O salão estava vazio, deserto, com exceção dos guardas e da mulher.

—Céus, o que faremos com você? – ela me analisou de cima a baixo.

—Senhora, não acha que a rainha poderia gostar dela? – falou um dos guardas, parando ao lado da mulher.

—Não sei dizer Martins – ela suspirou, como se refletisse o que ele havia dito – está bastante ferida e suja, e tem essa marca no rosto, mas... Parece ser bem bonita mesmo. Você é Bethany, não é mesmo?

—Isso – confirmei confusa com o rumo que aquela conversa tomara.

—Tem dezenove anos, órfã, morava com... Marian Drake? – ela olhou para o tal Martins, com as sobrancelhas franzidas. Ele apenas deu os ombros – Está tudo certo?

—Sim, é isso mesmo.

—Bem, Bethany... Você acaba de ser escolhida para ter a grande honra – falou a mulher, com um sorriso modesto, porém nada menos do que perfeito – de trabalhar para a Rainha!

Eu me desequilibrei e precisei me segurar no corrimão para não acabar caindo. Aquilo era alguma piada? Pessoas como eu – Órfãs, sozinhas, sem grandes talentos – não trabalhavam para a rainha, pessoas como nem eram vistas.

—Como? – ousei perguntar, temendo irritar aquela mulher já bastante assustadora no seu estado calmo – Trabalhar para... A Rainha? Eu? Não, vocês pegaram a garota errada.

—Não é nada muito difícil – garantiu o Oficial Martins – Tenho certeza eu já ouviu falar nas musas, certo?

Claro, quem não? As musas, garotas belas, colhidas por toda a Eurásia, que serviam as festas da rainha como empregadas, exceto que seu principal trabalho não era servir, e sim ser vista, apenas como enfeites no palácio.

Eu não queria ser um enfeite. Me enojava a ideia de ser um adereço do palácio.

Mas o que eu poderia fazer? Eu deveria estar agradecendo por não acabar em uma fábrica ou pior, nas ruas de uma cidade da Grande Paris tendo que vender meu corpo.

Enquanto eu me afastava da cidade, dentro da luxuosa limusine, tentei manter esse pensamento. Os escombros eram assustadores, tons de cinza, preto, laranja e marrom, destorcidos na visão dos meus olhos que já estavam cheios de lágrimas.

Não sei por onde passamos, eu não conhecia nada além da minha cidadezinha, e odiava a sensação de estar tão vulnerável. Na cidade, eu sabia o nome de praticamente todos – ou ao menos, seus sobrenomes, ou apelidos – mas iria para um lugar onde não conhecia ninguém. Para um castelo onde deveriam ter mais pessoas do que um dia caberiam em minha cidade arruinada.

Me perdi na visão das cidades em que passávamos. Não demorou muito para que entrássemos na Grande Paris. Era uma diferença clara do resto do mundo, como a SuÍça ou o que eu virá em livros e na TV, da Itália. Não era um lugar onde as pessoas viviam, era um lugar onde elas trabalhavam. Fabricas gigantescas se erguiam de todos os lados, prédios maiores e maiores, feitos para abrigar centenas de pessoas.

Todos trabalhando até a exaustão para que a família real pudesse se manter no topo aonde estava. Para que pudessem seguir usufluindo do bom e do melhor, e ostentando um reinado de beleza e luxo para o resto do mundo.

Não fazia ideia de quantas cidades – ou sequer, quantos sub-países da Grande Paris – estávamos passando, então acabei por contar estátuas. Cada vez que eu via uma estátua de Lamarque Paris, general da que levou a França a vitória das três grandes guerras mundiais, eu presumirá que passará mais uma cidade.

Enquanto a noite caia, comecei a me enrolar nos números, sendo atingida por uma onda intensa de cansaço, quando o carro parrou.

—Os cavalos estão cansados – falou o Oficial Martins, assim que a mulher abriu o vidro para ver o que tinha acontecido – Os homens também. Faz mais de vinte e quatro horas que estamos de serviço, sem descanso nem comida.

—Sim, também estou exausta – falou a mulher – Imagino que, já que pararam, tenham encontrado um lugar para passar a noite?

—Sim senhora, é um hotel pequeno, discreto, a rainha mesma já dormiu aqui em uma de suas viagens – ele pigarreou, olhando para mim, e percebi que não deveria estar ouvindo isso – Creio que será adequado.

—Tudo bem, eu irei falar com o recepcionista – ela falou, saindo do carro e me puxando pelo braço, me empurrando para o lado de Martins – Cuide da garota!

—Não ligue para Veronicca – falou ele, gentilmente, com um tom um pouco melodioso na voz – Ela só não gosta muito de ficar longe de casa.

—Bem, acho que isso é algo que eu posso entender – me permiti falar, e me encostei no carro, analisando-o. Devia ser uns dez anos mais velho que eu, ou menos. Cabelos loiros, olhos azuis muito claros, e uma barba dourada bem aparada. Era bonito, de um jeito meio praiano que me fez suspeitar que talvez ele não fosse de nenhuma cidade da Grande Paris, mas não ousei perguntar. Em vez disso, fiz outra pergunta não muito mais segura.

—Tem um garoto... Bem, agora ele deve ser um homem – me enrolei um pouco, e ele me deu aquele olhar que as pessoas dão quando acham que tem um romance no meio da história – Ele é meu irmão de criação, seu nome é Apolo...

—Apolo Drake? – ele perguntou, desconfiado. Assenti – Garoto espero, aquele. Um bom guarda, está servindo em Berlim há quase três semanas. Ele era da sua cidade então?

—Sim, sim, eu morava com a família dele, era... Dama de companhia, da irmã dele – acho que era a melhor forma de descrever meu trabalho com Isis.

—Pobre garoto, ficará arrasado com o que aconteceu. Ele estava sempre escrevendo para a família – falou Martins, com um semblante sério – Imagino que volte ao palácio por um tempo, não é bom deixar um homem que teve uma perda dessas em campo. Será bom para ele te ver no castelo, caso tragam ele de volta.

Eu não podia concordar menos com isso. Apolo e eu nunca conversamos. O máximo de conversa que tínhamos era bom dia, boa noite, e perguntar um ao outro se queria algo, quando algum de nós saia.

Se o que eu sabia sobre Isis e Marian era raso, o que eu sabia sobre Apolo era um rio seco, e, mesmo assim, ainda era uma sensação agradável pensar encontrar com ele. Nos primeiros meses na casa dos Drakes, lembro-me de ter ficado impressionada com a quantidade de livros. Em algum momento, acabamos sempre juntos na sala de leitura, em silêncio, cada um no seu canto.

Não falávamos sobre livros, discutíamos sobre livros ou recomendávamos livros um para o outro. Éramos apenas duas pessoas, que quando tinham um momento de folga dos mimos de Isis e da fúria de Marian, se refugiavam juntos.