Trilha Sonora

Capítulo 07- Here without you


Hermione virou oficialmente a namorada do meu irmão na semana seguinte, quando mamãe organizou um jantar para conhecer sua nora e os pais dela. Passei a noite toda tentando não rir do Rony todo pomposo na frente dos sogros e pude identificar de quem minha cunhada herdara tanta inteligência. Seus pais eram dentistas e o que possuíam de simpatia, possuíam de conhecimento. Eles me fizeram perguntas sobre a faculdade e não fizeram a careta da qual eu já havia me acostumado a receber toda vez que eu falava meu curso. Não que eu ligasse muito.

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Foi um jantar agradável que me arrancou muitas risadas e que me fez esquecer a cozinha de Harry, os lábios de Harry, os toques de Harry e do próprio Harry, mesmo que somente por algumas horas. Minha mente passou a semana toda pensando no dono dos olhos verdes e de suas últimas palavras a mim: “vou sentir muito a sua falta, Gin”. Tal frase ecoava em minha mente, fazendo-me perguntar se ele estaria sentindo aquilo naquele exato momento, porque eu definitivamente estava sentindo sua falta.

No dia seguinte a sua chegada no solo americano, Harry ligou para Rony. Foi uma conversa rápida, mas que pude ouvir estando no mesmo aposento que o meu irmão. Não haviam se passado nem 3 minutos quando Rony se despediu e desligou o celular, deixando-o em cima da mesinha de centro da sala. Estávamos assistindo uma série qualquer na TV e dois baldes de pipoca se encontravam entre nós.

—Era Harry -disse Rony, e tentei manter minha postura relaxada.

—Ele chegou bem? -era uma pergunta besta, mas julguei como algo que uma menina que não sentisse nada pelo pessoa do outro lado da linha iria querer saber.

—Uhmmm. Ele perguntou de você -meu corpo ficou tenso no exato momento que suas palavras chegaram em meus ouvidos, e levei minhas mãos ao meu balde de pipoca para disfarçar minha surpresa.

—Eu tô bem -falei, como se Harry estivesse ali.

—Foi o que eu falei.

Eu queria fazer mais perguntas, mas resolvi que me manter calada seria uma atitude bem menos suspeita. Rony pareceu ficar esperando algum tipo de reação minha e me perguntei se Harry havia contado o que havia acontecido entre nós para ele, mas meu irmão se manteve impassível e não tocou mais no nome do amigo comigo.

A última coisa que eu queria era ter que responder certas perguntas.

O fato de estar morando em outro país, no entanto, não era um impecilho para a amizade de Harry com meu irmão. Eles conversavam muito pelo celular e, de vez em quando, meu irmão ligava para ele, contando as novidades da faculdade e perguntando da nova rotina do amigo. Porém, o fuso horário nem sempre ajudava, e as horas de diferença entre a Grã Bretanha e os Estados Unidos pareciam ser bem mais quando Rony não podia falar com Harry por este estar provavelmente dormindo. Eram mudanças que os dois tentavam se adaptar, mas que não deixava a amizade enfraquecer.

E eu, bem, observava de longe. Minha semana de provas logo chegou e me foquei unicamente em obter notas satisfatórias. Eu saía para comer besteiras com Rony e Hermione e passava muito tempo procurando novas músicas no computador. A cada canção nova que saía da caixinha de som, eu me perguntava se Harry iria gostar dela, mas eu não fazia nada além de curtir algumas postagens suas nas redes sociais, bem como as demonstrações de saudade que seus pais publicavam.

Depois do meu período de provas e de resultados que me deixaram com um sorriso no rosto por um bom tempo, Luna e eu decidimos sair para comemorar, e optamos por um pub não muito longe da faculdade. Era um ambiente totalmente descontraído que combinava perfeitamente com nossas posturas relaxadas e a sensação de dever cumprido que quase nos fazia levitar após duas semanas muito exaustivas.

—Tenho uma coisa pra você, Gin. -disse minha amiga, depois que pedimos nossas bebidas e alguns petiscos. Ela abriu a bolsa em seu colo e tirou de lá uma pulseira de miçangas pratas e brilhosas e, entre alguma delas, haviam pingentes de sapinhos pendurados. -Terminei ontem a noite.

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—É linda, Lu! -um sorriso enorme tomou meus lábios enquanto eu analisava cada pingente em forma de sapinho da minha mais nova pulseira preferida. -Obrigada, você é mesmo muito boa com miçangas.

Rimos da minha observação. Logo quando nos conhecemos, eu costumava achar engraçado demais seu hábito de fazer seus próprios acessórios exóticos, até finalmente perceber que ela era realmente boa naquilo. Seu amor por miçangas já haviam me rendindo muitos brincos e cordões, mas aquela era a primeira pulseira que ela me dava.

—Eu sei -respondeu Luna, dando de ombros.

—Já que você sabe, eu não vou mais te elogiar. -brinquei, colocando meu novo acessório no pulso.

—Mentir atrai energias negativas, Gin.

—Eu nunca ouvi falar disso -falei, cerrando os olhos em sua direção.

—Então você tem sorte de me ter como amiga pra te alertar sobre essas coisas -falou, presunçosa, me arrancando uma risada.

O garçom trouxe nossas bebidas e logo depois nossos petiscos, interrompendo momentaneamente nosso conversa. Quando ele foi em direção a outra mesa, porém, Luna olhava em outra direção.

—Tem um cara olhando pra você -Falou Luna, e minhas sobrancelhas levantaram. -mas não gostei muito da áura dele. -emendou, me fazendo sorrir e rolar os olhos.

—Se eu olhar agora, ele vai ver? -perguntei, tentando agir normalmente, antes de dar mais um gole em minha bebida.

—É melhor você não olhar… Se bem que a visão não é nada ruim -seu comentário despertou ainda mais a minha curiosidade.

—Arcoíris? -perguntei.

—Totalmente.

Bebi mais do conteúdo do meu copo, tentando manter a postura relaxada. Minha cabeça, no entanto, não deixou de lembrar de Harry, e me perguntei se o desconhecido que me olhava era tão bonito quanto ele. Fosse o que fosse, não havia porque eu continuar comparando, eu ainda nem havia visto o cara e Harry já era quase americano.

Pelo menos, era do que eu tentava me convencer.

—Pode olhar agora. -falou Luna, e eu virei a cabeça na direção que seus olhos apontavam, parando no moreno alto e forte debruçado sobre o balcão principal do pub. Meus olhos se arregalaram, mas não precisei de muito tempo para reconhecer aquele perfil que não me era estranho.

—É o Dino -falei, ao encarar novamente o rosto da minha amiga.

—O da praia? -perguntou, curiosa.

—Sim.

—O que o Harry aprovou? -rolei os olhos com sua lembrança.

—Sim.

—E que achou que fosse gay?

—O próprio -relaxei na minha cadeira e beberiquei mais minha bebida -Mas ele não vem falar comigo. Ele deve ter apenas me reconhecido também.

—Então ele é mesmo gay? -quis saber ela, encostando-se no espelho de sua cadeira.

—Não, isso não -respondi, balançando a cabeça. -é só que eu deixei meu número com ele na última vez e ele nunca me mandou mensagem, nem me ligou.

Luna fez uma careta e começou a mexer nos cordões que enfeitavam seu pescoço, e que ela mesmo tinha feito.

—O olhar dele não é de desinteresse -observou ela, e constatei que Dino estaria olhando novamente pra mim -Vai ver ele é tímido.

Dei de ombros e deixamos Dino de lado para conversar outras coisas, embora eu notasse o olhar de minha amiga sob minha cabeça algumas vezes. Desde que dançamos naquele feriado, eu nunca mais havia pensado nele; haviam acontecido tantas coisas naquele dia que foi como se eu não tivesse dançado com ele. Como eu poderia, afinal? Harry e seus olhos e dedos em mim, me elogiando e dizendo outras coisas que ficaram ecoando em minha cabeça por um bom tempo varreram qualquer pensamento que eu pudesse ter em relação a Dino.

É claro que, estando somente eu e Luna dividindo aquela mesa num pub, o assunto chegaria a Harry em alguma hora. Eu notava seu receio em falar no melhor amigo do meu irmão, mas não era como se ele tivesse deixado de existir. Eu tinha que conformar a bola de sentimentos que vivia dentro de mim a aceitar que agora ele estava bem longe, e que não haveriam mais instruções de como jogar dardos nem amassos sorrateiro em cozinhas. Pelo menos, não com ele.

—Eu acho que ele ter perguntado de você pro Rony é uma demonstração bem clara de saudade, Gin -comentou ela, tomando sua segunda dose de tequila. Minha reação foi fechar a cara e cerrar os olhos em sua direção.

—E o que eu devo fazer, tomar o telefone do meu irmão e dizer que tô morrendo de saudade também? -perguntei, sarcástica, cruzando os braços.

—Então você tá? -sua expressão era de desafio, e seu sorriso era carregado de malícia.

Rolei os olhos antes de fixá-los novamente em seu rosto.

—Deixe-me adivinhar: admitir atrai boas energias?

—Não, mas diminui um pouco esse seu orgulho do tamanho da muralha da China. -não me incomodei no quão infaltil eu provavelmente pareceria ao mostrar minha língua pra ela. -Mas você não precisa me dizer nada. Eu sei.

—Sabe? -minhas sobrancelhas se arquearam e trouxe meu corpo para mais próximo da mesa, apoiando meus braços ali.

—Uhmm, sou sua amiga, Gin, e você sabe que eu sou boa em dissipar a fumaça do incenso quando o cheiro se torna sufocante.

—Então, como minha amiga, você tem que concordar que eu tenho que superar o Harry, não acha? -apesar da brincadeira, eu esperava por sua resposta sincera.

—Apesar dele ser um gato e atrair energias fantásticas, Gin, a alma dele tem que encontrar a sua primeiro.

—Você já pode falar na minha língua.

Luna revirou os olhos, e se inclinou por cima da mesa como se fosse contar um segredo.

—O rio dele tem que estar no mesmo nível que o seu, entendeu? Eu sinto que ele gosta de você, Gin, só não sabe o quanto ainda, isso é óbvio.

—Pra mim não é. Além do mais, ele tá do outro lado do oceano agora, e eu não vou sair nadando até lá. -apontei, tomando o resto da bebida em meu copo.

Luna deu de ombros, como se estivesse desistindo da causa.

—Não é como se eu fosse esperar por 3 anos, Luna.

—Ninguém falou pra você fazer isso, mas como ele está agora em volta de outras áuras, você poderia se focar mais em outras. -exclareceu, antes de enfiar um petisco na boca.

—Como assim? -franzi o cenho e eu já não tinha certeza se eu estava seguindo a mesma linha que o raciocínio dela. .

—Dino está vindo pra cá -falou ela, rapidamente, antes de se levantar da mesa.

—Onde você vai? -ela estava pensando em ir embora?

—No banheiro -falou, piscando pra mim antes de se encaminhar na direção oposta a plaquinha que indicava os toaletes.

Não tive tempo de pensar em mais nada antes que Dino surgisse no meu campo de visão, vindo por trás de mim e me lançando um sorriso simpático.

—Ginny? -cumprimentou ele, meio sem jeito -Não sei se você se lembra, mas…

—Oi, Dino -falei, e seu sorriso abriu ainda mais quando demonstrei que minha memória era muito boa. -Como vai?

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Eu me levantei para cumprimentá-lo devidamente.

—Melhor agora. -Me respondeu, colocando um sorriso sedutor nos lábios -a sua amiga…?

—Ela foi ao banheiro.

—Ah… -eu sorri, também não sabendo muito o que dizer.

—Escuta, Ginny… Desculpa não ter te ligado, mas não sei o que deu no meu celular e perdi toda a minha agenda. Tive que comprar outro -me explicou, pegando o celular de um de seus bolsos. Sua expressão e sua falta de jeito me diziam que ele estava falando a verdade -Tentei te encontrar no outro dia, mas…

—Fomos embora logo pela manhã. -falei, colocando as mãos nos bolsos de minha saia jeans.

—Você mora aqui perto? -perguntou.

—Na verdade, não, só estudo mesmo. Você gostaria de sentar?

Dino olhou para algo atrás de mim antes de voltar a me encarar.

—Eu não quero atrapalhar a sua noite com a sua amiga, Ginny. E eu vim com alguns amigos… mas o que eu preciso fazer pra ter seu número de volta? -perguntou, me fazendo rir- Poderíamos sair qualquer dia.

—Seria ótimo -falei, me convencendo de que eu queria mesmo aquilo.

Dino salvou meu número no seu celular novo e eu peguei o dele também. Trocamos mais algumas palavras antes que um de seus amigos o chamasse.

—Foi ótimo te ver, linda -ele se inclinou para me dar um beijo na bochecha, não se preocupando nem um pouco em ser rápido. -eu te ligo.

Ele me deu mais um sorriso antes de se afastar e voltar para os amigos. Voltei a me sentar, esperando Luna que voltou segundos depois. Ela nem ao menos tentou disfarçar o sorriso acusador e malicioso que enfeitava seu rosto, o que me fez revirar os olhos em sua direção.

Pelo resto da noite, Luna tentou adivinhar qual o signo de Dino e se combinava com o meu, o que acabou me arrancando muitas risadas que faziam minha barriga doer. Pedimos mais bebidas para nós quando a conversa se voltou para a minha amiga, onde foi a minha vez de dar conselhos e puxões de orelha. Foi uma noite totalmente agradável, de modo que só o que eu pensava quando Luna me deixou na frente de casa era que tínhamos que fazer aquilo mais vezes.

Como já era tarde, todos dormiam e a sala estava escura demais quando tranquei a porta. Senti meu celular tremer em minha bolsa ao subir as escadas, e pensei que Dino não queria mesmo perder tempo, mas eu precisava de um banho, então não vi problema nenhum em responder apenas quando eu já estivesse de pijama. Assim, 15 minutos depois, me joguei na minha cama de bruços, agarrando meu sapo de pelúcias, e peguei o aparelho, acessando a mensagem. Porém, não era do número que eu havia salvo a poucas horas atrás, e sim de um completamente desconhecido.

Gin?

Tentei lembrar de quem poderia ser aquele número, mas não cheguei a lugar nenhum. Assim, resolvi responder aquela pergunta com outra.

Quem é?

Esperei apenas alguns segundos, dentre os quais observei os números diferentes que me indicavam que aquela pessoa não residia no mesmo país que eu, até meu celular apitar.

Aquele cara alto, fortão e fodão, que tenta mascarar a sensualidade por trás de óculos redondos e possuidor de incrível olhos verdes... Conhece?? ;)

Não pude impedir minha boca de se abrir em um pequeno “o”. Eu nunca havia salvado o número de Harry, e eu tinha certeza que ele também não tinha o meu, então nunca esperei que ele me mandasse um mensagem algum dia. Me sentei rapidamente e apoiei minhas costas no espelho da minha cama, o coração batendo acelerado em meu peito e um sorrisinho insistiu em nascer em meus lábios. Digitei uma resposta segundos depois.

Hmmm, não sei... Tem um tal de Harry que usa óculos redondos e tem olhos verdes, mas pelas outras características que você disse, não deve ser ele não…

Uma nova mensagem chegou ao mesmo tempo em que uma vontade de rir me assolou. Me perguntei se eu ainda estava sob efeito do álcool.

Harry? Harry Potter? Com esse nome de gente importante, com certeza é ele!

Mordi meu lábio inferior segurando outra risada que provavelmente acordaria Rony e o resto da casa antes dos meus dedos voltarem a clicar na tela de meu celular.

Então você tem que trocar de óculos imediatamente, a sua miopia deve ter piorado! hahaha. Como você conseguiu o meu número?

Enviei minha mensagem, e o aplicativo em meu celular me avisou que ele a visualizou no mesmo segundo.

Nada disso, você que não anda enxergando direito, Gin, mas eu assumo a culpa. Minha beleza é tanta que até te cegou! Espero que algum dia você me perdoe :(.

Meu corpo tremeu quando ri baixinho, e uma outra mensagem sua chegou logo depois.

Rony me deu o seu número. E desculpa te acordar, eu tinha me esquecido do fuso horário

Digitei rapidamente uma resposta, meu sono já tinha sumido completamente.

Só por esse seu ego, vou salvar seu número como ‘Harry, O metido’ ;). E você não me acordou, não precisa pedir desculpas

Fiz exatamente o que eu dissera a ele na mensagem, e salvei seu número em meu celular. Ele me pareceu infinitamente mais valioso depois disso.

Harry, O metido: Que tal “Harry, O lindo”? Acho que combina muito mais!

Além de sapinha, você também é uma coruja? Se minhas contas não estiverem erradas, já é madrugada aí, Gin.

Gin W: Não adianta mais. ‘O metido’ já está salvo aqui hahaha. Eu estava com a Luna, por isso ainda estou acordada. Que horas são aí?

Harry, O metido: Então eu vou salvar o seu número como ‘Sapinha’, com direito a emoji de sapo do lado! Aqui são dez e doze da noite.

Ri com o apelido que ele me dera e olhei a hora na parte superior da tela do meu celular, me surpreendendo com a diferença de fuso horário.

Gin W: Sapinha? hahahaha pelo menos meu apelido é fofo!

Sua resposta foi cheia de emojis de sapos, me fazendo rir novamente. Comecei a procurar algum emoji que combinasse com ele, porém, uma pergunta me ocorreu, e digitei-a logo depois, afinal, por que ele havia pedido meu número a Rony?

Gin W: Você queria falar alguma coisa comigo?

Sua resposta demorou um pouco a chegar e seu conteúdo me pegou completamente de surpresa, me dando a certeza de que o sorriso em meus lábios não sairia dali nem mesmo quando eu decidisse dormir.

Harry, O metido: Eu disse que ia sentir sua falta, Gin.