"Machi"

Chrollo sorriu ao ver o nome escrito à mão no pequeno pedaço de papel. Não apenas pela grata surpresa de ter sorteado um dos membros mais antigos e leais do grupo, mas também porque soube instantaneamente com que a presentearia.

A ideia lhe surgiu de modo espontâneo, sem que precisasse se dar ao trabalho de pensar. Era como se sempre estivesse ali, na verdade. Surgiu junto de uma lembrança nostálgica, antiga, que há muito se escondia nos escombros da memória. E bastou ver o nome de Machi para que tal recordação emergisse em seu pensamento e desenhasse aquele sorriso em seu rosto.

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Chrollo partiu para Meteor City ainda naquele dia. Se guiou pelos caminhos labirínticos da cidade com a mesma facilidade com que fazia na infância. Andou sem pressa, mas decidido, sabendo exatamente onde aquela trilha o levaria. Se fechasse os olhos — e Chrollo por um instante chegou a fazê-lo — não erraria o trajeto nem por um centímetro.

Parou diante de uma pilha de entulho, igual a tantas outras daquele enorme aterro que Meteor City havia se tornado. Uma massa indistinguível de lixo eletrônico, pedaços de madeira e outros materiais velhos descartados pela sociedade. Ainda assim, Chrollo estava convicto de que chegara ao seu destino. Conhecia aquela localização de cor.

A montanha de lixo se escorava em uma das quatro paredes de uma estrutura de concreto e metal retorcido, já corroída pelo tempo. Ele empurrou um enorme pneu desgastado para o lado e afastou alguns destroços, revelando a passagem antes escondida pelos detritos. Era uma entrada estreita, sem porta, com rachadura nas bordas e a sujeira típica que ocupava toda a cidade. Chrollo desviou de mais alguns lixos do chão e entrou pelo pórtico, precisando curvar ligeiramente a cabeça ao passar.

O lugar estava imundo e completamente tomado pelos entulhos, como ele imaginou que estaria. O ambiente era razoavelmente largo, apesar da sensação claustrofóbica criada pela degradação ao redor. Isso não foi o suficiente para incomodar Chrollo, no entanto, que voltou a sorrir ao recobrar as lembranças que aquele lugar lhe trouxe.

O primeiro esconderijo da Trupe.

Deu alguns passos, observando o espaço. Chrollo então concentrou sua aura ao redor dos olhos e ativou seu Gyo. Imediatamente o Nen de alguns objetos se sobressaiu, se destacando como nuvens brancas se destacam em um céu limpo.

Alguns estavam ali, à mostra. Outros, soterrados pelo lixo. Ele verificou um a um. Seguiu a trilha de Nen, se agachando para desencavar os que estavam escondidos. Com paciência, começou a extrair os objetos tingidos pelas auras de seus donos. Sabia que um deles seria o que viera buscar. Tinha a plena certeza de que o que procurava ainda estava ali, esquecido pelo tempo. Esmagado, junto de tantas outras coisas do passado.

Memórias deixadas para trás. Esse era o preço da vida nômade que levavam. Um desapego moldado à força.

Não tardou para que Chrollo descobrisse estar certo. O que viera resgatar estava ali, ainda inteiro, apesar de maltratado pelo peso dos anos. Seu rosto se suavizou ao pensar em como a amiga ficaria contente ao recebê-lo.

(...)

Machi não falou muito após ouvir o discurso de Chrollo em que ele revelava ser ela a sua amiga-secreta. Apenas agradeceu, tomando das mãos do líder o envelope pardo com o qual ele a presenteara.

O grupo ao redor estava em festa, rindo, bebendo e comemorando, mas Chrollo tinha os olhos fixos em Machi, que agora se afastava do bando para verificar, com curiosidade, o que acabara de receber.

Tão logo puxou o conteúdo do envelope, seu rosto se contraiu em uma expressão de surpresa. Ficou parada um tempo, ainda pasma, enquanto passava de leve a mão pelo pedaço amassado de papel, quase como se quisesse acariciá-lo.

Se virou em seguida para Chrollo, agradecida. Chegou a levar a mão a um dos olhos, secando discretamente uma lágrima inesperada que se formara. Ele apenas acenou de volta, com um sorriso afetuoso e sincero.

Machi olhou novamente para o papel. Uma foto antiga, desbotada, da formação inicial da Trupe. Feitan, Chrollo, Nobunaga, Pakunoda, Franklin, Uvogin e ela, unidos, ainda jovens, em meio a paisagem destruída de Meteor City. Aquela era a única foto em que eles apareciam assim, todos juntos — algo que Machi, muitos anos atrás, fazia questão de carregar consigo.

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As primeiras aranhas. Os primeiros amigos de verdade de Machi.

Sua família.