— Ora, ora… parece que você não tem para onde correr agora… — disse com seu casual cinismo quando conseguiu encurralar a vítima em um beco, andando calmamente em direção a ela com uma das mãos pousada no quadril.

O fruto era podre, fraco, sem chance alguma de maturar em algo delicioso de se devorar. O impulso que o impelia para tal presa sem valor tinha um só nome: sede de sangue. Hisoka precisava de algum divertimento para aquela noite, e na ausência de oponentes à sua altura, o que era naturalmente raro, contentava-se com aquele ser que mal sabia usar o próprio nen direito. Poderia estender o fugaz prazer que ele lhe proveria por alguns poucos minutos, o que serviria para aplacar seu tédio, pelo menos o suficiente para chegar até o dia seguinte.

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A respiração da presa era pesada, a apreensão e medo causados pela energia hostil comprimiam-lhe as costelas e o esterno. Filetes de suor escorriam de suas têmporas, ainda que nevasse em torno deles. Exalava, para Hisoka, aquela deleitosa fragrância que se era possível exalar somente antes da morte. A antecipação o fez lamber os próprios lábios, mas a excitação de fato ele sentiu quando aquela criatura acuada finalmente manifestou-se, chutando uma lata de lixo em direção a ele pela direita, tentando distraí-lo enquanto fazia surgir um machado entre as mãos que tentaram acertá-lo pela esquerda.

Não era um movimento tão mal executado, porém foi errôneo ao subestimar a agilidade, a força, e acima de tudo, a insanidade de seu oponente. Uma lata de lixo não era nada, e ele lançou-a longe com um chute. Mas aquele machado era deveras interessante, tão interessante que Hisoka aparou o golpe em sua mão esquerda, sentindo em sua carne o parco poder que possuía. Não seria necessário nem mesmo concentrar uma expressiva quantidade de aura no membro para evitar que a arma conjurada dilacerasse seu braço na vertical — um corte que certamente Machi cobraria um valor astronômico para fechar.

— Não tão mau quanto eu imaginava… — falou com um sorriso no rosto, perante uma vítima que mirava-o com pânico no olhar. — Mas não chega nem perto de ser bom, que pena.

Com a lâmina na mão, puxou-a de modo a desequilibrar sua presa, girando o corpo com elegância enquanto cravava uma carta na nuca desprotegida da vítima. Um corte limpo, que deixou-a semidecapitada ao chão, com o sangue que ainda bombeava formando um rio vermelho na neve branca ao ser impulsionado para fora pelas artérias.

Hisoka virou-se para a entrada do beco, onde o motivo por ter acabado com a brincadeira tão rápido estava casualmente encostado contra a parede. Pensar na diaba nunca a fez aparecer tão rápido. Se ao menos fosse assim sempre…

— Poderia ter se juntado a nós… — ele caminhou lentamente até a figura silenciosa, lambendo o próprio sangue que inundava a mão entre uma sentença e outra. — Mas podemos nos divertir mais procurando alguém mais forte… ou quem sabe… de outra maneira?

Ao final estava murmurando próximo ao ouvido dela, com um sorriso aberto na face. A mulher apenas rolou os frios olhos azuis em direção a ele.

— Não vim aqui para isso. — Respondeu, direta, e então virou-se para ele e pegou sua mão ensanguentada nas dela, balançando a cabeça em reprovação enquanto o fazia. — Apague sua aura, esse corte foi fundo, é bom dar um jeito nisso logo.

Hisoka franziu o cenho, intrigado, porém fazendo o que ela havia pedido e assistindo-a estancar o sangramento.

— Bem, você não veio aqui para isso tampouco. Eu não vou reclamar, mas devo perguntar qual será o preço dessa caridade.

Machi ignorou-o naquele momento, compenetrada em seu hatsu, tudo o que importava a ela era sua agulha, sua linha e a mão quase partida no meio. Em um segundo daquela habilidade impressionante de belíssima precisão, a mão estava quase perfeita novamente, com exceção apenas da ocultável marca onde a costura fora feita. Hisoka soltou um gemido de contentamento com aquela pequena demonstração.

— O preço, — ela voltou a encostar-se na parede, — é me contar quem você tirou no amigo secreto.

Ele teve que puxar da memória o que era aquilo a que ela estava se referindo, então lembrou-se daquela reunião meio patética, papeizinhos, o nome da pessoa a qual ele nunca havia pensado muito a respeito, e quando pensou, descobriu que era a pior pessoa que ele poderia ter tirado naquele tipo de brincadeira. De todos, uma pessoa que possivelmente não sabia sequer dar um soco.

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— Ah, aquilo! Por que isso te importa tanto a ponto de vir até mim? Será que somente esse pequeno trabalho paga pelo nome?

A sede de sangue fluiu dela como uma brisa cálida quando ele a provocou, do jeito que ele gostava. Valia mais do que mil assassinatos como o que havia acabado de cometer.

— Eu vou desfazer o trabalho então e sumir da sua vista, mas você não ouse estragar tudo no dia, entendeu?

Um riso curto saiu dos lábios do mágico. Largá-lo com a mão cortada não seria nada, mas o ato de largá-lo, em si, tão rápido, era algo que não gostaria que fizesse. Estragar tudo era óbvio que aconteceria. Ou não. Quem sabe o que se passaria em sua mente no dia?

— Kortopi. — Disse de uma vez, procurando o olhar dela, que ele sabia que se voltaria para o dele quando ela assimilasse o nome e o quão absurdo era o par que o acaso havia formado.

— O que pensou em dar para ele? — Perguntou, analítica.

A resposta sincera? Nada.

— Uma caixa de Bungee Gum. — Era a resposta mais adequada, ao menos para sentir novamente aquele pulsar assassino delicioso que partia dela.

Ela suspirou impaciente, então desencostou da parede e passou a caminhar na calçada.

— Vem comigo. — Chamou-o de forma seca quando viu que ele não a seguia.

— Aonde vamos? Passaremos a noite juntos, finalmente? — Disse malicioso, ao se colocar no encalço dela.

— Vamos roubar algo decente para o meu amigo.