A guardiã do gelo

À vitória e avante!


Não conseguia tirar a expressão de espanto que não queria de maneira alguma abandonar meu rosto. Eu me recusava a acreditar que o jogo possivelmente já estava chegando ao fim e...

Olhei para os lados, percebendo que alguns níveis possuíam cores diferentes. O meu, de Utae, Malek, Nerea e Imma era azul e o de Rian, Yekaterina e Jorell era de cor vermelha. Tentei raciocinar o que aquilo poderia significar, mas antes que eu tivesse alguma ideia, Utae falou, mantendo a expressão séria. Notei que sua armadura de placas havia se transformado em um simples corselete.

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— A diferença entre as equipes... — sua voz acabou saindo ponderada.

Peraí, eu sei a diferença entre as equipes e é... a tatuagem e o colar..., o pensamento foi começando a fazer sentido ao mesmo tempo que eu observava que quem tinha o nome de azul, possuía colar e quem tinha o nome em vermelho, possuía uma tatuagem. Isso significa que o Rian... Maldição. Ele era da equipe A o tempo inteiro e a gente nem tinha se dado conta disso, mordisquei o lábio e lancei um olhar para Utae, querendo saber o que faríamos agora que tinha uma divisão certeira sobre as equipes.

Imma ergueu o tridente, lançando uma pergunta silenciosa a Utae. O filho de Zeus estendeu a mão que lhe sobrara, como se para impedi-lo de que fizesse alguma coisa.

— Deixe ele ir — Utae passou a ficar inexpressivo. — Rian, vá.

O filho de Atena olhou para os dois da equipe A, Yekaterina e Jorell. O de olhar alaranjado meneou a cabeça para o caminho à frente deles em meio à floresta.

— É a minha última ordem. Vá — disse Utae.

Percebi o ligeiro aceno de cabeça vindo de Rian antes dele nos dar as costas e Yekaterina fazer um último gesto com a mão, os fazendo desaparecer num manto de ilusão.

— Por quê? — questionei ao líder.

— Tanto Yekaterina quanto Jorell estavam fracos demais para uma luta justa — argumentou ele.

— Ah, eles não levaram em consideração nossa fraqueza por causa daquela maldita ilusão — Malek o interrompeu, sarcástico.

— Era só uma ilusão Malek, não era real. Não ia fazer nada com a gente. — Utae balançou a cabeça. Ele parecia um pouco distante. — E eles não nos queriam. Queriam a cabana.

— E minha lira — completou Nerea, fazendo todos os outros três olhares, além do meu, se dirigir a ela.

E você não teria coragem de matar Rian depois de tanto tempo tendo ele como aliado, eu sabia que Utae também queria dizer aquilo, mas decidiu guardar aquele comentário para si.

— Quem é você? — questionou Imma.

Nerea meneou a cabeça em minha direção. Provavelmente queria que eu explicasse.

— Minha mais nova e confiável aliada — respondi, chegando a dar levemente de ombros. — Resgatei ela da tripulação de Olivia. Ela tem dívida de vida comigo.

— Estou submetida a ela agora — disse Nerea ao mostrar as marcas feitas de magia que ficaram parecidas com cicatrizes.

Por um segundo percebi a análise crítica que Utae fez rapidamente nas marcas. Com certeza ele me feria perguntas mais tarde sobre aquilo.

Então logo minha atenção se voltou para o relógio de metal preso ao meu pulso, coisa que até o momento não tinha entendido a utilidade. Malek pareceu notar o quanto eu olhava para o relógio, por isso deve ter dito:

— Parece que mostra a localização dos Jogadores mais próximos — disse ele.

No mapinha em branco no relógio digital, mostrava cinco pontinhos azuis e mais afastados um pouco, três pontinhos vermelhos em movimento, correndo para o norte. Possivelmente Rian, Jorell e Yekaterina.

Ao sentir uma brisa mais forte que a comum, abri a boca para dizer, porém, Utae foi mais rápido que eu:

— Vamos entrar.

Todos assentimos e o caminho até a cabana foi praticamente silencioso. Eu e Nerea andamos juntas e por dentro eu me sentia mais curiosa que todos, com certeza. Agora sim eu queria saber o que de diferente aconteceria no jogo para que soubéssemos qual equipe seria a grande vencedora.

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Em meio ao caminho de volta para cabana, fui observando se os níveis de todos os jogadores tinham caído como o meu e para minha decepção, sim. Todos eles haviam perdido o nível misteriosamente. Utae voltara ao nível 3, Imma ao nível 2, Malek ao nível 1 — ah, eu vou zoar muito esse garoto — e Nerea também voltara ao nível 1. Estávamos ferrados com uma equipe tão fraca.

Utae é o primeiro a chegar, entretanto, ele mantém a porta aberta para que todos pudéssemos entrar — o vento ficara mais forte no caminho e a porta bateria se ninguém a segurasse —, assim que todos entram, ele fecha a porta atrás de si ao se enfiar para dentro.

— Kary, alguma ideia sobre os relógios? — questionou Utae a mim.

— Sempre a Kary — murmurou Malek em implicância, fazendo uma careta.

Nunca pensei que sentiria saudade desse babaca.

Abri um sorriso e inesperadamente fiz uma coisa que eu tenho certeza que ninguém estava esperando: simplesmente dei um abraço no Malek. Percebi que ele ficou paralisado com o gesto, como se nem ele mesmo acreditasse no que eu estava fazendo.

— Senti saudade — digo em alto e bom som.

Então me desfiz do abraço, satisfeita ao ver sua expressão confusa. Logo era o Imma que eu estava abraçando, dessa vez mais forte porque... Ah, céus, quanta falta me fez aquele filho de Poseidon.

— Gracinha, eu já sabia que uma hora ou outra você ia fugir. Você nasceu pra ser livre. E aventureira.

Acabei soltando uma risadinha. Por fim corri e abracei forte Utae, sentindo o toco deslizar pelas minhas costas, retomando lembranças antigas e algumas amargas. Durante o tempo que ficara na cabana de Tanay, tentei ao máximo reprimir todos os pensamentos sobre Kameel, só que ao vê-los de novo ali... Ao sentir o toco de Utae sobre mim... Meu estômago se revirou.

Encerrei o abraço mais cedo do que eu gostaria e meneei a cabeça na direção de Nerea.

— Vai aceita-la na equipe? — questionei a Utae.

— Só se me contar que diabos de marca são essas no braço dela.

Achei graça.

— Mais tarde. — Pisquei pra ele, disposta a deixa-lo curioso até lá.

— Pois bem, bem-vinda à nossa equipe... Nerea?

A filha de Harmonia assentiu, indicando que ele havia acertado seu nome.

— O prazer será meu em servi-lo, líder. — Ela diz num tom de respeito fazendo uma mesura, chegando a me lembrar de Benigna. Olivia deve tê-la treinado muito bem por parecer ser uma líder que não tolera desrespeito. — Sou filha da deusa Harmonia.

— Você não é aquela que estava com Olivia quando eu tava preso? — questionou Malek, claramente desconfiado.

Nerea assentiu em confirmação.

— Confia mesmo nela, Kary? — foi a vez de Utae me perguntar.

— Ela sabe as consequências caso tente fugir — digo numa voz calma, não sabendo exatamente o que uma aliança feita de magia poderia fazer.

Logo o líder se sentou no chão da sala e convidou os outros com um gesto de cabeça para que se sentassem também. Um a um fomos formando um círculo ao sentarmos em forma de índio.

— Qual é o nosso próximo objetivo? — perguntei ao notar o silêncio de Utae e o quanto ele parecia distraído com o seu relógio preso ao pulso.

— Ganhar o jogo é claro — disse ele automaticamente. — Agora pelo menos dá pra saber quem é da equipe A e B.

— Você não entendeu a pergunta dela — Nerea se manifestou. — Como vamos ganhar esse jogo?

Então ela deu um clique no relógio, fazendo-o revelar ser touch-screen e o mapa se mostrou mais amplo, dando a visibilidade de todo o jogo. Nos extremos de cada ponto cardial havia uma luzinha de cor diferente. Azul, cinza, vermelho e marrom. Norte, sul, leste, oeste.

Todos da sala ficaram impressionados com aquele mapa — inclusive Nerea — que não só aparecia as luzinhas coloridas como umas brancas espalhadas por todo lugar, inclusive onde supostamente estávamos naquele momento.

— Clica numa delas — falei, curiosa para saber o que aconteceria.

Hesitante, Nerea o fez. Ela testou primeiro a bolinha branca. Nisso apareceu uma caixinha de texto explicando o que significava: o indicador branco mostra um monstro em terra firme com localização aproximada. Observação: monstros feitos por ilusões também usam esse indicador.

Engoli em seco. Se o indicador branco queria dizer monstros e a localização era aproximada, isso significa que há um monstro perto da gente. Deve ser mais uma ilusão de Yekatarina, tentei me tranquilizar.

Logo a filha de Harmonia clicava numa bolinha vermelha, tão curiosa quanto os demais. Ela significava: o indicador vermelho mostra a localização de uma das pedras Elementais, sendo essa Fogo. Observação: monstros que vivem nessa região também apresentam essa cor no indicador.

Nerea foi clicando em outras bolinhas, fazendo aparecer os significados:

Azul: o indicador azul mostra a localização de uma das pedras Elementais, sendo essa Água. Observação: monstros que vivem nessa região também apresentam essa cor no indicador.

Cinza: o indicador cinza mostra a localização de uma das pedras Elementais, sendo essa Ar. Observação: monstros que vivem nessa região também apresentam essa cor no indicador.

Marrom: o indicador marrom mostra a localização de uma das pedras Elementais, sendo essa Terra. Observação: monstros que vivem nessa região também apresentam essa cor no indicador.

Quando não havia mais bolinhas para apertar, Nerea fechou a última caixa de texto e todos nós mantivemos o silêncio, pensando. Utae era o principal, pois até franzia o cenho!

— Se isso indica a localização das pedras Elementais... — ele começou.

— Significa que há outro jeito de conseguir um colar Elemental além de matar um filho de Hécate — fui continuando sua linha de raciocínio.

— Mas então teríamos que conseguir todas as pedras Elementais — disse Malek num tom ponderador.

— E todos os Jogadores devem ter a localização dessas pedras — Nerea falou.

Comprimi os lábios, tentando pensar em alguma coisa. Nerea tinha razão: todos os Jogadores tinham o relógio e podiam muito bem usar ele ao próprio favor. Cliquei no meu, expandindo o mapa e aproximei mais, tentando achar nossa localização e vendo qual pedra Elemental estava mais próxima da gente.

— Então temos que correr — falei, sem nem ao menos tirar os olhos do mapa.

— Não deve ser tão difícil assim — se pronunciou Imma. — Agora que somos vinte e cinco Jogadores, o que nos impede de conseguir? Todos devem estar espalhados pelo mapa.

— Fora que as pedras devem ter guardiões — disse Nerea.

— Estou sentindo cheiro de aventura — comentou Malek e só levantei o olhar em sua direção para ver seu sorriso sacana. Ah, ele sabia muito bem que o fato de eu ter me metido em muitas “aventuras” me fazia ter sede de mais.

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Ao cruzar meu olhar com o dele, devolvi seu sorriso.

— Utae, aprova nossa ideia? — questionei.

— Não podemos mais ficar parados aqui e esperar que a vitória caia em nossas mãos, vice-líder. — Ele foi o primeiro a se levantar.

Adorei ser chamada daquilo de novo.

— Pois bem, levantem. Na nossa equipe não tem lugar para bundas moles. — Logo eu mesma estou levantando.

Fui seguida por Nerea, depois o Malek e por fim Imma.

— Qual é a pedra mais próxima daqui? — perguntou Utae a mim vendo meu mapa aberto.

— Elemental do Ar — respondi.

Nisso, Utae guardou a espada nas costas e com isso comecei a sentir saudades da minha espada de gelo perdida quando caí no lago congelado. Balancei a cabeça. Daria um jeito de arranjar outra espada no caminho.

Nerea amarrou a lira na cintura, Malek colocou a glaive nas costas, juntamente com Imma e seu tridente. Utae por gentileza me jogou uma adaga ao ver que não possuía nenhuma arma e foi o primeiro a caminhar em direção à porta de entrada.

— Às pedras Elementais e avante! — disse ele, erguendo o punho que lhe sobrara.

— Que frase cafona, Utae. — Empurrei seu ombro, quase rindo. — Você quer dizer e À VITÓRIA E AVANTE! — gritei para que toda Floresta Congelada ouvisse minha promessa.

Os outros repetiram meu grito, tão animados quanto eu para alcançar a vitória.

E não importa o que eu tenho de fazer, ganharei o jogo a qualquer custo.