Calor

Capítulo Único - Seu Calor


Hoje a guilda amanheceu um tanto... Ah, a quem estou querendo enganar? Após tanto tempo, a guilda amanheceu numa farra. Fazia-me lembrar dos tempos onde a única coisa que nos preocupávamos era farrear todo o tempo, brigar e beber e era só isso que importava.

Entretanto, tanta coisa acontecendo fez Fairy Tail ficar um tanto melancólica. Preocupava-me com isso, imensamente, mas, pior ainda era chegar neste lar e perceber o olhar de todos virados para o chão.

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Então, quando Fairy Tail amanheceu em festa, deixei um suspiro escapar e um peso que eu nem sabia da existência sair das minhas costas. Não entrei nesse clima de festa imediatamente, não, permiti-me apreciar o lugar com aquela luz que há muito perdera. Sentei-me ao balcão, a frente de Mirajane e lancei-lhe um sorriso amargo.

Ela devolveu-me o sorriso, de uma forma melancólica e gentil ao mesmo tempo. Sem que eu pedisse, despejou em uma caneca hidromel recentemente produzido e pôs a minha frente.

— São tempos difíceis, não é mesmo?

Concordei, sem nada responder. Segurei a caneca, mas não tomei um gole dela. Encarei o conteúdo como se minha vida dependesse dele. E parece que encarei por tanto tempo que Mirajane tocou a minha mão.

— Gray, você não precisa esconder o que sente. Você pode conversar com alguém da guilda. Esse fardo não é só seu para levar.

Sábias palavras de uma gentil mulher. Entretanto, como eu iria falar para alguém tudo o que eu sentia se nem mesmo eu sabia o que era? Soltei a caneca de hidromel ao perceber que estava a apertando demais. Mirajane mais uma vez tomou a minha mão e a acariciou com o polegar.

— Estou aqui se precisar conversar.

Lancei-lhe um sorriso grato, dessa vez sem amargues, mas imitando o dela: cheio de melancolia. Seus olhos, tão gentis, levantaram-se para um lugar além de mim e ela sorriu grande. Parecia que toda a melancolia havia fugido de si.

— Olha só quem chegou!

E eu olhei para trás e o vi. Arregalei meus olhos àquela visão, não ao fato de ele estar mais esquisito do que já era, mas pelo simples motivo de que ele brilhava mais que toda a guilda junta.

Ou seria apenas eu a estar vendo assim?

Tomei um gole do hidromel e foi o suficiente para que ele olhasse para mim. Abriu um sorriso tão grande que meu coração falhou uma batida e logo tomou a feição arteira. Isso ele não perdia.

— GRAAAAAAAAAY!

O seu grito fora mais alto que o necessário e me fez recuar. Droga, eu estou aqui pensando na boa e ele quer logo vir me interromper? Veio correndo em minha direção, parando a poucos metros de mim e disse com a animação de sempre:

— Vamos lutar!

— Não.

— Mas você quer!

— Quero não.

— Quer sim, você tava me olhando.

— Eu não posso te olhar agora?

— Apreciando a vista?

— Vai cagar, Natsu.

— Já fiz, vamos lutar!

— Não!

Ele olhou para mim, fez um bico antes de gritar bem alto:

— VAMOS LUTAR GRAY!

— EU TO DO SEU LADO, MONGOL.

Desferi um soco nele ao ter meus preciosos ouvidos machucados por aquele infeliz. E lá veio ele com outro soco. Dei outro e ele outro, mas, quando ele veio para me socar de novo parou com o punho a centímetros de meu rosto.

— Gray... o que aconteceu?

Arregalei os olhos. O que aconteceu?

— Nós, estamos lutando, ué, não era isso que você queria?

— Não é isso... Você fez uma cara agora. Vamos... lutar depois, tá?

Peguei-me desprevenido e assisti com medo o virar de costas para mim.

Não, não vá. Fique mais um pouco. A gente pode lutar, vamos-

— Gray?

Sem que eu percebesse havia tomado-lhe pelo pulso. Seus olhos, confusos, inocentes, interligaram-se com os meus e eu me perguntei tanto o que ele estava pensando. Havia tanta coisa de uma vez só... Natsu e seus problemas, o fato de que ele tornaria-se um monstro, o fato de que eu- Era tanta coisa ao mesmo tempo e eu não havia tido nenhum tempo para...

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— Não é nada, desculpe.

Soltei-lhe o pulso e virei-me para a porta da guilda, indo para fora, querendo pensar. Sentei-me ao lado dos portões, na parede e suspirei alto. Olhei para o Céu, o sol tão forte que cegava. Mesmo assim, não me incomodava.

Afinal, parecia muito com ele, não é?

E como eu o agradecia por isso. Ele emana calor, calor de carinho e amizade. Calor de persistência. Calor de proteção. Calor de felicidade. E tudo isso me atingia e me fazia crescer. Entretanto, havia um calor diferente em mim, calor provocado por ele.

Era um calor abrasador, queimava meu peito e espalhava por todo o corpo. Nublava a minha mente quando ele estava perto, me fazia atento ao passo de sua respiração. Me fazia tremer se me tocava, fazia-me suspirar ao pensar nele. Me faz paralisar, desesperar ao mero pensamento de perdê-lo.

Era um calor que não tinha nome.

— Gray.

Falando na peste.

— O que aconteceu?

Sentou-se ao meu lado sem cerimônias, olhando-me atento como se tentasse desvendar todos os meus pensamentos. Encarei-o de volta por pouco tempo, antes de suspirar e massagear o rosto.

O que eu deveria dizer? Toda essa baboseira sobre 'calor' iria confundi-lo ainda mais, até porque, para Natsu não se precisa de muito para confundir. Ele já era uma confusão.

Olhei para o Céu.

— Você é muito explosivo. - comecei, sem perceber - Não sabe ficar quieto, incomoda com esse seu otimismo desenfreado, incomoda quando grita no meu ouvido mesmo eu estando ao seu lado.

— Ora, não é por isso que lutam-

— Você me incomoda por tantas coisas e mesmo assim, mesmo que nós briguemos mais do que conversamos, percebo cada vez mais o quão você trás luz na minha vida. Sempre foi assim, não é?

Natsu ficou quieto. Não arregalou os olhos, nada fez. Só me observou. Eu sentia seu olhar em mim e senti-me obrigado a olhá-lo de volta. Estava nervoso, mastigando meu lábio inferior.

— O que você quer dizer com isso? - Natsu perguntou, genuinamente confuso

—... Deixa pra lá. - suspirei e passei a mão no rosto. - Nós devemos voltar para lá, lutar e, sei lá, voltar ao normal.

— Não. - interveio ele, pondo a mão no meu braço - Me explica.

Olhei para a mão em meu braço, forte, segurando ali com tudo o que tinha. Sem pensar duas vezes, pus minha mão em cima da dele e isso o fez se surpreender um pouco embora não tenha recuado.

— Eu... não sei, Natsu. Você só tem essa coisa. Olha, você ilumina a guilda toda, isso é óbvio. E você não gosta de mim, isso também é óbvio. Mas, sei lá, eu só... - inspirei fundo - Você emana calor. E esse calor em mim tem um efeito que não tem nos outros. É abrasador, me queima - Natsu preocupou-se ao termo -, mas, não, você não me machuca. O que me machuca é não poder acordar e ver você... O que me machuca é o pensamento de-

Olhei para Natsu nos olhos e ele estava preocupado, ouvindo com atenção tudo o que eu dizia. Minha voz ameaçou embargar e eu engoli para que nada embaraçoso acontecesse:

— O pensamento de acordar e você não estar mais aqui.

— Ora, mas eu sempre vou estar aqui, Gray. Eu sou invencível. - suas palavras tinham otimismo, mas eu ouvia a verdade atrás delas. Ele sabia que não.

— É... eu espero.

Caímos num silêncio carregado de tristeza e solidão. Soltei a sua mão e ele a tirou do meu braço, encostando-se na parede e olhando para o Céu também.

— Você é frio. - disse Natsu e eu senti uma pontada de dor - Você é capaz de desanimar tão rápido, você também grita quando eu estou do seu lado. Você me congela quando me olha e eu fico nervoso de soar frio quando a gente tá assim, próximo, sabe? Inclusive agora subiu um calafrio. Você me acalma. Não sei se isso pode ser relacionado ao que você sente, mas, espero ter ajudado...

Olhei-o com os olhos arregalados. Ele não fazia ideia do que havia acabado de falar. Não que fosse uma declaração, mas, Céus, era só o que eu precisava. Tomei seu rosto em minha mão e o virei para mim, a ponto de selar meus lábios nos seus.

Senti-o se assustar e arrepiar, sem saber o que estava acontecendo. Senti-o tremer também quando tentou levar sua mão para o meu ombro, desajeitado. Arfei e olha que nem beijando nós estávamos, mas estava sentindo-me quente.

Então comecei a beijá-lo, simples, devagar. Nós não combinávamos nem no beijo. Foi desajeitado, não sabíamos o que fazer. Mas, aí ele mordeu meu lábio e puxou-me, abraçando e beijando-me fervorosamente. Devolvi na mesma intensidade, abraçando-o de volta. E aí nós encaixamos.

O beijo foi intenso, eletrizante e sugava todo o nosso ar. O suficiente para termos que separar. Estávamos sugando o ar fortemente, olhando-nos, rostos quentes e corados.

— Você tá sugando o meu ar. - reclamei

— E daí? Vai me bater por isso?

— Talvez.

Nossas respirações encontraram um passo mais lento à medida que nos acalmávamos. E então, fechei os olhos.

— Isso está mesmo acontecendo?

— Não sei... tá?

— Acho que sim.

— Você beija mal.

— Você também.

Levei uma mão para os seus cabelos e acariciei gentilmente. Senti-o reprimir um som que eu julgava ser um ronronar. Inspirei fundo.

— Não morra.

— Não vou.

— Como você pode saber?

— Porque eu te prometo que eu não vou. E eu não quebro promessas.

— Natsu, se eu perder-

— Você não vai. Para de ficar me matando, caramba! Eu to aqui.

Abri os olhos e o vi com otimismo nos olhos. Otimismo honesto. Sorriu mais ainda quando o olhei e então, ele estendeu a mão.

— Eu prometo, Gray, eu vou te perturbar até o fim dos meus infinitos dias.

Olhei para a mão dele e a tomei na minha, apertando-a como fazíamos. Rimos um pouco e arrisquei outro beijo em seus lábios e fui recebido com felicidade, reciprocidade.

Então, quando nos separamos, ele olhou para mim e levantou.

— Eu tô com fome. Vou ir pegar algo com a Mirajane.

— Tá bom.

— Você... quer vir?

— Daqui a pouco.

Ele encarou-me com um sorriso tímido. E aí percebi que o que sentia por ele era forte. Mesmo assim, tão gentil. Era como se tudo fosse dele e por ele. Como se tudo o que eu fizesse tivesse apenas um significado: ele. Era como se tudo... Como pude ser tão burro? Estava tão óbvio, a resposta estava a minha frente!

Levantei-me e acariciei seu rosto mais uma vez. Ele sorriu.

— Okay, já volto, então.

E deu-me as costas. O observei ir adentro de Fairy Tail e com um sorriso que há muito eu não dava, um sorriso puro de felicidade, disse:

— Eu te amo, Natsu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.