Prólogo

— Turma do primeiro ano. Temos muitos novos? — Perguntou o diretor geral Joshua Bergamin, um homem obeso, careca e bigodudo, que sentava-se em sua poltrona avermelhada e macia, levando consigo um ar de superioridade, como sempre fazia.

Em frente a ele estava Margarida McMillan, a nova diretora da elite Flamerina de Mistically, sentada numa cadeira qualquer da diretoria e carregando consigo a lista de presença dos alunos que entrariam para o primeiro ano da escola.

— No total, temos cinquenta e oito matriculados. Achei que são poucos, comparados aos outros anos. — Disse certeira. — Mas tenho certeza que dará tudo certo, o senhor sabe que muitos se matriculam no dia da seleção de elites, ou seja, hoje.

— Certo... Deixe-me dar uma olhada nessa lista. — Pediu Bergamin, como era comumente chamado, sendo atendido o pedido.

Alguns segundos depois, o homem notou a presença de um sobrenome familiar para ele:

Collins.

— Quem é Trisha Collins? — Perguntou cerrando o cenho.

— Bem, pelo que pesquisei, é filha de Gerald e Amelie Collins, uns dos místicos mais poderosos da elite Vinterina. — Respondeu Margarida, novamente certeira. A morena era bem sagaz, mesmo não sendo diretora da elite Pedremim.

O diretor se enfureceu de repente. Levantou-se bufando e resmungando e começou a caminhar de um lado para o outro, o que era uma cena bem engraçada, afinal, um gordinho careca e vermelho de raiva não era algo que se via todos os dias.

— O que houve, Bergamin?

— Amelie teve uma filha... com Gerald. Eu não acredito nisso, não quero acreditar. — Falou em tom tristonho.

— Quer me explicar direito essa história ou posso pegar a lista de volta? — Perguntou a mulher impaciente.

Joshua bufou novamente, sentando-se em sua poltrona, em seguida. Olhou seriamente nos olhos da morena McMillan, mostrando que não era uma história qualquer.

— Na época em que meu falecido pai era diretor de Mistically, eu era um aluno da elite Pedremim. Me apaixonei perdidamente por Amelie, a garota vinterina tão bela e tão... habilidosa.

— Sim, prossiga.

— Digamos que Gerald surgiu. Era o garoto mais querido por todos, principalmente por ser o mais forte e mais hábil da elite Vinterina. — Enquanto o diretor explicava, gotas de lágrimas cismavam em cair de seus olhos castanhos. — Os dois melhores se juntaram, deixando o gordinho Joshua de lado.

Margarida não se contentou em soltar uma risada baixa, o que irritou Bergamin, de certa forma. Ela logo parou, notando a presente ira do homem.

— É por isso que as elites Vinterina e Pedremim não se dão bem? — Perguntou curiosa.

— Sim. Gerald, ao saber de minha paixão, renegou todos da Pedremim. Por isso, não poderei aceitar essa menina em Mistically.

A diretora da Flamerina ficou desentendida. Não conseguia assimilar o fato de uma história particular antiga ser usada como mérito de aceitação de alguém na escola.

— Desculpe, mas não posso aceitar. — Ela falou. — A garota tem o que é necessário para ser aceita: poderes místicos, energia... Seria injusto não aceita-la.

Então um forte estrondo foi escutado pelos dois. A porta havia sido batida e quem adentrou o local era Ricardo Stanford, diretor da elite Vinterina e vidente.

— Você não pode fazer isso, Joshua! — Gritou o homem de cabelos ruivos e olhos castanhos. — Aceite a Collins ou serei obrigado a denunciar sua injusta atitude à DM*.

Quando o diretor estava prestes a usar a força do pensamento para parar Ricardo, Margarida se posicionou de pé, em frente ao homem.

— Você não pode confundir sua vida pessoal com isso, diretor! Me desculpe, mas, se for atacar alguém, que seja eu! — Afrontou a McMillan, cheia de coragem e compaixão, afinal, ela era uma flamerina.

— Não precisa fazer isso. — Sussurrou Ricardo.

— Quieto. Apenas veja e aprenda comigo os poderes da persuasão. — Sussurrou Margarida de volta.

A mulher, então, olhou no fundo dos olhos de Joshua, o persuadindo lentamente, até que ele hesitasse por completo.

— Está bem. A Collins está aceita. — Disse derrotado. — Mas, se fizer algo de errado, será expulsa e não terá volta.

— E quanto aos outros? Não vai terminar de ver a lista? — Perguntou Margarida calmamente, como se nada tivesse acontecido.

— Quanto aos outros, tudo depende de cada um deles. Vou dar uma olhada superficial nos nomes e sobrenomes e te entrego a lista antes que ela seja necessária, ok?

— Certo. — Respondeu Margarida, se retirando do local ao lado de Ricardo Stanford, o homem pelo qual ela sentia uma grande atração, desde quando era apenas a professora de Persuasão da escola.

Os dois, então, conversavam, enquanto caminhavam sobre os corredores de Mistically.

— Não acha que o gordinho vai pegar no pé dessa aluna nova? — perguntou o Stanford.

— Fique tranquilo, tenho ele em minhas mãos. — A morena respondeu.

Então o som de diversas vozes e risadas foi escutado pelos diretores. Eram os alunos, barulhentos e falantes, como sempre.

— Que o ano letivo comece. — Margarida disse, finalizando sua conversa com o tão amado Ricardo.

*DM: Delegacia Mística.