O que é ser mulher?

Minha roupa não expressa consentimento


Chorei. Sofri. Gritei

Só por nascer mulher

Com medo de andar de pé

Sofrendo, mas sempre com fé

Trilhando um caminho sofrido

E Esperando ser reconhecida

Como mulher, como humana

Como guerreira, que levanta todo dia

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E descendo a ladeira eu sigo

Esperando um dia a maré baixar

Pra ver se eu consigo andar

E quem sabe sentir os pés firmes o chão

Sem o medo de seguir a vida e o coração.

Era uma vez uma garota muito importante e amada. Esta garota estava na casa da amiga, afinal, sexta-feira é dia confraternizar com os amigos, não é?

Já passava das dez da noite e a carona da amiga furou, daí ela resolveu pegar o ônibus. "Uma vez não faz mal", pensou. Chegou no ônibus e como já era tarde tentou ficar na frente, mas só tinha vaga atrás. Ao sentar notou um grupo de homens, jovens adultos, que estavam lhe encarando.

— Que saia mais delícia, gatinha.

— Não quer sentar aqui, gracinha?

Ela virou a cara constrangida e irritada. Começou a olhar a janela e tentar ignorar as provocações.

— Olha, ela tá irritadinha.

— Não precisa fazer cú doce, eu sei que você está gostando.

Ela continua a ignorar.

Ela percebe que um dos caras está atrás dela, sentado no banco. Ao olhar o reflexo da janela, percebe que ele está com uma mão dentro da calça e olhando-a com luxúria.

— Que safadinha! Você conseguiu me deixar excitado com esta sua sainha de quem quer dar, sua provocadora — fala, com um sorriso.

Ela sente nojo, raiva, humilhação e se sente incapaz de falar algo. Está sem reação.

Ele continua fazendo gestos indecentes e escrotos, até que ela não aguenta mais e, tremendo, vai para parte da frente do ônibus e pede para descer.

No meio do nada sente vontade de chorar, mas aquele lugar pode ser mais perigoso ainda. Liga para a irmã e pede implora para que a pegue, a irmã questiona, mas ela diz que vai explicar tudo depois. Entra em uma lanchonete e vê uma mulher. Pede um suco de laranja bem doce e tenta segurar o choro, mas não consegue.

— Tudo bem, você pode chorar. Esta é a terceira vez que isto acontece só nesta semana — A dona da lanchonete a olha com piedade.

Então a garota chora, sentindo-se suja e culpada. "Talvez se eu estivesse com uma calça ou com algo mais composto..." pensa, inconformada.

E mal sabe a garota que, a alguns quilômetros dali, outra garota chora pelo mesmo motivo.