Moon Lovers: The Second Chance

Até Tento Disfarçar


Eujin estava no banho quando ouviu a moto de Shin rasgar o silêncio da Mansão da Lua. Sempre admirou o irmão mais velho e os anos que passaram distantes não mudaram em nada seus sentimentos. Atualmente ele se dedicava à se reconectar com a empresa e seus pormenores com tamanho empenho que Eujin, por vezes, sentia vontade de perguntar o real interesse para tanto esforço, mesmo que soubesse a resposta.

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Naquele fim de tarde ele trocara a banheira por uma chuveirada. Enquanto sentia a água morna percorrendo seu corpo, desde sua cabeça até os pés, desejava enviar para essa água as suas mágoas e insatisfações. Almejava, sobretudo, que toda angústia que sentia diariamente ao ter que ir para a empresa de seu pai, assim como as tristezas que acumulava durante seus dias naquele lugar, sumissem de seu redor e deixassem de lhe incomodar ou que pudesse encontrar dentro de si todo interesse e dedicação que seu irmão mais velho agora adubava.

Novamente diante do silêncio daquela imensa casa, ouvia apenas o reclamar do chuveiro e de seus pensamentos, amontoados como um turbilhão em sua mente, maltratando suas ideias e seus sonhos. Se via a cada dia mais distante da alegria plena, se transformando no homem que nunca gostaria de ser, eternamente insatisfeito por viver longe de realizar algo que realmente amasse fazer.

Demorou-se um pouco mais antes de sair do banho. Ainda tinha esperança que aquela água guardasse um componente mágico que fosse capaz de levar suas preocupações ralo abaixo, mas com as mãos espalmadas contra o azulejo frio, soltou com desânimo o ar que prendia em seus pulmões, pensando em toda aquela situação imposta por seu pai. Ele sequer conseguia imaginar o tamanho de todos os problemas que essa disputa traria.

Caminhou pelo corredor em direção à sala de estudos depois de alguns minutos deitado sobre sua cama, o sono fugidio Se sentia solitário, angustiado. Observou com desânimo o vazio daquele lugar. Seus irmãos, provavelmente já em casa, estavam todos trancafiados em seus quartos. Não havia interação, amizade ou, sequer, coleguismo entre eles. A exceção de Jung e Sun, que conseguiam se entender pelos gostos em comum, os demais achavam irrelevante dividir o mesmo ar. Tudo o que faziam era se suportarem e viver um dia depois do outro naquele enfadonho repetir de atos .

Resolveu voltar para o seu quarto, também se encontrava sem cabeça para a leitura, e, enquanto fazia o caminho de volta, esticou a pequena caminhada até o final do corredor. Parou diante da porta do irmão mais velho e a observou sem saber se deveria chamá-lo ou não.

— Shin?! — decidiu arriscar dizendo seu nome após bater de leve na porta. Esperou alguns poucos segundos antes dela abrir.

— Algum problema? — o mais velho perguntou estranhando aquela interação.

— Na verdade, sim… Não me sinto muito bem — Eujin falou com toda a sua sinceridade. Parecia exausto.

Em um movimento discreto, Shin deu passagem para que o irmão passasse e entrasse em seu quarto, fechando a porta em seguida. O mais novo andejou em passos lentos até a poltrona e sentou, o outro lhe acompanhando com os olhos, foi sentar-se sobre a cama, após afastar as muitas apostilas que estudava.

— O que você tem? — quis saber em seu traje despojado: moletom, short jeans e cabelos molhados.

— É essa situação, irmão… Eu não estou conseguindo lidar de uma forma positiva com toda imposição do nosso pai. Queria ter ânimo e me inspirar para dar o melhor de mim assim como você tem feito, como ele realmente deseja, mas a única coisa que tenho vontade é de jogar tudo pro alto e sumir das vistas do senhor Wang.

— Essa não parece a atitude de um Wang. Fugir nunca seria a escolha certa.

— Mas foi o que você fez, afinal. E o papai continua te tratando como sempre.

— Eu sei que fugi, mas essa não é a melhor opção, Eujin. Não me arrependo de ter ido, mas perdi muitas coisas ao fazer essa escolha.

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— Não sei se realmente me importo com o fato de ser deserdado.

— Não. Eu sei que você não se importa, mas não é dessa perda que estou falando — o mais novo o olhou com interesse — Existem coisas bem mais importantes para se perder quando você resolve fugir de seus problemas, ou quando você acredita que, ao se afastar, eles deixarão de te perseguir.

— Como o que? — o herdeiro da poltrona perguntou com interesse.

— Coisas que não quero que você perca e que você entenderá um dia. Não é algo que eu possa falar, mas que você mesmo precisa descobrir.

— Entendo… — Eujin olhou para os pés levemente incomodado — Mas não consigo me ver à frente de uma empresa. Não me vejo com o cargo máximo de algo que não desejo. Não sei como será ou o que a empresa enfrentará enquanto estiver nas minhas mãos. Não é isso o que quero pra mim, você sabe… Sempre pensei que, uma hora ou outra, papai nos deixaria tomar nossas próprias decisões e vivermos nossas vidas como bem quiséssemos, mas percebi que isso nunca acontecerá.

— Engraçado…

— O que?

— Vejo você muito mais forte e capaz do que sente ser. Consigo sim, vê-lo à frente da empresa e sei que será um bom mês para a Wang S.A. Não acredito que deva duvidar das suas habilidades e do que é capaz. Você é um homem honesto e dedicado e certamente fará o melhor para nossa família.

— Mas…

— E, se, por acaso, acontecer algum problema, eu o ajudarei.

— Como? — Eujin pareceu curioso — Você nem mesmo se especializou…

— Eu sei, mas para alguém que acabou de mostrar algum tipo de admiração pelo irmão mais velho, você parece bem desacreditado do que sou capaz…

— Desculpe… Não quis ofender.

— Não me ofendeu. Sinceramente, não tenho interesse algum em me especializar em nada que remeta à essa empresa, mas entendo minha posição ao aceitar fazer parte dos delírios do nosso pai e me esforçarei para fazer o melhor. Tenho lido bastante, estudado… você deveria fazer o mesmo, ainda que tenha se formado na área. Deve estar preparado para o que virá quando estiver sentado naquela cadeira.

— Não tenho interesse naquela cadeira e em nada que remete poder, controle… não consigo me empenhar sobre nada da fábrica. Me focar nisso é quase uma tortura.

— Eu realmente te entendo, mas não duvide da sua capacidade nem menospreze a autoridade que terá. Precisará de foco, desviar possíveis bombardeios… — Eujin olhou complacente para Shin, compreendendo onde ele queria chegar — Você pode fazer o que bem quiser e, se, por acaso, não conseguir, me procure… acredito que posso ser bem aproveitado se solicitado de forma correta — sorriu.

— Você não mudou nada, Shin… — o mais novo também sorria — Continua com a mesma mania de protetor de sempre.

— Vocês insistem em serem indefesos e precisarem de mim a todo instante… — falou com uma arrogância divertida — Não sei como foram capazes de sobreviver esses cinco anos sem minha intervenção.

— Foi bem complicado — continuou levemente descontraído — Mas deu pra levar…

— Percebo… Mas o que vai fazer, afinal?

— O que mais? Participar dessa loucura e pedir aos céus que nossos irmãos não se matem… nem nos matem.

— Faça seu melhor, não se importe com os outros. Fique de olhos abertos e prossiga.

— Obrigado.

— Pelo que?

— Por ter voltado. Por ter ficado. Por estar aqui.

Shin acenou para Eujin que o olhava da mesma forma de quando ainda era criança. Parecia indefeso e, ao mesmo tempo, protegido. Sentiu-se estranho com aquela confissão e sorriu discretamente em resposta. O irmão mais novo se despediu e levantou, caminhando em direção à porta, parando para falar antes de sair:

— Por favor, continue me protegendo e… não se ausente novamente. Me dê conselhos quando me sentir perdido e me conforte em minhas decepções.

Depois que o irmão saiu, Shin, que sentia uma estranha euforia dentro de si, percebeu que seu celular vibrava sobre o livro Desafios da Indústria Automobilística que pegara na biblioteca do pai. Não reconheceu o número que chamava, afinal, poucas pessoas sabiam do seu em particular. Resolveu não ignorar a chamada e a atendeu de imediato.

— Alô?

— Preciso falar com você.

— Mãe?

— Me encontre amanhã, às dezoito, em um restaurante no centro da cidade… Passarei o endereço por mensagem.

— Sim. Tudo bem.

— Não se atrase. Não tenho todo o tempo do mundo disponível para você.

Ele se viu segurando o celular diante dos olhos. Permaneceu estático alguns segundos observando a chamada ser finalizada e o número retornar ao visor. Não sabia o que sua mãe queria para marcar um encontro com ele em um sábado fim da tarde, embora desconfiasse do teor daquela conversa. Salvou o número, descartou o celular de volta sobre o livro e saiu rumo aos jardins. Precisava respirar um pouco antes de retornar para a leitura, ou ao menos tentar.


***

A governanta Nyeo sincronizava a preparação dos pratos para o jantar junto ao corpo de funcionários da cozinha, dando ordens com maestria e precisão. A mulher provava os alimentos fumegantes dentro da panela e solicitava mais ou menos tempero de acordo com o prato. Outras vezes, bastava uma leve inalada no aroma que desprendia dos ingredientes e ela já conseguia se decidir se o tempo de cozimento estava de acordo.

Ha Jin aproveitava para tapear a fome, os cotovelos apoiados na bancada, devorando uma maçã fresca que há pouco lhe encarava irresistivelmente da fruteira. A governanta mais experiente queria que a jovem observasse como se executava a liderança na hora de preparar as refeições diárias da família para o caso dela ter de assumir a tarefa sozinha em algum momento.

Ela não sabia exatamente quando poderia ser tão competente quanto Nyeo, mas se esforçava para prestar atenção em cada detalhe. Aprendeu, por exemplo, querendo ou não, que os pratos de Yun Mi não poderiam conter nenhum resquício de castanha ou amendoim, pois a herdeira era alérgica. Seria uma guerra mental para Ha Jin não derramar acidentalmente uma embalagem de dez quilos de amendoim na sua primeira oportunidade comandando o jantar.

— Basicamente é isso — a governanta Nyeo disse aos funcionários após a última panela ser desligada — Vamos colocar tudo nas travessas e começar a servir a mesa.

A equipe concordou curvando-se em sincronia para a líder e se espalhou pela cozinha para pegar os utensílios necessários onde os alimentos seriam depositados. Nyeo aproveitou a movimentação e começou a executar uma tarefa à parte, montando diversos acompanhamentos nas cumbucas e colocando no carrinho de servir. Após terminar a tarefa, e com uma rapidez impressionante, se aproximou de Ha Jin que acabara de terminar a sua fruta.

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— Conseguiu ter uma noção da rotina?

— Sim, com certeza — a moça concordou sorrindo — Não sei se posso executá-la com tamanha prática como a senhora, mas vou me esforçar se um dia precisar assumir…

— Bobagem — a outra acenou apaziguadora — Às vezes sinto que você já nasceu preparada, Go Ha Jin.

O elogio encabulou Ha Jin, que sentiu as bochechas queimarem timidamente. Por dentro ela estava satisfeita porque sabia que a relação com a mulher mais velha vinha se estreitando para uma honesta amizade, semelhante à Concubina Oh.

— Agradeço o elogio, governanta Nyeo — fez uma mesura breve para a interlocutora.

— E como estou um pouco ocupada na cozinha, e já passa da hora, vou lhe dar uma tarefa. Por favor, leve esta refeição para o quarto do senhor Shin — ordenou, empurrando o carrinho na direção dela.

— Para quem? — ela engoliu em seco, precisando escutar novamente para ter certeza se seus ouvidos não à traiam.

— Para o senhor Shin… Algum problema?

Todos os problemas!

A interação deles era desastrosa; Ela estava prestes a ser atropelada, esculachada, bordoada no rosto e ele surgia para ajudá-la na sua imensa má vontade. Ainda remoía a forma como as coisas terminaram no dia anterior, quando ele não deu nenhuma oportunidade de agradecê-lo por barrar Yun Mi e até presenteou-a com uma estridente batida de porta.

Ha Jin acreditava que ele poderia muito bem facilitar as coisas para a cozinha e vir comer na mesma mesa dos irmãos, na companhia dos demais membros Wang, mas insistia em manter aquela situação - mesmo que compreensível, causando esse incômodo diário do qual Ha Jin precisava, agora, participar.

— Não, de forma alguma — adiantou-se, se postando de pé e jeitando o coque — Devo ir agora? Digo… ele já está nos seus aposentos?

— Sim e sim.

— Vamos lá, então — Ha Jin sorriu nervosamente e começou a empurrar o carrinho pelo piso brilhante, enquanto preparava seu psicológico para invadir o quarto dele.

Ao escutar o leve toque na porta pedindo permissão para entrar, Shin, sentado sobre a cama envolto em diversos documentos espalhados pela colcha - relatórios que estudava para se inteirar nos negócios atuais da empresa - distraidamente pediu para que entrassem. A única pessoa que vinha ao seu quarto naquele horário era a governanta Nyeo trazendo o jantar e o herdeiro já se encontrava faminto.

O som das rodinhas atritando contra o chão invadiram seu silencioso casulo e foram deslizando em direção à escrivaninha.

— Pode deixar aqui, ao meu lado, que já vou comendo, governanta… — foi dizendo descontraído ao mesmo tempo que desgrudava os olhos dos papéis e erguia a cabeça para fitar a servente.

— Boa noite, senhor.

A garota de rosto redondo e olhos grandes, a segunda governanta da mansão, a maluca, era quem estava ali com sua refeição. Desconcertado, ele desfez seu semblante relaxado, reservado para pouquíssimas pessoas dali, e, mais sério, perguntou:

— Onde está a governanta Nyeo?

— Ocupada — ela respondeu de imediato e Shin identificou algum azedume na voz da garota que retirava os pratos do carrinho e dispunha cuidadosamente sobre a escrivaninha, ignorando o pedido inicial dele — Hoje eu estou encarregada de servir o seu jantar.

— E eu disse que prefiro comê-lo junto à cama — o herdeiro se levantou e aproximou-se dela, pegando a louça diretamente de suas mãos, retornando-os para o apoio de metal. Seu rosto desafiador a poucos centímetros do da funcionária.

Ela conseguiu encará-lo firmemente por alguns breves instantes, mas foi a primeira a desfazer o contato visual, afastando-se em direção a saída, a cabeça levemente abaixada.

— O senhor é quem decide… Mas seria muito menos trabalhoso para nós, que já vivemos sobrecarregados de afazeres, não termos de vir todas as noites trazer sua refeição quando a sala de jantar fica há poucos passos daqui.

Ao invés de se ofender, Shin achou engraçada, para não dizer insana, a observação temerária que acabara de escutar. Cruzando as mãos atrás das costas, focando a governanta diretamente, disse:

— Com essa sua língua afiada posso até entender porque Yun Mi anda descendo o nível… e também porque está em tão alta conta no conceito dos meus irmãos mais novos...

Ela mordeu o lábio, séria e pensativa, mas prosseguiu, encarando-o também:

— É que eu realmente não entendo porque não senta com os demais na mesa quando já trabalham juntos, moram juntos e tem o mesmo sobrenome. O senhor Wang…

— Não é da sua conta! — exclamou irritado.

Aquela funcionária estava indo longe demais e Shin tinha a impressão de que não era somente ingenuidade, mas a soberba de uma pessoa que, por estar de fora, achava que conseguia enxergar o solução do conflito por um ângulo privilegiado. Eujin havia lhe dito em algum momento sobre a boa índole de Go Ha Jin, contudo, o estado natural dele era desconfiar de tudo e todos, principalmente desconhecidos que tentavam acessar seus dilemas pessoais.

— Já entendi — a governanta acatou a bronca fechando o rosto e erguendo o queixo — E obrigada, mesmo que atrasada, por me defender da sua irmã… A oportunidade de agradecer me foi tirada ontem e mesmo sabendo que não fez por mim e sim pelo bem da sua leitura, realmente agradeço. Mais tarde venho buscar a louça. Bom apetite.

O rapaz encarou a porta que acabara de ser fechada com uma força levemente desnecessária, contrariado. Ela dera um jeito de escapar dali com as palavras finais, em vantagem sobre ele; alguns dos seus irmãos diriam “desrespeitosamente”, e isso quase feria o orgulho dele… Quase.

***

Sun havia chegado havia alguns minutos daquela fatídica tarde de sexta-feira na fábrica do pai. Não conseguia se interessar em seu estágio e a verdade que tinha em mente era a esperança que toda aquela semana deixasse de existir como em um passe de mágica. Ansiava pelo momento em que acordaria daquele pesadelo infernal e voltaria a viver sua vida sem maiores preocupações. Desde do anúncio que o pai fizera no sábado passado sua vida parecia um oceano de responsabilidades pesarosas.

Ele bem sabia que não seria liberado com facilidade dos trabalhos impostos em relação à empresa, mas jamais imaginou que seria obrigado a estar à frente de todo aquele império. Não se sentia capaz e, muito menos, instigado a estar naquela organização. Se seu pai soubesse o quão incauto Sun era até para apresentar um seminário de faculdade nem o consideraria um concorrente entre os irmãos.

Naquela tarde, depois de mais uma reunião, percebera como Gun mantinha o controle firme de tudo em suas mãos, como era constante e aparentava ter nascido para aquilo. Não conseguiu, então, conter o nervosismo que se apoderou de seus pensamentos. Não fazia ideia de como iria gerenciar aquela empresa e, na angústia daquele peso martelando na mente, se voltou para fazer aquilo que mais gostava, a fim de desopilar e relaxar seus nervos: jogar.

Era jogando que ele extravasava todas as suas angústias e ansiedades. Enquanto estimulava seu cérebro com estratégias e mantinha o foco em vencer, se esquecia dos problemas que a vida adulta começava a lhe trazer, ainda mais as decisões que deveria tomar em breve e que não o animava em nada.

Se sentou na poltrona ergonômica diante de seu computador altamente equipado, colocou os fones de ouvido e se preparou para embarcar nas aventuras de World of Warcraft. Dentro do game, ficou feliz ao notar que a pessoa que ele esperava, sua parceira de missões, já estava online.

Midori_01 era sua companheira havia mais de um ano. Uma personagem da Aliança, uma Worgenin, o player que desbravava mundos e derrotava inimigos na parceria do personagem dele, um Draenel azulado e marrento. Em parceria, ambos conquistaram níveis avançadíssimos dentro daquele cenário.

Além do World of Warcraft, seu envolvimento migrou para o chat do game numa afinidade poderosa, como nunca lhe tinha acontecido se comparado aos outros usuários. Mesmo que não a conhecesse, era com ela que ele desabafava e conseguia mostrar ser quem realmente era. Ela, sempre prestativa e atenciosa, se transformou numa ótima conselheira nas dificuldades e Sun, que se encontrava mais a fim de reclamar do que jogar, sem delongas chamou-a rapidamente numa janela particular, antes que Midori_01 ficasse off line, embora ele não se recordasse de testemunhá-la sair da navegação antes dele encerrar a sessão.

[10:49] SunAtiC diz: Queria mesmo poder te dar um abraço.

[10:49] SunAtiC diz: Tenho me sentido realmente péssimo com toda essa situação.

[10:49] Midori_01 diz: Adoraria te dar um abraço.

[10:49] Midori_01 diz: E consigo imaginar, Sunatic.

[10:49] Midori_01 diz: Não deve ser nada fácil ser obrigado a fazer algo que não se quer.

[10:50] Midori_01 diz: Mas olha pelo lado positivo...
[10:50] SunAtiC diz: Não existe ponto positivo em nada disso, Midori.

[10:50] SunAtiC diz: Não consigo encontrar nenhum.

[10:50] Midori_01 diz: Claro que tem. E eu vejo.

[10:50] Midori_01 diz: Pensa só que coisa legal o teu irmão ter voltado depois de tanto tempo.
[10:50] SunAtiC diz: Sim, sim... É legal.

[10:50] SunAtiC diz: Mas não tenho tanta intimidade com ele.

[10:50] SunAtiC diz: Não posso dizer que é a melhor coisa do mundo.

[10:51] Midori_01 diz: Eu imagino que as coisas estejam complicadas, mas tenta não ficar focando apenas nisso...

[10:51] SunAtiC diz: Eu tenho que começar um estágio insuportável na segunda porque meu pai acha que todos nós temos que estar metidos naquela empresa.

[10:51] SunAtiC diz: Nunca pensei que falaria algo do tipo, mas concordo com o que a Yun Mi disse na reunião...

[10:52] Midori_01 diz: Deve estar tudo muito ruim pra você concordar com sua irmã em alguma coisa.

[10:52] SunAtiC diz: Pra você ver a que ponto cheguei :[[

[10:53] SunAtiC diz: Mas não deveríamos ser obrigados a fazermos algo que não temos interesse e não entendo porquê o papai insiste em nos manter naquele lugar se realmente não é o que queremos.

[10:53] SunAtiC diz: Pensei que ele entenderia um dia, mas estava enganado quanto a isso...

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[10:53] Midori_01 diz: Eu realmente sinto muito...

[10:53] Midori_01 diz: Não sei nem o que te dizer.

[10:53] SunAtiC diz: Não precisa se preocupar.

[10:54] SunAtiC diz: Só de saber que você está aqui comigo, mesmo que através do jogo, pra mim já é muito... e confirmo

[10:54] SunAtiC diz: Gostaria que a gente se conhecesse de uma vez.

[10:54] Midori_01 diz: Não tem medo que eu seja algum maluco? rs

[10:54] SunAtiC diz: Talvez… Mas quero correr o risco kkk

[10:54] Midori_01 diz: Eu também quero muito que a gente se conheça, mas não acho que seja o momento certo

[10:55] SunAtiC diz: E por que não?

[10:55] Midori_01 diz: Porque nos falamos faz pouco tempo.

[10:55] Midori_01 diz: Ainda temos muito o que conhecer um do outro.

[10:55]SunAtiC diz: Um ano não é pouco tempo, mas já entendi que é tímida. Poderíamos conhecer nossas particularidades pessoalmente, não acha?

[10:55] Midori_01 diz: Não ainda...

[10:56] Midori_01 diz: Gosto de como as coisas estão caminhando e não quero me iludir além do necessário.

[10:56] SunAtiC diz: Não pretendo te iludir…

[10:56] SunAtiC diz: Mas eu entendo sua posição, embora não concorde.

[10:56] Midori_01 diz: Eu sei que sim...

[10:58] Midori_01 diz: Mas não se preocupa, você é muito importante pra mim e chegará o dia em que nos conheceremos. >.

[10:58] Midori_01 diz: Acredite.

[10:58] SunAtiC diz: Acredito em você.

[10:58] Midori_01 diz: Sei que sim...

[10:59] Midori_01 diz: Então, confie em mim e vá dormir.

[10:59] SunAtiC diz: Mas ainda é cedo! :(

[10:59] Midori_01 diz: Você precisa acostumar seu organismo a acordar cedo, e só vai conseguir isso se tentar.

[10:59] SunAtiC diz: Você vai controlar até a minha hora de dormir, agora?

[10:59] Midori_01 diz: Faz parte do meu trabalho.

[11:00] Midori_01 diz: Esqueceu que sou sua esposa?

[11:00] Midori_01 diz: Mesmo que seja virtual, acho que é isso o que uma faz.

Fora do chat o celular de Sun apitou, sobressaltando-o. Quando conversava com Midori_01 ficava imerso a ponto de esquecer de tudo o mais no seu mundo físico. Bufando por ter de deixar sua confidente à espera, descobriu que quem enviava mensagem àquela hora da noite era Jung, no quarto ao lado.

“É esse fim de semana que vai cumprir sua parte na aposta?”

Sun semicerrou os olhos, irritado por estar perdendo tempo lendo aquela baboseira. Sua maior estupidez foi incluir Doh Hae em qualquer aposta que pudesse desfavorece-lo.

“Não enche!”

Digitou de má vontade e desligou o celular para não ser mais incomodado. O assunto no chat era mil vezes mais interessante, ponderou retornando para a tela maior.

[11:02] SunAtiC diz: Controlar o marido?

[11:02] Midori_01 diz: Não... cuidar e prezar pelo seu bem.

[11:03] SunAtiC diz: E o que eu ganho obedecendo?

[11:03] Midori_01 diz: Meu carinho.

[11:03] Midori_01 diz: Além da certeza de que não estarei preocupada com você.

[11:04] SunAtiC diz: Hmmm... tudo bem. Vou dormir de uma vez.

[11:04] Midori_01 diz: Obrigada por isso.

[11:04] Midori_01 diz: Amanhã estarei aqui novamente te esperando para saber do seu dia.

[11:04] Midori_01 diz: Por mais que tudo pareça difícil e negativo, você não está só.

[11:04] Midori_01 diz: Independente do que aconteça, vou estar por perto.

[11:05] SunAtiC diz: Obrigado, você é uma boa amiga… e esposa ♥

[11:05] Midori_01 diz: *--*

[11:05] Midori_01 diz:Só continue sendo quem você é. Fighting!

[11:05] SunAtiC diz: Boa noite.

[11:06] Midori_01 diz: Boa noite.

[11:06] Midori_01 diz: :*

***

Ao encarar a tela do seu celular vibrar e exibir o número de Gun pela quinta insistente vez, Na Na não se sentia vingada pelo troco barato de ignorá-lo como ele muito bem fizera no início daquela semana. Ela nunca fora esse tipo de mulher… Esse tipo de pessoa.

Evitava conflito e, corriqueiramente, se sujeitava às situações que considerava desagradáveis como o caminho mais seguro para se manter neutra. Acontece que seu futuro noivo conseguiu ultrapassar os limites permitidos à sua generosa compreensão ao destrata-la tão rudemente durante aqueles dias.

Na Na não tinha mais certeza sobre o noivado, quanto mais se valia a pena atender ao seu chamado e continuar fugindo até onde fosse possível. Ele desistiu de ligar e enviou uma mensagem de texto que deslizou para o visor.

“Vamos conversar… Pare de fugir de mim.”

Com que estado de espírito ele elaborara aquela frase? Ódio? Frustração? Impaciência? Ou será que arrependimento…? Arrependimento seria demais para Wang Gun e ela não era inocente o suficiente para alimentar aquele pensamento.

— Moça… Seu café — a atendente da lanchonete apareceu ao lado dela, educada e tímida, certamente receosa em despertá-la do seu dilema diante do celular, e depositou uma xícara fumegante à sua frente.

— Oh… Eu não pedi café… — Na Na deu atenção a jovem, informando com polidez.

— Sim, mas na verdade foi aquele senhor quem pediu para trazer para a senhorita — a funcionária apontou para o balcão um pouco desconcertada e a mulher viu um rapaz muito bem apessoado em seu blazer vinho bordô pegando uma bandeja sobre o móvel e caminhando em seguida para a mesa dela.

— Pouco açúcar e extra forte… Acertei ou seu gosto mudou de novo? — Taeyang brincou se referindo à escolha da bebida da moça enquanto a atendente colocava outra xícara para ele e os deixava a sós.

— Como me encontrou aqui?

— Essa é sua lanchonete preferida, não é? Acho que mencionou para mim em algum momento… mas, na verdade, é uma coincidência. Eu só entrei para pegar uma água, então te vi… — o herdeiro sorriu e pegou um bolinho de chocolate para fazer companhia ao café dela.

— Obrigada… Estou sem fome, Taeyang — Na Na agradeceu, mas não esboçou nenhum sorriso em retorno. Seu desânimo era impossível de disfarçar.

— Odeio te ver assim. Manteve esse semblante durante a semana toda e hoje ele parece ainda mais amargurado. O que está acontecendo?

— Coisa minha — desconversou.

Uma nova mensagem de Gun iluminou o aparelho telefônico, “Chega de me ignorar.”, e ela percebeu que seu acompanhante foi ligeiro o suficiente para ler a frase. Contrariada, tapou o visor com a mão. A seguir ele envolveu a mão em cima da sua, a pele quente e o toque sólido. Algo estranho seguiu-se para além desse toque… Uma troca de olhares magnética, salpicada de centenas de dizeres mudos.

— Por que você fingiu que entregou meu arquivo para Yoseob, quando na verdade ele acabou no triturador de lixo? Só preciso entender esse detalhe…

A velha acusação trouxe a dor análoga de uma chibatada certeira infligida contra Na Na. Ela retirou a mão debaixo da mão dele - aquele toque poderia queimá-la agora - e não deixou nenhuma brecha de compaixão no rosto. Estava farta dos homens daquela família.

— Não posso acreditar que veio até aqui me acusar injustamente! — exclamou — Esse assunto… Eu já lhe disse tantas vezes… Taeyang, o que há com você?

— Basta apenas dizer que fez por Gun. Que confiou nele e que não quis me prejudicar de fato. Eu vejo por esse lado agora, pensando melhor, anos depois…

— Taeyang…

— Você sabe. Eu sei que sabe! — olhou-o com impaciência.

— Sei o quê?

— Nós…

— Nós? — perguntou, a respiração suspensa, esperando o que mais ouviria da boca dele. Havia muitas coisas que ela desejava ouvi-lo dizer e a principal, naquele instante, era “desculpa”.

Ele molhou os lábios e engoliu em seco, se afastando um pouco, afinal seu tronco estava quase todo curvado sobre ela. Então tocou na nuca, desviando o olhar brevemente antes de dizer.

— Não vamos tocar nesse assunto. Quero apenas, e de uma vez por todas, pelo seu bem, que pare de ser o cachorrinho de estimação do meu irmão. Você é melhor que isso… Ninguém merece ter algum relacionamento com aquele canalha, principalmente alguém como você.

Ao fundo, a lanchonete quase vazia naquele sábado de manhã, emitia sons típicos do estabelecimento, como a máquina de expresso chiando o vapor quente e os pés das cadeiras atritando contra o chão na chegada de outro casal, que foi se acomodar distante deles.

— Eu me viro com Gun, obrigada pela preocupação — disse friamente. Na sua frente o café esfriava intocado — Veio aqui para me acusar de coisas do passado e querer dar conselhos?

— Quero que abra os olhos. Ele… ele é meu irmão, mas não é bom. Armou para mim como te disse outro dia e armou para nós naquela ocasião.

— Quando? Há quatro anos? O assunto que você acabou de me dizer para não tocarmos mais? — uma ousadia desconhecida dominava — Não foi Gun quem me deu uma advertência e uma descompostura diante de todo o corpo de acionistas, Taeyang. Foi você.

O herdeiro fechou os olhos, suspirando pesadamente. Retornou a fitá-la pedindo brandamente:

— Não fique brava comigo... isso parte meu coração.

O estômago da moça deu um solavanco atípico e encarar Taeyang já não era mais possível. Ela apalpou a bolsa no encosto da cadeira e transpassou a alça rapidamente sobre o corpo. Se levantou de pronto, arrastando seu assento para longe, ajeitou o vestido que subira um pouco para os quadris e, curvando-se de leve para ele, se despediu:

— Tenho de ir, mas não estou brava. Não ainda. Apenas peço que só volte a este assunto antigo se for para se desculpar adequadamente, caso o contrário, nossa amizade pode acabar.