A Long Fall

Prólogo


► II

Enquanto meus olhos corriam sobre os papéis, ávidos, meu coração inflava em um imensurável medo. Minha visão está turva e borrada devido as lágrimas que querem descer, mas que meu orgulho me força a deixá-las ali. Também sinto os dedos de minha mão tremularem, assinando meu nome da melhor forma que pude nos documentos, entregando-os para minha mãe em seguida.

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Era ela a causadora do pânico que começava a me dominar, e da angústia que parecia cair como gotas de chuvas sobre meu corpo.

Enquanto Jocelyn arrumava suas coisas, o ar do ambiente começou a ficar pesado, beirando o sufocante, mas mesmo que me incomodasse, não fiz questão nem mesmo de olhá-la. Pelo contrário; arrastei a cadeira na qual estava sentada para trás, levantando-me e saindo de perto da mulher que chamei de mãe por dezesseis anos. Mas que agora, sem remorso algum, havia resolvido revogar legalmente seu direito de mãe, me emancipando.

— Charlotte. — escutei meu nome ser chamado, com um sutil tom de desculpas. Aquilo causou um rebuliço ruim em meu estômago, que me fez ir em direção a porta da casa, passando por ela como um raio.

Abri a porta de madeira velha e apontei para fora, em um pedido mudo, que eu esperava que ela tivesse a decência de atender sem retrucar. O que, claramente, ela não o fez ao parar a minha frente, tentando pousar sua mão sobre meus ombros.

— Por favor, só vá embora. Você sabe que no instante que papai nos abandonou, você também o fez. — recuei de sua mão, ainda tentando me manter forte perante ela, mesmo com a vontade de chorar sendo imensurável.

Depois de minutos em silêncio, sua mão caiu ao lado do corpo magro, com um suspiro saindo dos lábios finos. Em seguida, um pouco desajeitada, a mulher atravessou a soleira da porta. Não pensei duas vezes ao fechar a porta com força, tentando descontar toda minha raiva e frustração, além do medo e insegurança.

Somente então me permiti desmoronar. Em poucos instantes, encontrava-me sentada contra a parede, chorando copiosamente e soluçando forte a ponto de sentir o ar faltar de meus pulmões. Embora repetisse freneticamente que tudo ficaria bem, que iria me virar com o pouco dinheiro que me foi dado, aquilo parecia vazio demais em voz alta. Parecia uma mentira feita para me acalmar, e que não estava surtindo o efeito esperado, pois quanto mais eu pensava na situação, mais meu subconsciente me alertava que eu não teria como seguir em frente sem uma figura materna para me orientar.

E eu não duvidava nada que ele estivesse certo.