O sorriso de Charlotte era quase um pedido de desculpas pelo comportamento de Catherine.

— Que raiva daquela mulher! – Ela sussurrou baixinho, de modo que somente Elizabeth pudesse ouvir. – Será que ela não percebe que o Darcy queria conversar com você? Ela te botou para correr, não foi?

— É, acho que podemos dizer que sim. – Liz respondeu enquanto se ajeitava na cadeira entre sua amiga e Jane. – Mas teremos outras chances de conversar.

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— Tomara. – Jane suspirou com os olhos sonhadores. – Vocês pareciam tão entretidos.

— Tomara mesmo, mas pelo pouco que já conheço de Catherine, ela vai ficar cercando o sobrinho que nem um abutre.

O sr. Collins deu uma olhada feia para a noiva e ela simplesmente deu de ombros.

— E não vai? – Respondeu tentando justificar.

— Com certeza, mas se você não falar mais baixo, ela vai colocar todos nós para fora daqui. – Ele falou tão baixinho que as garotas Bennet mal puderam ouvir. – E eu não sei você, mas eu quero muito que esse casamento aconteça.

Charlotte sorriu e deu um beijo terno no noivo.

— Eu também, meu amor. – Ela respondeu com uma voz meiga.

Depois disso, nenhum deles conseguiu arrumar muito tempo para conversar. Charlotte e o sr. Collins trocavam olhares apaixonados que deixavam Jane fascinada e Lizzie confusa. Era tão estranho ver seu chefe com a sua melhor amiga, mas os dois pareciam muito feliz e era isso que importava. Ela ia acabar se acostumando.

As garotas Bennet e Charlotte só ficaram um pouco receosas porque nunca estiveram diante de tantos talheres e louças diferentes. Era um pouco confuso, mas elas esperavam alguém fazer alguma coisa primeiro e aí só imitavam. Os tais detalhes que Lady Catherine queria acertar antes do casamento não foram mencionados em nenhum momento e Liz suspeitou que tudo era só uma desculpa para dar aquele jantar. Talvez a temível senhora fosse solitária e quisesse passar a noite cercada de gente, nunca se sabe.

Por mais que tentasse se conter, o olhar de Elizabeth vivia indo em direção ao lugar onde Darcy estava sentado. E qual não era sua surpresa ao notar, nas primeiras vezes que o médico também a observava. Em uma das vezes, ele até sorriu de maneira discreta para ela e aquilo a fez corar. Jane, claro, não deixou aquilo lhe escapar e deu uma risadinha, achando tudo muito fofo.

Ao final do jantar foi servido o chá e todos voltaram para a sala anterior. Lizzie tinha acabado de depositar sua xícara na mesinha enquanto ria por educação de uma piada um pouco sem graça do sr. Collins.

— Sr. Collins, srtas. – A voz do sr. Darcy fez um arrepio percorrer pela espinha de Lizzie. – Vocês se importam se eu roubar um pouco Elizabeth de vocês?

Jane faltava dar pulos de animação e Charlotte lançou a ela um olhar de “vai lá, garota”, mas foi o sr. Collins que disse que não via problema nenhum e emendou um assunto qualquer antes de deixá-los ir. Era engraçado como ele se enrolava todo perto do médico.

— Onde vamos? – Liz perguntou enquanto se afastava dali junto do dr. Darcy.

— Pensei em darmos uma volta pela propriedade.

— É sério isso? – Ela perguntou se sentindo como se estivesse em um filme antigo. – Acho que sua tia não deve considerar apropriado uma moça solteira andar por aí acompanhada de seu sobrinho. Ainda mais depois do anoitecer.

— Tem razão. – Ele sorriu mais com os olhos do que com a boca. – O que torna o passeio muito mais legal.

— Sr. Darcy! – Liz fingiu estar perplexa. – Achei que você fizesse mais o estilo de bom moço.

Ele revirou os olhos de brincadeira e ela jogou a cabeça para trás gargalhando.

— Só vou buscar o meu casaco e já venho.

— Casaco? – Ele olhou-a com estranheza. – Está um clima tão agradável lá fora!

— Eu nasci em um país tropical, nunca está agradável para mim lá fora. – Ela piscou e saiu correndo escada a cima.

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Darcy acompanhou-a com o olhar, fascinado. Em menos de 5 minutos ela já estava de volta, vestindo um sobretudo preto por cima da roupa.

— O que foi?

— Nada. – Darcy respondeu parecendo encabulado.

— Fala! Não me deixe curiosa. – Ela pediu mais uma vez, enquanto puxava-o pelo braço porta a fora.

— Nada, é só que você é tão diferente.

Já lá fora eles começaram a caminhar por uma pequena trilha que dava em um bosque. Ficaram em silêncio por algum tempo.

— Diferente de um jeito bom? – Liz não se aguentou e perguntou.

— Na verdade. – Ele começou a responder com a voz rouca. – Eu estava te admirando.

— É? – Ela parou um pouco incerta. Olhou para o chão, pois estava com receio de fita-lo.

— É. – Darcy levantou o queixo dela e fixou seu olhar, tão profundo e azul, no rosto dela. Era quase como se ele quisesse memoriza-lo.

O coração de Elizabeth começou a bater mais rápido. Ela não sabia direto o que fazer, tudo o que sabia é que estava hipnotizada por aquele olhar. Os dois ficaram perdidos naquele momento por mais alguns segundos, mas ao mesmo tempo, como se tivessem tido a mesma ideia no mesmo instante, os dois eliminaram toda a distância entre eles com um beijo que começou gentil, mas depois evoluiu para algo mais intenso, mais faminto.

As mãos de Lizzie se enroscaram no pescoço de Darcy e bagunçaram seus cabelos, enquanto as mãos dele percorreram as costas de Elizabeth e a puxaram mais para perto, colando-a muito a ele, mas não era o suficiente. Para tentar resolver isso, ele empurrou-a gentilmente de encontro a uma árvore e pressionou-a contra ela enquanto ia beijando todo o seu pescoço até chegar novamente a boca. Quando os dois estavam finalmente seu fôlego, eles se separaram e ficaram um tempo apenas abraçados, sentindo o coração um do outro.

— Nossa. – Lizzie sentou no chão ao pé da árvore e puxou-o para perto.

Ele beijou-a mais uma vez com ternura e depois ela encostou a cabeça em seu peito e ele a envolveu com o braço.

— Está sendo um passeio muito agradável, sr. Darcy. – Ela sorriu e ele soube, pois mesmo que não pudesse ver o rosto dela, sentiu a contração de seu rosto.

— Muito. – Ele repetiu com a voz rouca. – Então o problema não sou eu?

— Oi? – Elizabeth virou para encará-lo a tempo de vê-lo sorrir.

— É que da última vez, você saiu correndo e ficou sem olhar na minha cara por um tempão, então fiquei com receio, sabe? – Ele disse com um tom de voz brincalhão.

Aquilo era um sonho, só podia.

— Besta. – Ela riu. – Não sei o que aconteceu, eu me assustei. Sempre achei que você me odiasse e aí eu te beijei.

— E eu retribui, com certeza não teria feito se te odiasse.

— Vai saber. – Lizzie respondeu baixinho enquanto bagunçava o cabelo de Darcy distraidamente.

— E eu já disse, não dá para não gostar de você, quem dirá odiar.

— Dá sim, pergunte para Jane. Eu sou uma pessoa bem odiável de vez em quando.

— Teimosa, orgulhosa e extremamente julgadora. – Ele enumerou e Liz fingiu se encolher diante dos adjetivos, mas reconhecia que estavam certos. – Eu não sei como, mas eu aprendi a gostar dos seus defeitos quase tanto quanto das suas qualidades.

— Então eu tenho qualidades?

— É, não são muitas, mas tem.

Lizzie deu risada e bateu no braço do dr. Darcy de levinho. Estava tão feliz que nada podia acabar com aquele sentimento.

— Você luta pelo que é certo e pelos seus amigos com unhas e dentes e não tem nada mais sexy do que isso. – Ele deu mais um beijo demorado e deixou-a nas nuvens.

— Eu também gosto de você. – Lizzie deixou escapar. – Muito.

Darcy sorriu e beijou-a na testa. Ali, embaixo daquela árvore, pelo que pareceram horas, eles ficaram conversando sobre todos os assuntos que se pode imaginar. De bichos de estimação a filosofias de vida e religião. E quanto mais Elizabeth ouvia, mais ela gostava e vice-versa. Se pudessem, os dois teriam varado a noite alternando entre beijos e abraços e conversas.

Quando voltaram ao casarão, todos já haviam se retirado para os seus dormitórios e após se despedirem, cada um foi para o seu respectivo aposento. Lizzie só faltava dançar pelos corredores de tanta felicidade. Ela estava literalmente nas nuvens e estava adorando a sensação. Só não percebeu que de cima de uma nuvem é muito fácil cair.