Oxford - Inglaterra - 19h30min

O dia já estava acabando e, recostada na bancada da cozinha circulando com as mãos uma caneca de chá, a castanha sentia o cheirinho do líquido quente lhe acalmar. Pelos sombras em torno da janela, podia notar a bagunça que seus cabelos estavam pelas incontáveis passagens de mãos neles, toda a tensão descontada, de alguma forma, nos fios.

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A fumaça do chá esquentava seu queixo e ela soprou, fazendo o conteúdo dentro da caneta tremer. Já era o terceiro chá que tomava e antes tendo como um calmante natural, aquilo já evidenciava a perda do seu poder. Seu coração batia rápido e sua respiração não queria acompanhar as batidas.

A visão da velha senhora, mas bondosa e de sorriso doce de Minerva McGonagall se fez presente na mente de Amélia Stark. No dia anterior, a... bruxa aparecera na residência da família de surpresa - para conversar sobre a carta de Hogwarts endereçada a filha do casal. Por toda a sua vida, claro, principalmente na infância, acreditava que bruxas eram mulheres ruins, que amaldiçoavam por maldade e que sempre atrapalhavam o casal dos contos de fadas.

Mas, agora, começava a rever seus conceitos. Uma parte de Amélia a mandava esquecer aquela conversa que tiveram, mas a outra, sua parte preocupada de mãe, gritava para que reconhecesse e aceitasse os fatos porque a) Lisa precisava ver a segurança dos pais para ficar bem e b) tinha que pensar também nas várias vezes em que a filha provocara coisas estranhas.

Na vez em que a filha, com dois anos de idade, durante a milésima birra de seu pouco tempo de vida, tinha feito as luzes da casa tremerem e as lâmpadas explodirem em seguida. Ou quando tinha flagrado Lisa mover, no supermercado, com seus bracinhos pequenos enquanto abria e fechava as mãos na direção de um pote de Nutella, fazendo-o cair no chão.

Balançou a cabeça. Talvez a magia da filha já estivesse dando seus primeiros sinais quando aconteciam aquilo.

— Tudo bem? - os braços fortes de Sebastian a circularam, fazendo-a acordar para o momento. - Você estava perdida em pensamentos.

Amélia repousou a caneca na bancada e descansou a cabeça no ombro do marido.

— Sinto-me perdida em todos os sentidos - murmurou ela.

Nós estamos - enfatizou o homem suavemente. - Mas isso não quer dizer que você passara por isso sozinha. Também é novo e irreal para mim.

Amélia se virou, olhando fundo nos olhos escuros de Sebastian. Compartilhavam do mesmo medo: o medo do desconhecido. Do que Lisa poderia viver, do que lhe esperava no mais novo mundo da garotinha. De acordo com McGonagall, ela teria toda ajuda para entender o mundo bruxo e adaptar-se do melhor jeito... mas era difícil acreditar.

Irreal— a morena repetiu, descansando a cabeça no queixo do homem. - Essa é uma palavra que já eliminei do meu dicionário depois de ontem.

Sebastian riu e ergueu o rosto da esposa delicadamente, depositando um singelo beijo em seus lábios.

— Vai dá tudo certo - ele sussurrou. - Será o melhor para Lisa.

A mulher assentiu, encaixando o rosto na curva do pescoço do marido e sentindo o peito dele descer e subir com a respiração.

O que eles não imaginavam era que estavam sendo observados pela porta que dava a varanda da cozinha e a figura encapuzada sorriu com desdem, achando-os patéticos demais para dois trouxas. A pessoa fechou o rosto por trás da máscara e com um rápido estralo, aparatou dentro de um quarto rosa onde tinha uma adormecida menininha, coberta por um lençol de algum desenho trouxa.

— O que foi isso? - no andar debaixo, Amélia assustou-se com o barulho e se separou do marido.

— Isso o quê? - indagou Sebastian.

Ficaram em silêncio, olhando-se e foi quando um grito agudo surgiu.

— PAPAI! - a voz de desespero de Lisa foi-se ouvida e eles correram para as escadas. Parecia que o curto trajeto tinha ficado dez vezes maior e quando Sebastian chegou a porta do quarto da filha e girou a maçaneta, a mesma estava trancada. O medo crescia a cada estante e os dois começaram a forçar a porta a abrir.

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Dentro do quarto, Lisa estava encolhida em um canto, chorando e tremendo, enquanto do outro lado, quem quer que fosse, tentava sair de debaixo dos inúmeros brinquedos que a menina o lançara quando surpreendida, em um ato de desespero. Não sabia como tinha feito aquilo, apenas olhara para os brinquedos e eles levitaram, atacando a pessoa.

— Já chega - a voz era furiosa e cortante. Lisa viu ela tirar um objeto cumprido da capa longa e preta e apontar para a porta. - Vamos acabar logo com isso, pirralha.

— LISA! LISA! - as batidas na porta se intensificavam e a garota queria sair dali. A voz de dentro do quarto aumentava o desespero para Sebastian e Amélia e foi com alívio que conseguiram abrir a porta, aos chutes.

Um jato de luz vermelha surgiu na direção deles e, por instinto, o homem se pôs a frente da mulher, empurrando-a para o lado e sendo arremessado até bater na parede do corredor.

Amélia estava atordoada e virou-se a procura da filha, mas o que viu foi uma enorme e fantasmagórica capa preta. Não conseguia ver o rosto - estava coberto por uma máscara prata - e avançou.

— Nem mais um passo - rugiu a pessoa, apontando a varinha para a cabeça de Lisa, que se debatia nos braços do estranho e chamava pela mãe.

— NÃO! - suplicou Amélia, as lágrimas banhando seu rosto. - Não, por favor, não! O que quer? O que fizemos!?

— Vocês nasceram! - gritou o intruso e com um único movimento, ergueu a varinha e dizendo uma palavra desconhecida para a morena, explodiu o telhado, obrigando a Amélia se jogar no chão e proteger a cabeça. A gargalhada sombria ecoou quando uma espécie de nuvem negra circulou Lisa e o invasor, fazendo-os voarem e sumirem pelo céu - agora totalmente escuro.

O chão estavam coberto de telhas quando a morena conseguiu sair de debaixo de todo o entulho. Olhando para cima, sem nenhum sinal da filha, a dor lhe consumiu por completo e o que pode fazer no momento foi gritar o nome da filha com angústia.

***

Rony acordou sobressaltado, como se um grito horripilante passasse em sua cabeça. Franziu a testa e quando sua visão se focou, observou onde estava: no sofá da Toca. Com o corpo duro, ergueu o tronco e se sentou. Não sabia que horas era, mas devia ser tarde já que a casa estava silenciosa. A única fonte de luz vinha de um pequeno abajur e não gostava daquela quietude toda.

Do lado de fora, podia escutar o canto dos grilos junto com a ventania que parecia balançar a Toca. Sua respiração ficou, estranhamente, rápida e como não voltaria a dormir mesmo que fosse para o quarto, pegou o casaco e foi caminhar no jardim. Com apenas a luz fraca da ponta de sua varinha, a cabeça de Rony começava a trabalhar.

Você pode guardar um segredo

Você vai segurar sua mão

Entre as chamas

Como um filme, as imagens de Hermione apareciam diante dos seus olhos: sua expressão quando foi embora, sua raiva quando o vira depois de três anos, ou a mistura de sentimentos que constantemente observava. Mesmo assim, o rosto rosado, o nariz pequeno e arrebitado ainda o encantavam de modo que um sorriso bobo surgiu em meio a escuridão.

— Meu Merlim! - uma voz fraca o fez pular. - Como você está aguentando ficar aqui?

Gina caminhava até ele com os cabelos vermelhos voando e apertando o casaco contra o corpo.

Rony tremeu, notando que também estava com frio.

Querida você é um naufrágio

Com o coração de pedra

— É silencioso - o ruivo falou quando sua irmã ficou ao seu lado.

— Isso deveria te assustar - Gina murmurou. - Nossa casa nunca foi silenciosa assim. As vezes eu fico lembrando do tempo em que estávamos em guerra... e desejando que nossa casa fique movimentada outra vez.

— Acho que não é tipo de movimento que eu quero - Rony sorriu para a ruiva.

— Mas agora é diferente - Gina assumiu um tom sério. - Tudo está diferente... chega a me dá medo, como se alguma coisa estivesse esperando para acontecer. Na surdina, pronto para nos atacar quando estivermos desarmados.

Rony suspirou.

— Infelizmente - depois de acordar pensando ter escutado um grito, também compartilhava do sentimento.

O momento estava tenso e olhavam para o mesmo ponto, perdidos em pensamentos.

— Acha que seria de outra forma se eu tivesse ficado? - Rony perguntou, admitindo sua angústia. - Quer dizer, se eu não tivesse ignorado todos e só pensando em mim?

— Eu não sei - sussurrou Gina, sua voz quase inaudível por causa do vento. - Em relação a nossa família, eles se conformaram depois de um tempo. Mas...

— Mas... - esperou Rony, a pausa da irmã o deixou curioso.

— Ah, Rony, francamente - ela o olhou, estreitando os olhos. - Sei o porque desta pergunta.

O ruivo não respondeu, apertando os dedos dentro do casaco.

— Ela ficou bem chateada - Gina continuou, as sobrancelhas levemente franzidas, lembrando. - Eu fiquei bem chateada. Harry também. Mas Hermione... - ela balançou a cabeça. - Você sabe o quanto ela é teimosa e difícil. Hermione fingia alegria... depois de um tempo, parei de insistir, dando o tempo que ela precisava e eu sabia que iria desmoronar. Parei de cercá-la e aconteceu. Lembro como se fosse ontem. Era um dia de domingo e como Hermione não apareceu para o almoço, fui até o apartamento dela. A encontrei chorando no chão, segurando uma foto onde você, ela e Harry estavam.

Posso ter uma testemunha

Para os processos

As lágrimas desperdiçadas

Se secar um rio

Com o coração de pedra

Rony não sabia o que dizer e trincou os dentes; estava querendo socar-se.

— Não era como se eu não esperasse... - Gina suspirou. - Mas Hermione sempre foi tão forte e séria e vê-la chorando e desolada, me partiu o coração e fiquei com vontade de ir para o Brasil e matar você.

— Acredite, eu quero me matar agora - murmurou ele. - Nunca pensei que afetaria Hermione assim.

— Você tem esse poder - a ruiva riu. - Apenas você pode abalar as estruturas de Hermione Granger.

— E isso é bom?

— É maravilhoso! - ela jogou as mãos para cima e puxou o irmão para mais perto. Rony estremeceu ao sentir as mãos frias da ruiva. - Só não estrague tudo agora.

— Eu já estraguei - Rony abaixou a cabeça.

— Tudo bem, você está certo - Gina o largou e revirou os olhos.

— Ei, é nessa hora em que você me diz que não posso desistir dela assim, tão fácil - Rony falou alto. A ruiva ficou quieta escutando; seu plano tinha saído certo. - E concordar comigo em odiar o Jones.

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Eu possa respirar

Eu posso respirar, água, água

Eu possa respirar

Eu posso respirar, água, água

Quando você está aqui comigo

Você não está aqui comigo

— E... - Gina cantarolou.

— E mostrar a Hermione o quão maravilhosa ela é e... ficar com ela custe o que custar.

Rony assentiu para si mesmo e voltou para casa, decidido. Mas ao escutar a risada da irmã, parou. Gina sabia que se falasse o que o irmão já admitira para ele mesmo, não seria levada a sério.

— Faz um favor para mim? - não respondeu e permaneceu de costa, a mão tocando a lateral da porta. - Mostra para ela o quanto você a ama.

Rony sorriu.