Durante o Fim

Décimo Quarto Dia - Hugo


Hugo encarou a pequena estante de livros ao lado do radio-comunicador que Smith nunca conseguia fazer funcionar, e inspecionou os títulos disponíveis para ler na companhia de Rose. A irmã apontou para um exemplar surrado, à direita, um livro velho de “As aventuras de Gulliver” espremido entre “Um Mundo sem Deus” e “Ninguém se Salvará”. Ele agarrou o objeto com as duas mãos e arrancou dali com um puxão forte.

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ー Tá fracote, é? ー Rose brincou, batucando os dedos no encosto do sofá.

ー Ele tava socado no meio ー Hugo respondeu-lhe apontando o dedo ー E, além…

De repente a conclusão de sua frase foi interrompido por Smith saindo abruptamente do quarto de armas e entrando no quarto onde os Weasley dormiam. Desconfiado de que a retirada do livro pudesse causar alguma encrenca, ele correu para enfiá-lo no lugar de origem. Mal terminara de devolver Gulliver à biblioteca do estranho anfitrião e o próprio retornou para a sala aos berros, os pais de Hugo ao encalço do sujeito.

ー ELES VÃO ARRANCAR NOSSA PELE… JÁ ESTAMOS NO INFERNO! ー Smith gritou, cambaleando em direção a porta que acessava a parte de cima da casa.

ー Não, fique aqui! ー Rony exclamou correndo para o outro.

ー Pare de gritar… ー Hermione dizia rispidamente, as costas do homem.

ー ELES ESTÃO TRANSFORMANDO NÓS EM SUCO DE TOMATE! ー o militar berrou de volta, muito próximo da saída, uma veia tortuosa saltando de sua tempora.

Hugo arregalou os olhos, pressuroso, assistindo a cena e tentando entender tudo que estava acontecendo.

ー E não é se atirando direto para eles, ou gritando que vamos ficar seguro… ー Rony argumentou, ultrapassando-o e bloqueando a porta com o corpo. Hermione grudou ao lado do esposo, os dois fazendo uma barreira para impedir Smith de abandonar a toca. Hugo olhou de esguelha para Rose, que estava testemunhando a cena tão aflita quanto ele.

O militar, visivelmente fora de si, agarrou o braço da mãe e empurrou-a para longe dali. A morena cambaleou vários passos, dando de encontro na geladeira enferrujada. O homem ergueu a mão novamente, iria repetir o gesto com o pai, para ter seu caminho livre andar acima, mas Rony segurou seu pulso o mais firme que conseguiu, o oponente era forte, e olhando-o bem no fundo de seus olhos, disse:

ー É minha família que está aqui… Por favor… Não mate meus filhos…

ー Iremos todos morrer, garoto… ー Smith murmurou para o ruivo, o braço ainda suspenso.

ー Então que seja lutando, não nos rendendo. Se subir agora eles vão descobrir que estamos aqui e tudo estará acabado… Deixe que nós escolhamos de que forma queremos partir…

O coração batendo tão depressa quanto de um beija-flor, Hugo mirava a cena calado. Rose estava estática, como ele, esperando pelo pior e, muito provavelmente, não entendendo o todo. No silêncio agoniante que se instalou no porão, eles escutavam os aliens caminhando dentro de suas naves assassinas, suas articulações metálicas estalando e ecoando pelo vale.

ー Por favor… ー a mãe sibilou, a voz nada mais do que um fiapo de desespero, às costas de Smith.

Com um suspiro exasperado, o sujeito puxou o pulso do aperto de Rony e encaminhou-se para seu cômodo bélico, a porta sendo arremessada contra o batente violentamente ao se fechar. Os Weasley ficaram a sós.


O pai deslizou para chão, os dois braços apoiados contra o granito enquanto a mãe olhava para Hugo e Rose com um sorriso totalmente inverossímil. Parecia o sorriso que ela esboçava quando tinha de informá-los que o cereal de chocolate acabara minutos antes do café da manhã, mas Hugo sabia que seu significado, dessa vez, era muito pior.