Terceiro Dia - Rony

Rony levou um baita susto ao encontrar Hermione de pé, próximo a porta do banheiro masculino, após ele lavar o rosto e secar no papel toalha áspero.

ー O que você está fazendo de pé? ー a questionou, preocupado e irritado. Era para ela estar repousando em tempo integral. Ainda não tinham certeza se ela quebrara ou não o tornozelo e uma fratura não tratada em tempos de escassez poderia tornar-se uma osteomielite facilmente, ao menos fora isso que a médica do dia disse.

Hermione se apoiou na parede e, pouco a pouco, se aproximou dele. Seu rosto estava descorado e fraco, e isso apertou seu peito.

ー Deixa eu ver ー ela exigiu levando as mãos na cintura dele.

ー Ver o quê? ー perguntou evasivo, limitando o toque dela sutilmente.

ー Eu vi…

ー Viu o quê? ー disse, impaciente, fitando-a nos olhos.

ー Seu machucado ー informou agarrando-o pela camiseta e tentando erguê-la pela segunda vez. Desta vez, ele segurou seus pulsos.

ー Por que isso agora?

ー Por que escondeu de mim que estava machucado? ー a morena perguntou agudamente ー Quão sério é isso? Por que não me disse? Por que carregou Hugo por aí? E eu? Por que nunca me diz nada, Rony? Por que? ー a cada questionamento se tornando mais chorosa. Ao fim do interrogatório ela estava realmente derramando algumas lágrimas.

ー Não entendo esse choro… ー Rony objetou, assustado, pegando-a pelo rosto e limpando o pranto, que não parava de escorrer pelas maçãs da esposa, com o auxílio dos polegares.

ー Para de me esconder as coisas… por favor. O que houve com seu corpo? ー chorou mais.

Seu desespero o deixou ainda mais alarmado. Ela certamente tinha visto o enfermeiro cuidando dele, instantes atrás, e não adianta ficar escondendo mais.

ー Eu fraturei algumas costelas, mas vou ficar bem. Estou tomando remédio e recebi um curativo ainda a pouco. Nada grave, eu juro.

Ela, contudo, continuava com as lágrimas. Por mais que ele secasse-as, novas gotas vinham molhar a pele alva de Hermione.

ー Meu Deus, Hermione… Para de chorar, estou ficando angustiado! ー aproximou o rosto do rosto dela, pressuroso pelo fim daquele sofrimento repentino na mulher.

Foi quando, de repente, suas bocas se encontraram, a dela mais ansiosa que a dele, confuso, e se entrelaçaram num beijo profundo e demorado. Rony abraçou o corpo magro de Hermione pela cintura e apertou contra o seu, ignorando a dor aguda no tórax, perplexo com o que estava acontecendo. Os lábios voltaram a experimentar aquele gosto tão nostalgico embalado pelo salgado úmido do choro dela.

Como de costume, quando engatavam em beijos ardentes, a mulher enterrava as mãos nos cabelos acima da nuca dele e puxava seus fios ruivos suavemente para trás. Rony ergueu o pescoço, expondo a pele e permitindo que ela o acaricia-se com os lábios naquela região. A sensação era tão extasiante que ele afrouxou o aperto do corpo dela e a fez se desequilibrar um pouco.

ー Ai… ー a morena arfou, sentindo uma dor estralante na perna machucada.

ー Droga, Mione… Você deveria estar deitada ー ele voltou a si, todo receoso quanto a condição clínica do seu par.

ー Dessa vez doeu ー a teimosa confessou, indo se sentar num banco que ficava entre os lavabos e os banheiros, apoiada pelo ombro dele. Uma vez acomodada esticou a perna ruim e esperou o latejar incômodo passar.

Sem perder tempo, Rony se agachou diante dela e a encarou determinantemente, perguntando.

ー Por que nos beijamos? ー estava farto de deixar tudo subentendido no ar. Aquela relação não tinha mais tempo para mal-entendidos.

Hermione evitou seu olhar e respondeu aos murmúrios fitando o chão.

ー Eu te beijei, não você.

ー E qual a diferença? ー ele sorriu, achando curiosa a colocação dela.

ー Desculpa… ー a ouviu dizer ー Sinto muito ter sido dura daquele modo, ontem. Você não mereceu. Seu forte nunca foi a razão… Eu sou a razão, você é a emoção. A coisa sempre funcionou bem assim. E funcionou bem naquela situação também, porque no fim das contas você me escutou e largou aquela droga de arma.

ー Por que isso, assim? Sem mais nem menos? Achei que estivéssemos conversados de uma vez por todas…

ー Pois não estamos ー ela o interrompeu, incisiva. Após uma profunda troca de olhares, onde muitas dúvidas flutuavam na cabeça dele, a esposa completou ー E se quer saber, eu não quero te perder.