Durante o Fim

Segundo Dia - Hugo


A brincadeira com as batatas fritas ficou monótona e o garoto achou mais interessante observar porque Rose, os cotovelos apoiados na mesa, olhava tão absorta para fora. Traçou o fitar da irmã e se deparou com uma cena muito curiosa: mãe e pai se abraçando e conversando pacificamente.

Hugo sorveu o catchup de uma batata frita e decidiu que já passava da hora de perguntar para a adolescente:

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ー Você não devia ter contado daquele negócio da separação para o papai.

Rose voltou-se para o menino, as sobrancelhas erguidas, prestando atenção nele demoradamente:

ー E o que você sabe sobre isso?

ー Eu nada. Nem você ー ele deu de ombros, passando mais molho de tomate no prato.

ー Tem coisas que estão muito além do seu entendimento, Hugo.

ー Do seu também. E nove pra treze anos nem é uma diferença tão grande assim. O Obi-Wan não morreu porque o papai quis e eu não quero ter de ficar passando metade da semana na casa da mamãe e a outra na casa dele. O Mike esquece toda hora as cartas de Pokémon na mãe ou no pai. Eu quero um quarto só ー disse Hugo, vomitando parte de suas preocupações de uma vez.

Rose desencostou da mesa, um sorriso solidário nos lábios, e passou a mão nos cabelos dele carinhosamente.

ー Nem eu ー ela confessou com genuína sinceridade.

Hugo se orgulhava de conseguir ler os movimentos da sua irmã, mas havia ocasiões que essa oscilação entre a garota meiga, chorona e a cruel, revoltada o deixava perdido. Preferia a que aparecia raramente, a piadista sagaz.

ー E é só por causa do quarto?

ー Não… ー ele ponderou ー É o papai e a mamãe. É estranho eles separados. E tem o passeio no cinema a cada duas semanas.

ー O jogo de mímica com a participação do tio Potter e da tia Gina, no Ano Novo ー Rose lembrou.

ー E quando a gente quer comer hambúrguer mais de uma vez na semana é o papai que convence a mamãe ー completou enfático ー Como agora ー e apontou para o prato vazio. Eles balançaram a cabeça juntos, concordando.

Rose pegou seu celular no bolso e ficou encarando a tela preta, desolada. Haviam tentando carregar tanto o smarthphone quanto o tablet na casa dos avós, mas ambas deveriam ter quebrado.

ー É só pararmos de irritar eles ー Hugo voltou a falar nos pais. Achava vital que Rose entendesse seu ponto de vista ー Eles devem ficar bem quando estão sozinhos.

ー Eles estão cegos, isso sim. Nem desconfiam do que aconteceu na escola, por exemplo.

ー Não quero falar sobre isso ー o garoto fechou o tempo, emburrado.

Ela prometeu não contar. Prometeu sequer comentar e lá estava a mentirosa quebrando sua promessa. Lembrar dessa história fazia suas bochechas ruborizarem, querendo enfiar a cara num buraco fundo para todo sempre. Era péssimo.

ー Hugo… A mamãe pelo menos deveria saber…

ー E o papai também... do seu namorado. Aquele garoto loiro do último ano ー alfinetou a adolescente.

Ela não esperava essa virada. Rose apoiou o celular na mesa e encarou-o com os olhos arregalados.

ー Q-quem te disse isso?

ー Eu vi.

ー Não viu nada!

ー Vi sim ー ele sorriu vitorioso por desestabilizar a inabalável Rose Weasley ー E ouvi também vocês no telefone. É com ele que você anda preocupada, né. O seu namorado mora no centro da cidade, o ônibus escolar deixa ele lá, de onde aquela coisa veio. E agora a gente tá sem telefone pra saber se ele, e também a vovó e o vovô estão bem.

ー Se você contar alguma coisa pro papai… ー ameaçou a irmã, tensa.

ー Só não contar nada pra mamãe. Nem pra ele.

Rose cruzou os braços e respirou fundo.

ー Ano que vem eu não vou mais estar na escola, você vai ter que se virar sozinho.

ー Os aliens devem ter destruído a escola antiga ー concatenou a possibilidade mais animadora já levantada em meio ao apocalipse.

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ー E se não destruíram?


ー Eu dou um jeito.