Durante o Fim

Primeiro Dia - Hugo


Ele se acomodou na banqueta e observou a mãe examinando os armários da cozinha. Sua avó, Molly, era famosa por preparar pratos grandiosos e fartos para toda a família, portanto havia muitos mantimentos a disposição de Hermione. Ela acabou pegando dois sacos de pão de forma, uma embalagem de macarrão e uma lata de molho pronto.

ー Você tá com fome? ー perguntou à Hugo, sorrindo. Era um sorriso engessado, os ombros da sua mãe, assim como do pai, pareciam estar carregando um mundo invisível.

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ー Acho que sim ー respondeu o garoto e sua barriga roncou concordando.

ー Ninguém deve ter percebido com essa loucura toda, mas não comemos já faz muitas horas. Vou cozinhar um macarrão e deixar sanduíches prontos também, para quem preferir ー anunciou bondosamente.

Eram pratos rápidos, de quem não poderia perder tempo. Hugo ficou tentado a mais uma vez perguntar o que era aquele objeto que atentou contra eles em casa, contudo prometera para a mãe não tocar no assunto por hora.

Enquanto Hermione enchia uma panela com água da torneira, o menino deslizou para fora da banqueta.

ー Não quer me ajudar não, é?

ー Vou ver o que Rose está fazendo e já volto.

ー Tudo bem, mas permaneçam dentro de casa... e nos cômodos próximos.

Dado o aviso cheio de subentendidos, Hugo andou do corredor para a sala de estar, reconhecendo a fonte de um falatório. Era uma televisão. Divisou o umbral para a sala e achou sua irmã esparramada no sofá, de controle remoto na mão, mudando de canais. A maioria se encontrava fora do ar ou transmitindo reprises de séries, filmes e desenhos. Ele sabia o que Rose procurava, um telejornal que suprisse as dúvidas dela, tão genuínas quanto as dele.

Hugo se aproximou do sofá e viu, pela luz esbranquiçada do televisor, o rosto iluminado da adolescente. Rose continuava com cara de choro, os olhos vermelhos e inchados. De vez em quando fungava, embora não chorasse de fato. Era o gato que a fazia sofrer. Hugo também gostava de Obi-Wan, mesmo com o animal abrindo todas as gavetas de roupa quando tomava posse do seu quarto. Certa vez, a irmã lhe dissera que quem abria as gavetas era uma assombração, o que o deixou alarmado, sem querer dormir na própria cama. A coisa só foi esclarecida dias depois, quando Hugo viu o gato no ato terrorista. Rose levou uma baita bronca da mãe, mas nunca se intimidou de verdade. Volta e meia, sua irmã mais velha atacava com outra pegadinha.

ー Não vai ajudar a mãe? Ela me chamou também? ー Rose perguntou, notando a aproximação do irmão.

ー Ela não disse nada. Achou algum jornal contando o que é?

ー Só meia dúzia de programas bobos.

ー Eu acho que são os ETs.

Rose olhou-o de soslaio:

ー Ah é, é?

ー É... Pode ser os Soberanos ou os Chitauris.

ー Não estamos num episódio de Ben 10 nem no filme dos Vingadores. Essas coisas não existem ー a adolescente sentenciou desinteressada.

ー Não estou falando que são eles. Tô falando que podem ser ETs parecidos com eles.

ー Acho que você tá jogando videogame demais.

ー Nem tô mais, mamãe e papai tiraram tudo de mim ー Hugo bufou indo sentar-se na poltrona predileta de seu avô ー O tablet também parou de funcionar.

ー Sério? ー Rose ergueu uma sobrancelha, atenta.

ー Sim. Agora é só tédio.

ー Depois podemos procurar um carregador nas gavetas dos quartos, deve ter algum compatível. Ele só deve ter descarregado como meu celular ー a garota observou, mas não passava muita confiança para o irmão dizendo isso.

Rose retornou a zapeada de canais costumeira e acabou se demorando um pouco mais num episódio antigo Scooby Doo. Salsicha e Scooby estavam correndo pelo deserto, de uma nave alienígena que soltava raios vermelhos assassinos.