O Destino do Amor

Capítulo 26 - O Duque


Estava perdido. Não conseguia encaixar as impressões corretamente, os lugares, as situações. Ainda com os olhos fechados respirou mais fundo, sentindo o aroma impregnado no cômodo. Aquele cheiro lhe trazia uma gostosa sensação de reconhecimento. De familiaridade. De paz.

Annie moveu a mão sobre a dele, num gesto involuntário e se aconchegou um pouco mais. O aroma feminino era conhecido. Mais do que conhecido. Mais do que íntimo. Mais do que significativo. Ele pensou.

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Olhos castanhos. Cabelos loiros. Pele macia. Corpo esbelto. Lábios com gosto de...

Annie.

Abriu os olhos e tentou, pela segunda vez, se mexer. A cabeça latejava e parecia mais pesada do que todo o seu corpo. Mesmo assim, ele conseguiu se mover. O rosto dela estava muito perto do seu, Annie dormia pesada e serenamente, mas parecia diferente. Parecia cansada, esgotada.

Puxou a mão que estava entre as suas, aproximando-a de seu peito. Lembrando de ter ficado tão zangado, tão enciumado com o que ela lhe dizia que mal conseguia olha-la nos olhos. Que dirá desculpá-la! Mas nada, absolutamente nada. Nenhuma zanga, irritação ou ciúmes permaneceram quando viu Dickinson bêbado, a ameaçá-los com aquela pistola.

Definitivamente não estava pronto para a possibilidade de perder a única pessoa que já amara na vida. Não mais importava o que aconteceu com Peter, o que Daisy fez, sua maior e mais forte lembrança daquela noite eram os olhos de Annie fixos nos seus, transmitindo medo por ele, o mesmo medo que ele sentia por ela.

Annie se moveu de repente, puxou a mão. Respirou mais fundo. Abriu os olhos. E sorriu para ele.

— Jon... – ela disse baixinho com voz sonolenta, se aproximando com cuidado.

— Você está bem? – ele perguntou preocupado pelas profundas olheiras estampadas sob os olhos dela.

— Agora estou... – ela respondeu com a voz embargada.

— O que aconteceu? – ele perguntou fazendo uma careta ao tentar se mover.

— Você não lembra de sir Dickinson?

Claro que lembrava. Aquele maluco! Bêbado! Fingindo agir em nome da honra. Como se o Visconde se importasse muito com o que acontecia com Aisley. Ou com a própria reputação.

— Da pistola? Do tiro? – Annie insistiu.

— Lembro da pistola... mas não lembro do tiro...

Annie se apoiou no cotovelo erguendo levemente o corpo acima da cabeça do marido. tocando o rosto dele com a mão.

— Quando o guarda e Andrew tentaram segura-lo, a arma disparou, e acertou sua cabeça... – ela explicou de forma sucinta.

Jon ergueu a mão em direção ao local onde a dor era mais forte e Annie o impediu de chegar ao curativo.

— Não toque. – pediu carinhosa - O médico saiu daqui recomendando que você deve se cuidar o máximo que puder... e eu vou garantir que assim seja.

Jon ainda estava preocupado.

— Ele não machucou você?

Ela se aproximou mais, roçou o nariz no rosto dele, sentindo as lágrimas inundarem seus olhos mais uma vez.

— Não... fisicamente não... mas não sei como seria se ele tivesse conseguido realizar o que veio fazer aqui...

A respiração de sua esposa travou por um segundo. Como se ela precisasse colocar as emoções no lugar antes de falar.

— Eu amo você Jon...

Ele fechou os olhos saboreando as palavras. Annie já dissera aquilo por diversas vezes nas últimas horas. Mas, ele estava tão incomodado que não conseguia dar o devido valor a elas. Porém, sabia que sempre que as ouvisse, se sentiria aquecido como naquele momento.

— Você me desculpou? – ela perguntou de repente.

Tentando fazer um breve suspense, Jon a observou de lado. Annie sorriu.

— Só se você me prometer que nunca voltará a ver Peter Mitchell.

— Essa será a promessa mais fácil de ser cumprida.

Lentamente se acomodou junto ao ombro dele e fechou os olhos, respirando com calma.

— Você não acreditou em Dickinson não é? - as palavras do Visconde poderiam ter colocado alguma dúvida na mente fantasiosa e crítica de Annie.

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Ela não compreendeu de imediato o que ele queria dizer. Jon continuou:

— Há muitos meses que não vejo Aisley, nada sei dela. Se essa mulher está mesmo grávida. O filho é de outro.

— Eu sei... - ela tinha certeza disso, Jon não precisava se preocupar - mas, por que ele veio aqui? Por que acusou você? - ela estava preocupada com o motivação do Visconde. O real motivo para aquele incidente.

Jon puxou o ar com calma, evitando que a dor pulsante piorasse.

— Preciso descobrir o que houve. – ele falou firme.

Annie se assustou ao ouvir isso.

— Eu prometi que ficaria longe de Peter, você agora vai me prometer que ficará longe de sir Dickinson...

Aquela exigência não lhe parecia justa.

— Mas Annie, preciso descobrir de onde essa historia saiu.

— Não me interessa de onde essa história saiu. – ela não queria vê-lo próximo ao homem que quase o matara.

Ele se calou, a dor incômoda não permitiria que mantivesse uma discussão com Annie naquele momento, principalmente porque sabia da capacidade da esposa em retrucar suas decisões ou comentários.

Annie suspirou e nada mais disse, de certa forma se sentia tranquila, Jon não poderia sair daquela cama por vários dias. E nesse meio tempo, ela daria um jeito de tentar descobrir como resolver a questão.

****************

A primeira noite foi bastante incômoda. As dores só aliviavam a base de remédio. E por causa dos remédios, Jon ficava sonolento. Annie dormiu pouco, sua cabeça rodava na busca por uma solução para o problema e Hilda, cria ela, era a pessoa mais adequada para ajuda-la a resolver esse impasse antes que seu marido estivesse bem o suficiente para sair da cama. No dia seguinte ela conversaria com a mulher na tentativa de descobrirem juntas como chegar a saída dessa questão. No momento, ela pensou observando Jon dormir serenamente, tudo o que queria era aproveitar a presença dele junto de si.

Entretanto, na manhã seguinte, a primeira visita que surgiu, trouxe não apenas uma surpresa, mas uma bem vinda revelação. Era o Duque. Vinha sozinho, o que Annie silenciosamente agradeceu. Suportar um era possível, mas suportar dois Hawkins arrogantes estava acima de sua capacidade.

O homem entrou rapidamente no quarto do filho. Constatou que o rapaz estava bem, apesar de dormir a maior para do tempo e antes de sair, pediu para conversar com a nora. Receosa quanto ao teor da conversa, Annie o seguiu até o escritório de Jon.

Como se fosse ainda o dono da casa, o homem grisalho se instalou na cadeira atrás da pesada mesa de carvalho, que um dia já fora sua. Estava mais velho e sabia que um dia, o que ele considerava como seu, seria de Jon, depois, dos filhos de Jon. Annie se sentou também, atraindo o olhar do homem sobre si.

Os olhos castanhos da nora o observavam com desaprovação. Aquela garota se considerava como grande conhecedora da vida para o julgar. Logo compreenderia que nada era simples na vida. Talvez já tivesse percebido. Os olhos fundos e marcados pelas olheiras. A pele pálida. Tudo indicava as horas passadas em preocupação. Jon conseguira uma mulher que se preocupava com ele e parecia amá-lo. Coisa que o Duque, no passado, considerava como improvável dado o temperamento e o comportamento de seu filho.

De qualquer forma, não fora sobre isso que viera falar.

— Dickinson está preso. - informou sem qualquer emoção na voz. - E permanecerá lá enquanto eu decidir que assim seja.

Não havia dúvidas de que seu sogro era um homem acostumado a ser obedecido. Daqueles que fazem sua opinião valer, custe o que custar. Doa a quem doer. E naquele momento, Annie não conseguia considerar essa característica ruim.

— A esposa dele está grávida de um tal Mortimer. Um tenente da marinha britânica. – ele continuou tranquilo.

— Como o senhor conseguiu descobrir isso? – perguntou satisfeita por ver o problema resolvido

As mãos grandes se moveram sobre a mesa tranquilamente.

— Sei de tudo o que acontece. A lealdade e o silêncio ainda são objetos a venda minha cara. - seus olhos firmes perderam rapidamente o foco, como se ele lembrasse de algo. - De qualquer forma, está resolvido, ninguém os perturbará. Evite que Jon vá em busca de esclarecimentos e a situação morrera neste ponto. Ninguém quer se indispor comigo.

Annie fechou os olhos sentindo o peito mais leve. E tudo graças ao Duque. Aquele a quem ela estava maldizendo poucas horas atrás. Agora só lhe restava levar ao marido a situação resolvida.

O Duque se ergueu, dizendo que já que estava tudo em ordem, voltaria para casa. E se despediu aconselhou a jovem nora que se cuidasse. O período de gravidez, segundo ele, deveria ser uma época de tranquilidade.

Quando a porta se fechou. Annie ficou com a sensação estranha de que aquele homem, assim como seu marido possuía muitas nuances. Talvez um dia tivesse a chance de conhecê-las, se o Duque assim permitisse é claro.

********************

Jon acordou no final da tarde. Ainda havia dores. O hematoma se espalhara pelo lado direito do rosto, o olho estava desinchando. E, as discussões quanto aos cuidados a serem tomados e ao repouso, começaram a acontecer.

Só que desta vez, o menino levado tinha mais do que apenas uma guardiã. Annie se uniu a Hilda nas ameaças constantes, obrigando-o a permanecer na cama, quieto, em repouso.

O medico vinha, observava, recomendava e ia embora. Sabia que seu paciente estava sendo bem cuidado. E numa dessas visitas, Annie tratou de acabar de vez com a dúvida que lhe atormentava. A possibilidade de estar realmente grávida.

Hilda saia do quarto de Jon quando elas cruzaram na porta, Annie trazia um sorriso especial no rosto. Em silêncio, as duas se comunicaram com o olhar, como dois cumplices de um crime.

— Devo contar? – Annie perguntou levemente ansiosa. - Será que não será melhor esperarmos que esteja totalmente recuperado?

— Ele está totalmente recuperado. Não se preocupe! Além do mais, ninguém fica mal com uma noticia igual a essa.

Era verdade, Annie pensou antes de finalmente girar a maçaneta e ingressar no quarto.

Jon estava acomodado entre os travesseiros, o curativo na testa era menor, porém, ainda havia aquela cor arrocheada em torno do olho. Principalmente sob a pálpebra.

Ele sorriu ao vê-la. Se todas as vezes em que estivesse doente, pudesse contar com os cuidados e atenções de Annie, não reclamaria que acontecesse mais vezes. Entretanto, não se atreveu a exteriorizar seus pensamentos, Annie o repreenderia imediatamente.

Ela sentou na beirada do colchão. Tinha um olhar maroto nos olhos espertos, e um sorriso aberto nos lábios bonitos.

— Aconteceu alguma coisa. - ele disse estreitando os lábios. - O que foi?

O som do riso escapando pelos lábios dela, indicava que era alguma coisa boa.

— Lembra que lhe falei que minhas regras estavam atrasadas?

Sim, ele lembrava. Também lembrava de ter se sentido aliviado e triste ao mesmo tempo ao saber que não passara de um alarme falso.

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—Pois elas continuam atrasadas.

Ele não compreendeu. Mas, ela lhe disse que estava tudo normal? Que as regras...

— E o seu médico, acaba de confirmar as suspeitas que Hilda e eu ainda tínhamos. – ela voltou a falar interrompendo os pensamentos dele - Nós vamos ter um filho... - ela disse suavemente e logo remendou: - ou uma filha... você e eu...

Se pudesse, Jon teria agarrado a cintura de Annie e a puxado para a cama com ele, mas nessas horas, ele percebia o quanto era complicado executar movimentos mais bruscos. Por isso, apenas sorriu, segurou a mão dela e a puxou suavemente para perto. Obrigando-a a beijá-lo sentindo uma leve pontada de medo. Será que sua vida iria realmente tomar um rumo calmo e feliz?

Será que suas agruras chegaram definitivamente ao fim?

— Eu amo você. - ele disse baixinho, sem se afastar dos lábios dela. - E estou muito feliz em ter um filho... ou filha sua.