O Legado

Parte III - Capítulo 30


“Não importa quantos planos traçamos, ou quantos passos seguimos, nunca sabemos como o dia irá acabar.”

Grey's Anatomy

Dizer aquilo ao mesmo tempo que trouxe uma sensação de alívio a Amélia, também lhe trouxe um peso. Ela tinha prometido a Eliza que não diria nada a ninguém, mas depois de ouvir o que Eveline disse um medo sobrenatural cresceu dentro dela. Se aquilo foi uma premonição ou não a menina não saberia dizer, mas algo surgiu no fundo de sua mente e ela não conseguiu mais manter aquilo guardado.

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Anthony e Freya a encaravam sem dizer nada. Suas expressões demonstravam choque e no caso de Freya vinha acompanhado de descrença. Os outros porém estavam com os olhos arregalados pela surpresa. Scorpius se mantinha perto dela e suficiente para lhe segurar a mão.

— Você pode repetir, por favor, Amélia. – Anthony pediu.

— Meu pai é o sr. Zabine. – Ela falou. – Eu sei que é difícil de assimilar isso, eu mesmo…

— Difícil? – Freya gritou. – Você está louca. Meu pai não tem nada a ver com você. O que foi? Cansou de ser uma maldita sangue ruim..

— Freya. – Anthony se botou entre ela e Amélia. – Já chega! – Ele se virou para Amélia. – Você tem certeza disso?

— Minha mãe o conheceu ainda jovem, ele estava se separando da sua mãe… Tem cartas dos dois, de antes de mamãe ir embora, cartas dele querendo saber para onde ela foi… Ele é meu pai. Tenho certeza.

— Claro, porque sua mãe nunca mentiu antes. – Freya falou com deboche.

— Por que a Sra. Eliza mentiria sobre Amy ser filhar do Sr. Zabine? – Rose perguntou.

— Porque é uma golpista. – Freya jogou para Amélia.

Amélia se ofendeu e foi em direção a sua varinha, tendo o braço segurado por Scorpius que fez que não com a cabeça. O vento estava se tornando mais frio e logo as últimas carruagens sairiam em direção à escola. Se o caminho até ali tinha sido bom e agradável a volta não seria nenhum pouco satisfatória, ainda mais se começasse a nevar.

— Temos que voltar para o Castelo. O tempo está esfriando, temos que pegar as carruagens. – Scorpius falou. – Vamos!

Ele aumentou o tom de voz quando notou que ninguém estava se movendo. Ele segurou na mão de Amélia e foi a guiando. Se surpreendeu quando sentiu o casaco ser puxando com violência e se virou na direção da pessoa encarando os olhos furiosos de Freya.

— Você está do lado dela? – A sonserina perguntou. – Ela que o traiu e o tratou como metade daquelas pessoas trata?

As palavras pareciam atingir Amélia como um tapa.

Scorpius se mexeu para afastar a mão de Freya de sua roupa e a olhou como se nunca a tivesse visto antes.

— Não existem lados aqui, Freya. – Ele sentenciou. – E mesmo se houvesse eu sempre estarei ao lado de Amélia. Não importa se estou chateado com ela por outros motivos, nós somos amigos. Sempre seremos amigos e eu sempre estarei por perto quando ela precisar. E agora que esclarecemos isso podemos voltar para o Castelo antes que comece nevar?

Ele não esperou uma resposta, pegou a mão de Amélia novamente e começou a guiá-la. A volta foi silenciosa, Anthony, Freya, Tim e Rose tinham voltado em uma carruagem e os outros pegaram a última que partiu. Amélia estava chorando silenciosamente, e percebendo isso Albus saiu de onde estava sentado e ficou ao lado dela.

— Vai ficar tudo bem, Amy. Nós estamos aqui. – Ele a abraçou e ela deitou a cabeça no ombro dele enquanto ele a consolava.

— Tudo vai piorar agora. – Ela falou.

— Não, agora seu pai vai saber a verdade. – Scorpius tentou animá-la.

— Vocês ouviram o que a Srta. Clarke falou? – Amélia perguntou. – Aquilo me deu calafrios.

Os dois meninos se olharam e pareceram concordar com ela, mas não disseram nada. Todo o falatório de Eveline tinha sido muito confuso, a própria mulher parecia falar mais consigo mesmo do que com eles, mas o tom e o sentido geral de que algo ruim estava para acontecer parecia tatuado na mente dos dois.

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— Veja pelo lado bom. – Scorpius começou. – Agora sua mãe não precisa mais se esconder, ela pode voltar ao mundo bruxo.

Mas isso não pareceu acalmar Amélia, pelo contrário, a menina começou a chorar descontroladamente. Os dois ficaram ainda mais confusos e Scorpius foi tentar ajudar Albus, mas os dois pareciam incapazes de fazer a menina parar de chorar. Aquele foi o primeiro momento desde o dia dos namorados que eles ficaram tão próximos e Scorpius teve que se lembrar que não deveria ficar encarando Albus por tanto tempo e que tinham uma amiga que chorava inconsolavelmente bem ali. Albus também não parecia melhor, fazia pouquíssimos dias que eles estavam afastados e ele já se sentia doente por dentro. A sua vontade era de prender Scorpius e obrigá-lo a falar consigo, explicar o que exatamente tinha feito para ofendê-lo e já podia até se imaginar pegando a varinha quando o loiro lhe desse um sorriso frio e dissesse que nada tinha acontecido.

A carruagem parou e Amélia começou a tentar secar o rosto, ela aceitou o lenço que Scorpius gentilmente ofereceu. Mas nada do que fazia poderia disfarçar o seu estado e os outros perceberam assim que eles desceram.

— O que vocês fizeram com ela? – Rose perguntou e se aproximou de Amélia a abraçando pelos ombros.

— Resolveu que era melhor contar logo toda a verdade? – Freya falou, sua voz destilava veneno. – Você sabia que existe uma forma bem fácil de saber se a sua historinha é verdadeira?

— Agora é sério, Freya. – Anthony, sempre calmo, parecia próximo a ter a barreira da paciência rompida. – Você vai se calar agora e não falará mais nada. Entendeu?

A sonserina parecia menor diante da autoridade do irmão, mas o orgulho a impediu de responder. Assim ela só virou o rosto e cruzou os braços.

— Nós temos que ir para um lugar mais tranquilo e confortável. – Rose falou.

— A sala de duelos está vazia a essa hora. – Albus propôs.

— Você tem certeza? – Rose perguntou.

— Sim, Scorpius tem se escondido lá, não é mesmo Scorp? – Albus perguntou para o loiro que se virou na sua direção envergonhado.

— Sim, eu tenho treinado lá. – Ele falou como se quisesse esclarecer que não estivera se escondendo. – Não fica ninguém no terceiro andar.

Rose, Albus e Scorpius ficaram do lado de Amélia, como um escudo protetor. Os outros foram os seguindo em silêncio, quando adentraram o Castelo Tim os parou.

— Er… bem… – Ele parecia estranhamente envergonhado com a situação. – Embora eu fosse adorar saber toda essa história, estou bastante curioso aliás, mas acho melhor deixar vocês conversarem a sós.

— Você não precis…

— Obrigado, Amélia. Mas quanto menos plateia melhor vai ser. – Tim fez com a mão como se não se incomodasse. – Boa sorte, minha cara.

Ele os deixou lá e partiu em direção as masmorras. Os outros seguiram pelas escadas pelo caminho que os levaria ao terceiro andar. A sala estava vazia, assim como o todo o percurso. Eles pegaram as almofadas que usavam para aliviar os tombos e se sentaram, Freya ocupando o lugar mais distante possível de Amélia.

A morena começou a falar tudo que sabia, os três que já tinham ouvido parte daquilo não se surpreenderam com o que era dito, agora eles podiam finalmente colocar um nome e um rosto na história. Freya não olhava para ela, ficou olhando para suas botas como se as tivesse analisando, mas Anthony parecia absorver cada palavra e no fim quando Amélia falou sobre a visita que Sophia tinha feito a Eliza ele parecia ter entendido tudo que aconteceu depois.

— Então sua mãe resolveu fugir. – Freya falou quando ela terminou de narrar tudo que sabia, ignorando o olhar de aviso de Anthony. – Muito corajoso da parte dela.

— Ela foi embora sozinha, com uma filha. Abandonou os amigos e o trabalho, largou o mundo que conhecia apenas para salvar a pessoa mais importante da vida dela. – Anthony falou olhando para a irmã. – Sim, Freya. Pela primeira vez na noite você falou algo sensato. Eliza foi muito corajosa.

— Sua avó realmente seria capaz de-de – Rose não conseguia terminar a frase.

— Matá-las? – Freya completou e possuía um olhar sombrio. – Não antes de fazer a nascida trouxa sofrer pela desonra, e agora ela mataria Amélia na frente da própria mãe apenas porque pode.

Rose engoliu seco.

Anthony tirou um colar do pescoço e segurou o pingente. Ele era simples, apenas uma pedra da lua presa em fios de ouro, ele a encarou e olhou para Freya que assentiu.

— Há uma forma de termos certeza. Essa é uma pedra de família, feita para reconhecer o nosso sangue, um pouco de sangue e qualquer dúvida será sanada. – Anthony falava olhando para Amélia. Instintivamente ela se recolheu para junto de Rose.

— Está tudo bem, Amy. – A ruiva falou. – Não é melhor sabermos logo?

Anthony pegou a varinha e disse o feitiço e um pequeno corte apareceu na palma da mão da menina. Ela chiou pela dor, mas virou a mão como o garoto instruiu e viu o sangue escorrer para o chão. Anthony segurou o colar e o colocou em cima da pequena poça de sangue que tinha se formado

— E agora? – Amélia perguntou, mas ninguém precisou responder. A pedra parecia absorver todo o sangue derramado.

— Bem-vinda a família, Amélia. – Anthony tinha um sorriso triste no rosto. – E eu sinto muito.

— Em breve você vai ter desejado nunca ter descoberto isso. – Freya disse. – Você vai descobrir que ser uma Hall era muito melhor que ser uma Zabine. Só espero que você não tenha que pagar com sua vida, as vezes esse é o preço de fazer parte da família.

Os quatro não sabiam a que Freya estava se referindo, mas não parecia que a menina estava brincando.