Na semana seguinte, sempre que acordava, ia correr pelo campo, usando meu um short camuflado de dormir. Nos primeiros dias, tive noção do quanto o meu treinamento militar estava defasado, mas consegui pegar o ritmo no quinto dia.

Quando completei a trigésima volta, sentei no gramado, limpando o suor do rosto. Enquanto controlava minha respiração, olhei para onde meus amigos e Daryl arrumavam nossos carros do lado de dentro do portão da prisão, depois de terem empurrado o ônibus tombado e liberado o caminho. Me levantei e enquanto arrumava o meu rabo de cavalo, caminhava em direção a eles, para ver se precisavam de alguma ajuda ou se estava tudo sob controle.

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— Ei. – Os cumprimentei, eles estavam parados em uma roda

— Quantas voltas? – T-Dog me perguntou

— Foram trinta. – Respondi não tão orgulhosa, já que no meu tempo de soldado eu chegava a fazer mais de cinquenta voltas – E aí, o que tem para fazer?

— Estava dizendo que depois vamos carregar os cadáveres e queimá-los, logo ali. – Rick me respondeu, apontando para uma parte afastada do campo

— Será um dia longo. – T-Dog comentou e soltou um suspiro

— Cadê Glenn e Maggie? – Carol perguntou, nos olhando – Eles podiam dar uma mãozinha.

— Estão na torre de vigia. – Daryl respondeu, apontando para a torre próxima ao portão do pátio

— Torre de vigia? – Rick perguntou confuso – Eles subiram ontem à noite.

— Glenn! – Daryl berrou – Maggie!

A porta da torre de vigia se abriu e Glenn saiu, sem camisas enquanto abotoava as calças.

— Oi. – Glenn berrou para nós – O que foi, pessoal?

Esse daí não sabia disfarçar quando transava. Todos nós rimos, observando aquela cena. Era hilária. Eles não sabiam disfarçar nem um pouco.

— Vocês vêm? – Daryl gritou, rindo

— Quê? – Glenn berrou

— Vocês vêm? – Daryl gritou novamente, mais alto – Vamos logo, precisamos de ajuda.

— Sim, já vamos descer. – Glenn berrou, acenando para nós

Daryl me abraçou pela cintura enquanto riamos e demos meia volta, seguindo Rick em direção aos carros, mas logo paramos, quando escutamos T-Dog chamar pelo policial.

— Ei, Rick.

T-Dog estava indicando algo no pátio para nós e assim que vimos o que era, percebi que o sorriso de Rick se fechou. Os dois detentos que sobraram estavam ali, nos olhando, chamando nossa atenção. O loiro, Axel e o negro que não era nem um pouco calado, Oscar.

— Venham comigo. – Rick nos disse, começando a andar em direção a eles

— O que eles querem? – Perguntei baixo, dando uma olhada para o caçador

— Vamos ver. – Daryl me respondeu, no mesmo tom

Enquanto o seguíamos, Daryl me entregou seu revolver e ficou com sua faca de caça, já que estava longe da besta naquele momento. Atravessamos o campo e ao chegar perto do pátio, os dois detentos começaram a caminhar em nossa direção.

— Aí já está bom. – Rick disse a eles, e os detentos pararam a uns passos de distância – Nós tínhamos um acordo.

— Por favor, senhor. Sabemos disso. – Axel disse olhando para Rick – Atrás dele, Glenn e Maggie saiam da torre de vigia - Fizemos um acordo. Porém, você precisa entender. Não podemos viver nem mais um minuto lá, entende? Com todos aqueles corpos. Pessoas que conhecíamos. – Ele olhou para o colega, antes de continuar – Sangue e cérebro por todo o lado. São fantasmas.

— Por que não removem os cadáveres? – Daryl perguntou para eles, meu namorado estava com as mãos na cintura e, de um jeito engraçado, era sexy

— Deveriam queimá-los. – Sugeri, olhando para os dois alternadamente

— Nós tentamos. – Axel afirmou – Nós queimamos.

— A cerca está caída do lado oposto da prisão. – Oscar contou – Sempre que arrastamos um cadáver, aquelas coisas aparecem. Deixamos o corpo e voltamos correndo para dentro.

— Olha, não tínhamos nada a ver com Tomas e Andrew. – Axel disse, se aproximando dois passos de nós – Nada. – Ele respirou fundo – Você queria mostrar o seu ponto e mostrou, mano. Faremos qualquer coisa para integrar seu grupo. Mas, por favor, não nos abriguem a morar lá.

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— O acordo é inegociável. – Rick disse a eles, logo em seguida – Ou vivem no seu bloco de celas ou vão embora.

— Falei que era perda de tempo. – Oscar comentou alto, dando uma olhada para Axel - Eles não são diferentes dos safados que mataram os nossos amigos. – Ele olhou para nós – Sabe quantos cadáveres de amigos tivemos que arrastar nesta semana? Simplesmente jogando fora? Eram gente boa. Gente boa que nos protegeu os bandidos na prisão, como Tomas e Andrew. Todos cometemos erros para terminar aqui, patrão. Não vou bancar o santinho, mas acredite em mim, já pagamos nossa dívida. Preferimos cair na estrada a voltar àquela pocilga.

Rick se virou na nossa direção, olhando de mim para Daryl e assim que nos viu sutilmente balançando a cabeça negativamente, ficou satisfeito e deu a ordem.

Eles iriam embora.

Daryl e eu escoltamos os dois e ignoramos os pedidos do presidiário loiro, já que uma vez que Rick tinha tomado a decisão de expulsa-los da prisão, não podíamos fazer nada. Esperei com que o caçador os trancassem entre um portão e outro para nos afastarmos juntos. Caminhamos em direção aos nossos amigos que estavam conversando entre si, a uns bons passos de distância dos portões de saída.

— Fala sério? – Rick estava perguntando a T-Dog, inconformado com o rumo da conversa – Quer os dois vivendo numa cela ao lado da sua? Ficarão esperando a chance de pegar nossas armas. Quer voltar a dormir com um olho aberto?

— Nunca parei de dormir assim. – T-Dog lhe respondeu – Deixe-os ficar conosco. Se mandarmos eles embora, será o mesmo de manda-los para a morte.

— Não sei. – Glenn murmurou, balançando a cabeça negativamente – O Axel parece meio instável.

— Depois de tudo que passamos. – Carol comentou baixo, crispando os lábios finos – Lutamos tanto por isto aqui, e se decidirem tomar?

— Somos nós a tanto tempo. – Maggie disse entre um suspiro e outro, ambos pesados – Eles são estranhos. Sei lá.... De repente, é esquisito ter mais gente.

— Vocês nos aceitaram. – T-Dog disse a ela, lembrando dos tempos na fazenda e como nos conhecemos

— É, mas tinham um menino baleado nos braços. – Maggie retrucou – Não nos deu escolha.

— Não sei não. – Falei para eles, colocando as mãos na cintura – Os caras não seriam de grande ajuda, não sabem como matar caminhantes.

— Mas sabem matar pessoas. – Carol nos disse, em um tom de voz baixo e cauteloso – São criminosos, fim de papo.

— Talvez tenham menos sangue nas mãos do que nós. – T-Dog nos disse, olhando para os nossos rostos

— Conheço essa gente. – Daryl comentou – Diabos, cresci com caras assim. São degenerados, mas não malucos. Podia estar com eles tão fácil quanto estou com vocês.

— Entendemos o que quer dizer, querido. – Falei para ele, meio baixo - Mas não se compare muito com eles.

— Certo, está do meu lado? – T-Dog perguntou para Daryl, acho que não tinha escutado o que eu havia dito

— O diabo que estou. – Daryl negou logo em seguida – Eles que se arrisquem na estrada feito nós.

— O que estou dizendo...

— Prendi um garoto uma vez, de 19 anos, procurado por esfaquear a namorada. – Rick disse, interrompendo o que T-Dog estava falando e assim que viu que tinha a atenção dele, continuou – Parecia uma criança indefesa no interrogatório e no tribunal. Convenceu o júri. Foi solto por falta de provas e duas semanas depois, atirou em outra garota. – Ele respirou fundo e balançou a cabeça negativamente – Já passamos por muitas coisas. O acordo com eles permanece o mesmo.

Após dar a palavra final, Rick começou a andar e como ainda tínhamos trabalho para fazer, o seguimos.

Ninguém queria outro Randall.

— Podemos levar os carros para o pátio de cima. – Falei alto, e apressei meus passos para caminhar ao lado de Rick – Deixaremos fora do caminho, mas virados para o portão, caso precisemos sair às pressas.

— Boa ideia. – Rick elogiou

— Ah, eu faço o possível. – Comentei sorrindo para ele, meio que satisfeita

Daryl lançou um molho de chaves para o coreano e assim que as pegou, Glenn saiu correndo na frente, em direção aos carros, mas deu uma leve tropeçada em algumas pedras e isso foi o suficiente para rirmos dele, o que o fez mostrar o dedo do meio para todos nós, como resposta.

— Busquem os prisioneiros. – Rick nos disse, mas estava olhando para T-Dog – E uma semana de suprimentos para a viagem.

— Talvez não durem uma semana. – T-Dog retrucou meio alto, claramente ele ainda não tinha superado esse assunto

— A escolha é deles. – Rick lhe disse

— Eles tiveram uma escolha? – T-Dog perguntou logo em seguida

— Ei, ei. – Rick murmurou, parando de andar e colocando a mão no ombro de T-Dog, o que me fez parar de andar também, já que estavam bem na minha frente – Qual sangue prefere ter em suas mãos? – Ele perguntou para ele, sério – Da Maggie, da Gabriela, ou o deles?

— Nenhum. – T-Dog respondeu, balançando a cabeça negativamente

Suspirei alto e dei a volta por eles, caminhando em direção ao portão, o qual já estava aberto. Os detentos deram passos para o lado e deixaram o caminho livre para os nossos carros passarem. Assim que parei ao lado do meu amigo coreano e me apoiei em seu ombro, notei os olhares dos detentos, os quais passeavam livremente entre minhas pernas e meu rosto.

— Dois cilindros. É uma Triumph? – Axel perguntou desviando o olhar e olhou para Daryl, o qual estava montando em sua moto

— Se olhar de novo para elas, arranco seus olhos. – Daryl disse alto, alternando o olhar entre a moto, eu e o detento

— Não quis aumentar o cilindro? – Axel perguntou uns segundos depois, pois foi pego de surpresa pela ameaça do meu namorado – Ela precisa de ajuste. Sou bom com uma chave inglesa.

Sua voz ficou abafada por causa do motor da moto que antes pertencia a Merle e assim que vi Daryl acelerar, escutei a voz de Axel falar alto, bem abafada “O cabeçote está vazando. Conheço minhas motos”.

Fechei o portão e esperei com que Glenn passasse o cadeado e me afastei com ele, em direção a prisão.

Tínhamos muitas coisas para fazer.

Antes de encontrar Daryl, Glenn e Rick para fazermos a próxima tarefa, fui até a minha cela e troquei de roupa, troquei para uma que me protegesse mais, mesmo que pouco. Apertei meus coldres em minhas pernas e ajeitei minha pistola e faca neles. Enquanto atravessava o campo, alternava meus movimentos entre brincar com minha garrafa de água e apressar meus passos, mas no fundo não estava com tanta pressa, pois ainda tínhamos que esperar por Glenn. Encontrei meu amigo e meu namorado bem em frente ao buraco na cerca que tínhamos feito semana passada, o qual usamos para invadir a prisão.

— Vão querer água? – Perguntei, assim que cheguei perto o suficiente deles

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Daryl estendeu a mão e assim que eu lhe entreguei a garrafa, ele a abriu e tomou bons goles da água.

— Ei, gente. – Escutei a voz de Glenn e quando me virei, o vi andando de um jeito engraçado e rápido em nossa direção – Estão esperando a muito tempo?

— Acabei de chegar. – Lhe contei, balançando a cabeça negativamente

Como resposta, Rick abriu o buraco na cerca e eu fui a primeira a passar, os instigando a ir mais rápido. Isso me lembrou de quando voltamos até Atlanta para procurar por Merle. Mais à frente, do outro lado do riozinho, havia uma caminhante andando lentamente, perdida.

— Devo matá-la? – Glenn perguntou à Rick, já tirando sua pistola do coldre e apontando para a caminhante solitária

— Não. – Rick negou e o esperou guardar a arma de volta no coldre para continuar a falar – Se já não limparam o arsenal, deveríamos poupar munição.

— Vou começar a fazer rondas. – Daryl nos avisou, ficando um pouco para trás enquanto caminhávamos – O quanto antes melhor.

— Vamos jogar toda madeira que der no canil. – Rick comentou com a gente

— Não vai atrair mais caminhantes? – Glenn perguntou – Que tal enterrá-los?

— Estamos atrás da cerca. – Rick lhe disse, como resposta – Vale o risco de se livrar dos corpos para sempre. Não quero cultivar nada num solo envenenado por caminhantes.

Depois de cortar um pouco de madeira e pegar o máximo que eu conseguia carregar, voltei até o buraco na cerca e com a ajuda de Daryl, passei sem deixar nenhuma madeira cair, mas logo que entrei de novo na prisão, as joguei no chão. Glenn e Rick, também com os braços cheios de lenha entraram e fizeram a mesma coisa que eu.

— Olhem ali. – Daryl nos disse, passando pelo buraco na cerca

Ele estava indicando algo além de nós. Me virei em direção a prisão e lá em cima, depois do campo, no pátio do bloco C estava Hershel, caminhando com a ajuda de suas novas muletas. Carl, Beth e Lori estavam a poucos passos de distância dele, o ajudando.

— É um filho da puta difícil de derrubar. – Glenn comentou orgulhoso, enquanto sorria

— VAI COM TUDO HERSHEL! – Berrei, colocando a mão do lado da minha boca no processo, como se aquilo fosse me ajudar a ampliar o som da minha voz

— Comemore em silêncio. – Daryl resmungou para mim, batendo em meu ombro – Ainda temos caminhantes por aqui.

Eu me calei, concordando. Haviam caminhantes do outro lado do riozinho.

— Vou comemorar de outro jeito. – Comentei com eles, enquanto limpava as mãos na calça jeans – Volto daqui a pouco.

Assim que escutei Rick concordando, sai correndo, quase derrapando nas curvas para chegar ao portão e assim que o atravessei, corri mais ainda pelo campo, animada. Era muito bom saber que Hershel estava melhorando com o tempo. Ao colocar meus pés no pátio e caminhar em direção ao velho, vi algo que fez com que meu corpo entrasse em alerta total.

Caminhantes no pátio.

Mais de cinco.

Vindo em nossa direção.

— Atrás de vocês! – Os avisei alto, em uma respiração só – Caminhantes!

Assim que escutaram meu aviso, a reação foi mútua, todos ficaram alertas. Meia nervosa, puxei a minha pistola do coldre e a destravei, logo dando o primeiro tiro, o qual foi seguido de outros. Enquanto atirava nos caminhantes e cobria as costas dos meus amigos, apressava meus passos até eles e assim que cheguei perto de Lori, vi que não iria adiantar.

Eram muitos e a cada minuto surgiam mais.

Maggie, a qual estava ofegante da corrida que tinha feito para chegar até Lori, Carl e eu, nos ajudou a atirar nos caminhantes que estavam cada vez chegando mais perto.

Merda.

— O portão está aberto. – T-Dog falou alto, em meio aos tiros

— Lori, por aqui! – Maggie gritou, dando vários passos para trás, em direção ao bloco de celas em que estávamos morando – Gabriela, rápido!

Cobri as costas de Lori e Carl durante o pequeno trajeto até o portão do bloco e corri em direção a eles, fazendo o meu melhor para mantê-los longe dos caminhantes, fechei o portão assim que passei. Deixei com que Maggie liderasse o caminho e fiquei por último, enquanto me certificava de fechar cada portão até o hall do bloco, mas assim que fui em direção as celas, parei subitamente, pois um grunhido conhecido chegou aos meus ouvidos.

Estavam aqui dentro também.