Um

Oito meses depois

Me agachei perto da janela da casa e dei uma espiada pelo vidro. Haviam dois caminhantes no meu campo de visão e por isso, sinalizei que tinham dois no hall para os meus amigos, porem poderia ter mais em outros cômodos. Rick bateu com seu pé na porta e já entrou atirando, pois era um dos únicos que possuía silenciadores, os quais achamos uns meses atrás. Entrei logo atrás dele, destravando a pistola e acertando um tiro certeiro na testa do segundo caminhante, já que eu também estava com um silenciador. Daryl, T-Dog e Carl vieram logo atrás de nós, para revistar os outros cômodos da casa. O plano era limpar a casa e saquear suprimentos, e se tudo desse certo, passaríamos a noite nela. Segui o meu caminho por um corredor escuro e estreito com a ajuda de uma lanterna de bolso. O lugar parecia mais com uma dispensa, havia prateleiras com alguns pertences. Com passos lentos e evitando fazer barulho, alcancei a porta do outro lado do corredor, que estava fechada. Assim que a abri, apontei minha pistola e a lanterna para a pessoa que estava atrás da porta. Daryl cerrou os olhos, reclamando sobre a luz enquanto apontava a sua besta em minha direção. Nós abaixamos nossas armas e sussurramos um para o outro, enquanto voltávamos para o hall da casa, para encontrarmos Rick, seu filho e o Dog.

Com um aceno de cabeça, Rick entendeu que o primeiro andar estava limpo e com isso, resolvi checar o segundo andar, com Daryl. Ele subiu as escadas antes de mim, com toda aquela pose de proteger o que era seu. Nós nos separamos assim que chegamos ao topo da escada, entrando em quartos diferentes.

O quarto que eu entrei era de um tom de rosa pastel, as paredes estavam sujas e a cama de solteiro estava quebrada. Em cima da cama, haviam peças de roupas amontoadas uma em cima da outra e rastros de roupas que levavam até a penteadeira. Caminhei por entre o quarto, evitando de pisar nas peças de roupas e abri a penteadeira, procurando por algo especifico. Por alguns segundos, me permiti a olhar no espelho. O longo cabelo ruivo estava preso de qualquer jeito por um coque apertado, minha regata, que um dia fora branca, estava na cor marrom. Minha calça camuflada e minhas botas eram partes de lembranças sobre a minha carreira. Tirei o olhar do espelho e me concentrei em vasculhar as gavetas, procurando camisinhas.

Agora, cada vez que dávamos ao luxo de acha-las, dividíamos com mais duas pessoas, Maggie e Glenn, os quais, também traficavam preservativos com a gente sempre que preciso.

— Nada? – Uma voz curiosa perguntou e soltou um riso quando me viu dar um pequeno pulo de susto – Sou eu.

— Eu sei. – Resmunguei, me virando para ver Daryl encostado no batente da porta do quarto, me olhando – E não, isso era um quarto de uma garota. – Dei uma olhada ao redor –Bem virgem, a propósito. – Prestei atenção nele e vi que ele estava depenando algum animal voador – Nem me conte o que é.

Depois de algumas semanas tendo que comer o que Daryl nos trazia, aprendi a não perguntar o animal que era, pois sabia que morreria de nojo e provavelmente de fome. Mas pelo que ouvi dizer, já comi muita coisa que eu não sabia que era possível.

Vantagens de se namorar com um caçador.

— Achei algumas, umas três no quarto ao lado. – Ele me contou, enquanto eu me aproximava dele – Está no meu bolso.

— Se está fazendo isso só para eu te tocar, saiba que agora não é hora. – Eu lhe disse, com um sorriso nos lábios e enfiei a mão no bolso indicado, encontrando apenas as camisinhas, para o bem dele – Vou dar uma para aqueles dois. – Lhe avisei, apenas pegando uma e logo a guardando no meu próprio bolso

Daryl liderou o caminho até a escada e nós dois descemos para o primeiro andar, onde encontramos Maggie e Glenn retirando os corpos dos caminhantes da casa. Com muita calma, tirei a camisinha do meu bolso e coloquei no bolso traseiro da calça de Maggie, recebendo um olhar de agradecimento durante o processo.

Depois do ocorrido na fazenda, Rick realmente está fazendo um papel bom como líder. Com os meses se passando, a barriga de Lori está em constante crescimento, Hershel nos disse que no máximo mês que vem, teríamos que nos preparar para o parto, pois ela chegaria ao nono mês de gestação. Carol adotou Daryl como um filho e isso vem sido irritante na maior parte do tempo, pois ela não saia de cima dele. T-Dog e eu viramos bons amigos e as vezes, quando achava coisas que ele não usava, me entregava. Hershel passou de veterinário para o médico oficial e está cuidando de nós o melhor que pode, com toda essa situação que estamos vivendo, pois éramos nômades. Daryl e eu não escondíamos mais nossa relação das pessoas do grupo e as vezes, brigávamos como cão e gato, mas não dávamos nem dois dias para voltarmos ao normal e estávamos a cada dia mais sérios, cogitando elevar o nosso relacionamento.

Ou pelo menos eu estava.

Após fechar as portas, montamos acampamento na sala. As pessoas se acomodaram o melhor que podiam no espaço e relaxaram, algo raro nos dias de hoje. O último a chegar na sala foi Carl, o qual se sentou no chão ao lado de Beth. Ele chamou nossa atenção quando tirou duas latas de comida e colocou-as no chão, pegou uma e com o abridor, começou a abri-la. Rick foi até o filho, pegou uma das latas do chão e leu o rótulo, antes de joga-la para o lado, para fora da sala.

Provavelmente era comida de cachorro.

T-Dog chamou nossa atenção e indicou a janela que estava escorado. Eu me levantei e peguei as minhas coisas do chão, assim como todos do cômodo, pois caminhantes estavam vindo e não queríamos entrar em combates desnecessários, estávamos famintos. Saímos pela direção oposta das que os caminhantes vinham e corremos até os carros, enquanto Daryl ligava a moto, ajudei Hershel e Maggie a guardarem as mochilas no porta malas do carro deles e o fui em direção da moto. Assim que me sentei, ele acelerou, liderando o pequeno comboio de carros.

Suspirei alto e abracei o caçador pela cintura, apoiando meu rosto em suas costas, enquanto fechava os olhos para tentar tirar um cochilo.

Tínhamos ficado tão perto de descansar.