Two Lives

Perdidamente


Louise ficou sem palavras por alguns segundos – que parecera uma eternidade, visto que ela acabara se perdendo naquela imensidão verde.

E, por incrível que pareça, o soldado pareceu momentaneamente sem falas. Demorou um bom tempo até que ele caísse em si e percebesse que duas garotas estavam fora da fila.

Ele pigarreou e engrossou levemente a voz, depois as repreendeu, em um tom autoritário:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— É melhor vocês voltarem para a fila agora, antes que algum soldado sem paciência as veja aqui! É a primeira e única vez que eu deixo vocês passarem, entendido? – terminou, lançando um olhar raivoso para Rachel (que ainda tossia levemente) e um olhar mais demorado para Louise (a mesma ficou levemente confusa, mas decidiu apenas ignorar).

Louise ainda esperou mais um pouco até que Rachel se recuperasse totalmente – o que, por sorte, não demorou muito – e então puxou-a pelo braço e saiu correndo para a fila de sua cabana, torcendo para que nenhum soldado se incomodasse com a correria de duas jovens-adultas pelo campo.

— Tá bom, Rachel... É bom que você tenha visto que uma coisa muito boa vai acontecer, porque nós quase fomos para a câmara de gás antes da hora! – Louise exclamou, um tanto ofegante. Odiava correr.

Rachel, por outro lado, ainda parecia estar em choque, e ficava encarando Louise como se ela acabasse de ter adquirido um novo par de olhos.

— Lou... Você não vai acreditar... Agora tudo faz sentido... – a garota simplesmente não falava coisa com coisa, o que começou irritar profundamente sua amiga.

— Olha, Rachel, é melhor você começar a falar logo! E, se possível, a andar também. Eu realmente não quero ser apanhada por um segundo soldado.

Rachel respirou fundo uma ou duas vezes, logo após começou a andar, sendo seguida de perto por Louise. A primeira pegou a mão de sua amiga, e ficou observando por um tempo, tendo o cuidado de olhar para a frente vez ou outra, desviando ocasionalmente de algumas pessoas.

— Lembra do seu sonho? Que fala que um amor proibido antecederá seus poderes e sua morte? E que um rapaz de olhos cor de esmeralda se apaixonará por você? Pois é. Basicamente, essa é a pauta de hoje.

...

Heinz não parava de pensar naquela judia.

Já faziam seis dias que ele a vira, e mesmo assim ele simplesmente não conseguia esquecê-la.

Os olhos dela eram escuros como a noite, assim como seus curtos cabelos – que era, provavelmente, resultado da política dos Campos. Cabelos longos eram estritamente proibidos. Mas ele não podia deixar de se questionar: será que antes ela possuía lindos cabelos longos?

Era difícil não pensar nela, afinal, que tipo de moça fica bonita até em farrapos? Aquilo era uma raridade.

Heinz não podia simplesmente deixar aquela história de lado. Precisava saber mais. Muito mais.

De noite, antes de dormir, se viu pensando em todas as coisas que queria saber sobre ela. Seu nome, de onde viera, se tinha pais ou parentes no Campo. Tinha amizades? Conseguia não ter pesadelos na hora de dormir?

Decidiu simplesmente encontra-la no dia seguinte e fazer todas essas perguntas pessoalmente.

...

Como sempre, Louise não acreditou no que Rachel disse.

Um soldado se apaixonando por ela? Rá! Seria mais fácil vacas tossirem ou porcos voarem.

O único problema era sua amiga falando o tempo todo sobre aquilo.

— Louise, está no sonho! Por favor, acredite em mim! – mais um dia de rotina. Levantar, ouvir os gritos de Olhos de Vidro e escutar Rachel praticamente implorando para que ela acreditasse em suas palavras.

— Rachel, como eu posso ter certeza? São apenas pesadelos. E, já que você tocou no assunto, onde raios está o guarda “perdidamente” – Louise ironizou bastante a palavra – apaixonado por mim? E, olha, sinceramente eu espero que nenhum rapaz resolva que eu sou uma boa pessoa para se namorar. Afinal, no pesadelo sempre tem a parte em que aquela mulher bizarra fala que um amor proibido antecederá minha morte. – concluiu, passando a mão em sua testa. Era um dia ensolarado, e ela já estava trabalhando desde muito cedo. Até onde sabia, estavam construindo mais uma cabana.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Mas também antecederá seus poderes! Louise, o que mais eu tenho que fazer para você perceber que eu estou falando–

Rachel estava a ponto de chorar quando foi interrompida por uma voz levemente conhecida.

— Ei, garota! A de cabelo escuro! De pé!

Louise olhou ao redor para ver se havia mais alguma garota de cabelos escuros por perto. Negativo. Ela era a única.

Ficou de pé, procurando a voz de quem a chamara. Ficou levemente perplexa ao perceber que era o mesmo guarda de dias atrás.

— Senhor? – perguntou, relutante. Estava com medo do que poderia acontecer. Um soldado chamando uma garota... Bem, digamos que nunca era para tomar um café com biscoitos, por exemplo.

— Me acompanhe. – o soldado simplesmente respondeu, virando-se e seguindo seu caminho, que, para a tristeza de Louise, era longe de todas as pessoas.

Só sentiu as lágrimas em suas bochechas quando uma delas caiu em sua boca, e ela sentiu o salgado gosto daquela pequena gota de água.

Provavelmente o último gosto que sentiria antes de ter sua pureza bruscamente arrancada dela.

Em um ato de desespero olhou para trás e viu o rosto e sua amiga. Estava longe dela, mas mesmo assim conseguiu perceber que ela também estava chorando.

Entristeceu-se ainda mais. Não queria que sua última memória de Rachel fosse ela chorando.

— Ok. Aqui está bom. – o soldado parou bruscamente, fazendo com que Louise trombasse nele. Ela quase caiu, se não fossem os rápidos reflexos dele que o possibilitaram de agarrar seu braço e impedir uma possível queda.

Ele a olhou preocupado quando percebeu que ela estava chorando.

— Por que você... – ele começou a frase, até que conseguiu adivinhar por si só os pensamentos da garota. – Não! Eu nunca faria isso! Eu só... – ele tossiu, engasgando com sua própria saliva. Parecia até com... Vergonha? – Só preciso saber seu nome. – Mais uma tosse. – É um processo novo que estão implantando nos Campos.

Àquela altura Louise já havia secado as lágrimas. E, ao perceber o nervosismo do soldado...

Teria Rachel razão?

— Meu nome é Louise. Posso saber o seu? – respondeu, fazendo uma pergunta logo em seguida. Estava um tanto quanto relutante.

— Heinz Knoke. É um... Enorme prazer! – ele respondeu. Acabou deixando um enorme sorriso escapar, chegava a ser um sorriso bobo. Um bobo apaixonado, pensou a garota, levando o pesadelo a sério pela primeira vez.

E naquele exato momento Louise sentiu uma coisa completamente estranha dentro de si. Era como levar um choque. Como se seu corpo inteiro estivesse se enchendo de uma energia nova. Ao seu redor, as coisas pareceram ficar um pouco mais lentas.

Ela fechou os olhos por um instante e se assustou com o que viu; um campo de margaridas.

Abriu os olhos novamente, respirou fundo e fez uma pergunta:

— Você por acaso está apaixonado por mim? – e em seus pensamentos desejou muito que ele fosse sincero e que não achasse a pergunta estranha. Tentou, de alguma forma, manipular sua mente.

E, por incrível que pareça, o pobre soldado com olhos cor de esmeralda respondeu:

— Perdidamente apaixonado.