A Fraqueza de um Feiticeiro

"Eu não quero fazer nada contra o Damian, E EU NÃO VOU FAZER!"
Minha mente reafirmou aquela certeza dentro de mim, ao que eu sabia que era muito bem capaz de controlar os meus poderes -para não cometer nenhum dos erros que eu não queria cometer!
Só que... independente ainda sim de toda aquela minha força de vontade, as batidas do coração dele logo começaram a mexer com a minha -já fragilizada- confiança, ressoando pela ponta dos meus dedos até ecoar por todo o meu corpo -ao que assim eu não pude deixar de me sentir um pouco abalado também. Compartilhando dessa forma da mesma adrenalina que igualmente estava afetando Damian, e me fazendo assim temer de qualquer maneira perder a noção das coisas e acabar machucando de verdade aquela pessoa eu não queria ter que machucar!

Sendo assim eu então tentei puxar minhas mãos de volta para mim, fazendo com que Damian em resposta me segurasse com ainda mais vontade -preso naquela posição! Reafirmando na minha mente que ele estava bem determinado a ir até o fim de algo que ele mesmo não parecia entender!
"Porcaria, ele não sabe o que está me pedindo! Ele não tem ideia de com o que está mexendo!"
Meus pensamentos então se intensificaram, me abalando por dentro muito mais do que a sua própria insistência! Forçando assim então que minha voz finalmente saísse bem alto de dentro de mim, ao que eu precisava enfrentá-lo de uma vez por todas -para o seu próprio bem! Eu não sabia o que ia acontecer se Damian continuasse a me pressionar mais e mais daquele jeito, mas eu sabia que não estava disposto à descobrir essa resposta também!

— "VOCÊ NÃO SABE O QUE ESTÁ ME PEDINDO!!"
— "SIM, DESSA VEZ EU SEI MUITO BEM! Admito que eu ERA completamente ignorante sobre isso quando nos conhecemos, mas já tem um tempo que eu fiz o meu dever de casa, e pesquisei tudo que pude sobre vocês Feiticeiros! Eu já sei exatamente do que vocês são capazes! E você, você é um Feiticeiro de água, não é!?"
— "... S-sim, eu sou-..."
— "Então eu sei que você capaz de matar qualquer coisa que queira com esse negócio que vocês chamam de 'feitiçaria'! E de quantas formas diferentes você quiser também, contanto que esteja perto o suficiente do seu alvo! Então, eu já solucionei parte do problema para você! Agora só precisa me matar, e tudo vai se resolver da forma que você tanto quer!"
— "ESSA NÃO É A FORMA QUE EU QUERO RESOLVER AS COISAS!!"
— "Se você quer aquele maldito vivo, então essa é a única forma que você terá de resolver as coisas!"

Falando aquilo Damian então sacudiu com força os meus braços e me pressionou ainda mais contra o seu peito! Reforçando sua veemência de me fazer usar os meus poderes para matá-lo, ao que eu por outro lado estava determinado a NÃO ceder à nenhuma daquelas suas palavras!
Sendo assim eu tentei sacudir a minha cabeça em recusa, mas forças me faltaram. Abaixando meu rosto para ao menos não encará-lo, enquanto meus dedos começavam a se fechar e se prender com vontade em sua camisa -dada a fraqueza que começou à tomar o meu corpo, diante do medo que eu tinha de usar meus poderes daquela forma!
"Porque afinal ele está fazendo tudo isso!? O que ele acha que vai conseguir com isso!?"
Eu me questionei finalmente em pânico, enquanto podia sentir a tensão fraquejar perigosamente o meu próprio autocontrole!

Damian não era o tipo de pessoa que entregaria sua vida assim tão facilmente, e isso me fazia ter a certeza de que ele não queria realmente ser morto ali por mim... Só que ainda sim, o que é que afinal ele queria de mim!? O que é que ele queria que eu fizesse ou dissesse, para então finalmente me deixar em paz?!
Sendo assim eu finalmente me senti alcançar o limite da minha paciência, e encarei ele com a imensa frustração que eu estava sentindo escapar pelo meu olhar! Temendo o suficiente pela sua vida, ao que eu consegui então sacudir com força as mãos dele para longe até ele finalmente me soltar -tudo, sem sequer arriscar usar por um segundo os meus poderes!

— "Eu não-..."
— "?"
— "EU NÃO VOU FAZER ISSO!! EU NÃO VOU USAR OS MEUS PODERES EM VOCÊ!!"
— "E porque não?! Até agora nada te impediu de me ameaçar com eles! Então, o que está te impedindo agora de ir até o fim?!"
— "Grr... Eu-!!"

As palavras tentaram sair de mim, mas eu não consegui admitir facilmente para Damian que eu não era capaz de fazer aquilo -mesmo que o medo estivesse tão óbvio em meu olhar! Relutando assim em assumir um fato, ou melhor, um pavor -por vezes tão comum para mim, mas não para os outros-, que me fazia faltar com a coragem necessária para ir até o fim de todas aquelas minhas falsas ameaças!
O que inevitavelmente fez então o meu olhar recuar por um segundo em constrangidamente -afinal, eu sabia que aquilo era uma fraqueza minha, e eu não gostava de ficar admitindo-a por aí para os outros-, e então, por uma segunda vez recuar em receio. Já que eu sabia também que não iria conseguir mais usar a ameaça dos meus poderes como uma forma de afastá-lo, caso falasse de uma vez por todas a verdade para ele!

Só que mesmo diante daquela minha reação, Damian sequer pareceu diminuir a firmeza de seu olhar sobre mim -me fazendo entender que eu não ia ter muito para onde fugir dessa vez. O que me obrigou então por fim à fechar minhas mãos em punhos, e tentar de qualquer forma passar por cima de tudo aquilo que estava tumultuando a minha mente! Lutando para que as palavras desengasgassem da minha garganta, e juntando assim toda a coragem que eu pude reunir de uma vez só para poder falar logo o que ele precisava tanto ouvir de mim -ao que no momento, perder minha única maneira de intimidá-lo parecia ser menos pior do que continuar a ser pressionado por ele e pelo seu insistente e cruel convite de "impedi-lo de uma vez por todas"!

Sendo assim, minha voz então -sem outra opção- finalmente começou a conseguir sair da minha boca. Tremendo -ao que ela quase parecia querer fugir do meu controle-, enquanto meus olhos evitavam encará-lo para que eu não me inibisse novamente pela sua presença e voltasse a ficar mais uma vez completamente mudo!

— "Eu... Eu não vou fazer isso, porque a feitiçaria não é uma arma... Você pode não conseguir entender, mas esses poderes fazem parte de mim, e eu não vou deixar que eles me transformem em algo que eu não quero ser! Eu não vou usá-los para matar pessoas, e eu não vou também te matar com eles!! Não importa o que você diga!"
— "Então você está dizendo que se eu tivesse em alguma daquelas outras vezes te desafiado um pouco mais, você iria ter acabado andando para trás?"
— "E-eu-..."
— "Humph. Quer saber, não precisa me responder."
— "..."
— "Eu já tinha de qualquer forma suspeitado que você não era capaz de fazer isso. Afinal, se você fosse, então já iria ter tentado me matar desde a primeira vez."
— "Então porque mesmo assim me mandou te mat-...!?"
— "Porque eu quis te deixar bem claro o quanto você é fraco por dentro, para sequer ser capaz de realmente conseguir entrar no meu caminho! Se bem que acho que acabei confirmando acidentalmente que você também é um grande idiota..."
— "Oq-!?... EU NÃO SOU FRACO, E NEM UM IDIOTA!!"
— "SIM, VOCÊ É!! Você tem consigo a capacidade de fazer tudo ocorrer da forma que quiser! Mas ainda sim, não usa metade dela por culpa de um falso medo baseado em uma filosofia imbecil de pacifismo!"
— "I-ISSO NÃO É UMA QUESTÃO DE PACIFISMO!! ISSO É QUESTÃO DE EU NÃO QUERER LIDAR COM ALGO QUE POSSO PERDER O CONTROLE!"
— "VOCÊ TAMBÉM PODE PERDER O CONTROLE COM UMA ARMA, MAS AINDA SIM NÃO DEIXA DE EMPUNHÁ-LA!"
— "Ugh, usar uma arma é bem diferente de usar a Feitiçaria! Você pode errar com uma arma e apenas se livrar dela! Mas você não pode errar com seus poderes e jogá-los fora também -ou sequer pensar que nunca mais vai usá-los, porque eles estarão sempre presentes dentro de você!! Se eu matar alguém, vou então acabar carregando comigo até o fim a noção de que sei do que sou capaz! E eu não quero ter que viver o resto a minha vida com medo do que eu sou, ou do que posso fazer às pessoas ao meu redor por conta de um simples descuido!"

Eu falei tudo aquilo com um sincero pesar em meu olhar, deixando então que até minhas últimas palavras, minha voz escapasse de dentro de mim de um modo bem alterado. Fechando logo em seguida firmemente minhas mãos -na tentativa de aturar a mera ideia que minhas palavras trouxeram para a minha mente-, e deixando assim então que minha cabeça por fim pendesse um pouco na direção do chão... em completo desânimo.

Bem no fundo eu já havia perdido qualquer expectativa de que Damian pudesse entender direito as coisas que eram capazes de me atormentar tanto -afinal, ele era um Skrea e eu não podia exigir muito dele também-, só que mesmo assim eu ainda guardava dentro de mim a esperança de que ao menos ele fosse ser capaz de mudar de ideia e respeitar um pouco mais o meu desejo de não precisar carregar comigo aquele fardo, parando de me enfrentar tanto sobre aquele assunto.

O que porém sequer chegou perto de acontecer, já que mesmo diante da minha postura, ele simplesmente -de sua própria forma bruta e direta- estendeu uma de suas mãos e levantou a minha cabeça até nossos olhos mais uma vez se encontrarem. Me encarando com a intensidade de seu olhar completamente inabalado, e pronto para assim, disparar ainda mais questionamentos que... eu por outro lado não queria mais ter que ficar rebatendo de volta para ele por conta de estar me sentindo já bem desgastado.

— "Isso só soou para mim como a desculpa de uma pessoa fraca. Se a sua vida correr algum risco de verdade, mesmo assim, você vai continuar pensando dessa maneira!?"
— "... Eu não vou mudar de ideia sobre os meus poderes."
— "Então você vai acabar sendo morto, igual à esses vermes de beco que minha raça extermina todos os dias como se não fossem nada! E eu não vou levantar um dedo para te ajudar também quando esse dia chegar, porque não vale à pena tentar salvar alguém que se recusa a lutar para proteger a própria vida!"
— "Que seja então... PORQUE EU NÃO ME LEMBRO DE QUALQUER FORMA DE TER DITO QUE PRECISAVA DA SUA AJUDA!"

Gritando aquilo para Damian com uma imensa frustração, eu então afastei sua mão para longe do meu rosto! Avançando em sua direção, e empurrando em seu corpo com vontade para o lado só para poder passar por ele sem dizer mais nada que não fosse necessário! Seguindo assim para a saída daquele beco sem sequer olhar para trás, ao que eu não ia mais continuar esticando aquela conversa completamente inútil -para ambos!
"Ele já ouviu o que queria ouvir, então eu não vou mais perder o meu tempo aqui! Eu quero distância dele!!"
Aquele pensamento alimentou ainda mais a minha fúria explosiva, fazendo assim então com que eu seguisse adiante em passos bem firmes pesados, até por fim tomar uma última coragem e me virar novamente para Damian -com um olhar extremamente irritado!

— "E SINCERAMENTE, NÃO ESTOU NEM AÍ SE VOCÊ ME ACHA UM IDIOTA! PORQUE PARA MIM, VOCÊ TAMBÉM NÃO DEIXA DE SER UM!!"

Nisso eu então gritei aquilo -sem considerar muito o que eu mesmo estava dizendo-, ao que então eu pude ao longe ver Damian travar seus próprios movimentos de forma incômoda. Parecendo se deixar atingir pela minha provocação, mas ainda sim se mantendo imóvel ali aonde eu o abandonara... até o instante em que eu então dei novamente minhas costas a ele, e saí por completo de sua própria vista!

Para falar a verdade eu não queria que ele me seguisse, eu não queria que ele viesse atrás de mim e tentasse esticar ainda mais aquela discussão... O que me fez ressentir ter tentado provocá-lo, acelerando assim um pouco mais os meus passos ao que eu suspeitei que por conta do que eu disse que ele claramente iria vir atrás de mim tomar alguma satisfação -mesmo que tardiamente!
Andando então cada vez mais rápido, até finalmente me dar conta -de forma atrasada- do indicativo silêncio que me acompanhou desde lá atrás... o indicativo silêncio de que eu estava andando sozinho esse tempo inteiro por dentro dessas ruas, e que me fez então finalmente parar e aceitar que Damian -estranhamente- não iria mais surgir do nada para me obrigar a ouvi-lo até o fim -como ele sempre costumava fazer.

O que me fez então apoiar uma das minhas mãos na parede ao meu lado, suspirando finalmente em certo arrependimento ao que meus sentimentos finalmente conseguiram ter um momento para se esclarecerem com mais calma dentro de mim.
"Porque eu acabei admitindo aquelas coisas para ele?... O que eu estava pensando? É claro que um Skrea não iria saber entender o meu medo, mesmo eu dando todas as razões do mundo para tentar explicá-lo a ele!"
Aquelas palavras então pesaram mais e mais dentro de mim, ao que eu estava lutando silenciosamente contra um insaciável e irrequieto desejo de querer que ele tivesse sido capaz me entender -de alguma forma!
Só que era surreal eu desejar aquilo... Era surreal eu me importar com aquilo! Damian era um Skrea, e eu não tinha que ficar me importando com o que ele pensava ou deixava de pensar a meu respeito! Para ele, eu sempre iria ser aquele "Humano desprezível", aquela "Odalisca desagradável", e isso não iria nunca ter como mudar entre nós dois -porque aquilo era o que eu era, e aquele era o jeito que ele tinha de ser também!

O que me fez então abaixar a minha cabeça em certo desapontamento -por conta de como não dava para esperar algo muito diferente daquela realidade. Olhando assim mais de uma vez então para o caminho de onde vim, só para ter a certeza de que ele ficou realmente para trás. Cogitando que provavelmente Damian decidira retomar a sua incansável caça ao Gale, já que era assim que ele realmente era -dedicado e focado, mas apenas quanto aos seus próprios interesses.

"Se bem que pelo tempo que ficamos ali parados, ele provavelmente não vai nem mais ter como encontrá-lo também. A esse ponto, Gale com certeza já sumiu novamente pela cidade sem deixar rastros."
Eu então me consolei de uma certa forma irônica, pensando que independente do rumo desagradável que nossa discussão tomou, ao menos alguma coisa boa eu ainda sim consegui com isso. Uma certeza que tentou falsamente levantar os meus ânimos, mas que sequer serviu na realidade para conseguir mascarar o peso que eu estava sentindo dentro do meu peito -e que agora estava me afastando tanto de reconquistar o inabalado foco que consegui ter hoje mais cedo, quanto à minha importante e solitária missão.

— "Haah..."

Minha voz então saiu em protesto. Sabendo que eu não estava mais com vontade de andar pelas Ruas Obscuras por enquanto -ou ao menos, não enquanto eu pudesse sentir que todos os meus -mais problemáticos- conhecidos estivessem também passeando ainda ali por dentro!
O que me fez assim ajustar novamente o meu passo, e me dirigir sem qualquer nova pretensão para fora daqueles Distritos... de uma vez por todas!

"Eu já sei agora por onde os Fornecedores estão andando, então só preciso dar um tempo longe daqui (para que todos os meus "problemas" sumam dessa região), antes de voltar então com as minhas buscas..."
Uma decisão que -antes que eu pudesse sequer notar-, me levou até a direção dos grandes e imponentes muros que cortavam os setores da Citadela. Passando assim por baixo deles e adentrando por fim na Cidade Baixa, ao que pela primeira vez aquele parecia ser o melhor lugar para eu tentar procurar por um refugio decente -longe de Gale, Damian e de quaisquer outros tipos de "problema"!