Black Desert

Os Limites de um Feiticeiro


Em meio à minha própria confusão, eu finalmente comecei a notar o quanto aquela posição em que eu estava preso não me deixava pensar direito. Eu precisava me soltar! Mas minha força sozinha não ia conseguir se equiparar à dele se eu quisesse brigar pela minha liberdade -mesmo que ele não estivesse decidido à me matar ou me machucar.
"Porém, ainda sim..."
Indiferente à minha situação, eu ainda estava sentindo um grande receio por estar sendo submisso demais, já que a única coisa que me comprovava estar vivo ainda era o fato de que ele queria esse cordão de volta, e só eu sabia aonde encontrá-lo.
"Quando eu o devolver, o que será que ele vai fazer comigo?"
Sentindo um receio se instalando em mim, -como um reflexo- inconscientemente então uma das minhas mãos calmamente se levantou sem aviso, apoiando-se no braço dele -que estava me segurando com a mesma firmeza de sempre. Mesmo que eu estivesse agindo automaticamente, ainda sim meus gestos se contiveram naquilo, deixando qualquer previsível exaltação ou nova tentativa de combatê-lo apenas para a sua própria imaginação (isso é, se ele tiver uma).

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Diante daquele meu gesto nem um pouco óbvio ou ameaçador, o Skrea então também parou no mesmo lugar, esquecendo das armas na sua cintura e afastando um pouco sua cabeça em dúvida ao que encarava aquela minha mão sobre seu braço, logo então procurando nos meus olhos qualquer mínimo indício das minhas confusas intenções. Coisa que ele não conseguiu, já que nem mesmo eu estava me dando conta do que eu pretendia fazer ali.
Porém aos poucos -ao que minha reação instintiva se tornava mais e mais clara para mim-, eu então finalmente comecei à encará-lo, tentando conter qualquer expressão que pudesse me entregar enquanto eu começava à me concentrar ao máximo para fazer aquilo que no fundo eu não queria fazer, mas que sabia que precisava.

Com a minha calma inexpressiva aquele Skrea continuou totalmente desalarmado, apenas me observando -com uma certa curiosidade bem inesperada- ao que eu podia notar sua respiração diminuindo, e suas pupilas dilatando em um sinal descuidado de relaxamento que nem ele mesmo parecia estar se dando conta.
Mas esse tipo de reação eu já podia saber que iria acontecer, justamente porque os Skreas no fundo sempre cometem o mesmo crime -o de serem extremamente influenciáveis pelo que nós humanos estamos sentindo, assim como pelas nossas reações (sejam elas exaltação ou calma).
Só que nesse caso a culpa dessa vez não é diretamente da influência dos meus sentimentos sobre ele, e sim do jeito que ele foi treinado para responder às minhas reações (muito provavelmente).

Por terem se tornado fisicamente melhores do que quase tudo que poderia representar alguma ameaça à eles, -de acordo com Ebraín- os Skreas então com o tempo acabaram facilmente criando esse hábito de subestimarem tudo ao seu redor (porque nada mais consegue representar um obstáculo para eles por muito tempo).
Graças à isso é que eles agora têm esse terrível ego de acreditar que suas presenças intimidadoras são o suficiente para controlar tudo e todos. E é graças à isso que, quando eles também não recebem a reação certa em troca, acabam ficando totalmente desprevenidos.
"Afinal, é pela falta de inimigos mais poderosos que eles acabaram relaxando demais no jeito que lidam conosco."
E o pior é que cada vez mais eles estão sendo incentivados à realmente nos subestimarem, já que aqui dentro esse jeito deles realmente funciona quando o assunto é nos manter no controle. Fazendo com que o convívio "tranquilo" entre nossas raças seja quase sempre graças à essa mentalidade que eles desenvolveram com o tempo!
Por culpa disso eu acredito que os Skreas de hoje em dia se tornaram muito enferrujados contra o conhecido dom humano de enganar e manipular as oportunidades -ao nosso favor-, dando assim muito mais chances para pessoas como eu ou Gale agirmos se quiser, sem que eles sequer percebam que precisam estar preparados para nos impedir.
"E você com certeza também vai se arrepender por estar me subestimando dessa maneira, Skrea..."

De repente, mudando totalmente aquele clima inócuo entre nós dois -como se algo estivesse muito errado-, o olhar dele apenas saltou na direção do seu braço que estava firmemente me prendendo, e como em uma surpresa que nem mesmo ele conseguia compreender, suas pupilas então lentamente começaram à se contrair ao que a força em sua mãos sobre mim começava à diminuir pouco à pouco! Tudo completamente fora de seu controle!
"Sinceramente, eu não gosto de recorrer a isso porque eu não consigo garantir que vai dar certo... Mas dessa vez não estou me sentindo com muitas outras opções em mãos!"
Diante da minha forçada calma e do meu concentrado olhar sobre seu braço, de relance eu consegui então notar seus ombros e seus músculos contraindo, ao que parecia que ele internamente lutava para continuar com sua mão aonde estava!
E como se fosse só uma questão de tempo realmente, finalmente em um pulo ele desistiu de continuar me prendendo ali, me soltando no mesmo instante que relutantemente recuara sem mostrar qualquer sinal de revide (ou de que ele sabia que eu podia ter realmente sido o responsável por aquilo)!
A única coisa que ele estava conseguindo demonstrar na verdade era o fato de que ele estava assustado, me encarando indignado enquanto segurava atônito aquele seu braço aparentemente irresponsivo agora.

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Em resposta, sem me mover ainda eu continuei à encará-lo, tentando não deixar aquela pesada respiração de medo que eu queria pôr pra fora sair, ou tentando não deixar que meu corpo começasse à tremer da forma que eu sentia que ele tanto queria fazer!
Eu não estava daquela maneira -sentindo extrema tensão- por por culpa daquele Skrea. Meu medo na verdade era por algo bem diferente, e que me assombrava muito mais constantemente do que qualquer Skrea jamais seria capaz de fazer (creio eu)!
De fato eu havia acabado de usar nele a minha dominação de água, cortando a circulação de sangue do seu braço momentaneamente para que ficasse dormente e ele não conseguisse mais me segurar.
Mas para mim, fazer aquilo era algo muito além do meu controle, e muito além de toda a minha confiança existente no meu dom!
Não me entenda errado, eu sei muito bem que posso fazer uma coisa dessas se eu me concentrar o suficiente, então não é esse o meu problema.
"O meu problema não se trata do limite da minha capacidade... mas sim do limite da minha própria coragem."

Quase todos os feiticeiros de água que já conseguiram sentir por dentro do corpo de um ser vivo, sabem como o sistema de um organismo pode ser absurdamente complexo para poder se lidar com confiança. E usar os nossos poderes para interferir tão diretamente em um organismo desses com intenções tão negativas ou intensas (diferente de quando pretendemos apenas curar alguém), se feito de um modo minimamente errado, pode acabar causando problemas irreversíveis ou até mesmo matando alguém caso cometamos qualquer mínimo deslize! Tudo isso porque nossos poderes são inteiramente guiados pelas nossas intenções e comedidos apenas pela nossa racionalidade. Coisa que sempre desaparece quando estamos nos deixando levar demais pelos nossos próprios sentimentos, sejam eles quais forem (tanto os muito ruins, quanto os muito bons).
"Ele pode ser um Skrea, mas eu ainda sim não sou um assassino. Não tenho como encarar isso tudo com frieza, quando sei que posso facilmente matar uma pessoa."
Sem falar que o risco de usarmos nossos poderes de forma tão descuidadamente nociva, só iria é permitir às pessoas entenderem o quanto um feiticeiro na realidade pode ser perigoso, nos colocando em uma evidência da qual sempre procuramos fugir.
Isso tudo me reforça ainda mais o desejo de jamais usar meus poderes para sequer machucar alguém, mesmo que no fundo eu confie nas minhas intensões de jamais querer passar dos limites.
Não importa o quanto você deseje, é sempre muito fácil errar e acabar fazendo algo irreversível. E eu cada vez mais sinto isso, sempre que uso meus poderes de uma forma maior do que estou acostumado a usar.
"No fundo ninguém deseja ser enxergado com medo pelos outros... Ou enxergado como um mal que precisa ser exterminado."
E mesmo que eu viva em um mundo perigoso aonde meus poderes podem sim fazer a diferença entre a vida e a morte, se for para eu ter que lutar pela minha vida, quero que continue sendo só com meu bastão... Porque realmente me assusta precisar cruzar essa linha de consequências muito pesadas.

Finalmente usando então aqueles minutos de liberdade que eu havia me conseguido para forçadamente tentar relaxar por dentro, lentamente eu procurei dominar todas as pequenas reações que meu corpo estava tão disposto à por pra fora, decidido que dessa vez -para a minha segurança- EU é que iria ter que dominar toda essa situação! Começando por dominar o que eu estava transmitindo para aquele Skrea, apenas para que ele não reconquistasse a impressão de que podia mais uma vez investir contra mim.
Mas antes que eu pudesse até mesmo me perguntar o que eu faria à seguir, a voz dele desavisadamente me cortou.

— "O que-!? O que você fez com o meu braço, seu...!?"
— "..."

Eu continuei encarando-o em silêncio, sem deixar que ele sequer conseguisse reverter novamente seu domínio sobre mim.
Mas para a minha surpresa, ele continuou à falar, dando cada vez mais espaço para uma confusão em sua voz que começara à substituir seu sempre irreverente tom de raiva.

— "...O-o que é você afinal!?"

Ignorando em silêncio também aquela pergunta, eu desci meus olhos um pouco, finalmente começando à me tocar da boa distância que o Skrea havia criado entre nós dois graças àquela sua recuada! Aquilo me permitiu então ajeitar em segurança a minha postura ao que eu consegui engolir todo o resto da minha tensão com sucesso, satisfeito com a prova de que quem dessa vez estava acuado para variar era finalmente ele, e não eu!
Foi então que eu voltei à me recordar que ele havia me feito uma pergunta. Eu sabia que uma resposta não iria diminuir seu cauteloso receio, contanto que eu o desse a resposta certa! E assim, com toda calma eu o respondi -quase que com um orgulho por poder admitir o que eu era!

— "Eu sou um feiticeiro d'água."

Eu falei, sem esperar para ver sua reação porém, torcendo para que aquilo fosse ser razão suficiente para ele querer continuar à se afastar de mim -pelo tempo que desse.
Ao que eu procurava não desperdiçar mais meus segundos então, eu comecei à discretamente tentar tatear a parede -sem alertá-lo- para buscar saber exatamente o que tinha ao meu redor -além de um Skrea que acuadamente tentava não tirar seus olhos de mim, mas que distraidamente continuava preso em seus próprios pensamentos ainda segurando atônito sua mão dormente.
Porém à cada movimento mais pronunciado que meu corpo fazia, seu corpo igualmente tentava me replicar, quebrando temporariamente seu transe e se inclinando na minha direção como se não soubesse ainda se arriscava ou não vir para cima de mim mais uma vez.
E com isso eu tive mais e mais certeza de que aquele tempo de trégua que eu consegui só estava era mesmo dependendo do meu próximo movimento para acabar!

Na realidade eu sei que estou esticando algo que não precisaria ser esticado... Eu sei que até onde se possa confirmar, ele está apenas atrás desse tal cordão, e eu poderia acabar logo com isso entregando-o à ele e indo embora... Mas, sinceramente eu não estou interessado em subestimá-lo da mesma forma que ele fez comigo. Esse Skrea não é um cara simples, e não me convenço de que ele pretende que essa situação também seja tão simples assim!
Nada me prova que no instante que eu entregar esse cordão, ele não vá me atacar. E até onde eu sei esse cordão na verdade é a única coisa que está poupando a minha vida (ao menos enquanto ele não perceber aonde o cordão está escondido)... Isso é, enquanto sua paciência também durar, já que com ele é sempre uma questão de "esperar a tempestade atingir".
Eu não quero segurar esse cordão comigo, mas o melhor é eu só devolver isso à ele quando eu não estiver mais tão desprotegido.
"... Se eu tiver ao menos um segundo de vantagem, acho que posso correr até a porta e fugir desse quarto. Ele não deve tentar me seguir se eu conseguir sair daqui de dentro...!"

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