Black Desert

Fuga pelo Labirinto


Gale, Tessa e eu sem perder tempo algum seguimos com passos rápidos para fora daquele quarto, descendo as escadas e tomando a saída lateral da casa sem trocarmos nenhum tipo de palavra ao que aquele clima de preocupação que se fez simplesmente já falava por si. Quando finalmente pisamos no pátio -antes mesmo que eu pudesse parar para olhar os arredores-, alguns homens da gangue automaticamente vieram até nós como se estivessem apenas nos esperando para poder então fugirem dali. Eles pareciam estar todos tensos por ainda permanecerem naquela área, diferente de muitos outros que já haviam sumido pelas várias entradas dos outros becos no primeiro alerta de perigo que Tessa provavelmente deu. Os poucos que estavam ali com a gente ficavam -sem disfarçar- se entreolhando, enquanto começavam a engatar suas armas prontos para atirar a qualquer instante e em qualquer coisa que resolvesse surgir das sombras dos prédios que nos cercavam. Eu nunca havia enfrentado um Skrea pessoalmente, mas eu sabia que definitivamente armas de fogo não eram a melhor solução contra eles já que eles conseguiam ter um movimento e percepção aguçados demais para se tornarem um alvo fácil sobre qualquer mira de arma. Não que não desse para matá-los com qualquer arma -pelo contrário-, mas apenas... boa sorte tentando acertá-los de longe, porque eles desviam.
No fundo eu sabia que segurar uma arma contra eles era apenas uma forma de atrasá-los e mante-los à uma distância segura enquanto tentávamos correr, e não uma forma de realmente abatê-los.

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Também sabendo disso, Gale assim que se aproximou melhor de seus homens, parou por um instante colocando sua mão em um dos pequenos compartimentos de couro na sua cintura, tirando um par de luvas de couro de dentro deles e colocando-as no mesmo instante. Ele sempre precisava fazer aquilo quando sentia que iria ser obrigado a agir, mas a razão por trás dessas luvas era algo que só se dava para entender depois de se envolver em muitas confusões ao lado dele (ele só as coloca quando algum grande problema cruza o seu caminho)... Finalmente então ele pegou seu revolver que ficava escondido por baixo de seu casado, armando-o também com uma expressão pouco amigável, e finalmente dando o sinal de que estava pronto.
"Ter colocado as luvas... Quer dizer que ele não pode prometer que não haverá confrontos."
Finalmente Gale então olhou para mim, me indicando que eu também me preparasse como pudesse. Aquilo me confirmou ainda mais o leve receio que começou a crescer dentro de mim: O receio sobre a verdadeira seriedade daquele momento.
Normalmente os Skreas não eram perigosos -mesmo se estivessem perseguindo algum alvo-, porque afinal eles não matam ou atacam ninguém sem um motivo muito bom. Mas eu não sabia o que Gale havia feito exatamente contra eles, e quais razões estavam motivando os Skreas à virem até aqui assim, para ainda tentar me convencer de que estava tudo bem. Eu só sabia que todos estavam achando melhor fugir e se dispersar, e por isso eu então iria fazer exatamente o mesmo.

Obedecendo mais meus instintos do que o próprio Gale, eu desprendi novamente o fecho da correia de couro do meu bastão e o peguei com força com minha mão direita. Contra um Skrea tudo podia valer (afinal eles eram tão mortais quanto qualquer humano), mas nada valia mais do que algo para se defender em uma luta corpo a corpo! E por isso eu não estava menos armado do que todos os outros, mesmo que com apenas aquele bastão. Assim que eu o fiz, Gale começou a se mover na direção de uma das entradas de beco, sendo seguido por mim, pela maioria de seus homens que restara ali e por Tessa.
Todos começamos a andar rápido ao que alarmantemente tiros começaram a ser ouvidos à distância, vindo do sentido oposto ao que estávamos seguindo.
Dentro da Citadela, por alguma razão, os sons -mesmo os mais altos- não se propagavam tão longe assim, e muitos diziam que era esse um efeito causado pelo misterioso material negro dos Skreas: Que não ecoava, não vibrava, não reverberava, e que estava presente em todas as paredes ao nosso redor. Graças a isso, qualquer barulho de disparo de tiro para chegar até os ouvidos dos Skreas em suas perfeitas e imponentes bases, precisariam acontecer muito perto delas. Era por isso que Gale -que havia antes se preocupado tanto com o som de tiros nas avenidas- agora não parecia mais se importar tanto também.
Ele realmente não iria atrair nenhuma atenção indesejada agora, mesmo que descarregasse um pente inteiro do seu revolver. Ainda mais que nenhuma patrulha de Skreas se importa de adentrar tanto assim na cidade durante as rondas, nos colocando em uma posição muito segura para quebrar as regras sem atrair mais confusão ainda.

Esses barulhos todos na verdade nos serviam até mesmo como um sinalizador, já que saber que estávamos ouvindo o som de disparos era um sinal de quão perto os Skreas realmente estavam de nós, e quão rápido teríamos que apertar o passo para eles não nos encontrarem.
"Não acredito que vou gastar o resto da noite despistando Skreas...!"
Por duas curvas no meio do labirinto de prédios todos nós continuamos a andar juntos em grupo sobre aquele abafado som de vários passos ao mesmo tempo na areia seca e o distante som de tiros que mal podíamos identificar de onde vinham... mas assim que entramos em um estreito beco com 3 passagens para diferentes lados, todos pararam e se entreolharam quase como se aquilo tivesse sido pré-combinado.

— "Ok Tessa, siga aquele caminho que eu te instruí antes, e vocês 3 vão com ela. Vocês outros 5 vão pela passagem oeste, Yura e vocês 2 vem comigo. Vamos!"

Todos balançaram suas cabeças em sincronia, tomando cada um o caminho que Gale havia ordenado sem perder tempo algum com perguntas ou sugestões. Era quase como se todos já soubessem o que fazer no instante em que nos separássemos no meio daquele enorme labirinto de prédios.
Eu não podia estar me sentindo mais seguro de ter continuado ao lado de Gale naquela fuga, mesmo sem saber se a meta dos Skreas era ir atrás do próprio Gale ou não... Eu confiava mais no desejo dele de sobreviver do que no dos outros, e também confiava em seu conhecimento mais do que necessário de todas as ruas, becos e passagens. Estar fugindo com ele era a minha garantia de que eu ia ficar bem, e saber que eu era importante demais pra ele por muitas razões -para acabar ser considerado dispensável-, era na verdade uma das maiores razões pela qual eu decidi desde o começo procurar ele logo, mesmo sabendo no fundo que tinha um risco de algo assim acabar acontecendo.
Não era a primeira vez que eu me metia em confusão por ter procurado Gale para discutir sobre algo, só talvez essa seja a primeira vez em que são Skreas -e não outros humanos-, na nossa cola.

— "Ainda vai tentar me convencer de que não fez nada para irritá-los?"
— "Bem, eu jamais disse que não os irritei...! Você só não havia me feito a pergunta certa!"

Eu e Gale trocamos essas frases enquanto andávamos cada e cada vez mais rápido. Seus homens -tentando proteger nossa retaguarda-, andavam um pouco mais para trás, mas mantendo o mesmo ritmo que nós dois...! Era impressionante como mesmo até sob risco de vida essas pessoas continuavam a se dedicar por ele com tanta coragem... Eu realmente nunca pude criticar essa capacidade natural de liderança que Gale tinha dentro dele, e que inspirava tanta gente a agir assim cegamente.
De repente um disparo muito alto ressoou ao nosso redor, e não só eu, como Gale e os outros, todos paramos, olhando para trás apenas para ter a certeza do que já parecia ter sido aquilo. O tiro foi disparado do mesmo beco em que estávamos. Um dos homens de Gale segurava sua arma mirando para o fim do corredor, tremendo, porém com os pés firmes no chão.
Da ponta do corredor então surgiram aquelas duas formas escuras e humanas... lentamente tomando forma nas sombras. Eles seguravam em suas mãos tipos diferentes de espadas que pareciam estar sujas com algo bem distinto aos meus sentidos.
"... Sangue?"
Meus olhos podiam duvidar, mas meus sentidos apenas admitiam para mim mesmo que era exatamente isso... E então minha mente começou a não querer acreditar também nisso, ao que não fazia sentido algum dentro da minha cabeça...
Skreas não eram do tipo de raça que matava por capricho! E nem por vingança! Eles eram racionais demais para isso. Mas de alguma forma, tudo que eu pude sentir exalando deles naquele instante era que eles iam fazer de tudo para nos pegar assim como também pegaram as pessoas antes de nós... SE nos pegassem.
Eu pude sentir um instante de medo me alcançando e fazendo minhas pernas balançarem... Quando foi a última vez que eu estive na mira de um Skrea -ou de qualquer outra pessoa- daquele jeito? Nem lembro se já havia passado por isso antes, mesmo durante a última guerra aonde eles tinham motivos para matar, e ainda assim não o faziam cegamente! Não vou mentir que naquele instante acabei pensando e desejando que Tessa e os outros -que se separaram de nós- estivessem em uma situação muito mais segura do que a gente, mas eu logo esqueci deles, sentindo que tudo que eu tinha que fazer agora era na verdade-...

— "Corre!"

Eu ouvi a voz de Gale do meu lado gritando como um estalo que cortava o meu transe! Eu pude apenas sentir ele agarrando meu braço, me puxando pelo pulso e começando a correr sem nem mesmo tentar olhar para trás, para os outros dois homens que estavam com a gente! Eu pude inicialmente sentir os homens correndo também junto de nós dois, mas ao que vários sons de tiro e vozes incompreensíveis podiam ser ouvidos vindo de trás de nós, menos e menos eu ouvia os passos deles junto dos nossos, até que na 4º curva pela qual Gale me puxou com força eu deixei de ouvir totalmente os passos deles.
Gale novamente fez outra curva ao que os sons de tiro se distanciavam, e continuou fazendo mais e mais curvas por dentro dos becos escuros e estreitos sem uma única pausa! Ele estava evitando ao máximo continuar em linhas retas, ou parar para pensar em qualquer coisa, porque não tinha como fugir de um Skrea apenas tentando ser mais rápido do que eles.
Para escapar dos Skreas -que fisicamente são mais capazes do que nós-, só mesmo tentando despistá-los através do único sentido que eles tinham e que não superava o nosso de forma injusta: A visão. Claro que a vista deles podia ser ótima, mas não era sobrenatural, e isso somado com a esperteza de arquitetar sua cidade sem o menor planejamento criando no fim um enorme labirinto negro de prédios e becos, era no momento a nossa maior e única vantagem para escapar deles.

— "Você realmente conseguiu irritar eles, não é?! Isso fazia parte do seu plano?!"
— "Não! Isso fez parte do meu erro mesmo! Se meu plano tivesse dado certo eles não estariam aqui agora!"
— "Você podia então ter me interrompido antes e avisado que essa era a pior hora para eu querer ter uma longa conversa com você!"
— "Eu achei que ia dar tempo de matar as saudades! Estávamos rotacionando os membros para despistá-los daquela base desde que anoiteceu, e estava funcionando até agora!"
— "...E você ainda estava dizendo que eu não precisava me preocupar...!!"
— "Não precisaria se não tivesse tentado se envolver como eu disse para não fazer! Eles estão atrás de qualquer um da gangue, não importa quem!"
— "Como você diz que eu não preciso me preocupar?!"
— "Porque é só uma retaliação contra a minha gangue! Eles querem se vingar de mim, nada mais do que isso! Você acha que se fosse mais do que isso ainda iriam ser só 2 atrás de nós!?"
— "Você ainda quer me convencer que é apenas uma "vingança" pessoal, mas Skreas não agem assim! Você pode estar convencido da motivação deles, mas para mim isso é novo demais! Até onde sei somos nós que agimos pelos sentimentos, não eles!"
— "Sério? Então deveria andar mais vezes comigo! Eles sempre ficam assim depois que cruzam meu caminho!"
— "Tsc!... E isso ainda não te ensinou nada não?!"
— "Sim, me ensinou que eu não tenho jeito mesmo!"

Diante do abafado sorriso que Gale tentou jogar para mim, e vendo que não havia realmente outra resposta melhor do que a que ele estava me dando, eu então me calei deixando minhas energias para serem gastas apenas com aquela corrida interminável, e não mais com a nossa conversa.
Finalmente sentindo que tomamos alguma distância segura dos Skreas -mas também sem ver mais sombra dos homens que estavam com a gente-, Gale parou subitamente também me forçando a parar, e enfim soltando meu pulso.
Ignorando todo esse tempo que gastamos tentando escapar com alguma vantagem e se virando para a direção de onde viemos, ele apenas andou com calma um pouco para frente ao que começava a recuperar seu fôlego, sem me dar a menor pista do que realmente estava pretendendo com aquilo.

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