Prezado Sr. Pai, Eu te odeio!

Principes, sapos e ninfas que amaldiçoam pessoas


“Era uma vez uma mulher, não uma mulher comum, mas uma ninfa, cuja beleza e formosura eram excessivas, e cujo nome lembrava as ondas e a água, lugar onde vivia. Além das mais belas feições, a ninfa Ondina, como todas as outras, era também presenteada com a imortalidade, impedindo-a de definhar ou perder a formosura, a não ser que se apaixonasse, e tivesse um filho.

A vida de Ondina parecia continuar na imortalidade, porém num certo dia, um cavalheiro conquistou seu coração, e, apaixonada, ela o entregou a ele sem pestanejar, explicando o que aconteceria caso o fizesse. Como símbolo de gratidão e demonstração do seu amor, o cavalheiro prometeu que sempre que estivesse acordado e a cada respiração, o seu único pensamento seria amá-la e ser totalmente fiel a ela.

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Lawrence amava Ondina, e como forma de agradecimento, no primeiro ano após o seu casamento, ela lhe deu filho, e como havia explicado, perdeu a imortalidade, passando assim a envelhecer como um mortal. Com o passar dos tempos, a beleza, os atrativos e o amor que Lawrence sentia por Ondina pareceram escapar de si, e numa tarde enquanto a ninfa caminhava próximo ao estabulo, encontrou seu amado marido, àquele a quem entregou sua imortalidade, nos braços de outra mulher.

Dilacerada por dentro, Ondina relembrou a promessa do marido de amá-la e ser fiel a ela a cada respiração e o amaldiçoou, daquele dia em diante, por haver quebrado sua promessa, ele estaria fadado a respirar apenas enquanto estivesse acordado, caso adormecesse, esqueceria de inalar o ar e morreria. Desse modo, Lawrence foi condenado a ficar acordado para sempre. ”

— Quando eu conversei com a mãe da Geovana pela primeira vez, fui surpreendida por este conto. De início, eu não entendi o motivo dela ter narrado aquela lenda para mim, mas depois ela me explicou que foi como ela justificou a sua filha sobre aquela doença. – expliquei, fungando – Ela contou a garotinha que ela era diferente, pois era descendente de uma ninfa. – ri, deixando mais lágrimas escaparem. Mauricio puxou minha cabeça delicadamente, e a pousou em seu ombro, não protestei, pelo contrário, me afundei ainda mais em seu ombro e pescoço, enquanto ele afagava minha cabeça. – Acha que ela vai...? – não consegui terminar aquela frase, não antes que mais lágrimas caíssem e pensamentos ruins enchessem a minha mente.

— Não. Pelo que me disse, ela é uma garotinha forte. E... – ele encaixou meu rosto em suas duas mãos largas e limpou minhas lágrimas com os polegares, enquanto fixava seus olhos nos meus. – É importante ter pensamentos positivos agora, afinal os pensamentos têm poder... – disse, fazendo uma expressão pensativa – ou algo do tipo. – ri.

— É a palavra. A palavra que tem poder. – expliquei, ainda com o riso no rosto, ele apenas deu de ombros. – Tem certeza que está tudo bem em deixar o Nick com o Henrique? Não é melhor que você vá?

— Nah. O Henrique e o Nick se adoram, além disso, acho que você precisa mais de mim agora.

— Preciso é? – antes que o Mauricio pudesse falar mais alguma coisa, uma garota loira apareceu, desesperada, na entrada do hospital. – Diana! – chamei – e a minha estagiaria se apressou para chegar às cadeiras em que estávamos.

— E então, como ela está? – ela perguntou, parecia angustiada.

— Não sabemos. – fui a primeira a responder – quando eu vi a mãe da Geo pela última vez, ela disse que estavam a reanimando.

— Droga! E se ela morrer, Alice? É tudo minha culpa! Droga! – chorou.

— Hey. Não é sua culpa.

— Mas eu deveria ter antecipado aquilo, a Geovana estava sonolenta, e eu expliquei para a substituta que ela não podia dormir, e eu realmente não sei o que aquela doida tinha na cabeça, porque quando eu voltei para a sala a Geo estava desacordada, e sem respiração, e aquela professora idiota só olhava as unhas de bruxa dela.

— Ela deixou a Geovana dormir? Eu achei que ela não havia notado. – Diana negou com a cabeça.

— Quando eu cheguei na sala, a Yui correu para mim e disse que a Geovana não estava se mexendo. Daí eu fiz um barraco e gritei aquela professora, enquanto mandava ela ir chamar a Sra. Ferraz... – ela soltou um longo suspiro e se jogou na cadeira ao meu lado – Eu fiquei tão assustada. – Acha que ela está bem?

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— Huhum. – assenti, lembrando do que o Mauricio me disse. – Eu acho que ela é uma garotinha muito forte e que precisamos ter pensamentos bons, pois eles têm poder. – rimos, eu e Mauricio, compartilhando da piada interna, enquanto Diana apenas nos observava.

— Já que você está melhor vou comprar algo para bebermos, querem algo?

— Chocolate! – ele revirou os olhos para minha resposta.

— Água, por favor. – Diana pediu, com um sorriso escondido nos lábios. Assim que o Mauricio levantou e saiu de nossa vista, a Diana puxou meu braço fazendo com que eu me aproximasse dela.

— Ai! – reclamei.

— Quero saber o que está rolando! – disse, um olhar travesso nos olhos.

— Achei que estivesse super triste.

— Eu estou, mas agora estou com pensamentos melhores e extremamente curiosa! Vocês já beijaram? Ou fizeram algo mais? Afinal, pelo que me contou na ligação, você disse que havia dormido na casa do Nick, né? Aliás, cadê ele?

— Preciso responder todas mesmo? São muitas perguntas, sabe... – ela assentiu e fingi um longo suspiro – Não nos beijamos e nem transamos. Eu dormi com o Nick apenas, somente eu e ele como mãe e filho e ele está lá fora com o Henrique, inclusive, vou pedir pro Mauricio comprar algo para ele comer.

— Mauricio, é? – ela abriu outro sorriso.

— Sim... É o nome dele, não? – falei, franzindo as sobrancelhas.

— Achei que era troglodita, chantageador, idiota e afins. – riu.

— É verdade... – ponderei. Com a convivência, estava vendo um Mauricio diferente, um homem que realmente estava se tornando um pai. – Bem, ele, acho que ele mudou. – a minha estagiaria sorriu, satisfeita.

— Que bom que ele mudou, mas e você? Também mudou? – eu abri a boca para poder responde-la, mas antes que o fizesse, uma figura semelhante apareceu no meu campo de visão, e sem aviso, eu apenas me direcionei a ela, sendo seguida de perto pela Diana.

— Oi, e então? – perguntei, sem conseguir identificar a expressão da Sra. Vitória, mãe da Geovana.

— Obrigada! – ela disse, se dirigindo não a mim, mas a Diana que já estava ao meu lado – Os médicos conseguiram reanima-la, mas disseram que só não houve algo pior, pois iniciaram a reanimação na escola ainda, e a coordenadora Ferraz me explicou que você foi a autora dessa incrível façanha. – sorrimos, aliviadas, e eu a observei enquanto agarrava Diana num abraço. – Pró Alice, se cuide para não ficar mais doente, okay? – ri. – E eu espero que aquela mulher louca seja demitida ainda hoje! – bradou. Eu e Diana também esperamos!

— Eu fico extremamente feliz que a Geo ficou bem. E eu te digo uma coisa, eu fiquei muito alegre quando vi que a senhora não achou um erro na Diana, a coitada chegou chorando aqui.

— Nunca. Pelo contrário, sou eternamente grata a você, Di. A Geovana é minha única filha, e talvez ela não resista até a idade adulta, mas eu vou fazer meu máximo para que isso aconteça. Quero estar sempre ao lado do meu pequeno tesouro.

— Querida! – um senhor alto e grisalho chamou – a Geovana quer te ver agora.

— Eu vou indo. – se despediu – Obrigada, Diana e melhoras pró Alice. – sorrimos, agradecidas.

— Que bom que tudo terminou bem, não? – assenti à pergunta de minha estagiária. Logo, Mauricio apareceu com nossas bebidas. Dei as boas noticiais a ele e ele comemorou, oferecendo também uma carona para a Diana.

— Ah! Eu encontrei um médico amigo meu, e ele fez isso. – disse me entregando um papel, logo pude perceber que era o atestado que ele havia me prometido.

— Obrigada! Eu já havia me esquecido dele, sabia? E, nós precisamos comprar algo para o Nico...

— Não precisa. Eu já fui até o Henrique, dei um dinheiro a ele e pedi que ele e o Nick almoçassem no fast-food ao lado. – o olhei repreensiva, o que o fez explicar aquilo – Era para ser no restaurante do hospital, mas o Nick cismou que queria comer hambúrguer, e eu acabei cedendo, porquê ele foi um ótimo menino hoje.

— Ah. – sorri para aquele homem, e eu não por quanto tempo nos encaramos, mas havia esquecido completamente da presença da Diana ali.

— Então... vão ficar aí se olhando ou vamos comer hambúrguer com o Nick? – convidou, já andando em direção à saída. O Mauricio logo a seguiu, mostrando onde estava o carro e eu os acompanhei logo atrás. Pensei na fala da minha amiga, ele mudou, disso eu tinha certeza, mas como eu não havia notado antes? Afinal, isso não aconteceu da noite para o dia, não é? E quando ele parou de parecer aquele pai idiota? Quando o troglodita começou a parecer diferente do que realmente era? Seria possível mesmo que o sapo virasse o príncipe, ou a única que havia se transformado ali era eu? Suspirei, enquanto entrava no carro e sentava ao lado do pai do meu filho, tentava desvendar um mistério que parecia claro para todos, menos para mim.