Nove horas da noite
Só restava eu e Fester sentados ao lado do túmulo de Damian. Eu estava encostada nele e com a minha cabeça apoiada em seu ombro, não chorávamos, apenas estávamos lá.

— Porque a garota não foi trazida e enterrada?

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—Eles a cremaram lá mesmo, não soube?

— Não.

— É algum costume deles, ser cremada onde morreu.

Voltamos a nosso silencio sepulcral, o som do mar era a única música que ecoava. Os minutos passavam rápidos e cada vez a lua subia mais alto no céu. Meus olhos começaram a arder e me incomodar de repente e eu os fechei apertado para tentar amenizar a dor. Abri novamente os olhos e tudo estava branco, como uma parede lisa e incandescente. Começou a falhar a imagem como uma televisão chiando, chamei por Fester, tateei e senti ele do meu lado, ele começou a se afastar e mexer comigo mas eu não ouvia a sua voz, não ouvia nada além do chiado e de repente como um borrão uma pessoa apareceu em minha frente sussurrando meu nome, parei assustada e fixei meus olhos na imagem. Uma pessoa, ela me lembrava alguém... Athea? Parecia muito, mas no lugar dos olhos ela tinha um buraco escuro do qual escorria um líquido preto e grosso como petróleo.

"Nancy, vocês precisam se preparar" — a voz robótica cantarolou

—Quem é você??

"Nancy, se prepare, haverá luta, haverá sangue. Você precisa mata-lo." — os olhos sangravam o líquido negro

— Matar quem?

"Um ano. Você tem um ano."

O chiado voltou a perturbar meus ouvidos e senti minha mão dormente de tanto apertar a mão de Fester. De repente senti um clarão e fechei meus olhos fortemente enfiando o rosto no peito de Fester que me envolveu em um abraço seguro.

Tudo voltou ao normal. Meus olhos, não ardiam, minha cabeça não latejava, e eu via Fester e não a pessoa estranha.

– O que foi isso Fester? - Perguntei assustada

— Me diga você, com quem estava falando?

— Eu não faço a menor ideia.

Eu fazia. Mas que raios diria?