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Capítulo 18 — Pois, quando sou fraco, é que sou forte¹.


O restaurante era no terraço, porém havia um teto sobre a cabeça deles os protegendo do sol que, apesar de não muito forte pelo tempo estar chuvoso em Nova York, incomodava. A mesa redonda entre eles era branca e as pernas pretas, havia um jarro de rosas vermelhas média entre eles, nada que atrapalhasse a visão de um para o outro. Eles já haviam feito o pedido e conversavam enquanto aguardavam a volta do garçom.

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— Fiquei surpreso por não ter visto Rachel na igreja hoje. — Tony comentou.

— Devem ter dormido tarde ontem e não conseguiram acordar a tempo, eu aposto, mesmo eu tentando fazer com que Aldrich entenda que ela é uma criança que precisa dormir direito parece que ele simplesmente não consegue compreender isso. — Chateou-se.

— Vocês não se dão muito bem. — Não foi uma pergunta, foi uma conclusão.

— Por que a surpresa? — Perguntou sorrindo sem humor.

Flashback On

— Não acredito que depois de tudo o que ele fez contigo você ainda o defenda, quer saber Pepper? Vocês se merecem. — Ele bateu palmas e começou a andar de costas em direção a porta. — Se merecem! — Por fim ele saiu do quarto e fechou a porta com rispidez. Pepper voltou a sentar-se na maca e mais lágrimas dançaram por seu rosto.

Flashback Off

— Me perdoe pelo o que te disse naquele dia no hospital. Você e o Aldrich não se merecem. — Disse com o semblante sério e com a voz arrependida, ele realmente sentia muito por cada palavra proferida naquele trágico dia.

— Está tudo bem Tony, eu te perdoei faz tempo. — Ela colocou a mão sobre a dele que estava na mesa, repousada, por fim ele sorriu para ela, mas logo seu sorriso pereceu. — O que?

— Deve ter sido muito difícil para você, sabe, ter engravidado na adolescência, não consigo imaginar o que essa situação deve ter te acarretado, eu era seu único amigo e...

— Pare de se martirizar Tony, está tudo bem agora. — Ela sorriu.

— Eu não estou me martirizando, você já me perdoou. — Sorriu de volta.

— Mas você também precisa se perdoar. — Tony suspirou, ela tinha razão.

— Tudo bem, mas me conte como foi à gestação da Rachel, eu gostaria mesmo de saber e nem é pra ficar me amaldiçoando por não ter estado com você, eu só quero saber. Ela se tornou muito importante para mim e eu quero estar presente em todos os momentos da vida dela e saber como foi os que eu não pude estar. — Foi a vez das palavras dele tocarem o coração de Pepper.

Switchfoot — Your Love Is A Song

— Ok, você venceu. — Disse por fim e Tony sorriu, preparando-se para ouvir a história. — Quando eu descobri que estava grávida muitas emoções tomaram conta de mim, principalmente o pânico, eu não sabia o que fazer, até que contei para meus pais e eles conversaram muito comigo sabe? Aquele jeito deles de fazerem você se sentir bem mesmo quando o céu parece que vai desabar.

— É, eu sei. — Tony assentiu. Ian e Tess eram pais incríveis, pessoas incríveis.

— Então eu percebi que independente das circunstancias do por que Rachel estar dentro de mim eu a amaria com todas as minhas forças e a protegeria, não importava que o Aldrich fosse o pai dela, o que importava era que eu era a mãe dela e que iria me esforçar para ser uma boa mãe.

— E você conseguiu. — Comentou, mas Pepper se manteve calada. — O que? — Ela, que estava olhando para as mãos deles ainda unidas sobre a mesa, o olhou.

— Eu tinha esse pensamento até minha barriga ficar saliente e as pessoas notarem que eu estava grávida, na escola foi o mais difícil, como se já não fosse perturbadoramente humilhante as pessoas saberem que eu fui estuprada elas descobriram que eu havia ficado grávida. Depois do que o Aldrich fez comigo eu me lembro de você ter dito algo sobre eu estar tranqüila, mas eu tive que passar por muitos psicólogos, à ideia do estupro é algo muito forte e te faz pensar que você preferia ter sido morta ao passar por isso, então quando eu já estava começando a me conformar com o que tinha acontecido comigo e me animado com os preparativos do quarto da Rachel as pessoas começaram a me olhar com discriminação, elas faziam piadas e aquilo me machucava muito, eu voltava para casa chorando.

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Tony apertou a mão dela e engoliu o nó que se formou em sua garganta, seu coração havia acelerado e o seu maxilar travou-se. Ele queria ter estado lá para apoiá-la, para ajudá-la, para simplesmente protegê-la.

Antes que ela continuasse relatando os acontecimentos que antecederam o parto de Rachel o garçom chegou e colocou o pedido deles sobre a mesa e em seguida retirou-se.

— Eu tinha pensamentos horríveis, mas Deus me ajudou, Ele esteve comigo em cada segundo da minha dor, ali, pertinho, enxugando minhas lágrimas e dizendo que tudo ficaria bem e que quando eu visse o rostinho da minha filha tudo teria valido a pena. — Ela riu e enxugou uma lágrima que escorreu de seu olho e em seguida recolheu sua mão de sobre a do Tony e limpou outra lágrima que desceu por seu rosto. — E realmente valeu à pena! As dores foram insuportáveis, parecia que até conseguia ouvir meus ossos se quebrando — fez uma careta, mas sorriu —, mas ai eu ouvi o choro daquela garota e quando eu olhei pra ela, uau! Não há nada que se compare a você olhar para o rosto de um bebê e pensar “ela saiu de mim, ela é minha filha, ela é minha e eu vou cuidar dela para sempre”. Você sente como se seu coração tivesse duplicado, há o seu e há o que pulsa dentro do corpo daquele bebê e você ainda pensa: eu darei minha vida por esse bebê. E você não pensa nas conseqüências que isso pode gerar, você pensa apenas na felicidade que você quer proporcionar a essa criança. Eu a amo Tony e faria tudo de novo só para tê-la aqui comigo.

Tony estava sem palavras diante de um discurso tão dolorido, mas ao mesmo tempo tão lindo de Pepper para com Rachel.

— Eu sinto muito por tudo o que te aconteceu para que você pudesse ter ela nos braços, mas fico feliz por você ter sido tão forte. — Foi à vez dele de colocar a mão sobre a dela. — Rachel tem sorte de tê-la como mãe.

— Não, eu é que tenho sorte de ela ser minha filha e não fui eu quem fui forte, Deus que não me deixou fraquejar. — Ela sorriu e ele devolveu o gesto, emocionado por dentro e com o coração ardendo.

— Tenho muito orgulho de você, quem diria que você conseguiria sobreviver sem mim? — Arqueou uma sobrancelha e soltou a mão dela, bebericando sua bebida.

— Ha, ha, engraçadinho você. — Disse com os olhos semicerrados e fazendo Tony rir. — Mas e ai, o que é que você tanto queria me dizer? Eu ainda estou esperando. — Assim como Tony ela bebericou um pouco de sua bebida e depois sorriu outra vez, aguardando a reposta do moreno.