— Eu desisto dessa porcaria. – resmunguei, enquanto eu curvava meu corpo pra baixo, começando a usar as mãos, para tentar me desvencilhar da lona da barraca, que havia se embolado em meus pés.

— Você apoiou a ideia de acampar. – Annie me lembrou, me fazendo erguer a cabeça para encara-la com certa raiva. – Não me olhe assim. Não falei nenhuma mentira. – ela deu de ombros.

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Voltei a resmungar um pouco mais, chutando tudo o que me atrapalhava a sair daquele ninho. Quando meus pés finalmente ficaram livres, dei alguns passos para o lado, distanciando-me daquele negócio que, pra mim, não parecia que em algum momento viraria um lugar pra dormir.

— Assim você vai estragar minha barraca. – Finnick disse receoso, com certeza por culpa do meu estresse repentino.

— Cadê o Peeta? – Gale questionou, olhando ao redor, e logo voltou a me encarar. – Ele com certeza te ajudaria com a barraca. – meu melhor amigo abriu um sorriso presunçoso.

— Eu não sei. – cruzei os braços, olhando para os lados e voltei a encarar Gale. – Peeta montou a dele e sumiu.

— Em todo caso, você pode dormir com ele, se não conseguir montar a sua. – Annabelle provocou, me fazendo revirar os olhos.

— Comentário desnecessário. – retruquei.

— Por que esse estresse todo? – minha irmã questionou. – Você estava bem sorridente enquanto Peeta te carregava. – ela ergueu uma sobrancelha.

Annie não estava errada, mas nem ela, nem ninguém precisava saber a causa do meu nervosismo.

— Me deixa, Annabelle. – descruzei os braços.

— Acho que é porque o Peeta sumiu de vista. – Annie disse, parecendo ignorar meu comentário.

Senti meu rosto esquentar.

— Cuida sua vida! – exclamei, antes de sair pisando duro, em direção as árvores.

Eu ainda sentia que estava constrangida. Raramente eu me estressava daquela forma, e muito menos beirava ao ponto de gritar com alguém, mas eu estava inquieta. Desde que paramos para montar nossas barracas no local que Finn tinha escolhido, eu havia notado que Peeta estava incomodado com alguma coisa, o que de certa forma, me deixou agitada. Claramente, eu cheguei a pensar que era comigo o problema, então seu silêncio, seguido de seu sumiço, simplesmente me estressou, já que eu, ao menos sabia o que estava acontecendo.

Não precisei andar muito pela trilha que ficava entre o verde das árvores, para ser surpreendida com um toque firme em meu braço, que logo foi puxado, fazendo meu corpo bater com certa força contra algo sólido.

Meu coração havia acelerado por culpa do susto, mas em minha cabeça eu sabia que seu ritmo havia se intensificado muito mais ao olhar naqueles olhos azuis, que pareciam sorrir pra mim.

— Não faça mais isso. – falei baixo, tentando controlar minha respiração que havia se alterado, assim que notei que estávamos próximos demais.

— Desculpa. – Peeta soltou meu braço e deu meio passo pra trás. – Eu estava indo te buscar. Quero te mostrar uma coisa.

— No meio do mato? – franzi o cenho.

Peeta riu.

— Eu não faria nada com você no meio do mato. – ele pareceu pensar em algo. – Bom. Nada que eu não possa fazer fora dele. – ele piscou pra mim, me fazendo corar. Peeta sorrio, depois de deixar seus olhos passearem por meu rosto. – Você confia em mim? – questionou, estendendo a mão direita em minha direção.

Em resposta à sua pergunta, eu a segurei sem pestanejar, o que causou um sorriso mais largo em seus lábios.

Peeta começou a caminhar, e eu passei a segui-lo pela pequena trilha. O sol ainda estava se pondo, proporcionando claridade para andarmos sem correr o risco de cairmos.

Eu estava distraída, apenas focada no calor de sua mão na minha, e contendo a vontade de entrelaçar nossos dedos, quando de repente, Peeta parou de andar, trazendo-me de volta a realidade.

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— Aqui. – ele disse logo depois.

Parei ao seu lado, e deixei meus olhos se acostumarem com a vista a minha frente. Estávamos próximos a ponta de um precipício. Era possível ver a imensidão azul do mar lá embaixo, que era escuro, tanto pela frieza daquelas águas, como também, por culpa dos raios solares que diminuíam, enquanto o sol se escondia no horizonte. Em minha mente, acabei associando o azul escuro do mar, com os olhos de Peeta, que escureciam sempre que ficávamos perto demais.

— É lindo, Peeta. – finalmente decidi falar, e abri um sorriso, virando o rosto para olha-lo.

Ele deu um sorriso torto, e soltou a minha mão devagar, fazendo-me quase protestar, mas decidi me manter calada. Ficamos em silêncio pelos minutos que se seguiram, observando a bela vista que o local proporcionava.

— Por que você estava incomodado? – finalmente perguntei, olhando-o, e recebendo em seguida seus olhos sobre mim.

Peeta sorrio, e colocou as mãos nos bolsos de sua jaqueta.

— Você vai me achar idiota. – ele deu levemente de ombros, olhando pra frente.

Uma brisa fria nos atingiu de repente, fazendo meu corpo estremecer em reação.

Peeta voltou a me olhar, parecendo curioso, e sem dizer nada, ficou de lado. Em seguida, sua mão alcançou a minha, e devagar, ele passou a me puxar, até estar frente a frente com ele. Ele deu um sorriso torto, antes de me abraçar, protegendo-me parcialmente do vento gelado, que anunciava a proximidade do inverno.

— Talvez eu ache, mas ainda quero saber. – respondi, dando um meio sorriso, e ergui a cabeça para olha-lo.

Meus braços haviam passado por dentro de sua jaqueta e ao redor de sua cintura. Minhas mãos estavam espalmadas em suas costas, enquanto os braços de Peeta, estavam ao redor de meus ombros, mantendo-me colada ao seu corpo, o que de certa forma havia me esquentado com mais facilidade do que eu imaginei que poderia acontecer. Talvez fosse o fato de senti-lo tão perto, o que me causava vergonha e algo mais que eu não tinha certeza do que era.

Ele me olhou com um sorriso, e suspirou.

— Estou chateado por não ter encontrado um alce pra você. – falou em tom baixo.

Acabei rindo silenciosamente, e o apertei levemente com as mãos.

— Você não é um idiota. Você só é atencioso demais, e eu... – mordi o canto do lábio inferior. – Eu gosto. – confessei corando em seguida.

Peeta sorrio, analisando meu rosto por alguns instantes, e em seguida, olhou para o lado, direcionando seu olhar para baixo, na direção da praia.

— Não fique assim. – falei, fazendo-o me olhar novamente. – O fato de você ter tentado, já me deixa feliz.

Ele olhou em meus olhos, e deu um meio sorriso, não parecendo convencido com minhas palavras. Logo Peeta voltava a desviar seu olhar para a praia lá embaixo, enquanto eu o observava, e sentia seus braços descerem, até suas mãos estarem espalmadas acima do meu quadril.

— Peeta. – eu o chamei, recebendo sua atenção. Retirei os braços de dentro da sua jaqueta, e alcancei seu rosto com as mãos, segurando-o. – Eu te disse que não sou uma criança, lembra? – abri um pequeno sorriso. – Não preciso de um alce pra me sentir feliz. Você sabe que eu amei estar aqui.

Ele balançou a cabeça levemente em afirmação, e mais uma vez desviou o olhar do meu.

Desisti de falar, soltando um suspiro. Soltei seu rosto, e desci meus braços, até tê-los escondidos em sua jaqueta novamente, voltando a espalmar as mãos em suas costas. Virei o rosto para o lado, e encostei o ouvido em seu peitoral, fechando os olhos em seguida.

Ficamos por um bom tempo em silêncio, sentindo o vento frio contra nossos corpos, e ouvindo o som das ondas quebrando na praia.

— Não pode ser. – Peeta disse desacreditado.

Abri os olhos e ergui a cabeça para encara-lo, podendo perceber que ele ainda olhava lá pra baixo. Aos poucos Peeta começou a virar seu corpo, fazendo-me virar junto com ele.

— Olha lá na praia. – ele falou ao pararmos.

Meus olhos alcançaram o local, e automaticamente um sorriso largo se formou em meus lábios.

— Não acredito. – falei baixo, esticando o pescoço para ver melhor, sem ter que me soltar do abraço confortável de Peeta.

Havia um grande alce solitário, próximo das árvores que cercavam a praia, indo em direção a água com passos tranquilos. Meus olhos estavam cobertos de lágrimas, e meu coração palpitava no peito.

— Você encontrou um alce pra mim, Peeta. – falei, desviando o olhar para ele, que me observava atentamente. – Eu não acredito. – soltei um riso bobo. – Viu? Você conseguiu.

— Eu não o encontrei, Katniss. Você sabe disso. – ele respirou fundo e devagar, soltando o ar pelo nariz.

— Sua vontade de encontra-lo, o fez aparecer. – argumentei, sorrindo para Peeta.

Seus olhos vasculharam meu rosto.

— Acho que sim. – ele respondeu, finalmente sorrindo de verdade pra mim.

— Nem sei o que dizer. – soltei um riso silencioso. – Eu... Obrigada. – falei em voz baixa, voltando minha atenção para o alce. – Hoje está sendo um dos melhores dias da minha vida. – confessei, e voltei a fita-lo. – E é tudo graças a você. – quase sussurrei, com certeza ruborizando.

Peeta deu um sorriso maior dessa vez, e se curvou em minha direção.

— Não precisa agradecer, pequena. – respondeu em tom baixo. – Tudo por um sorriso seu.

Mordi o canto esquerdo da boca, enquanto eu o olhava nos olhos, sentindo minha respiração começar a acelerar.

— Achei vocês. – a voz de Madge me fez dar um pulinho assustado e virar o rosto em direção ao som de seus passos. Eu e Peeta nos soltamos, e eu dei um passo pra trás para afastar-me dele. – Finnick e Gale estão fazendo uma fogueira pra assar seus marshmallows, Katniss. – ela disse distraidamente, não parecendo notar o clima diferente entre nós dois.

— E Gale te viu vindo sozinha pra cá? – questionei ficando de frente pra ela.

— Não. – Madge deu de ombros. – Annie está meio insuportável... Ou sou eu. Não tenho certeza. – ela deu um sorriso sem graça. – Estou atrapalhando? – perguntou, finalmente focando seus olhos em nós.

— Nunca, Mad. – sorri pra ela.

— Na verdade, achamos algo legal. – Peeta apontou pra praia, me fazendo dar um pequeno sorriso.

Madge caminhou até onde Peeta estava e parou para olhar o alce que tinha parte de seu corpo submerso na água.

— Que lindo. – um sorriso brilhante e largo surgiu em seus lábios. – Quem disse que você não encontraria seu alce? – perguntou divertida, olhando em minha direção. – É um alce perfeito. – disse sugestiva.

Franzi o cenho, mas o desfranzi quando Madge apontou Peeta com os olhos em um ato rápido, e voltou a olhar para a praia.

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— Sim. É um alce perfeito. – concordei, vendo-a sorrir, enquanto Peeta estava distraído demais observando o animal lá embaixo. – Fico feliz que ele não tenha fugido de mim. – ri baixo.

Madge me encarou, e se aproximou.

— Então não o deixe escapar. – falou baixo próximo ao meu ouvido. – Vamos sentar ao redor da fogueira. Está frio aqui. – sua voz saiu mais alta para que Peeta também a ouvisse.

Eu não sabia se Madge e Gale conversavam sobre mim e Peeta, mas eu tinha dúvidas, apenas pelos assuntos que ambos decidiram abordar nas últimas horas.

— Vamos? – Peeta perguntou, olhando em minha direção.

Afirmei com a cabeça, percebendo que Madge estava parada esperando por nós. Em silêncio, eu a segui, ouvindo os passos de Peeta logo atrás.

~||~

— Algo de errado com sua barraca? – Peeta perguntou, assim que ele abriu o zíper da dele pra me atender.

— Não. – dei um meio sorriso, agachando para vê-lo melhor. A escuridão era quase total, se não fosse pela fogueira que ainda estava acesa atrás de mim. – Finnick deu um jeito nela.

— Então... Você está bem? – questionou, parecendo confuso.

— Estou. – suspirei. – Eu preciso mesmo de uma desculpa para estar aqui? – indaguei.

Peeta arqueou suas sobrancelhas em surpresa, mas acabou dando um sorriso.

— Não. – ele voltou a deitar, e moveu a cabeça para o lado para continuar a me ver. – Vem cá. – chamou.

Entrei em sua barraca, fechando o zíper em seguida. Engatinhei, me aproximando, e me ajeitei, até estar sentada ao seu lado.

— Acho melhor você ficar só de meias. – sugeriu com os olhos atentos em mim. – É mais confortável.

— Acredite. Eu já ia fazer isso. Meus sapatos estão acabando comigo. – ri baixo, dobrando as pernas para tirar as botas estilo coturno que eu havia ganhado de Annie no dia anterior.

Mantive as meias em meus pés, e deitei ao lado de Peeta. Como eu sempre fazia quando dormíamos em meu sofá, coloquei o ouvido sobre seu peito, sentindo seu braço se enfiar embaixo do meu corpo, até estar ao meu redor. Com minhas mãos ergui o cobertor que Peeta usava, e me enfiei embaixo dele.

— Não me diga que você bebeu com Finnick, Annie e Gale. – Peeta disse em tom brincalhão, referindo-se a garrafa de vodca que os três compartilharam durante as horas que ficamos ao redor da fogueira.

— Não bebi. – dei um pequeno sorriso. – Por que acha que sim? – questionei, espalmando uma mão sobre seu abdômen.

— Nada. – respondeu, me fazendo erguer os olhos em sua direção. – Então você gostou da ilha? – Peeta mudou de assunto rapidamente.

— Ela é perfeita. – sorri novamente, segurando sua camisa entre os dedos. – Ainda não acredito que estamos aqui, acampando. E que você inventou isso, apenas pra encontrar um alce pra mim. – balancei levemente a cabeça. – Não acredito que você seja real. – suspirei.

Peeta riu baixo.

— Quer que eu te belisque pra ter certeza? – perguntou.

— Não. – mordi o lábio inferior.

Ambos nos calamos, encarando um ao outro. A falta de claridade permitia que eu enxergasse com facilidade apenas os olhos azuis brilhantes de Peeta, que refletiam a luz laranja da fogueira.

— Eu não conseguiria dormir sozinha. – comentei minutos depois, desviando o olhar para baixo, quando comecei a sentir sua mão acariciar minhas costas. – Madge me assustou com a história do lobo.

Peeta riu, me apertando levemente contra a lateral de seu corpo, mas permaneceu calado.

Minutos se passaram, enquanto compartilhávamos apenas o som da madeira queimando do lado de fora, e nossas respirações.

— Eu estava pensando sobre uma coisa ontem à noite. – voltei a falar, erguendo a cabeça novamente para olha-lo. – O que você andou fazendo nos últimos dias depois da aula? – decidi questionar.

Ele continuou a me observar, e suspirou em seguida.

— Desculpa. Não queria ser intrometida. – falei sem graça. – Eu só estava curiosa. Você costuma me contar as coisas que faz durante o dia. Apenas achei estranho. – me ajeitei, colocando o ouvido novamente em seu peito. – Não se sinta obrigado a me contar.

— Ei. – Peeta chamou pouco tempo depois. Ergui a cabeça para olha-lo. – Eu disse que daria um jeito na turma do segundo ano, não disse? – questionou. Afirmei levemente com a cabeça. – Como não descobri o autor do comentário idiota, eu coloquei a turma toda na detenção. – explicou.

— Mentira. – falei incrédula, sentando em seguida. – Você não fez isso.

— Claro que fiz. – ele franziu o cenho, sentando-se também. – Por que eu não faria?

— Porque foi só um comentário, Peeta. – balancei a cabeça. – Isso vai servir apenas para fazê-los me odiar ainda mais.

— Eu me viro com eles. Confie em mim. – pediu. – Eu prometi que cuidaria de você, Katniss, e é isso o que eu estou tentando fazer.

Analisei seu rosto devagar, demorando a voltar a falar.

Peeta realmente estava cuidando de mim, não tinha como negar, mas por culpa da confusão de sentimentos que eu me embrenhava, eu precisava saber seus motivos, antes de decidir realmente ser corajosa.

— Por que você decidiu cuidar de mim? – perguntei finalmente. – Digo... O que te levou a querer cuidar de mim?

— O que eu sinto por você, me impulsionou a isso. – respondeu de imediato.

— Eu sei que você sente algo por mim. Mas eu preciso saber... O que exatamente eu sou pra você. – respirei fundo e devagar, tentando controlar a timidez. – O que você sente por mim, Peeta? – questionei quase em um sussurro, sentindo meu coração acelerar.

Ele pareceu congelar no lugar. Em seus olhos dava para notar que se arrependia de ter mencionado tal coisa.

— Peeta. Me responde. – pedi.

— Não quero te assustar, Katniss. – ele finalmente respondeu, dando um sorriso torto.

— Não vai me assustar. – Peeta negou com a cabeça. Mordi o canto esquerdo do lábio inferior. – Eu preciso de uma resposta.

Ele passou a mão por seus cabelos, enquanto parecia lutar internamente consigo mesmo. Seus olhos estavam agitados, e não conseguiam encarar os meus, deixando-me aflita.

— Peeta. – eu o chamei, segurando seu rosto entre as mãos. – O que você sente por mim? – repeti a pergunta.

Um suspiro, um sorriso no canto dos lábios, e o movimento de seus olhos, fizeram parecer uma eternidade, enquanto eu esperava por sua resposta.

— Eu te amo, Katniss. – murmurou, finalmente olhando em meus olhos.

Abri e fechei a boca algumas vezes, tentando clarear meus pensamentos. Peeta havia acabado de se declarar pra mim, e a única coisa que eu conseguia fazer era encara-lo, ainda com as mãos segurando seu rosto, com certeza parecendo uma idiota. Eu não sabia bem o que esperar de sua resposta, mas aquilo havia me assustado, como ele disse que faria. Me assustado tanto, que eu mal conseguia me mexer.

— Katniss. – ele chamou, e delicadamente, abaixou minhas mãos. – Não precisa ficar com essa cara. – Peeta deu uma risada baixa e levemente sem graça. – Você está me olhando como se eu tivesse acabado de dizer que eu te odeio. – ele franziu as sobrancelhas. – Não foi isso que você ouviu, foi? – perguntou.

— Não. Eu... Eu... – gaguejei, e engoli em seco, tentando me lembrar de como respirava. – Eu ouvi bem. – deixei meus olhos vasculharem seu rosto. – Você tem certeza do que está dizendo? – questionei em tom baixo.

Minhas mãos tremiam tanto, que eu não me surpreenderia caso desmaiasse.

— Claro. – Peeta deu uma risada pelo nariz e balançou a cabeça. – Eu sei que você se sente insegura em relação a isso, mas você insistiu em saber a resposta. Eu precisava dizer. – ele coçou a testa, que estava com uma pequena ruga de preocupação. – Só estou te contando. Não espero que você sinta o mesmo, apesar de torcer para que sim. – Peeta deu um sorriso torto e abaixou a mão. Seus olhos novamente não conseguiam parar quietos, por isso passeavam por meu rosto continuamente. – Acho que eu te amo desde que eu te vi naquele corredor, no seu primeiro dia. – ele sorrio brevemente. – O fato de passarmos tanto tempo juntos, só intensificou o que eu já sentia.

Mantive-me calada, encarando-o, sem saber o que realmente devia dizer.

— Katniss? – Peeta chamou duvidoso, com as sobrancelhas unidas. – Eu não quero perder você por isso. Na verdade, eu não...

Eu o interrompi chocando meus lábios contra os dele, em um ato quase desesperado. Peeta correspondeu de imediato, o que me fez fechar os olhos, e repousar a mão em sua bochecha esquerda. Me movi vagarosamente, para não precisar me afastar, até estar ajoelhada ao seu lado. Suas mãos seguraram minha cintura, mas Peeta afastou seu rosto do meu devagar, fazendo-me abrir os olhos.

Mordi o canto da boca, sentindo minha face ferver de vergonha, porém não desviei o olhar, mesmo sentindo meu coração na garganta. Minha mão estava completamente imóvel em sua bochecha, enquanto eu tinha seus olhos confusos nos meus.

— Você me beijou por que eu disse que te amo? – perguntou inocentemente, abaixando as mãos.

Neguei com a cabeça, sentando sobre minhas pernas.

— Eu... – abaixei a mão, colocando-a sobre meu colo. – Eu te beijei porquê... Porque, apesar de me sentir confusa e insegura... Eu... – olhei pra baixo. – Eu... Sinto... – fechei os olhos com força, e soltei um som quase irritado. – Eu não consigo falar dessas coisas, Peeta. – tentei explicar, xingando-me mentalmente.

O silêncio reinou por alguns segundos, enquanto eu ainda tentava formular algo coerente em minha cabeça para dizer a ele, que, com certeza, me esperava concluir a explicação que eu havia iniciado.

— Você sente algo por mim? – perguntou, me fazendo erguer as pálpebras e olhar em sua direção. – Algo parecido com o que eu sinto por você?

Eu o agradeci mentalmente por não me obrigar a falar, e afirmei silenciosamente, o que foi suficiente para que ele sorrisse. Peeta segurou minha cabeça pelas laterais com as duas mãos e me puxou devagar, olhando-me nos olhos. Ele uniu nossos lábios com certa delicadeza, e prontamente eu fechei os olhos e iniciei o beijo, colocando uma mão em sua nuca. Sua mão direita deslizou por meu braço, até parar em minha cintura, puxando-me levemente pra mais perto.

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Meu estômago parecia dar cambalhotas, toda vez que sua língua macia se enroscava com a minha. Minhas mãos haviam adquirido um leve tremor novamente, mas eu não tinha vontade de me afastar, por isso subi a mão que estava em sua nuca, para alcançar parte de seus cabelos, e apoiei a outra mão em seu ombro, tentando deixar qualquer coisa que não tivesse a ver com os lábios de Peeta nos meus, de lado.

Não sei quanto tempo ficamos daquela forma, apenas explorando a boca um do outro. Eu só voltei a realidade, quando ele se afastou.

Meu peito subia e descia um pouco mais rápido do que o normal, enquanto eu encarava os olhos de Peeta, que estavam escuros. Ele não havia se movido um milímetro, a não ser para interromper o beijo, e eu já me sentia incomodada com o casaco que eu usava, por culpa do calor que emanava de todo o meu corpo.

Peeta sorrio abertamente, antes de me soltar e se jogar de costas em sua cama improvisada. Ficamos ambos imóveis por alguns instantes. Ele encarando o teto de lona da barraca, e eu o encarando, sem saber o que eu realmente devia fazer. Eu apenas tentava controlar minha respiração, e o rubor em minhas bochechas, que havia se intensificado apenas por pensar que não queria que Peeta tivesse se separado de mim.

— Deita aqui. – ele chamou, quando me olhou e notou que eu ainda estava da mesma forma, olhando em sua direção.

Hesitei, mordendo o lábio inferior, ainda sentindo meu coração batendo desgovernado no peito.

— Vem, pequena. – Peeta insistiu, estendendo a mão pra mim.

Eu a segurei e me aproximei devagar, deitando-me ao seu lado. Ele me puxou cuidadosamente, até que eu estivesse com o ouvido em seu peito novamente, acolhendo-me com carinho, e passando seu braço embaixo do meu corpo.

Ficamos em silêncio, enquanto eu ouvia as batidas tranquilas de seu coração, que instantaneamente passou a acalmar o meu. Timidamente coloquei o braço sobre sua barriga, e agarrei sua camisa entre os dedos, fechando os olhos.

— Acho que a gente devia ficar junto. – sua voz saiu baixa, mas eu havia entendido claramente.

Ergui as pálpebras, sentindo meu coração voltar a acelerar.

— Juntos? Você quer dizer... Namorar? – perguntei envergonhada, levantando a cabeça para vê-lo.

— Sim. – o braço que estava ao redor do meu corpo, se moveu, até ter sua mão tocando minha cintura. – Não vejo motivo para não tentar. – argumentou.

Um milhão de pensamentos invadiram minha cabeça, fazendo-me apertar o tecido da roupa de Peeta com força exagerada. Voltei a abaixar a cabeça, e encostei o ouvido em seu peito, tentando colocar minha mente em ordem, porém eu apenas me sentia mais confusa.

“Você pode se machucar.”, minha cabeça acusou. Sim. Eu poderia. Principalmente com o passar dos dias ao seu lado, tornando-me cada vez mais dependente dele. Eu tinha certeza de que eu não havia chegado nem na metade do quanto eu poderia me apegar a Peeta, e pensar nisso acabou me assustando a ponto de me paralisar completamente, sem ter forças para responde-lo.

— Katniss. – sussurrou, chamando minha atenção. – Eu quero continuar a ser seu melhor amigo, mas sinto que posso ser um ótimo namorado também. Me deixa provar isso, por favor. – pediu, apertando-me levemente contra a lateral de seu corpo. – Me deixa ser seu.

Fechei os olhos com força, e voltei a apertar sua camisa.

“Seja corajosa. Seja corajosa.”, repeti mentalmente, mordendo o canto do meu lábio inferior.

Eu o queria. Queria mais do que já tinha. Queria poder beijá-lo, sem me sentir tão envergonhada. Queria que ele me beijasse, sem ter que se sentir inseguro por não pedir permissão. Eram apenas detalhes que faltavam em nossa relação, já que todo o resto nós tínhamos. Se eu não aceitasse sua sugestão de ficarmos juntos, o que iria mudar? Mesmo sabendo que eu poderia realmente me apegar muito mais a ele, no estado em que eu já estava em relação a Peeta, eu sabia o quanto eu me machucaria, caso algo nos afastasse por algum motivo, nesse exato momento.

— Você não quer? – questionou apreensivo.

“Seja corajosa.”

— Eu quero. – respondi com pressa, abrindo os olhos. Ergui a cabeça para olha-lo, podendo ver Peeta com um sorriso tão lindo que simplesmente me desestruturou, fazendo-me esquecer de toda a confusão que eu mesma causava dentro de mim. Respirei fundo, dando um pequeno sorriso. – Eu quero. – repeti com a voz mais mansa, soltando o pano de sua camisa, e devagar, espalmei a mão em suas costelas.

— Então a partir de agora, você é minha namorada? – perguntou sorrindo.

Afirmei com a cabeça silenciosamente, deixando meu sorriso se alargar quando o notei se aproximando.

— Então vou aproveitar que não temos a Annie para interromper, e vou te beijar de novo. – avisou quase em um sussurro.

Acabei rindo silenciosamente, encarando seus olhos brilhantes. Quando seus lábios roçaram nos meus, eu fechei os olhos, pronta para voltar a me desligar de qualquer coisa ao meu redor, que não tivesse a ver com Peeta Mellark.

"Amar é arriscar tudo, sem garantia alguma. Apenas com a fé de que, no amor, nós nos cumprimos."

— José Luís Nunes Martins