Our destiny

Caminhos de volta


Embrenhados na mata que circundava a estrada do Rei, Arya e Gendry cavalgavam lado a lado; ela, sobre seu cavalo castanho e robusto e ele sobre uma égua branca arredia. Em silêncio, seguiam caminho até Winterfell, pois naquela altura da noite, a maior parte de suas histórias já havia sido contada. Cada um disse o máximo que pôde sobre suas vidas desde que se separaram anos atrás, depois não encontraram em suas memórias mais nada que pudesse ser revelado um para o outro.

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— Está tudo bem? – Arya perguntou sem desviar seus olhos do caminho.

— Sim. Acho que ela desistiu de me matar. – O moreno respondeu com um gracejo, se referindo ao animal temperamental que ele havia furtado assim que fugiram da hospedaria.

— Ou... é isso que ela quer que você pense. – Arya sorriu. – Fico feliz que tenha se entendido com sua montaria, mas eu não me referia a isso. Quero saber por que você me olha a cada minuto. Tem algo que queira me dizer?

Antes mesmo que ela pudesse terminar sua pergunta Gendry sentiu seu rosto formigar. Se estivessem na luz do dia, com certeza ela notaria o quanto suas bochechas estavam coradas naquele momento. O rapaz sentiu vergonha, pois Arya fora capaz de perceber seus olhares de soslaio durante boa parte do trajeto. – Humm... não é nada.

— Diga de uma vez. – Ela parou seu cavalo e se virou para ele.

— Bem, é que... faz tanto tempo desde que nos vimos pela última vez. Você era uma criança... e eu, bem. Eu também era.

— E...? - Mesmo sem querer admitir, a menina também estava impressionada com aquele reencontro tão repentino, mas, diferente de Gendry, ela não precisou encará-lo a viagem toda para reparar nas mudanças em sua fisionomia. Assim que ela pôs os olhos em cima dele, notou que ele havia deixado de ser um garoto há muito tempo, pois mesmo achando que ele não tinha crescido nenhum centímetro a mais, ela o percebeu maior e mais intimidador, talvez, pela grande massa de músculos que era seu corpo. Seus cabelos também estavam diferentes, bem mais curtos do que ele costumava usar e seu rosto claro trazia marcas de uma barba feita.

— Você está diferente, é apenas isso. – Gendry respondeu e apertou as rédeas de sua égua. Ele não queria se estender naquele assunto e deixar transparecer toda sua insegurança por estar ao lado da garota a qual ele passou boa parte dos últimos anos pensando e criando hipóteses sobre seu paradeiro. – Acha que devemos parar? Os cavalos já estão cansados. – Ele logo mudou de assunto esperando que ela não lhe fizesse mais nenhuma pergunta como aquela.

— Ainda não. Já estamos próximos das Gêmeas, poderemos passar a noite lá e quando amanhecer, continuaremos até Winterfell. Quem sabe você não consegue um cavalo mais pacífico. – Ela sorriu mais uma vez ao ver o rapaz tentando pôr em linha reta a égua que teimava em trotar para os lados.

— Acha que Lorde Frey vai nos receber? – Você é uma Stark e pelo que me lembro, ele não tem grande apreço por sua família.

— Onde foi mesmo que você se escondeu por todos estes anos? Não sabe que Walder Frey está morto?

— Na verdade não. Eu estava ocupado demais trabalhando nas forjas. E além disso, aquele velho miserável quase não me deixava sair da oficina.

— Por que você não saía? Era algum tipo de escravo? – A menina pareceu intrigada.

— Não, claro que não. A forja onde eu trabalhava era longe demais do vilarejo e eu não podia pegar os cavalos, além disso, o velho temia que eu me metesse onde eu não era chamado, por isso eu passava a maior parte do meu tempo dentro do celeiro trabalhando ou treinando com as espadas. – Gendry respondeu sem dar mais detalhes, pois não queria revelar que seu único passatempo após o trabalho era tentar conquistar a filha mais velha do ferreiro. Por causa disso, o homem o proibira de frequentar o resto de sua propriedade e o mantinha o mais longe possível da garota. Sorrindo para si mesmo, o moreno se lembrou de todas as vezes que conseguiu enganar o patrão e roubar alguns beijos da menina.

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Arya apenas o encarou em silêncio, pois ela sabia qual era o tipo de “coisa” que o ferreiro não queria que ele se metesse.

Depois de notar a frieza da garota, ele logo voltou ao assunto principal de sua conversa. – Mas e então... ele está morto mesmo?

— Sim, ele está. Agora o Peixe Negro é o senhor daquele castelo. Depois que Walder e todos seus filhos homens morreram, meu tio Eddmure assumiu seu lugar e o nomeou protetor das Gêmeas. Agora são os Tullys que comandam a travessia.

— Ótimo! – Gendry estava feliz, pois contrariando suas piores expectativas, ele poderia passar aquela noite em uma cama e não teria que dormir no chão frio e úmido da floresta.

— Mais um pouco e logo chegaremos.

Depois daquela conversa, o casal voltou ao silêncio, estavam cansados de mais e além disso, precisavam estar atentos a qualquer ruído vindo da mata. Cavalgaram mais um pouco e logo começaram a escutar o barulho das águas do Ramo Verde. Assim que o borbulhar do rio ficou mais intenso, sob a luz do luar, os dois puderam ver ao longe pequenos contornos pontiagudos. Eram as inúmeras torres que fortificavam cada castelo que antes pertencera aos Freys.

— Pronto, estamos seguros. A partir de agora, encontraremos homens leais ao meu tio e nenhum soldado Lannister se arriscará a vir para cá a nossa procura. – Arya falou de forma confiante.

Aliviado por estar finalmente longe de toda aquela confusão, Gendry se permitiu relaxar. Se virando para a menina, ele lançou um sorriso de agradecimento, pois se não fosse por ela, naquele momento ele estaria pendurado pelo pescoço, servido de comida aos corvos. – Eu acho que ainda não te agradeci. – Ela apenas o olhou e ele continuou. – Obrigado por ter salvo minha vida. Eu não pensei realmente no que estava fazendo.

— Você não mudou em nada. Continua um cabeça dura. – A menina se ressentiu pela lembrança de tempos atrás, quando o amigo resolveu deixá-la para trás e seguir caminho com a irmandade sem bandeira.

— Eu deveria tê-la seguido, milady. - Ele respondeu, como se pedisse desculpas pelo erro cometido no passado. - Assim como você me seguiu na hospedaria...

Sim, você deveria... – Arya pensou, mas apenas palavras ásperas e petulantes saltaram de sua boca. – Se me chamar mais uma vez de milady, eu te derrubo desta égua! – Apertando as rédeas de seu cavalo, a garota o deixou para trás.

— Como quiser, milady... – Gendry falou baixo e a seguiu pelo amplo vale que se abria no horizonte.

No instante em que a pequena loba colocou seus pés dentro da fortaleza, seu coração se apertou e pareceu diminuir. Mesmo depois de tirarem todas as tralhas e quinquilharias do velho Fray e substituírem pelos estandartes e brasões da casa Tully, aquele lugar ainda parecia sombrio e carregado de mau agouro. Afinal, fora ali que sua mãe e seu irmão morreram. – Até que não está tão mal! – Ela falou, tentando afastar aqueles pensamentos da cabeça. – Você fez um bom trabalho, tio. – Ela cumprimentou peixe negro pela boa mudança que ele fizera no castelo.

— Obrigado, minha querida. Mas posso saber o que você faz aqui no meio da madrugada? – Brynden Tully a olhou e em seguida se virou para o rapaz parado a poucos passos da garota. O fitando dos pés à cabeça, o velho homem fez uma careta. – E este quem é?

— Gendry, milorde. Sou ferreiro e estou a caminho de Winterfell com lady Stark. – O rapaz parecia assustado, mas manteve a voz firme e o olhar fixado nos olhos azuis do velho peixe.

— Tio, é uma longa história. Amanhã, antes de partirmos te contarei como encontrei um bom ferreiro para Winterfell. – Arya queria encerrar logo aquela conversa e dormir um pouco antes do amanhecer.

— Está bem, está bem. Boa noite, querida. – O homem de cabelos grisalhos beijou a testa da menina e antes de sair andando para seu aposento, lançou um olhar rabugento para Gendry.

— Ei... vai ficar aí parado? – Arya chamou o rapaz que parecia petrificado, depois, cada um foi para seu aposento e só se encontraram na manhã seguinte.

Jon Snow acordou no meio da madrugada. Ofegante e com o coração disparado, tentava se recordar do sonho que tivera. Se lembrou do frio de Winterfell e da neve caindo sobre seu corpo, depois, do gosto de sangue em sua boca. Fechando seus olhos, ele respirou profundamente e também lembrou que vira a esposa, estava sentada na poltrona de seu quarto, de frente para a lareira. Ela cantava para si mesma enquanto trazia as mãos sobre o ventre. – Sansa... – O nome saltou de seus lábios. Depois de esfregar os olhos para acordar completamente, Jon se deu conta de há muito tempo não tinha sonhos tão reais como aquele. Tentando espantar aquela estranha sensação ele decidiu se levantar e caminhar um pouco. Olhando pela janela, o rapaz pôde perceber que o dia estava prestes a clarear. Após se vestir, ele deixou seu aposento e caminhou pelos corredores do castelo. Antes de chegar à saída, viu um vulto claro se movendo por entre duas colunas. Forçando os olhos na escuridão, se deu conta de quem era.

— Vossa Graça. – Ele chamou pela mulher de longos cabelos dourados.

Daenerys Targaryen voltava do fosso dos dragões, ela tinha o costume de sair no meio da madrugada para observar seus filhos revoando o céu noturno. Naquela noite, os animais tinham saído para caçar e apenas Drogon e Rhaegal haviam retornado. Esperando a chegada de Viserion, a rainha passou algumas horas do lado de fora do castelo. Ela só entrou quando viu seu filho de volta, pousado sobre uma das colunas que sustentava o fosso. - Jon Snow, o que faz por aqui a essa hora? – A rainha se virou assim que ouviu a voz atrás de si.

— Perdi o sono, majestade. Sinto o Norte cada vez mais forte dentro de mim, me puxando de volta, de volta para minha casa e minha família. – Jon já não conseguia mais disfarçar o incômodo que sentia por permanecer naquela ilha. Mesmo sendo seu último dia no lugar e estar sendo tratado como um hóspede, ele ainda se sentia um prisioneiro. Três dias após sua chegada à Pedra do Dragão, Tyrion Lannister, agindo com um mediador, conseguiu convencer a mãe dos dragões a unir suas forças contra a ameaça dos caminhantes brancos. O preço por sua ajuda seria pago com lealdade. As palavras de Tyrion foram cruciais para o fim do impasse entre tia e sobrinho. - “Unam-se agora e briguem depois”. – O anão propusera uma trégua; Jon Snow poderia deixar a ilha e carregar seu navio com todo o vidro de dragão que ele e seus homens conseguissem minar, em troca, não se voltaria contra Daenerys e nem se uniria a Cersei Lannister. A rainha Targaryen decidiu que ela mesma acompanharia Jon Snow de volta a Winterfell, ela prometeu que o mataria em frente a seu povo caso toda a história do rei da noite e dos caminhantes brancos não passasse de mera invenção para enganá-la. Depois de quase um mês de trabalho, a mineração de obsidiana já estava no fim e em poucas horas, três navios sairiam da ilha em direção ao Norte de Westeros.

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— Já avisou sua esposa de que logo estará de volta? – A rainha o tratava com respeito e cortesia, mas ela e o sobrinho nunca tinham trocado nenhuma conversa trivial desde que ele chegara a seu castelo. - Ela deve estar ansiosa por seu retorno. – A loira falou com um meio sorriso.

— Sim, majestade. Mandei um corvo a avisando de que em breve estaremos em Winterfell. Tenho certeza de que Sansa ficará feliz em conhecê-la. – Jon falou pela esposa, mas no fundo, ele não fazia a menor ideia de qual seria a reação da ruiva quando visse a mãe dos dragões.

— Sim... e eu estou ansiosa para conhecê-la. Tyrion falou muito bem de lady Stark; disse que ela foi muito corajosa durante todo o tempo em que esteve cativa em Porto Real. – Olhando para o homem a sua frente, Daenerys podia ver em seus olhos a devoção que ele sentia pela esposa. Naquele momento, uma ideia que a vinha acompanhando durante aqueles últimos dias a espetou na consciência; ele era um Targaryen... legítimo, ou não, tinha o sangue de sua família. Era um dragão e se não fosse por sua união com a Stark, em uma outra realidade, eles poderiam ter se casado e os rebeldes do Norte não se oporiam em tê-la como rainha. – Ele é seu sobrinho! – Em vão, sua razão tentou alertá-la, mas sabendo que relacionamentos incestuosos foram bastante comuns entre os Targaryens, os pensamentos da loira passaram por cima daquele detalhe sem maiores preocupações. – E muito bonita... Tyrion também disse que ela é muito bonita. – Com um pouco de amargura na voz, Daenerys abandonou seus devaneios e concluiu sua fala.

— Ela é a luz que ilumina o Norte, majestade... acho que vocês serão boas amigas. – Jon falou, tentando achar uma brecha e encerrar aquela conversa. Ele queria deixar aquele lugar e seguir seu caminho. A noite já estava clara o bastante e se ele saísse rápido, veria o nascer do sol. – Se me permite, Vossa Graça, vou tomar um pouco de ar fresco. – Ele a viu concordar e saiu em direção aos portões da fortaleza. Olhando para os primeiros raios de sol, o rapaz agradeceu a todos os deuses por aquele ser seu último dia na ilha. Em breve, o mar o levaria de volta para casa.