Our destiny

Targaryens


Parado na extremidade de um penhasco, o rei do Norte observava a imensidão azul que era o mar estreito. A luz dourada do entardecer fazia com que o horizonte a sua frente brilhasse como uma joia forjada em ouro. Em seus pensamentos, a imagem de Winterfell se sobrepunha às aguas escuras do oceano. Jon queria ir para casa, queria voltar para sua família e para seus deveres. Mas ele não podia, não enquanto não conversasse com Daenerys Targaryen. Ainda olhando para frente, ele ouviu os passos de alguém se aproximando.

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— Eu vim aqui para refletir sobre meu fracasso em prever os ataques contra nossas frotas, mas você torna isso mais difícil para mim, você fica muito mais bonito do que eu refletindo... – Com uma expressão séria, Tyrion se aproximou ainda mais. – Você me faz sentir que eu estou falhando em refletir sobre minha falha. – O Lannister esticou os lábios, rindo de seu próprio gracejo.

Jon nem se deu ao trabalho de se virar para encará-lo. Estava com raiva... raiva do anão, de Daenerys e de si mesmo. - Eu sou um prisioneiro nesta ilha, estou aqui a dois dias e nada da rainha aparecer.

— Eu não diria que você é um prisioneiro nesta ilha, você é livre para andar pelo castelo, pela praia, por onde quiser...

— Menos para o meu navio, vocês tomaram meu navio...

— Eu não diria que nós tomamos seu navio... – Antes que Tyrion pudesse terminar de falar, Jon o interrompeu e despejou de forma áspera toda sua irritação.

— Eu não vou fazer jogos de palavras com você! Vim aqui para falar com Daenerys e sou recebido por um Lannister. A rainha nem se quer está no castelo, mas deixou ordens para me manter preso nesta ilha. Vocês não acreditam em mim, mas tomaram nossas espadas, o meu navio e me impedem de ir embora. A morte está a caminho e... – Jon respirou fundo ao perceber que para as pessoas do Sul aquela ameaça não tinha a menor importância, pois para elas, os caminhantes brancos não passavam de lendas e histórias que as mães contavam para aterrorizar as crianças desobedientes. – É o Norte que eles atacarão primeiro... o meu povo. Eu preciso ir...

— Snarks e gramequins... – Tyrion respondeu. – Eu acredito em você Jon Snow. Mas eu não posso deixá-lo ir embora sem que a rainha o veja primeiro. Logo ela retornará. – Alguns dias antes de Jon chegar à Pedra do Dragão, Daenerys havia recebido a notícia de que todos seus aliados estavam sendo derrotados; a frota que estava a caminho de Dorne fora atacada por Euron Greyjoy. Seu plano de invadir o Rochedo Casterly também havia falhado, os Lannisters foram mais espertos e abandonaram a fortaleza antes que o exército de imaculados chegasse ao local. Ollena Tayrell fora assassinada e o Jardim de Cima, saqueado. A Targaryen estava ficando sem escolhas e ela não aguentaria mais nenhuma derrota. Contrariando os conselhos de sua Mão, ela decidiu que montaria em Drogon e junto com os Dothraki, emboscaria os soldados Lannisters que voltavam para Porto Real.

— Sim, eu espero que ela retorne logo. – Jon baixou seus olhos e encarou o homem a seu lado.

Caminhando lado a lado, os dois fizeram o trajeto de volta ao castelo. – Espero que a criança puxe pela mãe... olhe só para você; é alto, forte e destemido, mas é incapaz de dar um sorriso. – Tyrion zombava da expressão que via estampada na cara do rapaz. – O que foi mesmo que lady Sansa viu em você? – Ele parou e olhou para Jon dos pés à cabeça.

— Espera mesmo que eu te responda? – Acelerando seus passos, o Lobo Branco acabou deixando Tyrion para trás. Mas antes que ele pudesse alcançar os portões da fortaleza, ouviu ao longe um rugido gutural, um som metálico e estrondoso, tão forte como um trovão. Olhando para cima, ele viu algo inteiramente único... um dos dragões de Daenerys Targaryen se aproximava. O animal gigantesco vinha em sua direção. Suas asas pairavam esticadas e sua cabeça estava apontada para frente. Hipnotizado por aquela visão, Jon estagnou em seu lugar. Ficou parado sem se dar conta que o bicho estava cada vez mais próximo do solo.

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— Afaste-se! – Tyrion gritou para Jon.

Dando um pulo para trás, o rapaz desviou da asa esquerda do animal, que por muito pouco não o atingiu em cheio.

Era só o que faltava, um Targaryen ser morto atingido pela asa de um dragão...— Enquanto caminhava até o local em que Drogon havia pousado, Tyrion pensou consigo mesmo na ironia daquela cena. – Minha rainha. – A Mão de Daenerys a saudou assim que ela desceu das costas do animal.

— Olá. – Ela cumprimentou seu conselheiro e se voltou para o jovem rapaz de cabelos negros que a olhava com curiosidade.

— Você está na presença de Daenerys, nascida da tormenta, da casa Targaryren, herdeira legitima do trono de ferro, rainha legítima dos Ândalos e primeiros homens, protetora dos Sete Reinos, a mãe dos dragões, a Khaeelisi do grande mar de grama, a não queimada, a quebradora de correntes. – Sem parar nenhuma vez para retomar o ar, Tyrion recitou todos os infinitos títulos de sua rainha e assim que terminou, se virou para Jon. – E este é Jon Snow. – Após uma pausa, Tyrion disse a contragosto, - Ele é o rei no Norte. – Assim que terminou de falar, o homem se deu conta de que Daenerys não reagiria muito bem àquela informação adicional.

— Obrigada por ter viajado de tão longe milorde. Espero que tenha tido uma boa jornada.

— Os ventos foram bons, Vossa Graça. – Jon sorriu levemente. Estava ansioso e agitado com a presença do dragão e daquela que parecia ser a única ligação com seu lado Targaryen.

— Milorde, como pode ver, acabo de voltar do campo de batalha, meu dragão está ferido e nós dois precisamos descansar. Logo após o jantar o receberei para uma audiência. - Daenerys pediu licença e se retirou para o interior do castelo.

Já no quarto que lhe fora destinado, Jon podia ouvir ao longe as ondas do mar quebrando violentamente contra os rochedos da encosta. Após terminar seu banho, ele caminhou até a janela principal do aposento e viu o céu escuro ser cortado por lâminas de luz. Uma tempestade se aproximava e todo raio que caía, iluminava o contorno dos promontórios e do oceano enegrecido. Fechando seus olhos, ele respirou fundo e sentiu o cheiro do mar e da chuva. Uma sensação estranha o invadiu e ele passou a imaginar como teria sido sua vida se seu pai biológico o tivesse criado. Ele seria o herdeiro daquele castelo e ao invés do lobo gigante, ostentaria um dragão de três cabeças estampado em sua armadura. Ned seria seu tio e Catelyn jamais o subjugaria. Tudo seria diferente, tudo, menos Sansa. Jon parou e percebeu que Sansa sempre seria sua, ela era seu destino. Ainda fantasiando, ele se imaginou ainda criança, indo visitar seus primos nortenhos, ele treinaria com Robb e ensinaria Arya e Bran a usar um arco e flecha, brincaria com Sansa e seria o herói de todas suas canções. Sorrindo, ele se viu roubando um beijo dela enquanto a carregava no colo, fugindo do monstruoso Robert Baratheon, o veado de chifres gigantescos que tentava roubá-la de si. Por muitos anos eles cultivariam seu amor inocente, até o dia em que Eddard e Rhaegar os prometeriam em casamento e ele a teria só para si. – Mas eu já a tenho só para mim... – Ele voltou a si quando ouviu a própria voz saltar de seus lábios. Ainda atordoado com tudo o que imaginara, Jon se afastou da janela e buscou sua capa de inverno. A noite não estava tão fria, mas mesmo assim, ele decidiu usar a peça de roupa feita pela esposa. Aquilo o faria se sentir em Winterfell, em sua verdadeira casa.

Quando terminou de se arrumar, ele foi até a pequena mesa próxima a cama e percebeu que haviam atendido seu pedido feito no dia anterior. Sobre a madeira escura, estavam dispostos alguns pergaminhos em branco, uma pena e tinteiro. Ele se sentou e escreveu uma breve mensagem para a esposa. Assim que terminou, ouviu batidas em sua porta. – Entre.

— Jon, temos de ir. A rainha está nos aguardando. – Davos o olhou e estranhou a vestimenta do rapaz. – Se sente bem?

— Sim. Por que?

— O clima por aqui não é tão frio como o Norte, Vossa Graça. Tem certeza que precisa de sua capa? – O homem franziu o cenho, tentando entender o porquê de toda aquela pompa.

— Eu só quero usá-la. Agora vamos, que eu não quero que esperem por mim. – Jon mudou logo de assunto e partiu na companhia de sir Davos para a sala do trono.

Quando entrou no salão, Jon pôde sentir o calor vindo das grandes luminárias feitas de fogo que estavam espalhadas pelo ambiente. – Vossa Graça. – Ele cumprimentou a rainha assim que a viu. Ela estava sentada no trono de pedra. Usava um vestido cinza escuro e uma capa com detalhes em vermelho. Seus cabelos claros como a lua estavam meio presos, com tranças que se uniam no topo de sua cabeça. Daenerys Targaryen era jovem, mas sabia se impor como uma rainha. Seu olhar penetrante invadia qualquer um que ela olhasse.

— Milorde, obrigada mais uma vez por atender a meu chamado. – A loira o olhou com uma expressão controlada e imponente, mas antes que pudesse fazer qualquer pergunta à Jon, foi interrompida pelo homem de cabelos grisalhos que acompanhava o jovem nortenho.

— Me perdoe se não soube compreendê-la, sei que tenho o sotaque da baixada das pulgas, mas Jon Snow é rei do Norte, Vossa Graça, ele não é um lorde. – Davos sentiu-se na obrigação de corrigir a fala da rainha. Ele não podia deixar que ela pensasse que Jon era um qualquer.

Olhando intrigada para o homem que teve a audácia de contradizê-la, Daenerys esperou que Tyrion o apresentasse.

— Me perdoe sir Davos, mas pelo que me lembro o Norte pertence aos Sete Reinos de Westeros e os Sete Reinos são comandados por um único regente. – A loira desviou seus olhos do cavaleiro das cebolas e passou a encarar Jon Snow. – Bem, no caso, uma única regente; eu, a última filha viva do rei Aerys e da rainha Rhaella, a única herdeira legítima dos Targaryens. – Com aquelas palavras Daenerys deixava bem claro que sabia, e pouco se importava com o fato de Jon ser considerado um bastardo de seu irmão mais velho. - Eu comandarei sete reinos, meu bom senhor, não seis. Por isso, não reconheço qualquer título que se equipare ao meu. Dobre o joelho e jure lealdade a mim, milorde e eu o farei protetor do Norte.

Após olhar em volta de todo a salão e ter pensado cuidadosamente em suas palavras, Jon disparou. – Vossa Graça, me perdoe pela honestidade, mas neste momento, o título que se refere a mim é a menor de minhas preocupações. A senhora me chamou aqui com uma intenção, entretanto, os motivos que me fizeram atender a seu chamado são bem distintos. Acredito que a senhora já saiba que não sou mais considerado um bastardo de Eddard Stark. Recentemente tive algumas provas de que sou um bastardo de outro pai. – Olhando novamente ao redor, o rapaz preferiu não dizer o nome de Rhaegar e constranger Daenerys na frente de seus súditos. – Eu não respondo pelo nome dos Starks, apesar de ser filho de uma. Vossa Graça não precisa me chamar de rei, mas saiba que fui escolhido pelo povo do Norte para liderá-los contra um mal muito maior que a loucura e perversidade de Cersei Lannister. Se eu pudesse, eu mesmo a arrancaria daquele trono e a condenaria por seus crimes contra os Starks, contra meu pai adotivo, minha esposa e meus irmãos. Mas eu não posso, não enquanto eu souber que além da Muralha há um rei muito mais perverso e sedento de sangue do que ela. O rei da noite e seu exército de mortos se aproximam. Estão cada vez mais perto. O Norte, Winterfell, minha esposa e meu filho que ainda nem nasceu estão muito mais próximos desta ameaça do que eu ou você estamos agora, mas não se engane, Vossa Graça, eles não irão parar enquanto não destruírem toda Westeros. – Jon respirou pesadamente e continuou – Se não nos unirmos, a senhora será rainha de um cemitério.

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Mesmo contrariada, Daenerys ouviu cada palavra em silêncio, depois, se pôs de pé e caminhou até onde Jon e Davos estavam. – Como posso acreditar que tudo isso é verdade? Eu não o conheço e pelo que ouvi, seus caminhantes brancos e seu rei da noite não passam de lendas... Smarks e Gramequins, não é assim que os chamam por aqui?

— Snarks, Vossa Graça. – Tyrion a corrigiu rapidamente.

Daenerys apenas o olhou e novamente se voltou para Jon. - Que seja... Minha batalha é real Jon Snow, há todo um reino que está sofrendo nas mãos de Cersei Lannister. Eu cresci sabendo que eu pertencia a esse lugar, que ele era meu por direito. – Os olhos claros da rainha olhavam fixamente para as orbitas cinza escuro do Lobo Branco, que também a encarava de igual para igual. Após respirar profundamente, a Targaryen voltou a falar. - Ainda criança, fui exilada, vendida como uma égua, fui abusada, subjugada, traída e sabe-se lá quantas vezes tentaram me matar só por eu ser quem eu sou. Durante todo esse tempo, eu acreditei em mim e nunca desisti daquilo que nasci fadada a ser. Agora milorde, eu estou aqui, estou aqui para cumprir meu destino. Por isso, não abrirei mão de meu exército, de meus dragões e de tudo que é meu por direito para perseguir Snarks, caminhantes brancos ou o próprio rei da noite com alguém que se quer tem interesse em jurar lealdade a mim. Jure lealdade, Jon Snow, dobre o joelho e eu pensarei numa forma de ajudá-lo.

— Sem ofensa, Vossa Graça, mas eu também não a conheço e não vou quebrar a promessa que fiz a meu povo. A senhora é uma Targaryen, filha legítima e herdeira de Aerys, o homem que queimou vivo meu avô, que queimou meu tio. A lealdade que o Norte e os Starks deviam aos Targaryens virou cinzas naquele dia. No dia em que a loucura de seu pai quase destruiu todos os reinos que a senhora reivindica neste momento. – Jon se calou, mas manteve seu olhos fixos nos dela.

— Sim... meu pai era um homem cruel. – Daenerys baixou seu olhar por um único instante e logo o ergueu. As palavras que saiam de sua boca tinham uma entonação suave, deixando claro sua intenção de se fazer benevolente. - Em nome da casa Targaryen, eu peço perdão por seus atos contra sua família. Mas por séculos nossas casas viveram em paz... os Targaryens no trono de ferro e os Starks servindo ao reino como protetores do Norte. Eu sou a última Targaryen, Jon Snow, honre este juramento, dobre o joelho.

— Eu não sou um Stark, Vossa Graça e não se preocupe... pois tão pouco, busco ser reconhecido como um dos seus. Pelo que vejo, a senhora não acreditou em uma palavra do que eu disse e não está disposta a acreditar. Peço por gentileza que me deixe partir para minha casa e minha família. Como eu disse, Sansa, minha esposa, está à espera de nosso primeiro filho e eu não posso deixá-la mais nenhum dia sozinha. – Jon falava baixo, suas palavras eram um apelo sincero, ele estava farto daquela conversa e sabia que a rainha não mudaria de opinião naquele momento.

Antes que Daenerys pudesse responder, lorde Varys apareceu no salão e se aproximou da rainha. O homem cochichou algumas palavras no ouvido da mulher que imediatamente pediu licença para se retirar do local. – Conversaremos sobre isso amanhã, milorde. – Ela olhou para Jon e depois para Davos. - Vocês devem estar cansados. – Depois, ela se virou para um de seus guardas Dothraki e pediu que acompanhasse seus hospedes até seus aposentos. Já caminhando para fora da sala do trono, ela escutou uma última pergunta de Jon.

— Sou seu prisioneiro?

— Ainda não. – Daenerys respondeu e sumiu na escuridão que era a sala da Mesa Pintada.