Our destiny

O banquete


O Salão principal estava repleto de convidados e do lado de fora, a neve caia impiedosa. Rajadas de vento eram ouvidas como uma canção sinistra. Jon Snow estava sentado no lugar que outrora pertencera ao senhor seu pai. Agora, ele era o comandante e senhor de Winterfell. Sansa estava sentada ao seu lado. E quem quer que os olhasse juntos, veria uma versão jovem de Ned e Catelyn Stark. Arya e Brienne ocupavam os assentos próximos ao casal. Todos os senhores dos clãs mais importantes do Norte dividiam a mesa principal com a família de lobos. Os representantes das casas menores, demais cavaleiros e soldados, estavam espalhados pelas mesas enfileiradas no salão. Instrumentistas da vila foram chamados para trazer um pouco de animação e tirar o peso dos assuntos que seriam tratados. A noite mal havia caído e o jantar já estava servido. Porco assado com mel e ervas, cordeiro glaceado em vinho tinto, sopa de ervilha e bacon, cebolas caramelizadas e pão fresco saíam fumegando da cozinha a todo momento. Todos bebiam cerveja escura e vinho de boa qualidade. Jon fez questão de servir o melhor que tinham a oferecer, pois aquela ocasião era nada menos que a mais importante de sua vida. Seria aquele o momento de revelar toda a verdade para os demais, pois a cada dia que passava a barriga da esposa crescia de tal forma, que em breve, ela não poderia mais ocultá-la sob seus pesados vestidos e capas de inverno. Logo fariam perguntas e ele jamais a deixaria ser humilhada pela vergonha de carregar um bastardo em seu ventre. Juntos, eles planejaram como tudo deveria ser feito. E se tudo saísse conforme o esperado, naquela noite estariam prometidos um ao outro em um casamento legítimo.

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Jon se levantou da cadeira e ergueu a destra em direção aos músicos, que imediatamente pararam de tocar. O rapaz se voltou para o público do salão e iniciou seu discurso, explicando a principal razão para o convite ao castelo. – Senhores, antes de mais nada, quero agradecer a presença de cada um de vocês nesta noite. Sei que nesta época o mais sensato seria permanecer em suas casas e preparar as provisões para o inverno que já nos castiga. Lamento ao dizer que esta não será nossa única preocupação. Não é apenas o frio e a falta de alimentos que devemos temer. A morte se aproxima e ela vem depressa; pálida como o gelo e impiedosa como mil demônios. As espadas e foices dos Caminhantes Brancos estão sedentas por nosso sangue quente. – Jon se calou ao perceber que um cavaleiro da casa Manderly se erguera para falar.

— Temos a muralha para nos proteger milorde, se estes monstros realmente existem, eles não passarão pelas paredes fortificadas e cheias de encantamentos antigos.

— Não se enganem, meus bons senhores, estes monstros existem e estão mais perto do que imaginamos. Não é certo que a muralha será capaz de conte-los por muito tempo. Eles virão e ceifarão cada vida que encontrarem pela frente, nem suas mulheres e crianças serão poupadas. Os reuni esta noite para pedir que cada espada que brande pelo Norte se junte a mim nessa luta. Preciso que confiem e acreditem que esta ameaça é real. Por isso senhores, peço que ouçam atentamente tudo o que lhes direi agora, pois não há mais tempo a perder – Jon respirou profundamente e voltou seus olhos para Sansa. A ruiva lhe devolveu um olhar brando, lhe transmitindo a confiança necessária para prosseguir. Ele tomou um gole de seu vinho antes de voltar a falar. - Homens honrados estão sentados à minha volta, homens que merecem a verdade. Pedi que confiem em mim e que lutem ao meu lado, mas para isso, eu mesmo terei de confiar a cada um de vocês a verdade sobre meu passado. – Antes de continuar, Jon olhou para todo o salão iluminado e repleto de olhos em sua direção. Todos pareciam ansiosos e confusos. Engolindo em seco, ele tentou escolher as palavras certas para começar. – Todos aqui me conhecem como Jon Snow, bastardo de Eddard Stark. De fato, sou um bastardo e isso infelizmente nunca mudará, porém, Ned nunca foi meu verdadeiro pai. Ele me adotou e assumiu uma mentira para honrar o nome de sua família. – A multidão ressoou com aquelas palavras e a expressão de cada pessoa que ocupava o ambiente tomou um ar de espanto.

Jon continuo a falar e em certo momento, repetiu toda a história que ouvira de Sansa na estrada para a Ilha dos Ursos, também leu a carta de Rhaegar, trazida pelo amigo Samwel. – Ao que tudo indica, meus senhores, sou filho de Lyanna e o príncipe Targaryen. Mas agora nada disso se faz importante. Winterfell pertence a Sansa Stark e a seus irmãos Arya e Brandon. Abdico do título de protetor do Norte. Meu único desejo é proteger a todos do mal que nos cairá em breve.

As vozes graves dos homens que ocupavam o salão iam se tornando cada vez mais altas e inflamadas. Alguns se julgavam enganado e traídos pelo bastardo. Outros gritavam que Jon ainda tinha o sangue dos Starks e, portanto, era um nortenho legítimo.

— Já basta! – A voz de Brienne soou como um trovão. Aos poucos, os homens silenciaram e voltaram a atenção para a mulher. Ao lado dela, Sansa estava de pé, pronta para fazer algo que jamais tinha feito antes. Se dirigir aos demais com autoridade. – Senhores, peço que se calem e que me escutem atentamente. Como a verdadeira lady de Winterfell, lhes digo que Jon Snow é meu primo. Ele tem sangue Stark correndo em suas veias. E assim como vocês, seu desejo é lutar contra todo o mal que nos cerca. Ele jamais teve a intenção de enganá-los, ou tirar proveito do título de protetor do Norte. Confio minha vida nas mãos de Jon e peço que vocês também confiem. Não podemos perder tempo discutindo títulos, ou parentesco. Devemos nos focar no que realmente importa, por isso, digo que Jon continuará no comando de Winterfell.

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— Isso está errado senhora. – Um homem baixo e gordo com o brasão da casa Locke estampada em suas vestes interrompeu a fala de Sansa. – Quando o nomeamos rei do Norte, Jon Snow era um bastardo de Ned, o legítimo senhor de Winterfell. Hoje, ele não tem direito a nada. – Ele se calou e grande parte das pessoas começou a murmurar, dando a entender que concordavam com sua fala.

— Pois bem, meus senhores. Sou a filha legítima de Ned e quero que Jon continue como o senhor de Winterfell. O que deve ser feito para que o aceitem com tal? Um casamento? Devo me casar com ele para que todos entendam que ele pertence aos Starks? – Sansa jogou de forma irônica a pergunta que ensaiara durante todo o dia. Ela plantou a ideia de um casamento como absurda, mas esperava que todos a vissem como a real solução para aquele impasse.

— Sim, um casamento faria dele o senhor de Winterfell. O legitimaria como um Stark. - Lorde Galbart da casa Glover caiu em cheio na isca de Sansa. – Pensem homens, temos dois primos que pertencem à mesma casa. Não é má ideia, minha senhora! – Ele sorriu para a ruiva.

— Isso é um absurdo! Não podem se casar, são irmãos! – Lorde Cerwyn interrompeu o Glover.

— Não são irmãos, homem estupido! Não escutou tudo o que aqui foi dito? E um casamento entre eles seria mais do que vantajoso. Se casando com qualquer outro homem, a herdeira de Winterfell perderá para sempre o sobrenome de sua família. E suas terras já não pertencerão mais a ela. Caso firme compromisso com Jon Snow, ele poderá ser nomeado Stark depois do casamento. – Sir Davos defendeu para os demais a ideia como sendo brilhante. Uma semana antes, Jon e Sansa revelaram para ele, Sam e Brienne toda a verdade. E os três prometeram ajuda-los em sua causa.

— Isto é sério? – Jon tentava parecer espantado com toda aquela conversa. – Acabo de dizer que corremos o risco de sermos massacrados por mortos-vivos e vocês se preocupam com títulos?

— Eles têm razão Jon. Não somos irmãos e nada impede que um casamento entre primos seja realizado. Seria apenas política meu caro. – Sansa se virou mais uma vez para o grande grupo de pessoas abaixo de si. – Ouçam bem senhores, eu nunca mais perderei o poder sobre as terras e o nome da minha família. Nunca mais cairei nas garras de nenhum outro maldito que tente usurpar o que é meu. Se é um casamento que querem, então, se o senhor meu primo concordar, nos casaremos pelo bem de Winterfell. – Estava feito. Agora, cabia a Jon entrar no jogo e aceitar o que tinha sido “decidido” pelos sábios homens do Norte.

— Se é de seu desejo, minha senhora. – Jon segurou na mão direita de Sansa e falou alto para que todos pudessem ouvir. – Está decidido, por Winterfell, minha prima e eu nos casaremos.

Jon pediu que os músicos voltassem a tocar e que todos continuassem a comer. Ele se sentou e viu a esposa e a irmã se retirando da mesa.

— Pelos Deuses, saiu tudo como imaginávamos! – Já em seu quarto, Sansa deu um largo sorriso para a irmã. – Nós vamos nos casar Arya! Tem noção do quanto estou feliz?

— A julgar pela sua cara abobalhada, eu posso imaginar o quanto você está feliz. – A menina riu com a irmã e a abraçou. – Sabe, eu até que gostei dessa ideia de vê-los realmente casados. Pelo menos, meu sobrinho não nascerá um bastardo.

Sansa olhou espantada para a irmã. A garota ainda não tinha revelado para qualquer pessoa sobre sua gestação. Apenas ela e Jon sabiam. – Como sabe disso Arya? Foi Jon quem te contou?

— Sim, ontem de manhã. O peguei em seu quarto conversando com Fantasma. Ele falava sobre estar feliz por ter um lobinho de cabelos ruivos e encaracolados. Eu o pressionei e o fiz confessar. Jon é mesmo um bobo. Ele tentou disfarçar tentando dizer que eu ouvi errado, mas no final, me contou a verdade.

— Arya, me perdoe, eu ia te contar. Só estava esperando o momento certo. – Sansa puxou a mão da irmã e a colocou sobre a barriga levemente inchada. – Ele vai gostar de saber que tem uma tia corajosa e valente o esperando para protegê-lo.

— Por que você diz “ele”? E se for uma menina? – Arya ficou intrigada com aquilo.

— Bem, pode ser que seja “ela”, mas sinto que será um menino. Um lobinho Stark para perpetuar o nome de nossa família. – A ruiva sorria encantada com a perspectiva de ver crescer sua linhagem. – Peço aos Deuses que um dia você faça um bom casamento irmã e que se sinta tão feliz como eu me sinto hoje.

Arya retorceu a face em sinal de desaprovação pelo que acabara de ouvir. – Não vou me casar nunca. Vou procurar por Bran e Nimeria e depois serei cavaleira, assim como Brienne. – A menina sorriu satisfeita após externar seu maior desejo. Ela nunca tinha pensado na possibilidade de se tornar uma “senhora”, cuja única obrigação era satisfazer os caprichos de um marido e se dedicar apenas ao trabalho de parir e criar filhos.

— Não seja tão dura Arya. Meu trabalho não será apenas o de criar filhos. Faço muito por Winterfell e me orgulho pelo papel que desempenho. Eu e Jon cuidaremos juntos de todos os afazeres do castelo, assim como mamãe também fazia. Se ser uma cavaleira é o seu desejo, ficarei feliz, mas se um dia um se apaixonar por alguém, não deixe de viver plenamente o amor, minha querida. - Sansa olhou com ternura para a pequena Stark.

Arya refletiu sobre aquelas palavras. Agora, ela já era quase uma mulher e nunca se viu apaixonada por alguém. Correu na memória todos os homens que cruzaram seu caminho. E nenhum deles havia despertado qualquer sentimento que se comparasse ao amor. Pensou melhor e a imagem de um rapaz alto e forte, com os cabelos negros como a noite surgiu em sua mente. Gendry. Se levantando da cama, a menina afastou aquela imagem e se despediu da mais velha. – Boa noite irmã... boa noite lobinho!

Sozinha em seu quarto, Sansa se deitou e passou a imaginar como seria seu futuro dali em diante. Agradeceu a todos os Deuses por sua vida estar finalmente entrando nos eixos. Em pouco tempo, ela estaria casada legalmente com Jon, seu filho estaria em seus braços e o irmão menor voltaria para casa. Nem por um instante a menina pensou na ameaça dos caminhantes brancos. O mal viria, mas ela sabia que passariam por aquilo e sobreviveriam, assim como sobreviveram a tantas outras coisas.