Jovem Deus

Prólogo


Estava sentado numa macieira, comendo uma das frutas vermelhas e maduras que enchiam a árvore de cor. Meus pés balançavam e eu me sentia tão bem...A minha mente, nublada. Fechei os olhos. Tive vontade de sorrir, subitamente e sem motivo, e foi isso que eu fiz. Logo, o sorriso foi aumentando. Arreganhei os dentes, fazendo uma careta exagerada e comecei a gargalhar sozinho da minha própria graça, como se todas as coisas divertidas do mundo estivessem à minha volta. Ria-me sozinho, eu percebia. Estava completamente solitário naquele local. Respirei fundo depois de conter o riso, folgando-me no galho enquanto aspirava os odores de campo que me pareciam tão suaves e apaixonantes.

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Uma melodia, suave e bem fraca, começou a tocar. Eu, de olhos cerrados. Maleava a cabeça devagar, os lábios ainda curvados numa expressão tranquila e bem humorada. E a leve melodia ia aumentando, como se uma grande orquestra ambulante se aproximasse, seus violinos em sincronia e as teclas de um piano fossem dedilhadas por dedos de ouro. Eu cantarolava e minha mente estava mais tranquila do que nunca.

Mas a música não parava de aumentar.

Chegou um ponto em que a antes tão suave e amigável melodia era tão alta que eu fui obrigado a tapar os ouvidos. Não era mais algo gostoso de ouvir, mas assim que eu coloquei as mãos em frente aos ouvidos, ela parou. Era como se obedecesse aos meus comandos. Eu tirei, lentamente, as mãos de onde estavam, e abri meus olhos que estavam fechados por um bom tempo.

Tinha um homem parado exatamente pra onde meus olhos apontavam, e ele olhava pra mim. Era alto e seus cabelos escuros, trançados em uma única trança que caía sobre seu ombro. Era, com certeza, mais alto que eu. E tinha asas. Asas brancas e lustrosas, grandes o suficiente para sustentar o corpo de alguém. Quis falar. Quis perguntar se ele era um anjo, mas agora era como se a voz com a qual eu gargalhara tão alto nunca tivesse existido.